Acordando com o pé direito




Se não estivesse alojando muitas mágoas em seu peito; se não estivesse tão triste por seu fim na vida de Hermione; se não estivesse com vontade chorar pelo resto da vida, Harry teria se divertido muito no resto da festa. Não queria ter participado, mas Rony não estava em condições de ficar sozinho; só que, a altura em que o garoto pegou uma garrafa de champanhe como microfone e começou a cantar I Will Survive, Harry deixou o amigo, pois estava se divertindo muito, mesmo que bêbado.
No quarto Harry se deitou na cama macia e ficou olhando para o teto. Porque tudo isso acontecia com ele?, pensou, zangado.
No domingo de manhã Harry desceu à cozinha e encontrou Max, Daisy e Hermione, tomando o café da manhã.
- Puxa, Hermione, se não fosse por você jamais estaríamos na casa do famoso
Vítor Krum - comentou Max. - Espere até meus amigos saberem...
- Tudo bem - disse Hermione. - É, o Vítor é legal, não é?
- Oi, Harry - disse Daisy ao vê-lo observar a conversa. - Tudo bem, "migo"?
Daisy deu um beijo na bochecha de Harry.
- Tudo bem - mentiu ele, se sentando à mesa. - E com você?
- Estou ótima - disse a garota também se sentando. - A festa foi boa, você e a Hermione deveriam ter visto... Depois de cantar, o Rony se fantasiou de mexicano e começou a dançar "Mis Barretos" na frente de todo o mundo, com um sombreiro e um chicote na mão. E quando ele imitou o Wizard People, então... Foi a coisa mais hilária que já vi na vida!
Harry olhou para Hermione. A garota se recusava a olhar para ele.
Rony entrou, neste momento, arrastando os pés pela cozinha. Estava com uma aparência horrível.
Daisy beijou a bochecha do garoto como fizera com Harry.
- Bom dia!
- Humm... Nada de bom - falou Rony, massageando a cabeça.
- Porque? - perguntou Max.
- Bem... Digamos que o mini-bar de Krum não está mais lá porque eu bebi ele - respondeu.
Gina entrou logo atrás de Rony. Olhou para Harry e Hermione e desviou o olhar rapidamente, corando.
- Você tá de ressaca? - perguntou ao irmão.
- O que é que você acha? - respondeu Rony, carrancudo.
- Onde você estava? Não te vi depois que abriram os presentes - disse Gina.
- Bem... Eu subi para o sótão e... não estava sozinho.
- Como assim? - perguntaram Daisy e Gina simultaneamente.
Rony olhou para todos, com cara de quem comeu e não gostou. Por fim, disse:
- Eu dormi com a irmã do Krum.
- Você o QUÊ?
Hermione largou seu mingau e se levantou, alucinada. Daisy deixou sua torrada cair no chão. Gina arregalara os olhos para o irmão.
- Olha o garanhão! - exclamou Max. - Uh! Legal!
- Não, Max! Nada de “uh”! Nada de “uh”...!
- Como pôde fazer isso? - perguntou Hermione, mal acreditando. - Rony, o Krum vai te matar quando souber.
- Matar é pouco - comentou Harry.
- Eu sei - disse Rony, nervoso, as orelhas corando. - Vocês acham que eu não pensei nisso?
Depois de um tempo, ele falou:
- E essa não é a pior parte.
- Tem algo pior que isso? - perguntou Gina, erguendo as sobrancelhas.
- Sim... - disse Rony, olhando para o chão. - Eu não me lembro com qual delas.
Todos olharam boquiabertos para ele. Harry olhou para Hermione e comentou:
- Viu! Não diz que homem é legal, não! - e apontou o indicador para o amigo. - Homem é tudo assim, ó!
Hermione lançou-lhe um olhar gelado e ele voltou sua atenção para a torrada.
- Como assim não lembra com qual delas? - perguntou Daisy, aparentemente indignada.
- Isso é inacreditável - fala Hermione, perplexa.
- Pelo amor de Deus, elas são muito parecidas, ora... - justificou Rony.
- Foi a Bet? - perguntou Gina.
- Aquela de saia verde-garrafa? - disse Hermione.
- Não, aquela é Wendy - informou Daisy.
- Eu pensei que Wendy fosse a de preto... - falou Harry.
- Ah, tá vendo, nem vocês sabem quem é quem - exclamou Rony, triunfante.
- Nós não dormimos com uma delas - lembrou Daisy.
Rony de repente pareceu se lembrar de algo.
- Foi a Kathleen, a de saia vermelha, só pode ter sido - falou Rony. - Eu enfiei minha língua na garganta dela...
- Foi em mim - disse Daisy.
Rony corou loucamente. E gaguejou ao prosseguir.
- Me desculpe, é q-que quando bebo eu... eu passo um pouquinho dos limites... Me perdoe.
- Tudo bem, não esquenta.
A porta se abriu e Vítor Krum entrou, com um ar de dar medo.
- Vem cá - disse olhando diretamente para Rony. - Quero falar com focê.
Rony o contemplou, assustado.
- N-não pode ser aqui com... com testemunhas?
Gina empurrou o irmão e ele se dirigiu a Krum, hesitante.
- Focê dormiu com a minha irmã - disse Krum sem cerimônia.
Harry aproveitou a primeira oportunidade que lhe veio para ajudar o amigo.
- E qual é mesmo o nome dela? - perguntou Harry. - É que são tantas...
- Mary Ângela - respondeu Krum.
Rony ergueu o polegar rapidamente quando Krum virou-se para Harry.
Gina também pareceu querer ir no embalo de ajudar o irmão:
- E como ela é, Vítor?
- Porque não pergunta pro seu irmão, foi ele quem dormiu com ela - e voltou sua atenção a Rony. - Minha irmã disse que focê a beijou - falou Krum, sério. - Disse que estão apaixonados. Isso é verdade, ou você só quer esquecer sua ex-namorada dando uns pegas na minha irmã?
Rony cuidou de deixar um espacinho entre ele e Krum antes de responder:
- Só pode ser a primeira opção...
- Sério?
Krum, inesperadamente deixando aquele ar sério de lado, abraçou Rony.
- Que legal - disse Krum, dando uns tapinhas nas costas dele. - Focê e minha irmã, perdidos de amor.
- É, eu tô perdido mesmo - falou Rony, olhando para os amigos com cara de enterro.
Krum então começou a conversar com Hermione. Harry, achando que não suportaria ver os dois conversarem, e a fim de evitar Gina, subiu para o quarto atrás de Rony. No quarto, Harry deu uma lida em Quadribol Através dos Séculos, embora seus pensamentos estivessem bem longe daquele livro. Rony escrevia uma carta, com a língua presa entre os dentes, franzindo ligeiramente a testa, parecendo usar toda a sua concentração, como se estivesse escrevendo uma carta ao presidente. Quando terminou se dirigiu a Harry.
- Dê uma olhada nisso aqui e diga o que acha - disse, entregando o pergaminho ao amigo.
Harry começou a ler em voz alta:
- Querida Mary Ângela. Oi. Estou escrevendo esta carta para dizer que lamento e que nada rola entre nós... Você é doente, filho?
Rony se assustou.
- Eu não escrevi isso, não.
- Não, isso é o que eu acho... Você é doente - explicou Harry. - Como acha que o Krum vai reagir quando souber que você terminou com a irmã dele por carta?
- Ele vai ficar zangado. Mas, eu já pensei em tudo: você diz que me mudei para a França... mas estarei em Cuba - acrescentou Rony.
- Olha, não é assim. Você tem que ir até ela e chamá-la para sair, aí conta tudo direitinho, e, por sorte ninguém sai ferido - sugeriu Harry. - Pensando bem você já teve sorte, eu esperaria Krum fazer tudo, menos te parabernizar quando soube o que você tinha feito.
- Pois eu preferia que ele me batesse - falou Rony. - A Mary Ângela acha que estou apaixonado por ela, e não estou nem um pouquinho... Na verdade nem me lembro como ela é...
- Escute, você tem que fazer isso naturalmente. Ao menos sabe o nome dela, não é? Então, vá até a casa dela e pergunte pela Mary Ângela; aí, quando uma delas vier à porta, você vai saber quem é a tal e explica tudo a ela.
Rony arregalou os olhos de repente.
- Mas e se a Mary Ângela atender a porta e eu perguntar pela Mary Ângela? - perguntou desesperado.
Harry deu um tapinha nas costas do amigo.
- Aí eu mesmo compro para você uma passagem só de ida a Cuba...
Harry ia saindo para voltar ao seu quarto, mas Rony o chamou.
- Harry! Você não pode ir comigo?


A casa de Mary Ângela e as irmãs ficava a dois quarteirões da casa de Krum. Não era uma mansão e, para falar a verdade, era bem simplezinha.
- Harry, você tá aí? - murmurou Rony, olhando para o lado.
Uma mão erguendo o polegar se materializou na frente dele e voltou a sumir em seguida.
- Ufa...
Harry concordou em ir com Rony coberto pela Capa da Invisibilidade caso o amigo precisasse de ajuda. Ele deu três batidas na porta. Mas quem a atendeu era...
- Krum? - exclamou Rony. - Q-q... que é que você t-tá fazendo aqui?
Harry também se surpreendeu, nem tinha reparado que Krum saíra de sua mansão.
- Estou esperando a vovó terminar de lavar minha roupa - disse Vítor, balançando os ombros. - E focê?
Rony ficou sem voz por uns instantes, mas a recuperou quando Harry deu-lhe um soco nas costelas.
- Eu... Eu vim ver a Mary Ângela.
Krum abriu um sorriso de orelha a orelha.
- Esse é o homem - disse, fazendo sinal para que Rony entrasse.
Harry entrou logo atrás, tropeçando na Capa.
Na salinha da casa, Krum parou Rony e o alertou:
- Minha avó não sabe que vocês namoram. Por isso vocês não podem demonstrar nada na frente dela - e acrescentou: - E é melhor não contrariar a minha avó; ela foi a sexta pessoa a cuspir no cardápio do Mussolini.
Rony engoliu em seco.
Quando entraram no amplo aposento que era a cozinha, Harry logo percebeu que a situação não podia ser pior para o amigo. Havia uma mesa muito comprida e as sete irmãs de Krum tomavam café da manhã com a avó. Realmente todas se pareciam muito; a que menos se destacava do restante era a que parecia ser a mais nova e que deveria ter a idade de Rony, mais ou menos.
- Oi Rony! - exclamaram todas quase ao mesmo tempo. - Tome café conosco!
Rony deu indícios de querer voltar correndo, mas Harry deu-lhe um cutucão e ele sentou em uma das cadeiras vazias, o que o deixou de frente para a avó de Krum.
Ela era muito velha e se vestia muito bem com suas peles legítimas.
Harry ficou atrás da cadeira de Rony, caso precisasse dar-lhe mais cutucões. Ele olhou para as garotas em sua volta, como se tentasse lembrar qual delas seria a garota certa. Desistindo, então, começou a se servir de torta.
- Hum... - disse ele de repente. - Tirando o suco tá tudo muito bom. Foi você quem fez, Mary Ângela?
Rony continuou olhando para a torta, aparentemente esperando que a garota certa respondesse, mas, quem falou foi a vovó:
- Não; fui eu.
- Hum... certo - Rony pigarreou. - Hum, Mary Ângela, me diga: qual é o seu prato favorito?
Mais uma vez a velha respondeu pela garota.
- Ah, ela adora o tiramisu da vovó.
Harry viu que as orelhas de Rony iam ficando vermelhas, o que era um mau sinal.
- Hum, Mary Ângela, diga-me outro prato favorito - tentou novamente.
- Ela adora minha lasanha de minuto - disse a vovó.
- A SENHORA QUER, POR FAVOR,... - Rony começou a berrar, mas Harry deu-lhe um soco nas costelas. -... me dar a receita? Porque isso aqui tá muito bom - disfarçou, erguendo o prato da torta.
- A receita morre comigo - disse a velha brandamente.
- E eu também - murmurou Rony, de modo que só Harry pudesse ouvir.
Rony desistira de tentar falar com Mary Ângela, mas a garota que sentava ao seu lado cochichou para ele:
- Pede licença e vai ao banheiro.
A garota saiu e Rony pediu licença e saiu também, com Harry logo atrás.
Rony entrou no banheiro e a garota saiu de trás da cortininha, dando um susto no garoto. Ela o enquadrou na parede e começou a beijá-lo. Rony se desvencilhou imediatamente.
- Olha só... precisamos conversar - ele passou por debaixo do braço da garota. - É que eu acabei de sair de um relacionamento e não estou pronto para iniciar outro.
- Eu também não. Mas quero tanto te beijar - falou ela, segurando o queixo de Rony. - Mary Ângela tem razão, você tem uma boquinha muito linda...
Harry viu o queixo de Rony ameaçando cair no chão.
- Quer dizer... quer dizer então que você não é a Mary Ângela?
- Claro que não - respondeu a garota, indignada. - Sou a Mary Teresa.
- Ah, que coisa chata... - exclamou ele. - Mas então se você não é a Mary Ângela, quem é...?
- Sou eu - disse a voz de uma garota chorosa atrás de Harry. Ele nem tinha percebido a presença dela.
Rony, sem encontrar palavras, disse novamente:
- Ah, que coisa chata...
- Vítor! - chamou ela, correndo de volta à cozinha.
- Não! Chama o Vítor não! Chama não!
Tarde demais. Vítor, Mary Angela e todas as irmãs entraram correndo no banheiro, formando um círculo em volta de Rony. Harry teve que se estatelar na parede para não ser atropelado.
- Que está acontecendo aqui? - perguntou Krum de imediato.
- Acontece que o Rony tava me beijando porque pensou que eu fosse a Mary Ângela - disse Mary Teresa.
Algumas delas exclamaram. Outras levaram a mão à boca.
- Focê as confundiu? - quis saber Krum, sério. - Como pode?
- É que eu estava muito bêbado ontem, e... Pelo amor de Deus, vocês são muito parecidas - explicou Rony.
- Bate nele, Vítor - disseram as irmãs. - Bate nesse safado.
- Não, peraí, é melhor vocês todas sossegarem, porque seu irmão não vai bater em mim - falou Rony, confiante, antes de acrescentar, já inseguro: - Vai?
- Normalmente eu bateria - falou Krum. - Mas nunca pensei que fosse em focê. Como pôde fazer isso?
Rony entrou em desespero.
- Olha, Krum, quero que saiba que se eu estivesse sóbrio jamais magoaria você ou a sua família. Eu errei. Agora, se você quiser me bater, pode bater, porque eu mereço.
Krum o observou por uns instantes. A garota que estava ao lado de Vítor atiçou:
- Que se dane, bate nele logo.
- Não, eu não vou bater no Weasley - disse Krum.
- Eu bato - falou a garota, arregaçando as mangas.
- Não, peraí, ele se desculpou, e sabe que errou - falou o rapaz. - Mas tem mais um pedido de desculpas: tem que se desculpar com a Mary Ângela.
Rony virou, deu um giro de 360° à procura da garota, mas, com cara de enterro, não conseguiu localizá-la.
Como ele é burro, pensou Harry, levando a mão à testa, é a única que está de saia vermelha, e é a mais nova.
- Bet - exclamou Krum -, pode bater nele...


Harry entrou novamente na mansão de Vítor.
- Onde é que você estava? - perguntou Gina, assim que o viu. - E cadê o Rony?
- Fui com ele à casa da irmã do Vítor para ajudá-lo a não se meter em encrencas...
- E conseguiu? - quis saber ela, ansiosa.
- Bem, eu não consegui nada - respondeu Harry, saindo do caminho para que o furioso Rony entrasse. - Mas o Rony ganhou um olho roxo.
Harry viu que Hermione não estava lá. Só Max, que estava no sofá, ao lado de Daisy, que dormia, perdida em seus sonhos.
Rony sentou-se emburrado e ficou contemplando Daisy por alguns instantes.
- Harry - disse Max, baixinho, quando o garoto se sentou no braço do sofá. - Eu e a Daisy olhamos o diário da Hermione como você pediu. Mas não encontramos nada que relacionasse Vítor Krum neste último mês. Na verdade, quase todas as páginas mencionavam você.
Como eu sou idiota, pensou Harry, triste.
- Eu não sei o que há comigo - falou Rony, repentinamente. - Eu terminei com Luna porque achava que não queria nada sério com garota alguma. Mas agora sinto falta disso. Acho que não consigo é encontrar a pessoa certa...
- Nem me fale - disse Harry, deprimido. - Eu tinha e perdi.
Harry e Rony estavam na fossa, os dois. Ambos conseguiram magoar uma garota em um dia e ambos estavam agora sem nenhuma.
- Cara - comentou Max -, como vocês dois são azarados...

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