COMO UMA NOITE PODE MUDAR AS C



‒ Agora ‒  disse Dumbledore, precisamos fazer uma coisa, só de praxe. Lupin, mande-as entrar. ‒ Lupin abriu a porta e Harry pôde ver Hermione, calma e fria, e Willy, com a aparência de um bichinho assustado. ‒ Senhorita Granger, senhorita Fischer... Eu gostaria de falar com vocês duas, na presença do senhor Potter...
    ‒ Professor, não me chame de senhorita, ok? Pode me chamar de Willy, o senhor não precisa ser formal para dizer que estou encrencada... Oi professor Lupin ‒ disse isso e Lupin deu um grande sorriso ‒ estava com saudades do senhor!
‒ Está bem, Willy, ‒ disse Dumbledore bondosamente ‒ Eu queria saber se qualquer uma das duas, mesmo por acidente, mencionou o fogo sagrado para alguém.
    ‒ O senhor tem veritasserum? ‒ perguntou Willy, olhando diretamente nos olhos de Dumbledore ‒ Não, vou fazer melhor, Granger, olhe nos meus olhos, veja, vou dizer: não contei a ninguém! Ninguém soube de nada pela minha boca, ok! Diga agora para eles isso! ‒ disse isso quase descontrolada olhando no fundo dos olhos de Hermione que assustada disse:
    ‒ Ela está falando a verdade! ‒ Willy largou seus ombros e saiu pisando duro da sala.
    ‒ O mesmo temperamento de seu pai... ‒ disse Dumbledore balançando a cabeça.
    Depois que Harry saiu da sala de Dumbledore com Hermione, ficaram conversando sobre o jogo do dia seguinte, mas ele só conseguia pensar nos padrinhos seqüestrados por algum bruxo maluco e na hora de deitar ao olhar para a cama vazia de Rony,  pensou como a presença do amigo fazia falta ali. Algumas coisas era melhor conversar com Hermione, outras, com ele... então, decidiu sair e ir à ala hospitalar, faltava um tempo para a hora de se recolher. Levou a capa de invisibilidade escondida, para não ser visto voltando se ficasse com Rony até muito tarde. Saiu pelo buraco do retrato e foi andando na direção da ala hospitalar... de repente ouviu um barulho e enfiou a capa bem a tempo de evitar ser visto por Snape, que passou rumo às masmorras da Sonserina. Retirou-a de novo e foi andando e então ouviu um barulho numa sala... parecia alguém chorando. Abriu a porta e não viu nada... só uma sala de aula normal, com um janelão enorme por onde entrava a fraca luz da lua minguante...
    ‒ Tem alguém aí? Chamou duas vezes e ia virando as costas quando ouviu:
    ‒ Sou eu, Potter. ‒ ele viu Willy tirando dos ombros uma capa de invisibilidade, seus olhos estavam vermelhos e inchados.
    ‒ Willy? Por que você está chorando? ‒ sem sentir, Harry já estava junto dela.
    ‒ Nada não... dá para a gente sentar aqui na janela? ‒ As paredes do castelo eram tão grossas, que dava tranqüilamente para sentar na janela com as pernas cruzadas, como se estivesse numa varandinha. ‒ ela sentou e disse ‒ A gente pode ficar embaixo da minha capa...
    ‒ Precisa não, ‒ disse Harry sentando no lado oposto do janelão ‒ eu tenho a minha ‒ se cobriu com ela. durante alguns segundos não falaram nada. então, Willy perguntou:
    ‒ Você não quer conversar, Potter?
    ‒ Eu quero, mas é estranho, eu nunca conversei com uma janela vazia antes.
    ‒ Kakaka.‒ disse Willy tirando o capuz, sua cabeça flutuando no ar ‒ Sabe Potter, até que você é engraçado. Vamos deixar só a cabeça descoberta, ok? Assim se alguém chegar, a gente escuta e se cobre de novo.
    ‒ Ok ‒ Harry tirou o capuz também , e os dois ficaram se olhando, duas cabecinhas se olhando no escuro.‒ Ei, você está de cabelo solto! Fica melhor assim.
    ‒ Você acha?
    ‒ Sem dúvida.
    ‒ Potter, posso te perguntar uma coisa?
    ‒ Pode me chamar de Harry, Willy.
    ‒ Tudo bem, Harry. Você não me acha má só porque eu sou da Sonserina, acha?
    ‒ Na verdade, eu nunca havia conhecido ninguém de lá que prestasse... e no começo, eu não gostava de você... mas, depois que você ouviu aquilo e não contou pra ninguém, depois que eu vi você ser legal com a Murta, o Rony... Willy, você é muito legal. Porque age desse jeito que faz todo mundo te achar maluca e insuportável?
    ‒ As pessoas falam isso de mim?
    ‒ Sem dúvida. Acho que só os professores gostam de você. Hoje depois que o Dumbledore saiu, ele disse que você era genial, muito parecida com seu pai e... ‒ Willy começou a chorar. Harry ficou em pânico, e agora? Ele não era bom em consolar os outros. Saiu de seu lugar na janela e andou até junto dela, que enfiou a cabeça em seu ombro, chorando. Chorou muito. Lágrimas quentes, enormes, Harry não sabia que uma pessoa podia chorar tanto.
    ‒ Harry ‒ ela disse quando se controlou um pouco ‒ meu pai foi um Comensal da Morte. ‒ Harry gelou. Ele, Harry Potter, que derrotara o Lord das Trevas, agora tinha a filha de um Comensal da Morte chorando no seu ombro.
    ‒ E o que tem isso demais?  ‒ “eu disse o que penso que disse?” pensou Harry
    ‒ Todo mundo, que sabe a história da minha família diz que eu sou parecida com ele... e eu não quero ser, sabe? Eu acho estúpida essa coisa de ser mau... eu só quero inventar coisas legais, mais nada.
    ‒ Willy... sabe o que esperam de mim?
    ‒ O quê?
    ‒ Que eu seja perfeito, e bom, e eficiente, e genial... que mate dragões, basiliscos, ache a câmara secreta... enfrente Voldemort, você tem medo de dizer o nome dele?
    ‒ Na verdade não, prefiro chamá-lo de “O cara lá que ninguém diz o nome” ele assim me parece meio idiota, sabe?
    ‒ Pois é, então querem que eu seja assim e ainda por cima, tenha orgulho disso.
    ‒ E você não tem?
    ‒ Na verdade, não. Quando eu tinha um ano, e você já deve saber o que aconteceu, eu não fiz rigorosamente nada. Ele fez. Ele fez uma besteira, cometeu um erro... e quem vem pagando por este erro todos esses anos sou eu... Das outras vezes que eu, de uma forma ou de outra dei de cara com ele... bem, aí eu fiz o que tinha que fazer e dei sorte. Não sou um herói. Meu pai foi um herói, Sirius é um herói... ele saiu de Azkaban, provou sua inocência...ele deu um ano da vida dele por Sheeba!  Até o velho Snape é um herói, ele salvou minha vida uma vez...
    ‒ E se eu te dissesse que de mim só esperam coisas ruins? Sabe, eu também sou órfã,  Harry. Eu fui criada por duas tias... Tia Sarina e Tia Artêmis, eu tenho uma foto delas aqui  ‒ disse, tirando um medalhão de dentro da capa, e abrindo-o numa foto onde duas bruxas gêmeas de cabelos louros e olhos azuis faziam tricô.  ‒ Elas sempre me disseram como minha mãe era boa,  doce e sensível... e nunca haviam dito nada sobre meu pai... sabe, Harry, minhas tias me deixaram fazer tudo que eu sempre quis, eu acho que na verdade... na verdade elas tinham medo de mim...eu era esquisita: até os 7 anos, Harry, parecia que uma coisa  me protegia... eu nunca me machucava, nunca caía... eu comecei a fazer bruxarias com cinco anos... por isso eu sei fazer tantas coisas... eu sempre olhei os livros de minha mãe, ela era da Lufa Lufa, seus livros continuaram lá, guardados no porão... foi num deles que eu aprendi a ler, sozinha... ‒ ela abriu e fechou o medalhão, que mostrou  uma foto de uma mulher muito bonita, de cabelos castanhos como os de Willy ‒  engraçado, que minhas duas tias que são mais velhas e foram da Sonserina diziam que ela tinha todas as boas qualidades da Lufa Lufa: bondade, lealdade, fidelidade...e eu passei a vida inteira perguntando sobre meu pai, mas elas não respondiam nada...Eu sabia apenas que ele havia sido da Sonserina.
    ‒ E elas não te contaram nada? Eu também nunca soube nada sobre meus pais...
    ‒  Quando eu tinha sete anos, ele reapareceu... Minhas tias achavam que ele tinha morrido... Houve uma discussão horrível... eu não lembro de tê-lo visto, sabe? Mas sei que ele era assim ‒ fechou e abriu o medalhão e uma foto de um bruxo aparentemente alto,  com o rosto  muito parecido com o de  Willy apareceu, em uma roupa de quadribol, devia ter uns 18 anos, mais ou menos. ‒ Eu só sei que ele sumiu de novo, não sem antes mandar tia Artêmis para o Hospital St Mungos... é de lá que eu conheço o Neville... a gente se via desde criança quando ele ia... você sabe sobre os pais dele?
    ‒ Sei.
    ‒ Pois bem, minha tia Artêmis está lá também, vítima grave de feitiço de memória... nunca mais se lembrou de nada... Então minha tia Sarina contou que ele matara minha mãe, dois dias depois que eu nascera... Eu nasci no dia que aconteceu essa coisa aí contigo, sabia? Meu pai matou minha mãe em sacrifício...ele queria... ele queria... ‒ Willy começou a chorar de novo, Harry abraçou sua cabeça e procurou algo para dizer... como ele e Willy eram parecidos... tinham perdido as pessoas que os amavam de forma estúpida... e sempre por causa de Voldemort... Começou a pensar em Sirius e Sheeba e em como eles podiam estar em perigo, ou mortos... sentiu pela primeira vez muito medo de tudo, principalmente do futuro, e sem querer, viu que se formavam lágrimas grandes e quentes em seus olhos também, e em pouco tempo, ele e Willy estavam chorando juntos, as lágrimas se misturando, os dois cheios de medo, sem forças... ele não queria pensar, só queria chorar, chorar...já tinha chorado antes perto de alguém, mas era a primeira vez que realmente chorava com alguém...
    ‒ Harry... eu tenho que te dizer mais uma coisa... quando me disseram que você tinha derrotado, derrotado o cara, sabe, bem, eu quis muito te conhecer, muito, eu te admirava... você era famoso, então quando eu cheguei aqui, e você estava no segundo ano, eu perguntei na mesa da Sonserina, assim que eu fui selecionada: onde está o Harry Potter? E todo mundo me disse que você era um metido, que não gostava dos alunos da Sonserina. Depois, eu soube que você tinha chegado em um carro voador, e bem, eu achei que era verdade...  ele é bom demais para chegar de trem com os outros, o grande garoto de ouro tem que chegar num carro voador... e eu nem precisei te conhecer, quis logo te odiar... ...‒ Willy falava rápido, Harry olhava-o espantado, seus rostos estavam muito próximos e Harry não conseguia deixar de olhá-la, ela deu um suspiro profundo e prosseguiu ‒  mas agora, eu acho que você não é assim, não você não é assim... ‒ para a surpresa de Harry, Willy deu-lhe um beijo. Harry ficou um minuto beijando-a com os pensamentos em total confusão: “E agora? Ela está me beijando! Ela está me beijando! O que eu faço?” “Oras, cara, é só um beijo, qual o problema? Não é bom?” “Bom? É ótimo... mas não posso fazer isso, é errado... porque eu não consigo parar então?” “ E Bianca? Como eu vou dizer a ela? Ei, Bianca adorei a última carta...sabe que eu beijei outra garota? Ela é uma ano mais nova e um palmo mais baixa que eu, mas eu não consegui parar, sabe, eu não consegui parar...” então, Willy separou-se bruscamente dele e os dois ficaram se olhando por um instante com os olhos arregalados. Ela deu um pulo e saiu correndo, Harry só viu a cabecinha dela se afastando no escuro e saindo da sala.
    ‒ O que eu fui fazer... ‒ disse alto, baixando a cabeça.

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