FOGO SAGRADO, HALO NEGRO



    Os quatro jovens olharam-se apreensivos: não lhes ocorrera que eles deveriam entrar na fenda apenas na companhia da Gárgula.  Gerárd olhava-os com as pupilas escavadas dos seus olhinhos de pedra com um respeito e admiração que eles não imaginavam merecer. Ele abriu seus grandes braços, desproporcionais como os de um macaco e disse:
    ‒ Agora, Gerárd leva jovens até a pira, dois de cada lado... depois Gerárd volta, não pode assistir ritual sagrado. Não precisar temer, em 1500 anos, Gerárd não desaprendeu a voar. Mas jovens deixar varinhas aqui, mágica de fogo não precisa delas ‒ e eles entregaram-lhe suas varinhas.
    Aninharam-se entre os braços da gárgula e ele pulou, planando com uma leveza surpreendente para quem pesava uma tonelada de pura pedra. Em poucos segundos estavam no chão, a pouco mais de seis metros do poço de areia movediça onde Harry caíra menos de  dois meses atrás. Gerárd disse:
    ‒ Jovens seguir a luz, Gerárd leva vocês lá... ‒ e foram andando atrás da gárgula, firmes e calados. Willy ainda olhou Harry com seus olhos de bichinho, mas ele sorriu-lhe e ela pareceu ficar mais tranqüila. A fenda fazia uma curva, onde Harry viu a fonte onde Gerárd o levara para se limpar quando ele caíra ali, da outra vez... sentiu-se um pouco apreensivo, afinal de contas desta vez não tinha sua roupa protetora... lembrou-se das palavras de Gerárd: “Muitos caíram aqui, mas és o primeiro a sobreviver... E Roderic Griffindor, não sobrevivera?”
    Chegaram a um lugar amplo, bem no meio da fenda, que ainda se estendia muito adiante. Havia uma enorme pira côncava, dourada e coberta de cinza, talvez a casa de Sheeba coubesse inteira dentro dela e ainda sobraria bastante espaço. No centro da pira, ardia uma chama fraca sobre brasas vermelhas... parecia que o fogo ardera muito, muito intensamente e agora só havia restado um pouco da cinza e brasa. Gerárd disse:
    ‒ Jovens dever confiar na sabedoria do fogo, ficar bem... ‒ Deu a cada um uma tocha apagada e uma taça dourada vazia e foi andando com seu jeito meio torto, sumindo na curva. Eles se olharam e ficaram parados, sem saber o que fazer. Do centro da pira puderam ouvir uma voz, que disse:
    ‒ Ronald Weasley!  ‒ continuou a voz ‒ Você é o maior dos amigos, tome seu lugar ‒ acendeu-se um quadrado no chão, no ponto leste da Pira ‒ Hermione Granger, a farejadora da verdade ‒ acendeu-se um quadrado no ponto oeste, para onde Hermione foi ‒ Harry Potter, o coração da Angústia, assuma seu lugar ‒ Harry foi para o norte ‒ Wilhemina Fischer, a mais pura expressão da bondade, só resta você. ‒ Willy colocou-se ao sul da pira, e os quatro ficaram esperando que alguma coisa acontecesse. A voz então prosseguiu.
    -Ronald Weasley, Hermione Granger, Harry Potter, Wilhemina Fischer. Vosso coração é puro, sois toda a expressão da lealdade, verdade, sacrifício e bondade. Sois o valor desta chama ‒ as tochas acenderam-se ‒ Usem sua força, façam renascer o fogo sagrado. ‒ Ao mesmo tempo, sem que tivessem sido orientados para isso, eles atiraram as tochas no centro da pira, e algo realmente surpreendente aconteceu.
    Um som suave encheu o ar e Harry reconheceu-o: canto de fênix. Uma fênix enorme surgiu de dentro da pira e abriu suas largas asas, levantando vôo sobre eles. Harry viu com espanto que agora suas taças estavam cheias de um líquido incandescente que parecia lava de vulcão, que no entanto não parecia esquentar a taça. A Fênix pousou no centro da pira e quase instantaneamente transformou-se em um rapaz alto, de cabelos cor de cobre,  longos, trançados e olhos azuis. Usava algo que parecia uma armadura e estava diretamente de frente para Harry. Olhou-o nos olhos e disse:
    ‒ Tu serás o escolhido. Beba da taça.
    Harry bebeu. Automaticamente sentiu como se um fogo estivesse sendo aceso dentro dele. No centro da pira, a chama avivou-se e cresceu um pouco. O jovem olhou-os e disse:
    ‒ Bebam também agora!‒ transformou-se então na fênix novamente, e levantou vôo.
    Os outros beberam e Harry sentiu que seus pés saíam do chão, eles estavam subindo pela fenda na velocidade de uma queda, e na subida, iam se aproximando até que deram-se as mãos e ouviram uma voz:
    ‒ Eu, Roderic Griffindor, dou a vós o poder do fogo sagrado. Se deixares  seu coração puro, jamais o perderão. ‒ A Fênix desaparecera.  O topo da fenda se aproximava. Harry sentia ainda o fogo dentro de si, então, viu a grande caverna diante de seus olhos. Uma  abertura enorme, que antes não estivera lá, aparecia no fundo dela, por onde entravam chamas negras e cinzentas que subiam pelas paredes, como se lá fosse a boca de uma fornalha negra. E no centro desta fornalha, havia a silhueta de um bruxo alto e pálido, que Harry conheceu logo: lá estava Lord Voldemort.
    ‒ Eu deveria imaginar que seria você ‒ ele disse ‒ Eu estive esperando por todo este tempo, desde que você me lançou no abismo e eu senti a presença do fogo sagrado. ‒ Ele ergueu uma das mãos e lançou uma chama negra que atingiu o peito de Rony, que estava como os outros, flutuando sobre o abismo, de mãos dadas a Harry. A chama o atingiu, e ele brilhou como se estivesse sido revestido de fogo. O Halo Negro retornou a Voldemort, que riu e disse: ‒ Não pense que beber do fogo salvará vocês... eu sou um bruxo mais forte, poderoso e experiente. ‒ Harry sentiu que era a hora, e disse:
    ‒ Escolha um de nós para lutar. ‒ Harry sentia-se confiante.
    ‒ Pois bem, eu escolho a jovem Wilhemina Fischer. ‒ Harry gelou por dentro. Roderic Griffindor dissera-lhe que ele seria o escolhido, como agora Voldemort escolhia Willy?
    ‒ Eu não tenho medo de você ‒ Willy disse isso e foi voando pelo ar até próximo de Voldemort, ele lançou-lhe uma chama negra, ela estendeu um braço involuntariamente e de suas mãos saiu um jato de chamas, que a assustou, mas atingiu Voldemort no peito, e foi repelida pelo Halo Negro, Willy percebeu que podia controlar o fogo, e lançou-o contra Voldemort.
    Harry disse aos outros:
    ‒ A profecia deve estar errada, vamos ajudar Willy! ‒ mas parecia que estavam presos no lugar, sequer conseguiam mexer os braços... Harry sentia medo que algo acontecesse a Willy, que lutava com bravura, mas não parecia poder vencer Voldemort. Harry então percebeu algo que não sentira ainda: sua cicatriz não doía. Estava diante de Voldemort e a cicatriz não doía... Mas Voldemort parecia saber como o atingir, escolhera Willy, a cicatriz não doía, mas seu coração... estava cheio de angústia e ele notava que Willy parecia cada vez mais fraca, e pensou: “Não, não, ela não pode ser morta por ele, não pode... eu preciso fazer alguma coisa. Eu a amo. “
    Então, aconteceu. Seus braços se soltaram, e ele sentiu como se seu corpo estivesse sendo arremessado para frente, direto para a direção de Voldemort. Suas mãos bateram no peito do bruxo, e ele sentiu que elas ficavam grudadas lá.  O peito de Voldemort parecia feito de gelo, era frio e estava envolvido pela chama escura do Halo Negro, que se concentrava onde as mãos de Harry o tocavam. O Bruxo começou a gargalhar e falou, na sua voz gelada:
    ‒ Harry Potter! Isso mesmo, sinta a força de seu ódio por mim... odeie-me, odeie-me porque eu matei seu pai, odeie-me porque matei sua mãe, queira me matar Harry, deseje, Harry, deseje minha morte...
    ‒ Eu nunca desejei algo tanto como desejo isso, Voldemort! Harry sentiu uma onda fria percorrer o seu peito. Ouviu um barulho, e viu que no fundo do abismo Hermione e Rony despencavam. Mais adiante, Willy caía ao chão, com um grito. Ele voltou seu rosto para Voldemort, percebendo o triunfo nos olhos vermelhos do bruxo. A sua cicatriz começou repentinamente a doer. Então, ele soube.. ele soube exatamente o que desejava.
    ‒ Não, Voldemort! Eu não vou corromper meu coração. Eu não desejo que você morra, quero apenas que ELES vivam, porque eu os amo, como meus pais me amaram.
    Sentiu seu corpo esquentar, sentia o calor brotando em suas mãos, uma luz incandescente brotou por baixo de seus dedos. Na fenda atrás dele, uma chama imensa surgiu, o fogo sagrado brilhando em todo o esplendor de sua plenitude acabara de ocupar cada centímetro do abismo às suas costas. Voldemort olhou-o e ele viu que o bruxo o temia, debaixo de suas mãos, as vestes de Voldemort pegaram fogo. Agora ele entendia, ele realmente era o escolhido. Seu corpo foi arremessado para trás, na direção das chamas do fogo sagrado, Willy vinha logo atrás dele, arremessada também. Voldemort desapareceu e ele viu quando a entrada da caverna onde estava o Halo Negro se fechou com um estrondo.  Quando ele e Willy atingiram as chamas, Harry perdeu a consciência.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.