No Acampamento





Feliz aniversário, Lily! Dedico a você este capítulo, como um singelo presente.


 


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 Oi...


Sempre chego neste espaço com todo respeito, pisando devagar e me perguntando se terei companhia. Por vezes a resposta chegou rápida, em outras demorou. Mas dessa vez dou razão aos meus leitores se tiverem “desaparatado”. São 19 dias no vácuo, sem um novo capítulo. Espero que este seja o meu recorde. Mesmo se foram motivos alheios a minha vontade que me impediram de escrever, devo um pedido de desculpas a vocês. De modo particular, a Jéssica e Gego, que estiveram por aqui em busca de novidades.
Aproveito para agradecer a Gabriela, minha ex-leitora fantasma que me fez companhia com seus longos e-mails. No mais, quero compartilhar a minha felicidade não apenas por estar de volta, mas também com o capítulo, que ficou exatamente do jeitinho que eu queria. Espero que curtam!


Beijos,


Morgana


 


* * * * *


 


 


 


 


Não era uma surpresa. Há muito tempo Harry desconfiava que os seus dois melhores amigos tinham se apaixonado um pelo outro. Mas, no último ano, essa desconfiança se transformou em certeza. E ele não entendia por que os dois não reconheciam para si mesmos um sentimento tão forte assim. Seria orgulho, timidez ou simplesmente por terem cabeças duras? De qualquer forma, jamais bancaria o cupido. Mesmo porque sempre que insinuava algo sobre isso, Ron e Mione desconversavam ou respondiam com rispidez, deixando claro que o assunto era proibido.


No entanto, Harry ficou perplexo ao ver a preocupação, a dedicação e o amor com que Hermione cuidava do ruivinho, que estrunchou durante a desaparatação do Ministério da Magia. Mal abriu os olhos, assim que caiu no solo macio da floresta, coberto por folhas e gravetos, ele ouviu a menina, desesperada como jamais a vira, mesmo diante dos maiores perigos. “Ron? Fala comigo... Como você está?! Sente muita dor? Fala alguma coisa! Por favor...”, Mione dizia, oscilando a voz entre o tom alto, quase estridente, e baixo, suplicante.


Com grande esforço, Hermione tentava manter a calma. Nos últimos dois meses, utilizara a maior parte do seu tempo se preparando para a missão e estudara muito, desde feitiços de defesa contra Arte das Trevas até os de cura de ferimentos. E era com esses últimos que se preocupava mais. Sabia que não teriam Madame Pomfrey para cuidar deles como sempre fizera, com grande êxito. Por isso selecionou os principais ingredientes mágicos para primeiros-socorros e os guardou em sua bolsinha de contas, esperando não precisar usá-los.


Mesmo se tremia, a morena reuniu coragem para rasgar a camisa de Ron, encharcada de sangue, na altura do ferimento. O ruivo estava mais pálido do quando foi envenenado, há seis meses. Observou Harry fazer uma careta, horrorizado ao ver que faltava uma parte de carne do braço do amigo. “Depressa! Na minha bolsa tem um frasquinho com a etiqueta Essência de Ditamno”, Mione pediu com urgência, tentando ao máximo se controlar.


Harry demorou alguns segundos até se dar conta que o comando “Accio Ditamno” era a melhor forma de encontrar algo na pequena bolsa abarrotada de objetos. Hermione considerou esse tempo longo demais e voltou a apressar o amigo, sem tirar os olhos de Ron que, depois de gemer de dor, perdera a voz e a cor. O ruivo tinha desmaiado e a menina sabia que precisava agir muito rápido. As suas mãos tremiam cada vez mais e pediu a Harry para destampar o frasquinho marrom que continha o medicamento mágico.


“Você vai ficar bem, Ron. Nós estamos cuidando de você”, Hermione falava em voz alta, mais para si mesma que para o ruivinho, enquanto deixava cair três gotas da poção no braço onde agora apenas o sangue era visível. A carne arrancada se recompôs e o ferimento parecia já ter ocorrido há alguns dias. “E só o que consigo fazer sem correr riscos. Há feitiços que o deixariam novo em folha, mas não me atrevo a usá-los por medo de errar e causar mais estrago... ele já perdeu muito sangue”, disse a menina muito trêmula.


Ron voltou à consciência e Hermione ficou um pouco mais aliviada. A menina lançou os feitiços protetores ao redor do acampamento e armou a barraca usando magia, deixando Harry surpreso com o fato dela sempre pensar em tudo. Acomodaram Ron, ainda muito fraco, na cama de baixo do beliche. “Ele continua pálido. Com certeza precisa descansar”, Mione deixou escapar.


Foi apenas depois de tomar o chá quente preparado por Hermione que Ron começou a recuperar a cor do rosto. E logo mostrou preocupação com o destino da família Cattermole. Graças à poção polissuco, durante a bem-sucedida operação para encontrar o verdadeiro medalhão no Ministério da Magia o rapaz assumiu a aparência de Reginald Cattermole, do Departamento de Manutenção Mágica. E justamente naquela manhã a esposa dele, que era de origem trouxa, estava sendo interrogada sob a acusação de “roubar magia”. “Deus, espero que tenham conseguido escapar... se acabarem em Azkaban por nossa causa...”, afirmou o ruivo ao pensar no casal com três filhos.


Mione estava cada vez mais encantada ao perceber que seu “legume insensível” demonstrava sempre maior percepção dos problemas enfrentados por outras pessoas e sentimento. Por isso teve vontade de se jogar nos braços do ruivinho e finalmente retribuir ao beijo que lhe havia negado. Harry conhecia muito bem a amiga e chegou a intuir aquele impulso do coração que a racional Mione logo tratou de abafar.


Ao anoitecer, Ron ficou muito agitado, suando e se debatendo enquanto falava palavras desconexas. Hermione chegou a pensar que era uma nova recaída de opprimendis febris, mas, ao consultar o livro de medibruxaria, descobriu que se tratava de um dos efeitos do estrunchamento. Ainda assim, a menina permaneceu em vígilia, cuidando do amigo. O rapaz começou a gemer e, como já o havia medicado com todas a poções recomendadas que tinha à disposição, Mione seguiu o seu coração.


Timidamente, a bruxinha mergulhou a mão direita naquele emaranhado de fios vermelhos, começando a fazer um cafuné. Aos poucos, a agitação do rapaz foi passando, ele parou de gemer e voltou a adquirir uma expressão tranquila. Enquanto acarinhava os macios cabelos cor de fogo, Hermione não deixava de dizer mentalmente o que gostaria de murmurar nos ouvidos de Ronald Billius.


“Por que não fala dos seus sentimentos, daquilo que passa em seu coração? Será tão difícil dizer que me ama? Reconhecer que por isso me beijou? Deve ser assim, Ron! Não posso acreditar que agiu sem pensar e me considera apenas uma amiga. Não percebe pelo meu olhar, sorriso, palavras, o quanto sou desesperadamente apaixonada por você? Ron, eu preciso que fique bem para declarar o seu amor por mim. Preciso que fique bem para ouvir o quanto eu amo você”, pensava a menina enquanto fazia cafuné no ruivinho.


Depois de passar quase toda a noite acordada, primeiro cuidando de Ron e depois vigiando o acampamento, função que revezava com Harry, a menina estava exausta. Queria dar uma boa refeição para os amigos, porém o máximo que conseguiu foi preparar alguns cogumelos e mais xícaras de chá quente. O ruivo não reclamou, mas a cara feia dele acabou revelando que sonhava com algo melhor. Ainda assim, o rapaz se encontrava feliz pelo carinho que vinha recebendo da amiga.


- Valeu, Hermione. Não sei como seria se não tivesse você para cuidar de mim – assegurou.


- Não precisa agradecer. Fico feliz em saber que você está bem – respondeu com um sorriso.


- Mas você é tão dedicada que está lembrando a minha mãe – afirmou com simplicidade.


A menina não conseguiu evitar uma cara de espanto. Como assim ela lembrava a mãe de Ron? Não queria ser simplesmente a amiga, a irmã, e muito menos a mãe. Desejava ser a namorada do ruivinho! Por isso não conseguiu ficar quieta.


- Mãe? Eu faço você se lembrar da sua mãe?! – disse sem esconder a decepção com aquela comparação.


- Mãe não... Eu me expressei mal – tentou consertar ao ver que Hermione não estava muito feliz com a afirmação.


- Acha que sou sempre racional e objetiva, não é? E ficou surpreso ao ver que eu também sei ser atenciosa – arriscou assertivamente.


- Não me leva a mal, mas não consigo entender você...  Algumas vezes é tão preocupada com a gente que chega a sufocar. Em outras age com frieza, parece pensar que todos devem saber se virar. Acho que faz assim porque é autossuficiente, nunca precisa de ajuda - confidenciou incerto.


Hermione não podia contestar aquela afirmação. De fato não tinha facilidade para expressar os sentimentos, para reconhecer quando precisava de ajuda, de uma palavra de carinho, de um conforto. Mas, desde que se descobrira apaixonada pelo amigo, vinha mudando.


- Ron? Como você pode falar isso? Esqueceu quantas vezes eu precisei dos seus ombros para chorar? – questionou a menina.


- E também do meu lenço... De fato hoje você é bem mais sensível e afetuosa – reconheceu sorridente.


- Mas não sou assim com todo mundo, que fique bem claro – completou.


- Por que fui escolhido para receber essa atenção especial? – perguntou divertido.


- Bem, se você não sabe, não sou eu que vou lhe contar – falou uma feliz Hermione.


O rapaz, que havia sentado para tomar o chá e comer os cogumelos, continuava debilitado. Dizendo que estava cansado, Ron voltou a deitar. Mione falou para ele dormir e se preparava para levantar ao ser, mais uma vez, surpreendida pelo amigo. “Você não pode me fazer cafuné como ontem? Foi tão bom”, falou o ruivinho, que já fechara os olhos.


- Você estava acordado o tempo todo ontem e fingiu que dormia?! – protestou a menina.


- Não foi bem assim, Mione. Na verdade, eu não conseguia abrir os olhos e, além do mais, aquele cafuné estava tão bom que me fez dormir – justificou.


“Que raiva! Ron ficou quietinho se aproveitando... Espera aí! Ele gostou de receber meu cafuné e quer de novo! E eu vou poder acariciar mais uma vez esses cabelos tão bonitos e macios”, pensou. Diante do silêncio da menina, o rapaz abriu relutantemente os olhos azuis. “E então? Por favor...”, pediu naquele tom suplicante que sempre derretia o coração de Hermione.


- Tudo bem. Mas só hoje. Não pensa que vai ganhar cafuné todo dia - garantiu com um meio sorriso antes de, superando a timidez, começar a fazer cafuné no rapaz, que fechou os olhos com uma expressão feliz.


xxx


Sem parar por muito tempo em lugar algum, enquanto não tinham novas pistas ou ideias de onde procurar outras horcruxes ou mesmo destruir a que já haviam encontrado, os amigos viviam dias de fadiga e suspensão. Não era fácil se revezar na guarda do medalhão, que cada um deles carregava no pescoço pelo período aproximado de doze horas. Hermione ficava introspectiva e triste quando trazia aquela porção da alma do Lorde das Trevas próxima ao peito; Harry, muito impaciente e enfraquecido; Ron, melancólico, inseguro e irascível.


Sempre que se alimentavam bem, o humor dos três amigos melhorava consideravelmente. A cada dia, um deles não precisava carregar a horcrux e, quem tinha esse privilégio, sem dúvida ficava com mais ânimo. Quando chegou o aniversário de Hermione, foi dela aquela regalia. Harry usava o medalhão nas primeiras horas e Ron acordou bem cedo para executar um plano que, se desse certo, deveria alegrar a menina.


Em muitos momentos, Ron admitia que pertencer a uma família bruxa trazia os seus benefícios. Não devido ao “sangue puro” que poderia livrá-lo da lista dos “indejáveis” elaborada pelo Ministério da Magia e garantir algum status. Até porque não considerava isso uma vantagem e fazia questão de ter amizade com trouxas e mestiços. Nesse aspecto não era diferente dos demais Weasley, com exceção de Percy, que eram considerados “traidores de sangue”.


O maior benefício de pertencer a uma família bruxa era saber feitiços que não estavam em livros tradicionais de magia e nem eram ensinados em Hogwarts. Passavam de geração a geração, como um segredo de família. Caso a sua memória não o traísse, estava pronto a executar um desses encantamentos que aprendera com a avó paterna, Cedrella.


Com atenção, selecionou e colheu três lírios campestres na cor lilás. Em seguida, tentando se concentrar ao máximo, apontou a varinha e falou as palavras mágicas. Deu certo! O feitiço fez as flores ganharem uma espécie de redoma de luz aperolada, que as conservariam por tempo indeterminado. Olhou para o pergaminho e a pena que levara consigo sem saber qual mensagem escrever para menina. Como estava com pressa, colocou no papel o primeiro pensamento que veio à cabeça.


Ron entrou silenciosamente na barraca e, com um floreio da varinha, fez o presente flutuar próximo à cama da menina. Deu um sorriso ao ver Hermione ressonando. Seu único conforto naqueles dias sombrios, nos quais viviam como fugitivos, era dormir ou acordar contemplando o rosto da amiga. Isso não acontecia todos os dias, já que sempre um deles estava começando ou concluindo a vigília do lado de fora da barraca. Sorriu mais uma vez lembrando a manhã na qual foi flagrado pela amiga no momento em que a olhava distraidamente.


A menina tinha acordado, saudou Ron com um bom dia, abaixou a cabeça e apoiou a testa no braço direito, parecendo fazer uma breve reflexão. Quando voltou a erguer o rosto, ele ainda a contemplava embevecido. Mione prendeu rapidamente o cabelo e se desvencilhou do cobertor, percebendo que todos os seus gestos eram observados pelo amigo. 


- Por que você está me olhando assim? – por fim perguntou.


- Olhando assim como? – devolveu a pergunta.


- Você está me deixando envergonhada... Tem alguma coisa errada comigo? – ela insistiu.


- Claro que não, Mione. Não achei que um simples olhar podia incomodar tanto...


Ele mantinha o sorriso ao lembrar daquela conversa que acontecera há poucos dias e agora parecia tão distante. Seu pensamento foi mais longe ainda, até a primeira noite da missão, em Grimmauld Place, quando dormiram de mãos dadas...


Foi despertado dessas lembranças quando a menina se mexeu na cama. Queria que, ao acordar, ela visse apenas o ramalhete com o cartão flutuando ao seu lado. Por isso saiu rapidamente da barraca e foi se juntar a Harry, que já tomava um chá e comia as torradas “compradas” graças aquela agora já tradicional sistema de deixar o dinheiro no comércio enquanto levavam os produtos escondidos sob a Capa de Invisibilidade.


Calor, aconchego, algo bom que não sabia explicar. Há muito tempo Hermione não acordava se sentindo assim. Parecia estar de volta À Toca. Ela se espreguiçou e foi só então que viu aquelas lindas e perfumadas flores flutuando na altura de seus olhos. Uma magia do bem, a morena deduziu logo. Quem podia ter feito aquilo? Ron... Foi o nome que se formou em sua mente, mas sacudiu a cabeça. Não podia ser. “Espera! Hoje é meu aniversário e ele nunca esquece”, constatou.


Não conseguindo mais conter a ansiedade, esticou a mão e alcançou o pequeno envelope. No cartão, uma mensagem simples, curta, mas significativa:


Mione, você traz luz para minha vida.


Feliz aniversário!


Com afeto,


Ron


Um sorriso luminoso transformou o semblante da menina, que nos últimos dias andava apreensiva e abatida. Por alguns instantes ficou perdida naquelas palavras, em cada detalhe da letra do ruivinho. Em seguida, seus olhos buscaram os lírios, os mais bonitos que já tinha visto em toda a sua vida. Instintivamente, tocou na redoma aperolada que cercava as flores, que se dissolveu, fazendo o buquê posar com delicadeza em sua mão.


Segurando os lírios, Hermione saiu da barraca. Ron se encontrava exatamente na entrada da tenda, enquanto Harry estava de costas. Os olhos da menina e do ruivinho logo se cruzaram e, por longos segundos, ficaram presos, quase hipnotizados. As orelhas do ruivo se tornaram vermelhas, as faces de Mione também adquiriram o mesmo tom.


- Bom dia! Que lindas flores, Ron – falou, tentando manter o jeito casual.


Enquanto o ruivo a olhava sem saber o que dizer, Harry, como sempre, foi mais rápido e abraçou a menina. “Feliz aniversário, Mione! Não tenho o talento de Ron e não consegui preparar um presente mágico. Mas preparei esse chá com torradas para comemorarmos juntos”, disse durante o forte abraço que deu na amiga.


Quando se desvencilhou de Harry, a menina voltou a olhar o ruivo, com expectativa. Ele tomou a iniciativa e, abrindo um sorriso, ergueu os braços e caminhou em direção à amiga. Repetiu os mesmos e sinceros votos de felicitações e, quando se desprenderam do abraço, foi que a menina finalmente conseguiu se expressar.


- Acho que foi o melhor presente de aniversário que já ganhei – constatou.


- Sério? Mas é algo tão simples – analisou o rapaz.


- Mas são lindas, Ron! E essa magia é realmente incrível. Como fez? – questionou.


Harry, ao perceber que estava sobrando, anunciou precisar de descanso. “Vou entrar para me deitar um pouco. Essas vigílias me deixam pregado”, justificou.


Enquanto Hermione se servia do chá com torradas, Ron ficou olhando a amiga sem conseguir disfarçar o quanto era fascinado por ela. “Você não me contou sobre a magia?”, voltou ao assunto. “É bem simples. Não sei fazer feitiços muito complexos, como você. Aprendi com minha avó Cedrella. Vovó colhia flores no bosque atrás da casa dela e as preparava para enfeitar a sala. Dizia que as flores ficavam mais perfumadas e duravam mais, contou.


Sentada próxima ao ruivinho, Hermione se inclinou até ele e o beijou na face. “Obrigada Ron”, falou. O rapaz se sentiu um pouco envergonhado e lembrou quando, no quinto ano, a menina lhe deu aquele beijo de boa sorte antes do início da partida de quadribol. Tanto tempo depois, ele ainda ficava nervoso diante da amiga.


xxx


Outubro chegou trazendo um clima mais frio. Já fazia um mês que se revezavam carregando o medalhão, havia dias que comiam bem, em outros quase passavam fome. A função de fazer vigília do lado de fora da barraca também não era fácil. Durante a noite a temperatura caia e os cobertores e agasalhos pareciam já não ser suficientes. Não tinham notícias dos Weasley, dos pais de Hermione, dos membros da Ordem, de Hogwarts. Procuravam vivenciar a forte amizade que existia entre eles com momentos de conversa, mas cada um deles mergulhava sempre mais no seu mundo particular.


Harry estava oprimido com o peso de ter que cumprir uma missão difícil demais para a sua pouca idade e experiência como bruxo. E logo quando sentia a admiração pelo ex-diretor de Hogwarts vacilar. Mesmo se Dumbledore não fosse aquela figura controversa apresentada por Rita Skeeter, certo é que guardara muitos segredos. E o rapaz já não sabia se podia confiar totalmente nele, como sempre fizera. Sem falar que conseguia penetrar na mente de Voldemort, sentindo a sua maldade, cada vez com maior frequência e isso parecia sugar suas energias. Por vezes agia com grande impaciência, era autoritário, tentava impor suas opiniões.


Já a inteligente bruxinha estava ainda mais reclusa, devorando livros e livros em busca de alguma pista sobre as horcruxes e de novos feitiços. Fazia muitas anotações nos pergaminhos, que sempre enrolava com cuidado antes de guardar na bolsinha de contas, e passava do silêncio aos gritinhos histéricos com uma rapidez surpreendente. Falava para Harry de suas suposições e descobertas. Por vezes tentava conversar com Ron sobre este mesmo assunto, mas o rapaz saia pela tangente.


O ruivo acreditava estar na missão para apoiar os amigos, portanto, esperava que as decisões partissem de Harry e de Mione. Não era um intelectual ou um líder. Tudo passava pelo coração, por sentimentos e sensações, antes de chegar à cabeça do ruivinho. Por isso se sentia tão atingido pelo frio, comida escassa e pouco saborosa, falta de conforto, ausência de sua numerosa família. Quando usava o medalhão, ficava ainda mais impaciente, ensimesmado e com ciúmes da menina. Esperava maior atenção dela e sempre acreditava que Hermione preferia a companhia de Harry, com quem tinha as conversas mais animadas e dava as melhores gargalhadas.


Nos momentos em que não estava com a horcrux, Ron ficava mais paciente e atento aos amigos. Naquela manhã, enquanto Harry fazia a vigília com o medalhão pendurado ao pescoço, o ruivo viu Hermione saindo da barraca e chamou pela menina, perguntando onde ela estava indo. Ao ouvi-la responder que tentaria encontrar alguns alimentos na floresta, se ofereceu para acompanhá-la. Não adiantou Mione dizer que não precisava. Ron era insistente quando queria alguma coisa.


- Acompanhei muitas vezes a minha avó Cedrella no bosque próximo à casa dela quando ia colher frutas silvestres e ingredientes para feitiço. Acho que posso ajudar – garantiu.


Aceitou por fim a companhia do rapaz que, afinal de contas, sempre a agradava. Muito falante, depois de passar os últimos dias quase monossilábico, Ron contou histórias da infância, lembrando com carinho da avó, que pertencia à família Black.


“Os pais dela não aceitaram muito bem que se casasse com um Weasley. Mesmo se a nossa família é antiga, tem menos poder e riqueza que os Black. Mas meus avós foram muito felizes. Vovó tinha um carinho especial por mim, acho que por eu ser o caçula entre os rapazes, e sempre me ensinava muito feitiços”, lembrou.


Hermione acompanhou a narrativa com especial interesse e também falou um pouco da própria família, pequena, reservada e, como o rapaz suspeitava, composta por estudantes brilhantes e profissionais bem-sucedidos. “Meus pais sempre disseram que a principal herança que podem me deixar é o conhecimento. Por isso não medem esforços para que eu estude em boas escolas. Só aceitaram Hogwarts porque tiveram excelentes referências”, explicou.


Ao longo do caminho, o rapaz foi mostrando a Mione folhagens e frutos, alguns deles desconhecidos da menina, além de um povoamento de gnomos e a árvores oca repleta de fadas. “Ron, a gente se conhece há tanto tempo, mas ainda não sei tanta coisa de você, da sua família...”, observou Hermione. “Eu também conheço muito pouco sua vida antes de Hogwarts”, constatou o ruivo.


Chegaram a uma clareira e Ron, ao avistar amoras silvestres, a puxou pelas mãos. “Parecem deliciosas”, falou, começando a colher alguns frutos. Com pressa, não reparou que as amoras haviam crescido junto com uma planta venenosa que tinha espinhos afiados e curvos. O resultado foi que cortou e queimou a mão direita.


- Você se machucou. Deixa-me ver a sua mão? – Mione pediu aflita ao perceber que escorria muito sangue entre os dedos do rapaz.


- Não, Hermione. Não precisa. Isso não foi nada – disse o ruivo escondendo a mãos às costas.


- Ron! Me dá logo a sua mão – repetiu em tom imperativo.


“Não, me deixa. Você se preocupa demais”, resmungou o rapaz que se envergonhava de ser tão desajeitado e não conseguir evitar se machucar ou fazer algo atrapalhado até na hora de colher simples frutas silvestres.


- Que droga, Ron! Para de ser orgulhoso à toa. Por que você não me deixa cuidar de sua mão? – reclamou, se perguntando por que Ron fazia questão de ficar tão distante dela e sem conseguir segurar o choro.


- Está tudo bem... – o rapaz continuou, interrompendo o próprio raciocínio ao perceber que a menina tinha lágrimas nos olhos – Mione, você está chorando por causa disso?


- Não. É porque eu sou chorona e preciso gastar minhas lágrimas. Ou talvez seja um cisco que entrou nos meus olhos – respondeu com ironia.


- Ah, Mione! Eu sou um idiota mesmo. Vivo dizendo que vou proteger você e só lhe faço chorar. Acho que preciso proteger você de mim mesmo. Tenho que ficar longe – falou envergonhado.


A menina passou as costas da mão no rosto para enxugar as lágrimas, antes de responder: “Ron, você não precisa ficar longe de mim. Aliás, não deve. Mas seria bom se fosse menos orgulhoso e de vez em quando, como todo mundo, aceitasse receber ajuda”.


- Você venceu, Mione. Pode olhar a minha mão – disse esticando o braço direito na direção da menina.


Nervosa, a bruxinha pegou a varinha e usou o feitiço convocatório para encontrar uma poção para ferimentos na bolsa. Apoiou a longa mão do rapaz na sua e pingou algumas gotas do medicamento bruxo nos cortes e queimaduras, que logo cicatrizaram. Mas não conseguiu fazer isso sem tremer, denunciando quanto qualquer acidente com o ruivinho a deixava abalada.


- O que houve, Mione? Você está tremendo – Ron a questionou.


- Estou nervosa, Ron. Mas está tudo sob controle – garantiu.


- Eu sei... Mas por que está assim? – insistiu.


- Não sei ao certo... Lembro quando você foi envenenado, de como perdeu sangue quando estrunchou. Acho que tenho medo que aconteça algo ao meu melhor amigo...


- Melhor amigo? Harry é o seu melhor amigo! – rebateu com firmeza.


- Vocês dois são os meus melhores amigos – fez questão de enfatizar.


- Qual é, Mione? Eu e você não somos tão amigos assim... Vivemos brigando – falou sorridente.


Dando soquinhos no braço do ruivo, a menina se queixou: “Eu aqui, toda preocupada, e você de brincadeira”. O rapaz abriu um lindo sorriso antes de responder: “Fiquei foi emocionado ao ver que sou tão importante para você”. Olhando muito séria para ele, a menina o surpreendeu.


- Você é muito importante sim. Ainda duvida disso? – interrogou com a fisionomia apreensiva.


Ron não resistiu. Envolveu a amiga em um abraço terno e demorado. “Se não fosse você, com sua mente brilhante e coração tão generoso, eu não estaria mais vivo”, sussurrou no ouvido da morena. “Eu também não viveria sem você, Ron”, ela falou. O rapaz pensou em perguntar exatamente o que a menina queria dizer com aquilo, mas não desejava se afastar e a apertou com mais força como se daquele abraço dependesse a vida dele e a de Hermione.


xxx


 


 


Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:

1, 2, 3, 4 


http://irpra.la/m/1015299


Give me more love than I've ever had,
Make it all better when I'm feeling sad,
Tell me that I'm special even when I know I'm not 


Make it feel good when I hurt so bad,
Barely gettin' mad,
I'm so glad I found you
I love being around you 


You make it easy,
As easy as
1, 2... 1, 2, 3, 4
(...)


Give me more love from the very start,
Piece me back together when I fall apart,
Tell me things you never even tell your closest friends 


Make it feel good when I hurt so bad,
Best that I've had,
I'm so glad I found you
I love being around you
(…)




 


 

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Comentários (20)

  • Camys Lovegood

    "Mione estava cada vez mais encantada ao perceber que seu “legume insensível” demonstrava sempre maior percepção dos problemas enfrentados por outras pessoas e sentimento." Senti muita falta dessa cena no cinema. A Mione toda derretido pq o Rony se sentiu preocupado pelo casal lá...

    2013-02-08
  • Annabeth Lia

    Tão lindo! Abraços fortes sempre me deixam emocionada *-*

    2012-12-12
  • Samantha Gryffindor

    O estrunchamento de Ron foi horrivel. E imaginar ele sangrando quando li o livro, foi assustador, o pior foi a ver a tal cena no cinema. Ainda bem, que não aconteceu nada de pior.O buque de lírios e a parte do cafune,   own   QUE MOMENTOS LINDOS.Não tenho muito o que comentar nesse capítulo. Ele foi bem escrito, o que não é novidade.   

    2012-11-08
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Maíra! Obrigada por se fazer presente! A gente coloca parte do nosso coração nos textos que escreve - especialmente quando falam de sentimentos - e ter esse retorno é muito bom. Sempre que puder, passe por aqui. Bjs!

    2012-10-02
  • Maíra R. Matias

    *-* foi tão lindo esse capítulo! O final deixou para a nossa imaginação: como será que ficou o clima entre eles depois desse abraço?rsEnfim, Estou gostando bastante e, como sempre, ansiosa para saber o decorrer dos próximos capítulos!ainda tem muita água pra rolar.Parabéns mais uma vez!bj 

    2012-10-02
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Gego, você é uma mulher de palavra, hein? kkkk Pois é, a insegurança do Ron impede que  veja o óbvio. Esse sentimento de rejeição (que não é real) só vai crescer dentro dele até resultar no abandono da missão. Estou concentrando meus sentimentos e inspiração no capítulo 15, que vai ser inteiramente dedicado ao ruivinho. Dessa vez espero que não se atrase (eu deixando meu lado "bronqueador", bem a la Mione, vir à tona hehe). Leva a sério não... Bjs! 

    2012-09-26
  • Gego

    Como prometido, irei comentar. *Preciso de mais broncas* kkkkkkkkkkkLendo o capítulo seguinte e vindo pra cá eu constato como a insegurança cega as pessoas e as impede de enxergar o que tá na cara, o amor recíproco. Coisa que acontece não só com esse casal, que eu sou louca, mas também com os da vida real, incluindo até mesmo eu. Nossa, com as ações da Mione, tanto nas palavras como pelos carinhos, fica estampado que ela é apaixonada por ele e mesmo assim o Ron ainda tem dúvida. Inacreditável!Enfim, como já disse, o capítulo tá lindo. Muito fofo mesmo. Completa perfeitamente o livro.Beijos! :) 

    2012-09-26
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Lily! Seus comentários, sempre tão completos, que não deixam passar os pequenos detalhes, alegram o meu dia! Os próximos capítulos da fic, como vc mesma intuiu, serão os mais mais complexos. Vamos ser obrigados a mergulhar um pouco na dor abissal que os dois experimentam. Mas vai ser da experiência de sofrer, percebendo que não conseguem ficar distantes - é como se faltasse ar aos pulmões - que vão reencontrar forças e, finalmente, vencer o medo de se entregar a tão forte amor. Espero conseguir passar um pouco de toda essa emoção. Bjs!

    2012-09-19
  • Lily_Van_Phailaxies

    Eu sei, eu sei, fiquei de aparecer aqui depois de alguns minutos após comentar o capítulo anterior, mas não foi possível =/Tinha até lido o capítulo, mas não tive tempo de parar para comentar, desculpe por isto.Obrigada pelo maravilhoso presente de aniversário! Amei, principalmente pelo final e este abraço encantador dos dois! =DHarry bem consciênte que esta sobrando, isso aí moreno o seu lance é com a ruivinha, fica pensando nela e deixe os dois no love (tudo bem que eu sempre considerei as cenas de Harry/Hermione, como irmãos, ambas filhos únicos e criados de forma totalmente distintas, mas ao mesmo tempo sentindo "falta" daquela outra pessoa a quem chamar de irmão e ter uma cumplicidade necessária).imagino o desespero da morena, tendo o ruivo a depender de todo o seu esforço, mas como sempre este Rony nunca iria deixar ser "vencido" e abandonar a sua Mione. Oh céus como foi fofo ele pedindo para a morena fazer cafuné nele, tudo bem que ele novamente não escolheu bem as palavras "Mas vc é tão delicada que está lembrando a minha mãe"... Raios ruivo, vc sempre consegue dar um fora, mas sabe concertar com estilo!Desculpa Mione, mas eu quero um buque desta para mim! Sempre fofo sempre encantador! *.*Hermione cada dia mais, por mais racional que seja e acredite que o "melhor" (o que não concordo) seja que neste momento eles fiquem separados, esta encontrando cada vez mais dificuldades para esconder seus sentimentos. Também quem é que pode culpá-la?Todos nós sabemos como ela ficou destruída com a partida do ruivo, e estou ansiosa para ver como vai retratar isto, afinal adoro o jeito como vc se preocupa em descrever os sentimentos do nosso casal, mesmo aqueles mais conflitantes.Bom espero poder vir aqui mais vezes, mas agora tenho aulas aos fds e estou começando a estudar para concurso público, então se eu sumir pode acreditar que irei voltar o mais rápido que puder =DAté mais moça, parabéns por mais um capítulo.

    2012-09-19
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Lilian, obrigada pelas palavras carinhosas!Fica tranquila que ainda vai demorar um pouquinho para a fic terminar. Pelo meu roteiro prévio, serão pelo menos mais 10 capítulos :) bjs! 

    2012-09-18
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