Luzes Para Guiar de Volta







Não planejei ficar tanto tempo sem atualizar a fic... Infelizmente, ainda não recebo o meu salário escrevendo (hehe). Brincadeiras à parte, saibam que ninguém sofreu mais do que eu com essa ausência. Mas “tudo vale a pena se a alma não é pequena”, como recordou à humanidade o poeta Fernando Pessoa, e a experiência de estar distante sem  querer foi o alicerce sobre o qual reconstruí esse sofrido momento de abissal ausência vivido por Ron e  Mione. Por fim, devo esclarecer que, na medida que a escrita do texto avançava, percebi que deveria dividir o capítulo em duas partes. Aqui vai a primeira. Como sempre, não custa lembrar que os comentários me fazem feliz!


Beijos,


Morgana


P.S: Para quem já leu a prévia do capítulo 17, lembro que agora está completo. Espero vocês lá!
 


* * * * *


 
 





Um beijo. Terno e intenso ao mesmo tempo, pleno de sentimento. Era maravilhoso estar nos braços de Ron e poder se entregar sem medo àquele amor tão adiado. Sabia que devia ter raiva por ele abandonar a missão. Não podia perdoá-lo tão fácil assim. Mas... Por Merlin! Ela era apaixonada pelo amigo e já tinha esperado demais!


- Eu precisei ir. Você e Harry corriam um grande risco. Os Comensais tinham colocado um rastreador em mim e era uma questão de dias nos localizarem – o rapaz explicou.


Se Ron falava a verdade ou não, Hermione não sabia. Mas quando o rapaz começou a se aproximar dizendo ter sentido muita saudade e chegou ainda mais perto para finalmente falar que a amava, ela ficou paralisada. E o ruivo aproveitou aquela momentânea falta de reação para beijar os lábios da menina.


Foram retirados daquele momento mágico por uma sensação terrível, como se estivessem caindo em um abismo. Os dois se separavam e a menina gritou ao ver o ruivinho desaparecer, sugado por uma espécie de nuvem negra. Subitamente, Hermione acordou. Era mais um dos muitos sonhos tumultuados que tinha desde que Ron havia deixado a missão.


Aquela já era a décima noite distante do ruivinho. Sentimentos confusos tumultuavam a cabeça da inteligente menina. Medo, terrível medo de algo acontecer com Ron, uma saudade tão grande que dilacerava o coração, mágoa por ter sido abandonada, decepção por percebê-lo tão covarde, saudade da presença do amigo, sensação de desamparo por não contar mais com a proteção dele.


Diante de tantos e tão confusos sentimentos e pensamentos, não conseguia evitar cair aos prantos. Todos os dias, quase pontualmente, as lágrimas desciam pelas faces da menina. Algumas vezes eram copiosas e amarguradas, em outros, eram suaves e saudosas. E cada vez que chorava, mesmo se de forma dolorida, mantinha viva a lembrança dele, não se permitindo perder Ron pela segunda vez.


Não podia compartilhar a sua dor com Harry. Como ele não mencionava mais o nome de Ron, sabia que não o havia perdoado e ainda estava revoltado com o amigo. Para Hermione, a situação era bem mais complexa. Ron fazia parte dos seus mais belos planos para o futuro, que a motivavam a lutar para estabelecer a paz no mundo bruxo. Não tê-lo mais ao seu lado era como perder, ao mesmo tempo, todos os seus sonhos e mergulhar no precipício.


De onde retirar forças quando você já não possui o que mais importa em sua vida? Para Hermione era um sacrifício permanecer na missão, procurar disfarçar a sua dor, conversar ao menos o mínimo com Harry, continuar pesquisando sobre as horcruxes. Prosseguiam em sua dura rotina de mudar o local de acampamento a cada amanhecer, lançar feitiços protetores, alimentar-se mal. E tudo era infinitamente mais difícil para Mione sem Ron ao seu lado.


Precisava admitir que, se não fosse por Harry, já teria ido atrás do seu ruivinho. Procuraria por Ron n’ A Toca, em Hogwarts, nas casas dos tios dele na Escócia, no Ministério da Magia... Enfim, rodaria o mundo em busca do amor de sua vida. Quando esses pensamentos que julgava insanos passavam por sua cabeça, a menina se perguntava onde estava a Hermione racional e orgulhosa, que não dava o braço a torcer e tentava esconder alguns sentimentos a sete chaves.


Mas o impulso da paixão era sucedido pela mágoa. “Por que você foi embora, Ron? Por que não ouviu meus apelos para que ficasse? Por que prometeu permanecer sempre ao meu lado e me abandonou? Por que é tão covarde assim?” Eram muitas perguntas sem resposta que aumentavam a dor e a solidão da menina.


Os dias continuavam a se arrastar para Hermione. Tristes, solitários, longos demais. Havia perdido a noção do tempo, mas o frio cortante e os enfeites que via nas casas e vitrines das lojas anunciavam que o Natal estava próximo. Provavelmente aquele seria o pior Natal de toda a vida de Mione. 


A única distração da menina era, no mínimo, curiosa. Com certa frequência, ela retirava o retrato de Fineus Nigellus da bolsa de contas e o colocava em cima de uma cadeira. O ex-diretor de Hogwarts, sempre de olhos vendados, aceitava aparecer em intervalos regulares. Harry desconfiava que a menina, com aquela “presença”, mesmo se rabugenta, buscava preencher um pouco do enorme vazio deixado pela ausência de Ron.


Na verdade, Mione buscava algo mais. Tinha esperanças de receber alguma notícia do ruivinho. Desconfiava que, além da foto do professor Black pendurada na Escola de Magia e Bruxaria, existisse uma imagem dele em alguma das muitas salas do Ministério da Magia. Como o pai de Ron trabalhava no Ministério e a sua irmã mais nova ainda estudava em Hogwarts, imaginou que assim talvez pudesse ter alguma informação, mesmo indireta, sobre o rapaz.


Naquela tarde solitária, enquanto Harry buscava comida no vilarejo mais próximo, Hermione mais uma vez pousou a foto de Fineus na cadeira. Colocou a venda sobre a moldura e pegou o livro Os contos de Beedle, o bardo para ler. Imaginou que o professor, visto pela última vez há quatro dias, não retornaria tão cedo. O ex-diretor havia se despedido com uma dúzia de impropérios disparados contra os dois amigos. Por isso foi com surpresa que ouviu o ancestral dos Black resmungar:


- Não sei por que insistem em me obrigar a fazer essa viagem sem sentido. Por acaso acham que vão derrotar Você-Sabe-Quem?


- Essa viagem sem sentido tem um objetivo muito nobre, professor – respondeu Mione, sem tirar os olhos do livro.


- Onde está o topetudo do Harry? Ele não cansou de bancar o herói?  O professor Snape sempre fala, com razão, que ele é um bruxinho medíocre, porém petulante – disparou.


- O senhor não devia confiar tanto nas palavras dele. O professor Snape nunca foi muito bom em julgar as pessoas e em proferir palavras gentis – continuou a bruxinha.


- E por falar em palavras gentis, nunca mais ouvi a voz daquele menino mais enfezado, o traidor de sangue...


- Ele não é traidor de sangue! Por sinal, também tem sangue Black e o senhor sabe disso. Apenas não acha que o valor dele deve ser medido pelo sangue e sim pelo caráter – Hermione elevou a voz.


- Não precisa ficar zangada, inteligente trouxinha! Aliás, não pense que não notei que anda mais triste e quieta desde que aquele... Hum... rapazinho partiu. Parece que a senhorita tem predileção pela amizade dele, não é mesmo? – disse com ironia.


- Chega por hoje, professor! Já conversamos bastante. Que tal visitar o seu outro quadro em Hogwarts? – sugeriu Mione que, sem esperar resposta, colocou a fotografia de volta na bolsinha de contas.


Hermione acordou mais melancólica. Parecia que o seu coração sangrava como nunca. Ao abrir a própria mochila, encontrou, ainda vivos e perfumados, os lírios que ganhara de presente de aniversário de Ron. O cartãozinho também estava lá, mas agora seus dizeres pareciam palavras vazias: “Você traz luz para a minha vida”. Se fosse verdade, será que o ruivinho escolheria sair de perto dela e seguir rumo à escuridão?


Por mais que ela tentasse chorar escondido, Harry já a vira secando muitas lágrimas. Há muito tempo sabia que Mione amava Ron e sofria com a imaturidade e a lentidão dele para responder àquele sentimento. Sim, porque a bruxinha intuía, tanto quanto Harry, que o ruivinho também a amava. No entanto, muitas de suas palavras e ações, especialmente o abandono da missão, pareciam dizer o contrário.


Apesar de conhecer o sentimento de Hermione por Ron, somente agora Harry se dava conta de quão forte era aquele amor. A menina, quase sempre altiva, falante, propositiva, estava cabisbaixa, quieta, apática, completamente desolada. Ele ainda continuava zangado com o amigo. Sabia que Ron era inseguro, impulsivo e até mesmo infantil, mas ainda assim sempre fora leal e jamais traíra a confiança dele.


Talvez Hermione tivesse razão e o ruivo houvesse agido assim por influência do medalhão. Provavelmente estaria arrependido e se achando o maior idiota do mundo. E Harry não podia deixar de concluir que de fato ele era mesmo! Como podia ter abandonado o seu melhor amigo e a menina que amava de todo coração justamente quando mais precisavam dele? Sentia vontade de ir até Ron, seja lá onde ele estivesse, e enchê-lo de tapas, dizer que precisava crescer, agir como homem! Depois talvez o abraçasse, o convidasse a voltar à missão...


Sacudiu a cabeça para afastar aqueles pensamentos de perdão, que lhe pareciam sinal de fraqueza, e olhou para Mione, que chorava encolhida na cama. Era com ela que precisava se preocupar.


- Mione... Devemos levantar acampamento. Venha tomar um chá com torradas. Está tudo pronto – convidou.


A bruxinha usou os braços para secar um pouco as lágrimas que molhavam todo o seu rosto. Não teve coragem de encarar Harry e deixar que ele percebesse melhor o quanto os seus olhos estavam vermelhos. Desceu da cama automaticamente, como fazia todas as manhãs.


- Eles estão bem – Harry começou, mas vendo a expressão atônita da menina, achou melhor acrescentar – Os seus pais estão bem, em segurança.


- Eu sei. Não é com eles que estou preocupada – Hermione deixou escapar, logo se arrependendo por ter falado demais.


- Se não fosse o fato da memória deles ter sido alterada, com certeza estariam morrendo de saudades suas. Você é uma pessoa indispensável, muito inteligente e com presença de espírito na medida certa, além de ser uma excelente amiga – falou Harry, quase sempre econômico nos elogios.


- Nem todo mundo sente a minha falta, Harry. Aliás, acho que algumas pessoas fingiam ser minhas amigas apenas para se beneficiar, de alguma forma, da minha inteligência. Mas nunca se importaram sinceramente comigo – disse sem esconder a mágoa que a corroia.


- Quem não sente a sua falta é porque não merece a sua amizade – rebateu Harry, que ainda estava muito irritado com Ron – Aliás, você é a única pessoa indispensável nesta missão.


- Harry, me dê licença. Vou terminar de colocar os livros na bolsa e logo já poderemos desaparatar. Não estou me sentindo muito bem e vou dispensar o chá com torradas – justificou, já se virando de costas.


O rapaz ficou um tanto perplexo ao se dar conta que a sua tentativa de animar a amiga havia fracassado. Não pôde deixar de observar que ela estava novamente com os olhos marejados.


Depois que decidiram ir para Goldric’s Hollow, os dois amigos adquiriram novo ânimo. Ao menos tinham uma meta a qual se dedicar: os preparativos para aquela jornada. Hermione relia compulsivamente o livro “História da Magia”, de Batilda Bagshot, que esperavam encontrar naquele povoado. Juntos, treinavam aparatar e desaparatar sob a Capa da Invisibilidade e Mione já havia conseguido fios de cabelos de um casal para usarem na poção polissuco.


Todo esse movimento a distraía e tornava os dias mais curtos. Ainda assim, mesmo se de forma menos dolorida, Ron não saia dos pensamentos da menina. Tinha certeza que tudo seria menos difícil se o ruivinho estivesse ao lado dela. Quando chegou o momento de partirem para Godric’s Hollow, já era noite de Natal. Harry e Mione não sabiam disso e muito menos do grande perigo que enfrentariam. Mas certamente a bruxinha ficaria ainda mais inquieta se suspeitasse que, em dois dias, reencontraria com o amor de sua vida.


xxx


Em tempos de profunda tristeza, manter a rotina é um dos segredos da resistência ao desespero. E foi isso que ajudou Ron a não desistir de encontrar os seus amigos. Nos dias em que passou hospedado no Chalé das Conchas, mesmo se não possuía muito jeito com feitiços domésticos, sempre colaborava com Fleur, geralmente colocando a mesa da refeição. Não perdia uma edição do programa “Observatório Potter”, transmitido clandestinamente pelo rádio, embora ficasse apreensivo com a perspectiva de ouvir os nomes de Hermione Granger, Harry Potter ou de algum familiar na lista de bruxos capturados. As caminhadas na praia, momentos de reflexão por excelência, e as desafiantes partidas de xadrez bruxo com Gui também haviam se tornado um hábito.


Durante as caminhadas à beira do bravio e fascinante mar que emoldurava o Chalé das Conchas, Ron se permitia chorar. O motivo de suas sentidas lágrimas era um só: o arrependimento por abandonar a missão. A dor se tornava ainda maior porque sabia que não havia apenas sido desleal com dois amigos. Traíra o grande amor que sentia por Hermione, tinha agido contra o próprio coração. Não fazia ideia de como encontrar o acampamento encoberto por feitiços de proteção. Mas precisava retornar! Se fosse possível, ele voltaria atrás.


Ron partira d’A Toca apenas com algumas roupas, dois pares de sapato e outros poucos objetos, incluindo o perfume cítrico que ganhara de Gui em seu aniversário de 12 anos e usava diariamente desde então. Um feitiço ensinado pela avó Cedrella fazia com que o conteúdo do pequeno frasco acobreado nunca chegasse ao fim. O rapaz não suspeitava, mas Hermione conhecia muito bem e amava aquele cheiro que sempre a lembrava de Ron. E foi revirando despreocupadamente a mochila, à procura do perfume, que o ruivo encontrou aquele papel azul dobrado. 


“Gastamos nosso precioso tempo preparando um pequeno resumo das 12 lições do livro. Não escrevemos muito porque você não tem fôlego de leitura mesmo”. Pareceu ouvir nitidamente duas vozes quase idênticas repetindo. Lembrou daquele momento, pouco antes do início do casamento de Gui e Fleur, no qual os gêmeos invadiram o quarto dele para o provocar, é claro, e entregar aquele papel. Tantos acontecimentos se sucederam que o papel ficou escondido no fundo da mochila. Sem curiosidade, quase automaticamente, desdobrou a folha e começou a ler.


Para o mais “lerdo” dos Weasley. Se as lições funcionarem com ele, o livro vai ganhar o Selo Gemialidades Weasley de Qualidade.


Resumo das Doze Maneiras Infalíveis para Encantar Bruxas


1 -  Seja sincero. Evite contar vantagens. Não finja ser quem não é. Afinal, você quer que ela se apaixone por você e não por um ser criado por sua imaginação de bruxo, mas que não existe. A aluna mais inteligente de Hogwarts sabe muito bem o trasgo que você é.


2 -  Aprenda a escutar. Toda mulher gosta e precisa ser ouvida. Tente compreendê-la além das palavras, esteja atento aos pequenos gestos, ao olhar, ao sorriso. Nem pense em usar o feitiço “Abaffiato” para não escutar as broncas dela!


3 -  Saiba falar. Não se preocupe em fazer grandes discursos e nem as mais fabulosas declarações de amor. Aposte nas palavras simples, que saem do coração. Até porque você não sabe falar difícil mesmo!


4 -  Procure se apresentar bem sempre que for encontrá-la. Escolha a roupa e perfume adequados para cada ocasião, mas sempre de acordo com o seu estilo. Assim pelo menos o seu nariz comprido vai chamar menos atenção.


5 -  Não esconda o sentimento, porém não o exponha em demasia. Olhares e gestos carinhosos sempre agradam. Não tente bancar o sedutor. Não esqueça que você está longe de ter o charme de Jorge e Fred Weasley.


6 -  Aposte nos elogios. Mas não fale de uma vez só tudo que lhe agrada na bruxa que deseja conquistar. Nem repita sempre as mesmas palavras. Use esse recurso com moderação, nos momentos certos. Já ouviu falar em dicionário? Lá você encontra palavras como linda, encantadora, maravilhosa, deslumbrante, entre outras, que toda menina adora ouvir.


7 -  Esbanje gestos e palavras carinhosas. Toda bruxa gosta de receber atenção, de ser tratada com respeito e afeto, de perceber que é única e importante para alguém. Se conseguir evitar as suas típicas grosserias já será um avanço.


8 -  Reúna informações sobre os assuntos que mais a interessam. Tente falar sobre esses temas de maneira agradável, com humor e simpatia. Mas não busque ser o centro da conversa nem bancar o especialista. Já que nunca vai ser um bruxo brilhante, se esforce ao menos para não ser patético.


9 -  Não tenha medo de ser romântico. Faça chegar até ela pequenos presentes, cartões com palavras carinhosas, a convide para programas típicos de casais apaixonados. Deixe que a bruxa que deseja conquistar perceba quanto será bom tê-lo como namorado. Atenção: apaixonado não é sinônimo de abobalhado. Feche a boca e não babe quando olhar para ela!


10 -  Não desperdice as oportunidades de estar ao lado dela. Promova esses momentos, com criatividade e atenção. Mas não seja onipresente. Dê espaço para ela sentir a sua falta. De vez em quando, experimente desaparatar. É ótimo para evitar ataques de pássaros.


11 -  Não tema o contato físico. Comece com pequenos gestos como segurar a mão, dar um abraço. Pelas reações dela você vai perceber se existe ou não reciprocidade no sentimento. Treine a coordenação motora. Todo bruxo alto não precisa ser necessariamente desengonçado.


12 -  Confie em si mesmo. Fuja do ciúme. Tenha coragem e ousadia no momento certo. Conheça o seu valor. Se a bruxa que deseja conquistar não reconhecer isso, talvez não seja a pessoa certa para você. Apesar de tudo, você é um Weasley! Não espalhe isso para ninguém, porque vamos negar até a morte, mas amamos você.


Ao começar a leitura, Ron sentiu raiva dos gêmeos. Que desaforo o chamarem de “o mais lerdo dos Weasley”! Típico deles, sem dúvida alguma. Ficou irritado também ao ver os “conselhos” que os irmãos colocavam, com tinta de cor diferente, ao final de cada item. Mas a medida que avançou no “resumo”, descobriu que trazia dicas interessantes. E percebeu que poderia ter agido diferente caso tivesse lido os três últimos capítulos, especialmente as lições 10 e 12. Ele havia desperdiçado a oportunidade por excelência de estar ao lado de Hermione ao abandonar a missão e não tinha acredita em si mesmo. Pelo contrário, deixou-se conduzir pelo fantasma do ciúme.


Era véspera de Natal. A saudade que Ron sentia de Hermione apertava ainda mais. Tinha tantas lembranças daqueles mais de seis anos de convivência com a menina! Tensões e brigas seguidas por momentos de paz e amizade. Quantas confidências já haviam trocado, mesmo se a principal ainda permanecia guardada nos corações dos dois. O rapaz não sabia dizer o motivo, mas amava ouvir a voz e contemplar os olhos da menina, observá-la nos momentos nos quais ela estava serena ou furiosa. Tudo isso só podia ter uma explicação: era apaixonado por aquela temperamental bruxinha.


A noite chegou e a nostalgia que o ruivinho experimentava aumentou ainda mais. Imaginava a ceia n’A Toca, simples, farta, mas, acima de tudo, calorosa. A sua mãe, com certeza, sintonizaria na RRB – Rede Radiofônica dos Bruxos e ouviria músicas de Celestina Warbeck. Ron detestava aquelas velhas e melosas composições, como “Um Caldeirão Cheio de Amor Quente e Forte” e “Seu Feitiço Arrancou Meu Coração”. Ainda assim, até daquelas canções sentiria falta. Mas trocaria tudo isso por um Natal pobre e sem qualquer comemoração ao lado de seus dois amigos.


Apesar de todo esforço de Gui e Fleur para garantir um momento feliz na noite de Natal, Ron estava muito triste. Tentava disfarçar, sorrindo e até contando piadas, mas o seu olhar denunciava o sofrimento do coração. A saborosa ceia, concluída com uma deliciosa torta de chocolate, e, especialmente, os dois copos de uísque de fogo, ajudaram a amenizar a dor do jovem Weasley. Mas o melhor efeito foi garantir, pela primeira vez desde que deixara o acampamento, uma noite inteira de sono.


Ron acordou tranquilo na manhã de Natal. Parecia olhar de fora o próprio sofrimento e entender que era apenas uma passagem. Havia atravessado um túnel escuro, mas que tinha fim. E alguma coisa dentro dele dizia que o fim estava próximo. Não sabia como aquilo havia acontecido, porém uma esperança voltara a aquecer o seu coração. “Eu vou reencontrar o acampamento e finalmente declarar o meu amor para Hermione”, pensou, enquanto tentava sintonizar o “Observatório Potter”.


Olhou o relógio. Ainda não eram nem sete horas. O programa costumava ir ao ar depois das oito. Já pensava em desligar o rádio quando uma canção trouxa chamou a sua atenção. Uma música romântica, que falava de um casal que estava distante. Mas trazia esperança, quase certeza, que os dois logo estariam juntos. Ron sorriu pensando que seria assim com ele e Mione. Foi quando algo inesperado aconteceu.


Nitidamente, chegaram aos seus ouvidos algumas palavras. “O Rony? Quando partiu a varinha ...”. Não era possível! Uma voz... ou melhor, A Voz, aquela que mais amava escutar, saía do rádio. “Espera um momento! O som vem do meu jeans!, pensou antes de colocar a longa mão no bolso da calça e encontrar o desiluminador. Estava tão emocionado que não conseguia nem mais prestar atenção nas palavras. Mas aquele timbre, o jeito de falar, não restava dúvidas: era Hermione. Desligou o rádio para ouvir melhor, mas ela havia se calado. “Fala, Mione, fala mais alguma coisa! Onde você está?”, suplicava uma resposta.


Foi então que, quase automaticamente, Ron ligou o desiluminador. E o inesperado, talvez um dos muitos milagres de Natal, aconteceu. A lâmpada do quarto de hóspede se apagou e da janela ele pôde vislumbrar outra luz que pulsava, como uma bola luminosa. Parecia uma Chave de Portal. “Chegou o momento. Preciso partir”, repetiu para si mesmo, abrindo o armário e colocando rapidamente os seus poucos pertences na mochila. Escreveu um rápido bilhete para Gui e Fleur. Tudo isso sem tirar os olhos da luz azulada.


O rapaz saiu para o quintal e se aproximava da bolinha luminosa sem saber ainda muito bem o que fazer. Antes que decidisse se tocava ou não naquela luz, uma nova surpresa. A bolinha pulsante oscilou para em seguida flutuar veloz em direção a Ron, entrando em seu peito. Que sensação reconfortante era aquela? Um calor aconchegante invadiu o coração do jovem bruxo, aquecendo-o naquela manhã fria. E como um relâmpago que clareia em uma fração de segundo todo o céu, o ruivinho enxergou: precisava desaparatar. 


Mesmo se não sabia onde deveria ir, Ron teve certeza que a bolinha luminosa, agora pulsando em seu coração, o levaria ao lugar certo. Aparatou na encosta de um morro coberto de neve e passou o dia todo lá, chamando os amigos pelo nome e procurando algum vestígio da presença deles. Sabia que a empreitada seria difícil, uma vez que usavam eficientes feitiços de proteção no entorno do acampamento. Ainda assim, precisava tentar. Quando anoiteceu, retirou o seu saco de dormir da mochila e se agasalhou da melhor forma que conseguiu. No dia seguinte, retomaria a busca.


Antes do nascer do sol, Ron acordou e se colocou a postos. Imaginava que, ao levantar acampamento, os amigos se tornariam visíveis. Não viu ou ouviu coisa alguma, mas a presença calorosa da luz azulada em seu coração dizia que estavam por perto. Vasculhou os arredores ao longo de todo o dia. Quando começou a escurecer, teve certeza de que deveria partir novamente. Como da primeira vez, clicou o desiluminador.


A bolinha luminosa saiu do peito do rapaz, voltou a oscilar, para entrar novamente no coração dele. Ron teve certeza que a luz o guiaria para o lugar certo e desaparatou. Foi então que chegou a uma mata fechada. O ruivo estremeceu, o seu coração bateu mais forte. Estava seguro de que encontraria os amigos. Era questão de minutos ou talvez de algumas horas. Depois de três longas semanas distante deles, já não tinha mais pressa.


Ron não sabia o que diria a Harry e Hermione, mas não se importava com isso. Sempre foi assim. Nunca planejava o que falar. As palavras surgiam espontâneas, alguns vezes facilmente, em outras, de modo particular quando precisava expor os sentimentos mais íntimos, com grande dificuldade.


O rapaz, que estava atento a qualquer ruído ou movimento, avistou um animal prateado, um patrono, como logo identificou. “É o patrono de Harry”, deduziu, sem reparar não tratar-se de um cervo e sim de uma corça, já que faltava a galhada. Segundos depois, o coração do ruivinho disparou ao ver Harry, que seguia o rápido animal. Não teve dúvidas. Não perderia o amigo de vista e correu atrás dele sem imaginar que logo precisaria enfrentar, frente a frente, os seus maiores medos.


xxx


Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:


Fix You


http://irpra.la/m/50626


When you try your best, but you don't succeed,
When you get what you want, but not what you need,
When you feel so tired, but you can't sleep
Stuck in reverse!

And the tears come streaming down your face
When you lose something you can't replace
When you love someone, but it goes to waste
Could it be worse?

Lights will guide you home
And ignite your bones
And I will try, to fix you

And high up above or down below
When you're to in love to let it go
But if you never try, you'll never know
Just what you're worth
(…)

 


 

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Comentários (15)

  • Morgana Lisbeth

    Oi, Julliano! Espero novos comentários seus...Camys, também estou relendo a história, especialmente os diálogos. Como já disse outras vezes, amo colocar esses dois para conversar. Bjs 

    2013-02-13
  • Camys Lovegood

    Muito triste e lindo esse capítulo.

    2013-02-10
  • Julliano César Carneiro Viana

    Oi Morgana,parabéns por mais esse cap! Bem escrito e com mta sensibilidade pra retratar esse momento dramático para os 2. Achei a escolha da música extremamente feliz com o momento(bem,eu sempre achei q a letra de Fix You combina com o clima dessa parte do livro e do filme). Enfim...no aguardo pelo próximo cap.

    2012-12-09
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Willi! Obrigada por deixar aqui as suas impressões sobre o capítulo! Não sei se dá para perceber (rs), mas escrevo com o coração. E você "LÊ COM O CORAÇÃO", por isso deixa transparecer tanto sentimento nos seus comentários. Bem, quanto ao "resuminho" dos gêmeos, eu não podia privá-los de mais esta "participação especial". Aliás, como o capítulo tem momentos tensos e doloridos, quis dar um pouco de humor como contraponto. Daí, a participação de Jorge e Fred e de Fineus Nigelus. Bjs!

    2012-11-30
  • willi santana

    ah sim, esqueci-me de falar da perfeição do encaixe das músicas, fix you então é um hino ao nosso casal no setimo livro, sério, caiu como luva, e the police não precisa nem cometar, romance de baile mas fofo do planeta!! mágico!!!  e também o vosso resuminho das Doze maneiras..... ah adorei, os comentários enttão, acima de toda a gozação mostram a preocupação dos gêmios...... muito lindo...... e pra fechar, particularmente, a relação Harry/ Hermione, muito boa a forma como voce escreveu esse deslocamento que eles sentem quando não esta tudo bem entre os tres.... é complicada essa relação, eles são amiigos, os tres estão feridos, e no processo eles veem que a coisa so funciona com os tres em harmonia...... e muito forte isso.... tudo bem agora vai, heeehe beijo!

    2012-11-30
  • willi santana

    eitha que agora vai!!!!!!! menina eu preciso dizer como amo o jeito como voce escreve??? serio, agente conhece a história, mas esse final foi de uma adrenalina que eu tou na pilha pro próximo capitulo, ja ativa pra ver as entrelinhas desse tão esperado reencontro.... esse por sinal muito tenso.....  e a mione, meu Deus, o amor é único mesmo, porque o ron hora fofo, horas trasgo, e atur seu amadurecmento é uma arte de mestre viu? a mione ta de parabéns!!!! indo pro próximo!!!!

    2012-11-30
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Sil, muito bom encontrar comentários seus aqui e na minha outra fic. Tenho reescrito essas "Entrelinhas" com o coração e, mesmo se não quero fazer meus leitores chorar, fico feliz em saber que conseguii passar um pouco da emoção desse momento. Bjs!

    2012-11-27
  • Sil86

    Estou sem palavras, simplismente maravilhoso. Valeu a pena esperar tanto. Moragana mais uma vez a emoção ficou explicitas nas palavras. Chorei junto com a Mione...Meu marido perguntou se estava tudo bem não entende nada....Parabéns.

    2012-11-26
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Fernandinha! Maravilhoso mesmo é ter uma leitora especial como você. Espero que não precise gastar os seus milhões com os meus "futuros livros" (que os anjos digam amém), até porque acredito que terão um preço acessível. Mas sim que os divulgue aos milhões de contatos que possui :))

    2012-11-26
  • FernandaGrif2

    Não sei em que capitulo comento :3 mas enfim... OLHA EU AQUI \O/ Não comentei ontem pela minha linda internet, que me deixou ler e não me deixou comentar u.ú Enfim... Como sempre me deixando sem palavras com as duas partes super lindas e emocionantes e pelas duas músicas escolhidas que quase me fizeram chorar.Tá tudo tão lindo que eu vou ter que ler mais diversas vezes e eu nunca vou me cansar  de dizer que você escreve maravilhosamente bem. Continue assim que um dia quando você lançar seus proprios livros, gastarei milhões os comprando *--* Beijinhos magicos e até a proxima. by: Eu :3 

    2012-11-26
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