Um Novo Reencontro





Olá!


Depois da prévia – apenas um “aperitivo” como sinal de que a fic não foi abandonada -, segue o capítulo completo. Achei melhor dividir o momento do regresso em dois capítulos para que este pudesse ser inteiramente dedicado ao reencontro de Ron e Mione. Sei que é uma audácia reescrever a fabulosa narrativa de Rowling. A única “novidade” que meu texto podia trazer era centrar toda a cena nos sentimentos de Ron e Mione, alternando o ponto de vista de um e outro como quem faz uma costura com fina e quase invisível linha. Assim o narrador praticamente desaparece para que os dois conduzam a cena. Espero ter conseguido passar um pouco da visceral emoção desse reencontro.


Com minhas saudações mágicas,


Morgana


P.S: No capítulo "Atualizações e Afins", um breve resumo do meu roteiro de viagem para concluir a fic.
 


* * * * *







 


Sentia um frio estranho na barriga. Vencer os cerca de 500 metros até a barraca foi um desafio maior que destruir a horcrux. Agora contemplava apenas um emaranhado de cabelos castanhos, a única parte descoberta da menina, que parecia estar em sono profundo.  Experimentava uma grande ansiedade e a expectativa de mergulhar novamente naqueles olhos luminosos que tanto amava. Mas o temor também não o deixava. E se a amiga o rejeitasse? Ou repetisse como o “Riddle-Hermione” saído do medalhão que ele era nada comparado ao Eleito. Todos esses pensamentos o paralisavam enquanto Harry, alguns passos à frente, já a chamava pelo nome.


Hermione estava exausta e arrasada. Desde a sua entrada em Hogwarts, enfrentara grandes perigos. Mas nada se comparava aos momentos de horror vividos em Godric's Hollow, quando por pouco Harry não teve o seu confronto direto com Voldemort antecipado. Para piorar, havia quebrado a varinha do amigo por acidente e passara a noite anterior em vigília, cuidando dele. Ainda assim, não conseguia ter um sono tranquilo e profundo. Aliás, há muito não sabia o que era encostar a cabeça no travesseiro e só acordar no dia seguinte. Qualquer barulho a fazia despertar, sem contar os pesadelos que a assombravam com frequência. Por isso, quando ouviu Harry a chamando com urgência, sentou-se logo na cama com o coração aos saltos.


Depois de passar 23 dias longos dias distante daquela que ocupava todos os seus sonhos e pensamentos, Ron precisava aceitar a verdade. Estava nervoso. E os seus olhos tinham pressa de se encontrar com os dela para que tudo voltasse a fazer sentido. Parecia, portanto, algo irreal, como uma visão, a descida rápida de Hermione da cama com os cabelos volumosos ainda mais armados. Observou a expressão sonolenta e, ao mesmo tempo, assustada da menina. Por frações de segundos, todas as possibilidades daquele reencontro passaram pela cabeça do ruivinho: correr e abraçar a amiga, ajoelhar-se aos pés dela para pedir perdão, beijá-la apaixonadamente.


A menina esperava tudo quando acordou assustada, depois de ser chamada insistentemente por Harry. Menos ver Ron em sua frente. Não naquele momento. Durante as eternas três semanas em que ficaram distantes, sonhou todos os dias, seja dormindo ou acordada, com esse reencontro. Mas vê-lo assim, completamente molhado e com a fisionomia assustada de quem não sabe o que lhe aguarda, foi inesperado. O rapaz estava abatido e segurava uma espada na mão. A espada de Godric Gryffindor?! Não, não fazia sentido. Antes de decidir se tudo aquilo não passava de um devaneio, ela desceu da cama e caminhou como uma sonâmbula em direção ao ruivo.


Será que Hermione não está chateada comigo? Foi a pergunta que Ron se fez ao vê-la se aproximando. Permitiu-se acreditar que a menina o perdoara e abriu um sorriso débil, esperançoso, começando a erguer os braços para envolvê-la em um forte abraço. Sentira tanta falta da amiga! Precisava dela desesperadamente, como do ar para viver, e agora estava disposto a fazer qualquer coisa para fazê-la entender isso. Mas de repente se deu conta que Mione não trazia uma fisionomia feliz. E o esperado abraço foi substituído por socos, dados com energia pela bruxinha nos braços e no peito do rapaz. Ainda assustado e sem reação, o ruivo lembrou-se do momento em que ela, no terceiro ano, deu um tapa certeiro em Malfoy.


Os protestos de Ron pareciam motivar a menina a socá-lo ainda mais. Mione havia descido da cama sem ter certeza se o bruxo que amava com todo coração, mente e força estava diante dela ou era apenas uma visão. Sonhara muito com a volta do ruivo, por quem havia chorado desconsoladamente. Durante a ausência do rapaz, experimentara por vezes um forte arrependimento por não ter evitado a partida dele. Sem falar do medo, grande medo, de tudo que pudesse acontecer com Ron. Sentimentos contraditórios a dominaram naquele período que passaram distantes. Esperança, decepção, amor, raiva, saudade, mágoa, preocupação, desprezo. Mas naquele momento do reencontro real, o rancor falou mais.


- Ai... ui... me larga! Quê...? Hermione... AI! – reclamava Ron sob o ataque de Hermione, protegendo a cabeça e deixando assim os braços mais vulneráveis aos socos.


- Você... absoluto... palhaço... Ronald... Weasley! – Hermione pontuava cada soco com uma palavra, investindo com fúria contra o rapaz.


Quando a menina parou de socá-lo para avançar em direção a Harry, pedindo que entregasse a varinha dela, foi que Ron conseguiu raciocinar. Hermione era louca! Tudo bem que tinha errado ao deixar o acampamento, mas a menina não podia tratá-lo assim. Não conseguiu evitar um sorriso ao lembrar-se de outro momento de fúria dela, quando o atacou com os pássaros por... Puro ciúme?! Claro, era ciúme! Agora tudo fazia sentido e ele lamentava demorar tanto a entender o óbvio e adiar assim o momento de declarar o seu amor por Mione. Mas agora não era hora para romantismo, até porque a morena estava enfurecida e demoraria dias para se acalmar.


Não sabia qual feitiço lançaria em Ron. Na verdade, não pensava nem mesmo em usar a varinha. Mas também não havia planejado socá-lo com tamanha raiva. O ruivo possuía, inconscientemente, é claro, aquele estranho poder sobre ela. Fazia a aluna inteligente, que nunca errava, cometer os seus maiores equívocos. Levava a sempre racional menina a agir por impulso, sem refletir antes. Conseguia transformar a bruxa poderosa, com grande talento para magia, naquela pessoa frágil, carente, dominada pela necessidade de ter o seu amor correspondido. Talvez por isso experimentasse tamanha cólera.


Harry agiu da melhor forma, precisava admitir. Somente um feitiço, de preferência um escudo protetor como o que ele havia criado, poderia paralisar aquele acesso de ira de Hermione. A menina caiu de costas no chão ao avançar velozmente, ignorando o campo de proteção que agora a separava dos dois amigos. Ron a observou levantar e, com um olhar enlouquecido, reagir ao pedido de Harry para que se acalmasse. “Não vou me acalmar! Devolva a minha varinha! Devolva já!”, berrou. O ruivo continuava sem ação. Sabia que qualquer palavra, ao invés de tranquilizá-la, poderia a enfurecer ainda mais.


- Hermione, por favor... – Harry pediu com a voz calma, tentando apelar para os melhores sentimentos da amiga.


- Não me diga o que fazer, Harry Potter! Não ouse! Devolva-me a varinha agora mesmo! – prosseguiu com a voz alta e estridente.


Já tinha chegado a tal grau de exaltação que demoraria a se acalmar. Toda a sua costumeira racionalidade havia desaparecido. Não queria saber por onde Ron andara, o que fizera naquelas semanas, o motivo de ter abandonado a missão e nem mesmo a razão da volta dele. Pelo menos, não em um primeiro momento. Desejava apenas demonstrar, da única forma que conseguia, o quanto estava magoada com o rapaz. Por isso se voltou para o ruivo, com o dedo em riste, despejando sobre ele toda o seu ressentimento.


- Você! Corri atrás de você! Chamei você! Pedi para você voltar! – acusou com a voz ainda muito elevada.


- Eu sei... Hermione, eu lamento, eu realmente... – tentou explicar o rapaz, sendo interrompido pela raivosa bruxinha.


- Ah, você lamenta! – ela continuou em tom mordaz, dando uma gargalhada aguda – Você volta aqui depois de semanas... semanas... e acha que tudo vai ficar bem se você disser que lamenta?


Aquilo já era demais! Primeiro ficara calado diante do acesso de ira dela. Agora fazia um esforço sobre-humano para abrir o coração e a menina o tratava com sarcasmo?! Já não bastava tudo que sofrera por ter abandonado a missão, a dor do remorso que o corroera a cada momento distante dos amigos? Por isso na conseguiu mais manter a calma.


- E que mais eu posso dizer?! – Ron gritou. As orelhas dele estavam vermelhas, mas os olhos suplicavam uma chance de ser ouvido e perdoado.


- Ah, não sei! – a menina berrou, ainda irônica – Vasculhe o seu cérebro, Ron, só vai precisar de uns segundinhos...


Antes do ruivo pensar em uma resposta, Harry interviu, mais uma vez, tentando explicar o que Ron acabara de fazer. Mas Hermione não parecia disposta a ouvir. “E eu com isso! Não quero saber o que foi que ele fez! Semanas e mais semanas! Por ele poderíamos estar mortos”, falou com a voz estridente, quase rouca pelos gritos continuados. Ron também pareceu se enfureceu e aproximou-se o máximo que o escudo entre eles permitiu, antes de gritar:


- Eu sabia que não estavam mortos! O Profeta só fala no Harry, o rádio só fala no Harry!


Percebendo que, pela primeira vez, a menina realmente o escutava, prosseguiu com a voz elevada, mas sem berrar. “Estão procurando por vocês em toda parte e ouvi um monte de boatos e histórias malucas. Mas eu sabia que, se morressem, na mesma hora teria notícia”, explicou. “Hermione, você não sabe o que eu passei...”, disse com todo sentimento.


- O que você passou? – ela perguntou recuperando a postura de confronto e com a voz tão aguda que perdeu temporariamente a força.


Ron aproveitou a chance para contar a própria trajetória depois de deixar o acampamento, começando a narrativa pelos sequestradores que o haviam detido algumas horas. O interesse de Harry pelo assunto fez a explicação ficar mais fácil. Hermione, que se atirara a uma poltrona com braços e pernas cruzados, em atitude defensiva, manteve alguns instantes de silêncio. Seus olhos, porém, continuavam a fulminar o ruivinho. Quando o rapaz falou sobre o novo estrunchamento e mostrou a mão direita sem duas unhas, a menina voltou a atacar com uma frieza assustadora.


- Que história arrebatadora! Você deve ter ficado simplesmente aterrorizado. Nesse meio-tempo, fomos a Godric's Hollow e... O foi que aconteceu? Ah, sim, a cobra de Você-Sabe-Quem apareceu por lá e quase nos liquidou. Então chegou Você-Sabe-Quem em pessoa e por uma fração de segundo não nos agarrou. Imagina perder as unhas! Isso realmente põe os nossos sofrimentos em perspectiva, não é Harry? – disse com um tom que oscilava entre a zombaria e o ressentimento.


Cada palavra de Hermione, no entanto, foi recebida por Ron como um soco no estômago. Os dois tinham enfrentado a cobra de Voldemort e por pouco não encontraram pessoalmente com ele?! Sentiu-se o pior dos covardes e só conseguiu olhá-la de um jeito sofrido e assustado, o que ela pareceu mais uma vez ignorar. Não sabia o que dizer e um nó já se formara em sua garganta. Não queria chorar na frente de Mione, mas daquela vez seria difícil manter-se forte. Para alívio do ruivo, Harry mais uma vez entrou na conversa.


- Hermione, você está sendo dura demais com Ron. Ele acabou de salvar a minha vida – Harry falou com a voz baixa, mas firme.


Enquanto mirava o ruivo contando o que acontecera com ele, mesmo se parecia indiferente, Mione começou a deixar o calor do sentimento derreter o gelo da mágoa. “Ron está lindo”, pensou a menina observando o rapaz com os cabelos ainda molhados e os olhos de um azul tão incrível que parecia não existir. “Meu Deus! Como posso amar e odiar tanto uma pessoa ao mesmo tempo?”, questionava a si mesma, esforçando-se para manter a expressão raivosa. Mas seu coração já estava se acalmando e o lado racional, que buscava respostas, conseguiu se expressar.


- Mas tem uma coisa que eu gostaria de saber. Como foi que nos encontrou hoje à noite? Isto é importante. Quando soubermos, poderemos nos certificar de que não estamos recebendo a visita de alguém que não queremos ver – questionou sem olhar o rapaz, ainda com uma expressão desafiante, mas agora em tom de voz normal.


Ron não teve como evitar ficar chateado. Aquele interrogatório iniciado pela menina parecia comprovar que ela não confiava nele. Será que acreditava que havia traído os amigos e agora estava a serviço dos Comensais da Morte? A ideia pareceu absurda e repulsiva ao rapaz, que logo amarrou a cara. Ainda assim, não podia deixá-los sem resposta, já que devia uma explicação também a Harry. Por isso puxou o pequeno objeto prata do bolso da calça jeans e encarou Hermione, que agora o olhava com surpresa.


- O desiluminador não serve só para acender e apagar luzes. Não sei como funciona ou por que aconteceu dessa vez e nenhuma outra, já que estou querendo voltar desde quando parti do acampamento. Mas eu estava escutando o rádio, muito cedo na manhã de Natal, e ouvi... Ouvi você, Hermione – falou com simplicidade e voz muito suave, transparecendo pelo olhar o quanto se importava com a menina.


O coração de Hermione bateu acelerado. Ela ainda não entendia muito bem o que Ron dizia. Mas algumas frases ficavam a rondar, plenas de significado, a sua mente. “Estou querendo voltar desde quando parti do acampamento”, parecia escutar novamente. “Ouvi você, Hermione”, a voz de Ron voltava a repetir.  Mas Hermione, como sempre, precisava compreender. Por isso, perdendo o tom zombeteiro, apenas perguntou: “Você me ouviu pelo rádio”?


Com o olhar límpido, experimentando finalmente um pouco de paz, Ron colocou-se por inteiro na explicação tão necessária de como havia sido conduzido de volta. “Ouvi você saindo do meu bolso. A sua voz saiu daqui”, respondeu erguendo o desiluminador. Encarou Hermione por alguns segundos e sentiu-se feliz. Como era bom poder estar mais uma vez diante dela.


Depois de permitir-se contemplar profundamente os olhos de Ron, a bruxinha se deu conta que ainda estava arguindo o rapaz. Com a superioridade que sempre adquiria quando criticava o amigo, voltou a interrogá-lo. “E o que foi que eu disse?”, perguntou, sem esconder a curiosidade. A resposta do ruivo não podia ser mais improvável, apaixonante e desconcertante ao mesmo tempo. “Você disse meu nome. Ron! E alguma coisa sobre uma varinha...”, começou a explicar.


Aquelas palavras inesperadas fizeram o rosto de Mione corar intensamente. Suas intermináveis lágrimas, as incontáveis vezes que dormiu balbuciando o nome de Ron, as dolorosas ou apaixonadas lembranças do amigo, enfim, nada havia sido em vão. De alguma forma, o grande amor que sentia por ele não o deixara partir por completo e, melhor ainda, o trouxera de volta. “Mas alto lá, Hermione! Não abaixe as armas e se renda tão fácil assim”, pensou a menina.


A inteligente bruxa procurou manter a expressão desafiante no rosto. Ron percebia desprezo, mágoa e afeto, tudo ao mesmo tempo, no rosto da jovem. Estava decidido a abrir o coração e já não tinha mais medo de fazer papel ridículo. Por isso contou, da melhor forma que conseguiu, como a luz azulada que saiu do desiluminador o guiou de volta ao acampamento.


- Foi como se ela flutuasse ao meu encontro, direto para o meu peito e então... entrou. Foi aqui – disse apontando para um ponto junto ao coração – Eu a senti, era quente. E, uma vez dentro de mim, eu soube o que devia fazer, soube que ela ia me levar aonde eu precisava ir.


Hermione ficou paralisava. A sua voz... Uma luz que entrou no coração do rapaz e o conduziu de volta até ela. Seria aquilo uma declaração de amor? O lado racional da menina reagiu. “Ele abandonou livremente a missão. Foi indiferente aos meus desesperados apelos para que não partisse”, repetia para si mesma, tentando manter-se indiferente. Mas não foi fácil e quase sucumbiu, correndo para abraçar o ruivinho, quando o viu apontar o lado direto do peito, mostrando para onde seguira a luz saída do desiluminador.


Acompanhou o restante da narrativa, do encontro de Ron com Harry à destruição do medalhão, com comedido interesse. Sempre em busca de comprovações dos fatos, não pôde deixar de examinar atentamente o que restara da horcrux. Ainda assim, mantinha o ar de indiferença. Harry, que conhecia muito bem os amigos, percebeu que a paz começava a ser selada e removeu o Feitiço Escudo. Os dois rapazes iniciaram uma conversa sobre a varinha que Ron havia tomado dos sequestradores enquanto a menina observava o maléfico objeto.


Depois de refletir bastante ao longo dos dias passados distante do acampamento, de uma conversa com Gui sobre objetos amaldiçoados, na qual não mencionou a horcrux, e especialmente daquele sofrido momento em que precisou enfrentar um fragmento da alma de Voldemort, o ruivo tinha uma convicção. Ao cravar a espada no “coração” do maldito medalhão, um pesado fardo havia sido retirado dos ombros dos três. Cada um deles, a sua maneira, havia sofrido durante os meses que tiveram que carregar aquele cordão ao pescoço.


Uma sensação de alívio se apoderou da menina. Estavam livres do medalhão! Tinha certeza que por causa dele Ron havia se tornado tão amargurado e irascível. Ela mesma se sentia atingida por aquela “presença” que pulsava e parecia roubar o ar ao seu redor. Ainda precisavam enfrentar muitos perigos, existiam outras horcruxes a destruir. Mas o fato de liquidar uma fração da alma do Lorde das Trevas já era uma grande vitória. Com o rancor mais abrandado, agradecia a Deus por ter o seu ruivinho de volta.


Ron observou a menina guardar a horcrux destruída na bolsinha de contas e voltar para a cama, sem olhar para ele e no mais absoluto silêncio. No momento que entregou a nova varinha a Harry, ouviu o amigo falar baixinho: “Foi o melhor que se poderia esperar, imagino”. Não pôde deixar de pensar que o amigo tinha razão. Hermione, que o surpreendeu com os socos, já havia se acalmado. Não havia perdoado ele ainda, mas era questão de tempo. Por isso experimentava certa tranquilidade.


 - É. Poderia ter sido pior. Lembra aqueles passarinhos que ela lançou contra mim? – murmurou em resposta.


Com o rosto escondido debaixo das cobertas, a bruxinha ouviu bem o que os amigos diziam. Por isso achou que precisava dar uma resposta. “Ainda não eliminei essa possibilidade”, falou com clareza, embora a sua voz estivesse abafada. Se Ron pudesse ver a expressão facial da menina, entenderia que Mione não tinha qualquer intenção de lançar feitiço algum sobre ele. No máximo o enlaçaria com seu mais apertado abraço. Mas isso daqui a alguns dias, lógico. Agora tinha que “castiga-lo” um pouco para o rapaz perceber como havia agido mal com os amigos.


Pelo timbre de voz de Hermione, o ruivo percebeu que o momento de fúria dela já passara. “Estou de volta! Merlin! Estou novamente com Harry e Mione!” foi a comemoração silenciosa do rapaz que sentiu vontade de pular e levantar a mão para o ar, assim como fazia ao realizar uma brilhante defesa no quadribol. Mas limitou-se a sorrir enquanto tirava o pijama da mochila. Estava cansado depois de duas noites mal dormidas, em vigília, e da energia despendida com a destruição da horcrux.


Em poucos minutos, Hermione já ressonava. Antes de adormecer, com um leve sorriso no rosto, lembrou do momento em que se reconciliou com Ron no terceiro ano. O rapaz se prontificou a ajudar na defesa do hipógrifo Bicuço, dizendo com vivacidade: “Você não vai ter que fazer o trabalho todo sozinha desta vez, Mione. Eu vou ajudar”. Quatro anos depois, ela recordava perfeitamente daquele momento e do abraço demorado que deu no ruivinho, ganhando um afago desajeitado na cabeça. Quanta diferença do carinhoso cafuné que recebeu de Ron nas últimas férias n’A Toca. E foi com essa imagem que encerrou o longo pesadelo iniciado com a partida de Ron para mergulhar em um sonho feliz.


Enquanto se preparava para deitar, Ron foi assaltado pelas dolorosas lembranças do confronto com Você-Sabe-Quem. A voz de “Riddle-Harry” ecoou novamente em sua mente: “Por que voltou? Estávamos muito bem sem você, mais felizes sem você, contentes com a sua ausência... rimos de sua burrice, sua covardia, sua presunção”. Em seguida foi a vez de “Riddle-Hermione” o assombrar: “Quem poderia olhar para você ao lado de Harry Potter? Que foi que você já fez comparado a O Eleito? Quem é você comparado ao Menino-Que-Sobreviveu”?


Ron repetiu mentalmente, acalmando aos poucos o coração: “Acabou. Foi tudo uma mentira. O medalhão está destruído”. Deitado na velha cama e usando o já surrado cobertor, o ruivo sentiu pela primeira vez, depois de tantos dias, o corpo e a alma aquecidos. A luz difusa que irradiava da lua cheia, invadindo por uma fresta a barraca, o permitia contemplar o rosto agora descoberto de Hermione. Observando a fisionomia serena da menina, o rapaz sentiu-se em paz. “Ainda não será amanhã que vou conseguir falar para Mione o quanto a amo. Talvez demore mais alguns dias. Mas o momento está próximo. Eu preciso dizer isso e ela merece ouvir”. Com aquela certeza, Ron adormeceu.


xxx


Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:


All This Time


http://bit.ly/d1B35k


(…)
All this time
We were waiting for each other
All this time
I was waiting for you
We got all these words
Can't waste them on another
So I'm straight in a straight line
Running back to you 


I don't know what day it is
I had to check the paper
I don't know the city
But it isn't home 


But you say I'm lucky
To love something that loves me
But I'm torn as I could be
Wherever I roam
(...)


Yeah, all, running back to you
Yeah, all, running back to you
Yeah...
Oh, every time is so far
It's just so far
To get back to where you are

 


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (27)

  • Morgana Lisbeth

    Olá, Camys!Acho que Rowling quis nos mostrar que, quando amamos, sempre existe um caminho de volta. Mas é preciso coragem e humildade para percorrê-lo. Bjs 

    2013-02-13
  • Camys Lovegood

    O que mais me incomoda nesse episódio é o fato de as pessoas "esquecerem" que o grande culpado de tudo era o medalhão...

    2013-02-10
  • Morgana Lisbeth

    Liana, as suas palavras, sempre tão carinhosas, também aquecem o meu coração. Obrigada por me fazer companhia nesta viagem (por vezes tão solitária) pelas entrelinhas da bela história de amor (e espera) de Ron e Mione.Lily, eu entendo perfeitamente bem o sentimento de ver o tempo escorrer pelas nossas mãos (estou experimentando isso). E em geral não temos tempo para fazer o que mais amamos! :( Você, como sempre, dá um show com seus comentários, captando as entrelinhas das "Entrelinhas" (hehe). Bjs e até breve! 

    2012-12-19
  • Lily_Van_Phailaxies

    VOLTEI! =DComo é bom saber que neste meio tempo vc continuou a escrever capítulos maravilhosos como este.Desculpe a minha falha nos comentários, tempo curto eh uma merda (desculpe pela expressão tb).Nem preciso dizer que este capítulo mostrou uma das cenas que estava mais ansiosa para ver e confesso que vc fez maravilhosamente! Adoro esse seu jeito de escrever, preocupado principalmente em não só descrever a cena (que é muito importante também), mas também os sentimentos e principalmente os conflitos destes.Hermione realmente foi dura com o Rony, mas é algo totalmente compreensivel, aliás acho que qualquer um que se colocasse no lugar dela iria se sentir no minimo traida com a partida daquele que ela ama. Rony por sua vez parece ter voltado determinado a corrigir o seu erro de tê-los abandonado (vejo cenas maravilhosas pela frente), mas o maior conflito interno que ele terá será lidar com o próprio remorso.Comentário corrido e um pouco sem sentido, mas apenas gostaria de acrescentar um grande obrigado pelo trabalho que vem fazendo em escrever a fics "Estrelinhas" desse casal que tanto gosto.Até o próximo capítulo.

    2012-12-18
  • Annabeth Lia

    own, não há palavras para descrever o que eu senti a ler este capitulo, apenas serve dizer que meu coração ficou aquecido com tanto amor, lindos como sempre! Afinal, vale tudo na guerra e no amor! :D

    2012-12-13
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Sil! Os seus comentários em todos os capítulos me deixam feliz! :)Willi, bom relê-la (rs)! Quanto ao genocídio... Culpa da Rowling por criar dois  personagens tão encantadores assim. Bjs!

    2012-11-30
  • willi santana

    minha gente, arrepiei aqui..... sério, Morgana, isso é tentativa de genocídio de leitores ron/mione..... o texto, a perspectiva, os sentimentos, a musica, as entrelinhas...... OO..... **  nem sei mais....... olha ..... voce entendeu! bj.

    2012-11-30
  • Sil86

    O que posso dizer? Lindo. 

    2012-11-26
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Aline e quem mais estiver por aqui!Nada que eu falar vai justificar satisfatoriamente o fato de eu ter desaparato por tanto tempo. Mas, mesmo se com mais lentidão do que gostaria, estou trabalhando na fic. Espero presentear quem tiver paciência para esperar com o capítulo concluído e mais um outro nos próximos dias. Aos ausentes ou silenciosos, também estou aguardando uma palavrinha de vocês! Beijos :* 

    2012-11-23
  • Aline G. Weasley

    Oh Meu Merlin! Estava observando os comentários, e vi que ainda não postei nenhum! Mil perdoes Morgana, eu adorei. Eu pensei que depois de ler já tinha deixado meu comentário, mas por algum feitiço maluco não postei! A cena é tão bonita, você cada vez escrevendo melhor. E como disse a usuária Cedrella Weasley, "Por essa cena já é possível imaginar como o capítulo será especial". Desculpes de novo, e estou ansiosa para o próximo capítulo! Tenha dó de minhas unhas!Beijos,Aline G. Weasley. 

    2012-11-16
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.