And I Feel Fine

Narrado por Lily Evans.

 

-BIRTHDAY PARTY, CHEESECAKE, JELLY BEAN, BOOM! - cantava, super alto, enquanto fazia suco, na cozinha – YOU SYMBIOTIC, PATRIOTIC, SLAM, BUG, NET, RIGHT?

-RIGHT! - completou James, da sala.

-NÃO CANTA TÃO ALTO, JAMES! - gritei – É MUITA DESCONSIDERAÇÃO COM OS VIZINHOS!

Corri para a sala de estar, a tempo de ouvir duas fortes batidas no teto. Eu e James começamos a rir.

-Bem que você disse que ela fazia isso – disse ele.

-Ela é a vizinha mais pirada da face da Terra – falei – Bem, talvez a vizinha da minha irmã diz isso frequentemente.

-Você teve notícias dela?

-Não – respondi, sentando no sofá ao lado de James – Ela deve estar com o idiota do Vernon. Mas Petúnia não contou para minha mãe que estava grávida, deixou esse trabalho comigo. Ah, esqueci o suco.

-Estou quase sem comida – falei, entregando um copo para James – E praticamente sem dinheiro.

-Porque não procura um emprego? - perguntou ele, tomando um gole em seguida.

-Ah, sei lá. Eu vi no jornal, não tem muita coisa legal disponível.

-Eles pagam em dinheiro? - perguntou ele, erguendo uma sobrancelha para mim, irônico. Estreitei os olhos.

-Em galinhas.

-Bem, esse lugar tá mesmo precisando de uma animação – disse ele, e eu revirei os olhos e ri.

-Você já serve.

O beijei.

-E você, porquê não procura emprego? - perguntei.

-Ah, qual é! - reclamou ele – Meus pais me mandam dinheiro toda semana. Consigo sobreviver até os setenta e dois, setenta e três.

-Ah, esqueci que você é rico. E Sirius também é. E Lene. Dorcas consegue se virar. E Remus têm uma ótima poupança – arregalei os olhos – Eu sou a única pobre. Meu Deus. Tô ferrada.

 

Narrado por Marlene McKinnon.

 

-Não, Dean, eu pedi o azul turquesa, não o azul marinho – suspirei cansada. O garoto pareceu envergonhado, e saiu da minha sala ás pressas.

Me encostei na cadeira e girei nas rodinhas, até ficar de frente para a janela.

Do alto, Londres parecia uma cidade de Lego. Foi o que Sirius dissera quando me visitara no trabalho, alguns meses atrás...

Cala a boca, Lene, uma voz raivosa sussurrou na minha cabeça. Sirius Black é um idiota. Foque.

Isso mesmo. Foco. Tenho duas campanhas da Marie Claire para organizar. Terminar de montar a base do novo site. Fazer alguns relatórios. Selecionar algumas modelos. Demitir alguns incompetentes.

O de sempre.

Mas, depois de tanto tempo viajando, vivendo loucuras, fazendo idiotices, rindo com os amigos... Eu não queria mais o de sempre. Queria viver, não ficar o dia todo dentro de um escritório.

Meu emprego é legal. Trabalho com o que eu gosto: moda. E além do mais... Minhas férias acabaram. É hora de voltar para o mundo real.

Ouvi uma batidinha na porta.

-Aqui, Srta. McKinnon – Dean, o estagiário da empresa, entrou segurando com cuidado uma echarpe – Azul turquesa, como pediu.

-Pode deixar aí – falei, e ele colocou em cima da minha mesa.

-Ahn, chefe? - chamou ele – Eu queria pedir uma coisa – me virei para ele – Minha banda tem um show nessa quinta-feira, e... eu queria uma folga nesse dia.

-Pera, você têm uma banda? - perguntei, franzindo o cenho.

-Tenho sim – disse Dean, sorrindo – De rock. Sou o guitarrista. Tocamos ás vezes em bares, mas nada muito grande.

-Eu não sabia disso – falei – Porquê nunca falou?

-Bem, isso não é uma coisa que se coloque em um currículo – ele deu de ombros.

-Sabe, eu tenho uma banda também – contei – Não toco nada, sou mais a “empresária”. Não é uma coisa muito grande, também.

-Sério? – riu – Estranho. Minha chefe tem uma banda de rock. Qual o nome?

-School Of Rock.

Seu sorriso sumiu.

-Tá falando sério? Eu sou o maior fã de vocês! - exclamou – O show naquela feira em Birmingham foi demais! Sabe, estou contando as moedinhas para conseguir ver o próximo.

-Sério? Nossa, isso é... - comecei, mas me interrompi – Espera! O próximo?

-É – concordou ele. Sem ser convidado, ele sentou na cadeira em frente à minha mesa – Não que eu seja exatamente pobre, mas mesmo assim é uma viajem e tanto.

-Do que você está falando? - perguntei, assustada. Ele me olhou preocupado.

-O próximo show da School Of Rock – disse – Em Liverpool.

Minha boca se abriu em um imenso O. Depois, comecei a rir.

-Ah, eu mato ele – disse, me levantando e pegando minha bolsa. Fui até a porta, e me virei para meu assistente – E você, Dean Esqueci-o-sobrenome, você foi promovido!

Ele sorriu.

 

Narrado por Dorcas Meadowes.

 

 

Quando Marlene me ligou desesperada, eu não acreditei.

Eu também não acreditei na vez que ela disse que a geladeira dela explodiu, mas dessa vez a situação era muito, muito mais séria.

Com as mãos tremendo, liguei a televisão. Alguns tele-jornais. Programas de culinária. Barney e seus amigos. Festival de Liverpool. Star Wars. Peixonauta.

Arregalei os olhos e voltei alguns canais. E lá estava ela, a apresentadora esquisitona de cabelos cor-de-rosa que eu nunca tinha visto na vida, falando sobre o Festival Internacional de Rock de Liverpool.

Aumentei o volume.

“Os produtores comentam que essa será a melhor edição do Festival de todas, o que justifica o preço astronômico dos ingressos. Atrações mundialmente conhecidas, como Green Day, Foo Fighters e Linkin Park já confirmaram sua participação evento” dizia a apresentadora, com imagens dos preparativos. “Se esta será a melhor edição, já há dúvidas. A participação de bandas desconhecidas está subindo, deixando pouco espaço para aquele rock que todos nós sabemos de cor. O que mais deixa os fãs preocupados é o sumiço de uma das bandas de rock mais famosas da Inglaterra atual, School of Rock”. Meu coração parou. Agora a matéria mostrava vídeos da banda tocando em shows, a maioria da época da Batalha das Bandas. “Raramente vista, a banda não dá notícias, e há boatos que ela se separou pouco tempo atrás. Os vídeos no YouTube fazem o maior sucesso, mas não há nenhum sinal do grupo. Os fãs afirmam que esse sumiço é para dar um gostinho de mistério, mas não estão tão confiantes assim. Depois dos comerciais: Uma retrospectiva especial da história da School Of Rock, e mais informações sobre Festival Internacional de Liverpool”.

Quando começou o comercial do picles falante, meu coração quase saiu pela boca. Não sou muito de chegar à conclusões, mas cheguei à conclusão que tem alguma coisa muito estranha acontecendo por aqui. Zac disse que não fomos aceitos, inclusive escondeu isso de nós até o último momento. Mas então, como essa apresentadora estranha diz que estamos na lista de atrações? E os fãs, que fãs? Somos uns fracassados. “Uma das bandas de rock mais famosas da Inglaterra atual”? Comassim?

Foi aí que a ficha, que fica grudada com Cola Bonder, caiu.

Ficamos muito tempo fora. Muito tempo trabalhando, muito tempo tentando nos encaixar nesse mundo louco da adulticidade. Muito tempo viajando, tentando encontrar nosso caminho.

Mas esse caminho já tinha nos encontrado. Há muito tempo.

-Lily?

“Oi Dorcas” respondeu ela, no telefone. Ao longe, ouvi o grito de James “OI DORCAS! Ela me ouviu? Manda oi pra ela”.

-É, James, eu te ouvi – ri – Lily, lembra daquele dia, alguns meses atrás, quando eu recém tinha chegado em Londres e a gente se encontrou naquele bar?

“O do show fracassado? Lembro, sim”.

-Eu te prometi uma coisa, naquele dia. Que em um ano, não importa o que acontecesse, a School Of Rock estaria no topo.

“Vai direto ao ponto, Dorcas”

-Liga a TV no 47 – ouvi o barulho da TV.

“Eu... Ah... Dorcas!” gaguejou ela “Quê? Como?”

-Não foi preciso eu cumprir minha promessa, Lily. A School Of Rock já estava no topo. Era onde ela estava o tempo todo.

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