So near, so far - POV LL






So near, so far


(pov Luna)


A sombra é sempre negra, ainda que seja de um cisne branco. Assisto-te à margem do Lago Negro, não como cândido cisne a refrescar-se, mas como pássaro de voo solitário a contemplar o nada após desgarrar-se do bando. Estás perdido, é fácil notar, mas te encontrei. Não tão por acaso, mas para presentear-te. Para amar-te também, quem sabe.


Dou três passos à frente e observo-te olhando fixamente para o alto, pergunto-me pelo que buscas com tanto afinco. Pelos teus iguais que migraram para o Sul, deixando-te para trás? Muito provável, afinal a posição dos Zonzóbulos espiralados ao redor da cabeça exprime que estás à espera de algo. Ou de alguém. Esta noção curiosamente despertou-me.


Aproximo-me para dar-te meu presente. Sem medo, amarro a teu pulso a fita azul royal que levava sempre nos cabelos, porém nem assim deixas de contemplar o céu sem estrelas para ter a certeza de que estou perto. Era como se percebesses que não era outro alguém à parte de mim ali, como se conhecesses minhas peripécias noturnas ao redor do lago e nem te preocupasses em me aplicar detenções por isso. Como se pudesses, de longe, intuir minha presença. Esta última noção, estranhamente, fez-me aquecer por dentro.


Demoras-te poucos segundos para tocar o antebraço esquerdo – como se te convencesses com facilidade de que o que estava ali não tinha por finalidade ferir-te (curar-te talvez, por que não), diferente da Marca tenebrosa na pele cravada –, e, após breve estremecimento pelo repentino contato com a seda azulada, teu rosto exprime inédita serenidade.


Vejo, além disso, a luz da lua contrastando com tuas feições pouco apregoadas. Pela primeira vez distingo que aos meus olhos és inexplicavelmente belo, querido Severus, e mesmo teu nariz avantajado tenho ensejo para apreciar com graça (posso jurar!). Viras-te para fitar-me então, e está refletido o luar nos olhos da cor café em que tanto se via amargura. Afortunadamente, café amargo me apraz, embora eu sonhe com beber da doçura nos teus olhos.


Eu te toco, para ver-te sorrir (não é alucinação!). De alegria.


E te sufoco, com meus braços a te cingir. És capaz de sentir a transcendental magia?


Agora te vejo, como pássaro negro feliz por encontrar o ninho.


E, na ponta dos pés, timidamente a face te beijo, para provar-te que não estás sozinho.


Em seguida, temos os olhos fechados e tua testa encontra a minha. Às vezes, me prendia à teoria de que eras um doce vampiro, pois te pareces muito com a imagem e a descrição dadas n’O Pasquim meses atrás. Porém vampiros têm a pele fria, e sinto o receptivo calor de teu corpo contra o meu. O palpitar acelerado de teu coração também não mente. Severus Snape tem mais fraquezas humanas do que costuma exibir.


Afasta-te repentinamente, com passos firmes e sem olhar para trás. Desatas o nó da fita, mas não a lanças longe. Eu não sabia, mas a maciez do tecido jamais deixou o calejado de teus dedos durante aquela noite para ti insone.


Fim.



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Comentários (1)

  • Amanda Regiane

    Droga Thay! Isso é tão... Luna! Argh! Meu Sev que era só da Mione, agora é da Dilua também! Muito perfeita, quase fui as lagrimas por que é muito ... Luna! Não sei como elogiar de outra forma. Acho que até a J.K. aprovaria se lesse. Parabéns sua linda! ♥

    2013-09-19
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