VII



...............

Quando Draco e Astoria resolveram voltar para casa, havia uma sensação estranha entre eles, como se tivessem acabado de se conhecer e perceber como cada um era especial de uma forma diferente, e como essas diferenças lhes fazia bem.


Na casa dela, os pais se preparavam para o almoço que, aparentemente, transcorreu tranquilamente, se é que alguém poderia chamar aquilo de tranquilo.


Dafne estava um irritação só. Toda a alegria e animação de horas atrás estavam condicionadas a tensão na sua vida. Falava sem parar daquela despedida de solteiros e de como estava se sentindo ameaçada pelo fato do noivo ir para um clube de strepers. A maior vontade de Astoria era lhe dar vários tapas na cara para ver se ela parava, de um vez por todas, com aquele show de “preciso que todos me dêem a atenção máxima existente no universo”, mas respirou profundamente, sendo observada discretamente por Draco.


Astoria levantou o rosto de relance, sentindo que era observada, e se deparou com os olhos acinzentados, tão profundos, brilhantes… envolventes... Abaixou-os rapidamente, envergonhada, talvez. Mas por que? Fitou as azeitonas e as cenouras de seu prato. Respirou lentamente. Pela primeira vez naquela tarde não ouvia a voz da irmã se fazendo de desconsolada, nem a de sua mãe tentando consolá-la ou simplesmente, lhe dizendo desaforos.


Elevou novamente os olhos sem conseguir controlar o desejo de olhá-lo. E como por instinto, como se aquilo houvesse sido cronometrado, ele também a olhou. Sentiu então a face esquentar. O que está acontecendo comigo? Se perguntou voltando a visão novamente para o prato, a vontade de comer se extinguindo completo. Ele foi tão bom comigo hoje pela manhã. Jamais imaginei que alguém pudesse me fazer sentir tão bem.




- Esta tudo bem, minha filha? - ouviu a voz do pai lhe despertando de seus devaneios.


- Sim papai. Obrigada.


- Está um pouco distante. Está se sentindo bem? Está sem fome, meu anjo?


- Para falar a verdade, estou sem fome sim papai. - falou sentindo a face esquentar. A irmã e a mãe pararam de falar para ouvi-la. Draco a observava e ela se sentia como uma idiota por isto.


- Por que não vai deitar um pouco Tory?


- Realmente, agora que seu pai falou, parece um pouco abatida - a mãe completou.


- Por favor, Tory. Vá descansar. Não quero que passe mal em minha despedida ou em meu casamento.




Draco, enfim, entendia o porquê de estar ali com Astoria. Era inegável o quanto ela precisava de atenção, de carinho e, acima de tudo, de respeito. Respirou fundo, a fome o abandonando também. Olhou para ela e sorriu de leve, discretamente, apenas deixando claro para ela que ele a entendia. Agora sim, a entendia. E que estava ao seu lado.




- Vou para meu quarto - falou levantando-se da mesa cheia de coragem - Não se preocupe, Dafne, não vou arruinar seu casamento. Tenha certeza que a única pessoa que terá todas as atenções em seu dia glorioso, será você. Com licença.




Draco a acompanhou com os olhos, uma sensação de orgulho o invadiu, desviando novamente para o prato assim que ela desapareceu no corredor. Respirou fundo novamente. Não tinha mais fome, realmente. Pensou no que estaria acontecendo, se achando estúpido com o fato de se importar daquela maneira com ela. Era apenas um negócio, mais um negócio, e ele não gostava de se envolver com seus negócios.




- Draco!? - ouviu a voz de Dafne alguns tons mais altos do que ela costumava usar.


- Oi. - respondeu um pouco desorientado.


- Você sabe o que a Tory tem?


- Indisposição? - perguntou sem entender muito bem o motivo daquela pergunta, afinal, todos haviam presenciado o que acontecera durante a manhã.


- Ela nunca me responde desta forma. Ela foi… grossa. Foi… Depreciativa. Foi…


- Direta e objetiva - as palavras saíram da boca do loiro sem que ele pudesse conter. - Desculpe.




Lamentou-se ao ver os olhos brilhantes e a cara que anunciava um choro de Dafne. Sua mãe a abraçava. O pai era o único que parecia realmente não se importar.




- O que acha de ver se a Tory está bem, meu filho? - o mais velho sugeriu. Draco apenas assentiu com a cabeça, levantando-se e indo em direção ao quarto.




[…]




- Tory- Draco falou após abrir um pouco da porta, observando-a sobre a cama - Posso entrar?


- Claro Draco. Entra, - respondeu sem muito entusiasmo.


- Seu pai ficou preocupado com você. Está tudo bem?


- Sim, está. Obrigada.


- Por que eu não consigo acreditar em você? - falou sério, embora apresentasse um leve sorriso lateral. Tão encantador, ela pensou.


- Estou bem sim, pode acreditar.


- Tory, eu não sei o que você tem agora. Na verdade, você pode estar com muitas coisas, menos bem. Não estou aqui como seu acompanhante, estou aqui como seu amigo, e você sabe que pode confiar em mim.




Ela sorriu para ele enquanto o ouvia continuar.




- Sabe que agora eu entendo tudo o que você está passando. Sabe que eu sei o quanto é difícil e dolorido para você está aqui, ter de ser obrigada a viver tudo isto. Mas você é forte, você é capaz de superar tudo isto e muito mais coisas, e sem a ajuda de ninguém, porque em toda a minha vida, Tory, não conheci uma mulher mais encantadora que você.


- Eu… - ela soluçou.




Os olhos avermelhados com lágrimas presas ao ponto de serem libertadas. Ele a abraçou antes que ela se sentisse fraca demais para isto. Astoria chorou. Finalmente, ela chorou.




- Tudo bem, Tory. Faz parte de nossa vida chorar. Eu mesmo choro bastante - sorriu pelo nariz parecendo lembrar-se de algo - Faz parte de nós nos sentirmos mal, e principalmente, faz parte de nós sentirmos dúvidas quanto ao que faremos, o que falaremos, ou o que sentimos. Não se sinta pior ou melhor por isto. Todos nós temos dúvidas.


Ele engoliu em seco ao se ouvir falando aquilo. O conselho mais parecia para ele mesmo que para ela.




- Draco… Eu… - ela se afastou do abraço e os olhos estavam vermelhos - Estou tão confusa com tantas coisas. Estou me sentindo mal em relação a tudo isto. Não sei o que pensar. Acho que vou… vou…


- Enlouquecer?


- Sim. - abaixou os olhos mirando o lençol. - Quero ir embora. Não sei o que eu vim fazer aqui.


- Você veio enfrentar o seu passado. Você veio vencer tudo e todos os que fazem esses olhos tão lindos chorarem. Você veio mostrar para todos os que não acreditaram em você, o quanto você é valiosa, Tory. Você veio mostrar que é a mulher mais forte que eles já conheceram um dia.


- Obrigada, mas eu não sou tão forte como você imagina. Me desculpe.


- Não precisa se desculpar, apenas acreditar que é verdade. Eu nunca erro.


Ela conseguiu sorrir, e Draco achou que era o sorriso mais bonito que já vira na vida.




- Quando você se der conta do quanto você é especial, vai perceber como as coisas ficarão mais fáceis.


- É um pouco difícil de acreditar em você tendo a vida que tenho e vivendo da forma que vivo, mas eu prometo que tentarei.


- Já é um grande passo, pode ter certeza.




Ele a abraçou novamente, desta vez, sem lágrimas. Seus corpos pareciam se encaixar e exclamar por aquele contato a mais tempo do que eles poderiam imaginar. Se sentiram bem com o toque, afinal. Não poderiam negar, de fato. A sensação era de acolhimento, de aceitação.




- Você tem um abraço gostoso - ela falou com a cabeça apoiada em seu peito.


- E você é gostosa de abraçar - respondeu.


Uma das mãos fazia um leve cafuné nos cabelos escuros da garota. O queixo descansava sobre a cabeça dela.




- Vou deixar você descansar um pouco, tudo bem? - falou interrompendo o abraço e a olhando nos olhos, segurando seu rosto com as mãos. Ela piscou os olhos.


- Posso te pedir uma coisa? Algo além de negócios?


- Claro.


- Não vai embora. Fica aqui comigo... Me abraça.


- Tudo bem, eu não vou - ele jamais entenderia o motivo do solavanco que sentiu em seu estômago. Astoria era uma mulher linda e ele não conseguia mais dizer não.




Aproximou-se, ficando ao seu lado. Ela deitou-se primeiro olhando para ele. Um olhar de desespero; uma mistura de esperança e medo. Então, Draco a acompanhou. Deitou ao seu lado e permitiu que ela colocasse a cabeça sobre seu peito.


O peito dele subia e descia tranquilamente. As batidas do seu coração a acalmaram, mas os seus pensamentos não deixaram de a atormentar. Se perdeu no cheiro que a camisa dele exalava e fechou os olhos imaginando, tentando compreender o porquê de estar se sentindo assim. Não sabia se poderia ou se alguém seria capaz de respondê-la.


Draco apenas fechou os olhos, perdido em pensamentos, e neste envolvimento conjunto, adormeceram.

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Comentários (2)

  • Tati Hufflepuff

    1X0 pra Astoria!!!! Chupa famíliaaaaa! auhauahauhauahuhauhauhauahEsse capítulo foi incrível! Astoria começou a se libertar da família e dizer o que realmente sente!Draco cada vez mais apaixonado e sem querer admitir isso pra ele mesmo... Astoria indo pelo mesmo caminho! auhauahuahauahAdorando a história, odiando a mãe da Astoria! :) 

    2013-11-21
  • Lana Silva

    Com uma família dessa pergunto quem precisa de inimigos, essa garota sofre...Se não fosse o pai, coitada mais ainda dela. Bem a mãe de Astoria é triste, sinceramente, não sei como uma mãe consegue fazer isso com a filha, sinceramente, se eu fosse ela nem sei mais se voltaria ai. Com minha irmã seria pior, nunca tive irmã, mas tem uma prima que corresponde a uma irmã, então acho que se ela me tratasse assim eu devolveria todos os comentários da mesma forma que Astoria fez agora ou pior... Ea é boba demais as vezes. Bem, mas tô gostando bastante. É bom ver Draco apaixonado! Beijoos! 

    2013-10-19
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