Losing my insanity - POV SS






Losing my insanity


(pov Severus)


Que medo alegre, o de te esperar. O receio martelava em minha mente perturbada a cada vez que visitava nosso simbólico lar e lá não estavas. Atrasavas-te por inúmeras vezes – testando-me a fé, se é que me restava alguma –, mas nunca fugiste ou deixaste de vir até mim. Deveria eu considerar-me honrado ou estar temeroso?


Religiosamente estávamos ali para quotidianos encontros silenciosos, seja em noites chuvosas, seja nas enluaradas. Nenhum de nós jamais falou, e quiçá fosse a hora de alguém quebrar o silêncio. Dei-me conta, então, de que não seria eu. Minhas palavras nasceram para ferir, não para demonstrar ou encorajar afeto. Meu dom é o de deixar pessoas às lágrimas diante delas, no sentido mais trágico da expressão. Seguramente é por isso que não disse a ti o que guardo aqui dentro, minha Luna, e é quase certo que não seja capaz de dizê-lo – se o fizesse, temeria outra vez a rejeição, tão aterradora para mim quanto um espírito zombeteiro.


Eu permanecia de costas para o castelo, e me abordavas sorrateira, com passos de plumas tão tenras quanto a fita que anedio como se fosse uma preciosidade logo que minha cabeça toca o travesseiro, para que eu figurativamente estivesse atado a um sono tranquilo. E em pensar que de início tocá-la causava-me insônia, abismava-me distinguir o quanto a fita atava-me a ti também. Teu perfume de flores silvestres permanecia nela – um feitiço de conservação jamais me foi tão valioso.


Eis que em um dia o sol raiou e não desfrutei de tua presença. Eu ocupava o posto de diretor e Comensais da Morte rondavam cada esquina do castelo. Agora estavas tão distante de mim, encarcerada. Desesperei-me. Davam-te de comer, de beber, de vestir? Eu sentia frio, ainda que fosse verão. Sem o teu brio, que sobrepuja qualquer estação.


Meses depois a guerra acabara e fui tomado como morto pelo mundo cruel do qual nunca soube se efetivamente fiz parte. Voltei para buscar-te, todavia, e foi difícil conter um tremor ao notar teus joelhos ralados em contato com a pedra rústica do túmulo vazio que conservava meu nome na lápide. Uma fita verde-musgo estava presa jovialmente a teus fios dourados, outra sustentava um ramo de damas-da-noite recém-colhidas que pareciam sem graça à luz do dia – após o crepúsculo é que se revelavam em pleno esplendor, desabrochando em flores brancas. Pergunto-me se as teria escolhido propositalmente.


Tu piscas repetidas vezes, ainda incrédula sobre se eu era ou não fruto de tua imaginação. Passos incertos guiam-me a ti, e o antes tão temido Severus Snape sente-se acovardado a ponto de não encarar-te diretamente, mas corajoso o suficiente para roubar-te um beijo casto que não passava de um demorado contato somente de lábios.


Alcanço a fita que seguravas, guardo-a no bolso da calça, e prendo enfim meus olhos aos teus para enxergar a tempestade neles indo embora. Com as bochechas vermelhas, tomas de volta o pedaço de tecido, contornando meu pescoço recém-cicatrizado, beijando-me propriamente. Eu não sabia, mas aquilo me salvaria.



Fim.



Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

  • Amanda Regiane

    Suspirei mil vezes lendo isso. Muito linda Thay! Meu Deus! Parabéns de novo! Que Sev mais perfeito esse, quase morri aqui! Muito linda ♥

    2013-09-19
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.