O lado "B" das coisas



Mais uma vez estavam os garotos no Centro (mas, desta vez com medidas de segurança mais drásticas, mesmo que apenas tenham usado uma Chave de Portal direta). O que guardava a porta para a Sala de Testes pareceu assustado ao ver tantos bruxos se aproximando. Afinal, além de Harry e os amigos, dez aurores de ar muito sério os rodeavam.
- Eu... preciso... entrar... na sala - resmungou Harry para um auror particularmente grande que o protegia como se um Comensal da Morte pudesse surgir ali no chão e atacá-lo.
- Opa... Deixem ele passar - falou Tonks. - Por favor,... a guarda deve esperar aqui... aqui.
Rômulo recebeu Harry, Hermione, Krum e Malfoy na mesma sala em que eles fizeram o teste teórico. Mas aquela sala de cabines individuais mudara.
Tampouco tinha cabines. Na verdade, se transformara em uma saleta onde Lupin passou as informações sobre a próxima etapa.
- Bem, muito bem. Agora, estamos aqui, com uma participante a menos, infelizmente... Bem, mas faz parte do torneio - disse. - Afinal de contas, um, e apenas um, poderá sair vitorioso dele.
"Agora, como eu bem disse, esta etapa é bem diferente da outra. Desta vez vocês não ficarão sentados marcando alternativas em um pergaminho com uma pena...".
- Uma pena que fura - acrescentou Harry, baixinho, lembrando-se de Daisy.
"... Não, hoje vocês entrarão em ação. Como bem sabem, esta segunda etapa é mais conhecida como 'Vigilância e Rastreamento'. Bem, então, o que terão de fazer... vocês descobrirão assim que atravessarem esta porta".
- O que? - reclamou Malfoy. - Sem nenhuma dica?
- Tudo o que precisam está na sala adiante - disse Rômulo, animado. - Só que um de cada vez - acrescentou, quando os quatro correram para a porta ao mesmo tempo. - Quando o primeiro terminar a etapa, ou não conseguir realizá-la, esta tocha aqui - e apontou para uma mini tocha em um archote que permanecia apagada em cima de uma mesinha - acenderá, o que indicará que o outro poderá entrar. Muito bem, pode começar, senhor Krum.
Vítor adentrou a sala representando uma cena digna de Rambo.
Ele se acha, pensou Harry, irritado.
À medida que o tempo passava, a tensão entre Harry, Hermione e Malfoy só esquentava. Trocavam olhares o tempo todo, demasiado emudecidos para trocarem uma palavra de ódio, rancor ou até amizade.
- Potter! - exclamou Lupin, de repente, fazendo o garoto saltar. - Sua vez!
Harry viu que a tocha agora flamejava, esbanjando um fogo azul cintilante. Dirigiu-se à porta e a empurrou.
A porta atrás dele se fechou magicamente, e ele, cauteloso, pôde registrar a sala que adentrara. Era nada menos que uma sala quadricular ampla e vazia, iluminada por uma luz branca sem origem. Não havia lâmpadas e nem archotes.
O que tinha, na verdade, era um pedaço de pergaminho, que flutuava no ar a um centímetro do nariz de Harry. Ele o leu, sem apanhá-lo:

Cuidado!

Seu objetivo nesta etapa é claro
Você precisa alcançar a porta seguinte
Mas, para isso, precisa agir em cautela
Porque esta sala está repleta de obstáculos...

Harry desviou o olhar do pergaminho flutuante, observou a simples porta lá na frente, olhou a sala à sua volta e, confuso, voltou ao pergaminho.

Um bruxo há pouco aqui já passou
Reúna as pistas disponíveis
Com extremo cuidado e atenção
E descubra o nome deste bruxo enigmático

Harry contemplou a sala. Que pistas haviam ali? A sala era vazia.
Hesitante, o garoto foi até a porta à frente. Pôs a mão na maçaneta, cauteloso e muito atento... Mas não atento o bastante para perceber que a maçaneta tinha dentes e que...
- Morde - gemeu o garoto, que afastou a mão, com os olhos em lágrimas. - Sua...
- Sua o quê? - retrucou a maçaneta.
- Você não está falando - riu Harry, após um minuto, contemplando a maçaneta, abobado. - Maçanetas não falam. Acho que comi algo que não me fez bem, é só isso...
- Receio dizer que você poderá acabar comendo, nesta sala, algo que não lhe faça bem - falou a maçaneta. - Mas, primeiro, você precisa encontrá-lo.
Harry parou de rir. Olhou, sério, para a maçaneta.
- Você só pode estar brincando - disse Harry, preocupado. - Será que meu nível de ridicularidade está tão alto a ponto de eu ter de conversar com uma maçaneta?
- Eu achei que nada o fosse impressionar, jovem Potter. Mas sabe de uma coisa? - Harry se ajoelhou diante à porta, procurando manter distância entre seu nariz e os dentinhos afiados da maçaneta falante. - Só há um jeito de você atravessar esta porta para ir à câmara seguinte. Mas, antes, você precisa descobrir a origem da luz desta sala.
Harry olhou para cima. A luz misteriosa obviamente vinha de lá. Mas não havia nada visível que pudesse confirmar isto. Ele, portanto, sacou a varinha.
- Revellius! - murmurou. - Revellius! Reve...
Mas, o que veio em sua direção era um jorro, mais para luz de feitiço do que para luz ambiental.
- Protego! - disse imediatamente, fazendo o feitiço misterioso explodir no ar.
- Garoto tolo - resmungou a maçaneta. - Não tente usar feitiços. A não ser que queira sair daqui com um grande chifre na cabeça... Esta sala tem uma forte proteção antifeitiço.
- E agora que ela avisa - retrucou Harry, guardando a varinha no bolso (mas, depois de ter pensado melhor, chegou à seguinte conclusão:... droga, cara, ela é uma maçaneta!).
O garoto voltou a se agachar.
- Ok. O que sugere que eu faça, então? Quer que eu reze para que a origem da luz apareça, é isso?
- Não seja idiota - disse ela, calma. - Não precisa rezar... é só rastrear. Procure que você vai entender...
Mas que diabos deveria procurar, pensou, andando em círculos na sala. Vamos, pense... Para Harry era obrigatório que desta vez ele superasse Vítor.
Precisava passar daquela etapa na frente do jogador búlgaro. Ele já se exibia o bastante para Hermione sem...
PIMBA!
Não sabendo onde o fizera, Harry tropeçou, e, caiu, se estatelando contra uma das paredes da câmara.
- Mas que... - começou, mas parou, porque sentiu que a sua mão esbarrara em alguma coisa no chão, ali próximo a parede.
Era um interruptor.
- Grande segredo - resmungou Harry, virando-se para a maçaneta.
Ela o desconsiderou com um bufo. Harry, então, apertou o botão.
A sala escurecera imediatamente.
- O que eu faço agora? - perguntou Harry, perdido no escuro, apalpando a parede.
- Não teria graça se eu dissesse, não é? - zombou a maçaneta.
- Bem, mas se eu... AI - gemeu ele. - Por que me mordeu?
- Veja bem onde passa a mão garoto - rosnou a maçaneta. - Ah, e porque não tenta usar a varinha? Espertinho...
- Mas você disse para eu não usar - lembrou Harry.
- Quando eu disse para você não usar a luz ainda estava acesa - justificou ela. - Agora está apagada. É preciso somar um mais um para entender o que isso significa?
Era o que me faltava, pensou Harry, sacando a varinha:
- Lumus!
A varinha de Harry projetou a luz ofuscante que quase o cegou. Ele deu um giro de 360°, vasculhando cada canto com a luz, e, enfim, percebeu algo: toda a vez que ele projetava a luz em uma das paredes, a luz se extinguia, misturada às sombras, e tomava a forma da sombra de um cogumelo enorme. Ele se aproximou da parede e tocou-a. Bateu. Um barulhinho de metal o indicou que tinha uma portinhola oculta ali, quase como um cofre.
Conseguiu abri-la, e, de lá de dentro, tirou nada menos que um cogumelo de verdade. Tinha o chapeuzinho vermelho com manchas prateadas.
- Um cogumelo! O que faço com ele? - exclamou Harry, religando o interruptor; mas, em seguida, recebendo outro feitiço perturbador bem no estômago, vindo do nada.
- Não consigo respirar... - ofegou.
- Apaga a luz da varinha, seu imbecil - gritou a maçaneta.
- Nox! - ordenou, antes de cair de cara no chão.
Sentindo um formigamento horrível no estômago, Harry ergueu a cabeça e notou dois homenzinhos mínimos, que seguravam o cogumelo que ele deixara cair.
Eram gnomos.
- Olá, meu nome é Ôncio! - disse um.
- E o meu é Braga! - apresentou-se o outro.
- E eu devo ter batido com a cabeça - concluiu Harry, abestalhado.
- Agora, tenho que lhe explicar, venha até aqui - ordenou a maçaneta (o gnomo chamado Ôncio devolveu o cogumelo ao garoto e este se postou em frente à maçaneta). - Bem, este cogumelo tem propriedades mágicas. Comendo ele, você poderá, portanto, ou crescer, ou diminuir... E é claro que você já sabe o que tem que fazer para passar por esta porta?
- Sim, tenho que diminuir... - respondeu Harry. - Mas como posso ter certeza de que não vou crescer ao invés de diminuir?
- Bem, eu digo que, comendo um pedaço do lado A, você encolhe. Já, comendo o lado B, você cresce.
- Mas como faço para saber qual é o lado A e qual é o lado o B? - perguntou Harry, confuso.
- Bem, creio que você tenha aprendido o alfabeto na escola - respondeu a maçaneta, sarcasticamente. - Bem como deve ter aprendido também a ler...
Harry, envergonhado, notou uma pequena letra "A" marcada em um lado do cogumelo, e uma letra "B" na extremidade oposta. Arrancou, então, um pedaço do lado "A"; mas, antes que pudesse levá-lo à boca, a maçaneta falou:
- Espero que fique claro o seguinte: sair desta sala COM o nome do bruxo desvendado significa sair com pontos. Sair SEM o nome do bruxo significa sair com pontos a menos.
Harry tirou rapidamente o cogumelo do caminho da boca.
- Mas como vou descobrir o nome? Não tenho nenhuma pista!
- Nenhuma pista? - inconformou-se a maçaneta. - Ora, moleque, pense em tudo o que você já viu nesta sala, e tente juntar os elementos para descobrir a chave de saída.
O garoto olhou à volta, inconformado. Que é que tinha naquela sala inútil...? Seu olhar pousou-se nos gnomos falantes, Ôncio e Braga... Passou a contemplar o cogumelo... O lado certo que teria de comer para diminuir seria o A, e, levando em conta que fosse em ordem alfabética, A seria primeiro, portanto, o lado esquerdo. Esquerdo? Mas, e qual seria a importância de Ôncio e Braga?
- Esquerdôncio? - exclamou Harry de repente. - Esquerdôncio Braga! Como aquele dos gibis!
- Eureka! - exclamou o próprio mínimo Braga. - Este foi bem melhor que o anterior!
- Cale a boca - gritou Ôncio, sacudindo o amigo. - Você sabe que não podemos passar informações aos competidores, quaisquer que sejam. Ele jamais pode saber, por exemplo, que o jovem Krum se saiu péssimo neste enigma.
- Eu mereço... - sussurrou a maçaneta, lamentando-se. - Bem, Potter, pode comer o cogumelo, a vitória o aguarda lá fora. E lembre-se de não se encostar muito na porta quando for sair... ela sente cócegas.
Satisfeito por saber que Krum não se saíra tão bem quanto ele, Harry engoliu com gosto o lado A do cogumelo. Não tinha um gosto bom, o cogumelo, mas o gosto que sentia intimamente era o gosto da vitória; a vitória sobre Vítor Krum.
Um formigamento percorreu por cada centímetro de seu corpo. Olhou para suas mãos; elas não eram mais do tamanho tradicional. Tinham o tamanho de uma formiga. Mas, antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, com um solavanco, sua cabeça, tronco e membros restantes diminuíram também.
Harry acenou para a maçaneta e os gnomos e atravessou por debaixo da porta.
Como ia crescer agora? Olhou para o cogumelo. Arrancou um pedaço do lado B e o engoliu, voltando ao tamanho normal.
- Bem - comentou consigo mesmo, guardando o cogumelo pela metade no bolso -, acho que depois dessa, não tenho nada mais impressionante a fazer...


Quando Harry voltou à sala em que Lupin estava, ele percebeu que Draco já deveria ter começado a etapa.
- Harry, Harry, como foi? Ah, nem precisa responder - disse Lupin, dando um tapinha no ombro do garoto, em meio a uma piscadela.
- Senhor... Eu achei que foi um pouco fácil. Esperava outra coisa...
- Harry, o Centro tinha planejado esta etapa de um jeito avançado, com simuladores e tudo. Mas o Ministério nos desconsiderou, alegando que seria muito perigoso...
- Onde está a Hermione? - perguntou Harry de repente.
- Está lá fora, conversando com o senhor Krum - disse Lupin, e, abaixando a voz, acrescentou: - Ele não se saiu muito bem nesta prova... digamos que... bem, você verá...
Harry viu que o homem parecia muito tentado a cair na gargalhada.
Olhou para a tocha agora apagada, parecendo querer disfarçar, e falou:
- Quer fazer o favor de chamar a senhorita Granger? É a vez dela...
Harry obedeceu. E teve duas grandes surpresas ao abrir a porta para o corredor: primeiro Hermione era beijada; segundo, o homem que a beijava tinha um grande par de chifres na cabeça.
- É sua vez... - avisou-a com a voz fraca.
Hermione se desvencilhou do beijo e Harry pôde ver que o homem chifrudo era ninguém menos que Vítor Krum. O garoto não sabia se ria ou se chorava.
A garota se dirigiu à porta, mas Harry provocou:
- Vejo que estava se divertindo com o touro.
Ela apenas lançou um olhar vingativo a Vítor e um rancoroso a Harry e bateu a porta com força.
O garoto olhou para Vítor. Vítor olhou para ele. Estava decididamente ridículo com os chifres na cabeça.
- Forram os malditos feitiços daquela sala - resmungou Krum, irritado, dando as costas a Harry e indo embora.


Uma vez de volta a Hogwarts, Harry teve tempo de pensar no beijo de Hermione e Vítor. Chegara a conclusão de que amar doía... e doía muito. O garoto subiu à torre da Grifinória e apanhou sua vassoura no dormitório para o treinamento de Quadribol daquele dia.
Quando estava de volta ao Salão Comunal da Grifinória, encontrou uma figura solitária, sentada à poltrona, encarando distraidamente as chamas da lareira.
- Gina? - chamou ele. - Está tudo bem?
A garota ergueu a cabeça, assustada. Enxugou o rosto disfarçadamente e se levantou.
- Oh, olá, Harry. Desculpe, não vi você. Como foi no Centro?
- Muito bem - respondeu o garoto, encostando a vassoura na lareira. - Olha, Gina, se há algo errado, podemos conversar.
- Não podemos - falou Gina, triste. - Você sabe o que é...
Harry contemplou a ruiva, ali à sua frente. Ela gostava dele, e agora deveria estar se referindo a isso. Mas ele a ignorou todo o tempo só porque gostava de Hermione. Ele se perguntou imediatamente se não teria sido mais inteligente escolher ficar com a pessoa que gostava dele a ter que sofrer nas mãos de uma garota que feria seus sentimentos. Porque esta era a visão que ele tinha de Hermione agora. Aproximou-se de Gina, hesitando. Não tinha certeza se realmente queria fazer aquilo. Mas, sem pensar mais sobre isso, passou um braço pelas costas da garota, aproximou-se mais, e a beijou. Ela se entregou imediatamente ao beijo, transformando-o em algo longo.
- Hey! - exclamou uma voz masculina. - Vejo que estou por fora de algumas novidades!
Harry largou Gina. Rony os observava, perplexo.
- Cara, você não sabe da última - apressou-se Harry, não encontrando nada mais inteligente para se dizer. - Vítor Krum tem um belo par de chifres...

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