HELL'S KITCHEN



    "Hell's Kitchen! Com tanto lugar melhor em Nova Iorque, essa droga de correio tinha que ser em Hell's Kitchen?" ‒ John  ia andando bastante insatisfeito pelas ruas do bairro nova-iorquino enquanto ia se lamentando pelo fato de bruxos simplesmente não usarem um e-mail como todo mundo, ainda fazerem suas estações de correio em lugares tão horríveis e (para ele) deprimentes quanto Hell's Kitchen. Olhou o relógio: 4:20pm, ainda tinha algumas horas antes de começar o seu trabalho, melhor se apressar, entrou na rua e ficou procurando a tal lavanderia onde era a entrada para o lugar.
    "Ainda por cima é preciso estar atento, porque se a gente não está muito ligado, simplesmente não a vê" ‒ lá estava a tal lavanderia, com uma vitrine suja e um letreiro dependurado. Para ele parecia o lugar menos atraente da face da terra.  Ele era um homem alto e magro, que devia andar pela casa dos 40 anos, de cabelos cor de cobre e olhos azuis bem claros. Usava um impecável terno castanho com gravata, e um sobretudo marrom. Um segundo antes de entrar na lavanderia, seu celular tocou e ele atendeu, falou rapidamente com alguém e desligou, antes de empurrar a porta, que tinha uma sinetinha.
    O ambiente era ligeiramente enfumaçado e, para ele, cheirava mal. Havia máquinas de lavar e secar embutidas nas paredes, algumas pareciam inapelavelmente enguiçadas. Atrás do balcão uma mulher gorda e ruiva, muito maquiada e de unhas longas,  lia uma revista enquanto acariciava um gato preto de cara amassada.  Quando ele entrou ela deu um pulo, olhando-o surpreso.
    ‒ Oi dona. Eu quero mandar uma carta para um bruxo, como é mesmo? Uma coruja.
    ‒ Do que você está falando? ‒ John tirou do bolso uma carteira, impaciente, e mostrou-a à mulher, que fez uma cara meio torta.
    ‒ Ah, tá, você é da irmandade... coloque um nuque naquela máquina ali, a terceira a direita...
    ‒ O que é um nuque? ‒ a mulher abriu a gaveta do caixa e depositou sobre a mesa uma moeda estranha, dizendo:
    ‒ São 20 cents. ‒ John abriu a carteira e tirou um dólar, olhando para ela:
    ‒ Não tenho menor. Tem troco? ‒ A mulher pôs mais alguns nuques em cima do balcão e ele os pegou, pensando: "O que eu vou fazer com essa porcaria depois?"
    Ele pôs o "nuque" na máquina, que deu um passo à frente e dois para o lado, deixando ver uma porta larga, atrás do qual se abria uma rua. Ele entrou sem agradecer à mulher que pensou: "trouxa!"
    A rua era estreita, mais ou menos como um beco, havia algumas lojas, que vendiam coisas pelas quais ele definitivamente não tinha interesse nenhum. À sua passagem, as pessoas que estavam na rua olhavam-no como se ele se tratasse de alguma aparição. Ele ia andando com as mãos nos bolsos do sobretudo, sentindo o mau humor aumentar à medida que os olhares iam se cravando às suas costas. Chegou aonde queria: "Correio Coruja ‒ cartas para todos os lugares do mundo".
    Dentro  da loja, que parecia uma agência de correio normal, havia umas boas dez ou doze dezenas de corujas de todo tamanho, algumas dormindo com a cara enfiada debaixo da asa, outras olhando para os lados e piando. O atendente, um bruxo, para variar, olhou-o espantando quando ele entrou, já mostrando a carteira da Irmandade. O homem atrás do balcão sorriu e disse:
    ‒ Para onde?
    ‒ Hogwarts, Inglaterra
    ‒ São quatro sicles.
    ‒ Quanto dá isso em Dólar?
    ‒ Seis dólares.
    ‒ Toma. ‒ "Essa é boa, seis dólares para mandar uma carta idiota!"
    ‒ Escolha uma coruja, senhor.
    ‒ Ah, qualquer uma...
    ‒ Eu aconselho aquela preta ali, vai chegar lá mais rápido que qualquer outra ‒ o bruxo apontou uma vistosa coruja negra que abriu um par de olhos amarelados
    ‒ Que seja!
    ‒ Mais três nuques então, taxa de urgência... – o homem estendeu a mão com um sorriso simpático e ele tirou muito mal humorado os nuques do troco do bolso e os passou ao bruxo.
    ‒ A carta, senhor?
    ‒ Ah! Sim, esqueci. Tem papel e caneta? ‒ O bruxo olhou-o desconfiado e passou-lhe uma pena de escrever e um pedaço de pergaminho amarelado que ele olhou bastante insatisfeito. Escreveu, não sem uma certa dificuldade de lidar com algo tão antiquado:

    "Sirius,
    Achei-o, ele está aqui. (sem querer, John borrou a tinta e praguejou, mau humorado) Mas acho que não vai durar muito, aquele pessoal o pegou. Vou investigar. (mais um borrão e outro xingamento em voz baixa)
    Assinado,
        J.J.V.H."
    Enrolou o pergaminho e o passou ao bruxo, que o amarrou na perna da coruja e disse, entregando a ele a coruja:
    ‒ Pode soltá-la, ela achará o caminho ‒ John saiu carregando a coruja, que o olhava com cara de censura e a soltou na rua. Ficou olhando-a sumir no céu e foi andando até a saída, abriu a porta por onde entrara e saiu em outro lugar, no banheiro de um barzinho imundo. Quando estava de novo na rua, lembrou-se que tinha de fazer uma ligação e tirou do bolso do sobretudo o celular... enguiçado.
    "Droga" ‒ pensou ‒ " esqueci de como esses lugares enguiçam as coisas" ‒ foi andando até a lixeira mais próxima e atirou o celular no lixo, era o segundo que enguiçava dessa forma. "Em pensar que eles ainda por cima nos chamam de trouxas!"

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