Entrelaçar de Mãos




Olá!


Demorei mais um pouquinho do que previa e o capítulo ficou enooorme, como alguns leitores gostam. Isso porque preferi concentrar todas as cenas de Grimmauld Place aqui, inclusive com transcrições do livro HP 7. Devo alertá-los, no entanto, que agora a fic entra em uma etapa mais sombria e, mesmo se nossos dois bruxinhos vão viver belos momentos, também começam a se distanciar. Como alertei em resposta a um comentário, ainda bem que existe caminho de volta e Ron, depois de abandonar a missão, vai percorrê-lo com coragem e decisão.


Abraços,
Morgana 


P.S¹: Comentários são sempre bem-vindos!
P.s²: A música incidental tem uma letra que, na minha opinião, traduz bem o sentimento de Hermione no final do capítulo.
 


* * * * *


 


 


 


 


 


Hermione acordou assustada. Acabava de ter um pesadelo no qual cenas desconexas se misturavam. Por um momento, a menina e Ron estavam juntos, de mãos dadas. Pouco depois, uma fumaça negra envolvia o rapaz, que era arrebatado para longe dela.


Com o coração descompassado, Hermione se sentou. Parecia impossível que, há poucas horas, vivera um dos momentos mais especiais de sua vida. Estava nos braços de Ron, com a cabeça encostada em seu peito, dançando. Como sonhara com aquele momento!


Tudo aconteceu tão rápido. Depois de algumas músicas lentas e animadas, que dançaram separados, mas sem desprender-se um do olhar do outro, o rapaz foi buscar cervejas amanteigadas para os dois. “Por que não acompanhei Ron?”, Mione se perguntou com certo desespero diante da eminente chegada dos Comensais da Morte na festa de casamento. Ela assistia aos demais bruxos desaparatar e não encontrava o seu ruivinho! Foram poucos, porém, apavorantes, os minutos que se passaram até avistar o rapaz, com o olhar igualmente amedrontado, correndo em sua direção.


Harry já estava ao lado da menina que, pegando ambos pelos braços, os conduziu para longe d'A Toca. Hermione sentia-se à vontade para assumir aquela função, já que era a única, entre os três, aprovada no exame de aparatação. Pensou que estariam em segurança naquele bairro trouxa. Mas o ataque sofrido na cafeteria mostrou que se enganara. Viveram momentos de grande tensão e graças a Deus – concluía agora –se saíram bem naquele combate inesperado.


Apesar dos estranhos sons da casa e dos pesadelos que não permitiam a menina ter um sono tranquilo, os três amigos estavam em relativa segurança em Grimmauld Place. Mesmo assim Hermione, sentada sobre o saco de dormir, respirava de forma ofegante. Medo. Sim, precisava admitir, experimentava grande medo. Jamais se sentira tão aterrorizada.


Pegou a varinha e, mentalmente, deu o comando: “Lumus”! A luz bruxuleante foi suficiente para ver o rosto do rapaz ruivo e sardento, que tanto amava, ressonando de boca aberta no saco de dormir colocado no chão, ao lado dela. Hermione que, graças às almofadas que Ron convocara, estava deitada um pouco acima, sorriu ao lembrar o jeito carinhoso dele ao insistir em dar aquele conforto a mais à amiga.


“Eu nasci numa família pobre e enorme. Harry vivia embaixo da escada na casa dos Dursley. Estamos acostumados a dormir de qualquer jeito”, argumentara o rapaz. “Ron, não precisa, eu não sou uma menina mimada”, contrapôs ela, que só havia pedido para os três ficarem juntos na sala. Não queria se arriscar a permanecer sozinha em um cômodo daquela casa. Não antes de terem verificado se havia algum feitiço maléfico no lugar.


- Mione, me deixa fazer isso. É o mínimo que posso oferecer a você – insistiu Ron.


Ela finalmente aceitou e, em silêncio, chegou à conclusão que era privilegiada por receber aquele gesto de carinho, de atenção, do rapaz pelo qual era enamorada.


Lembrava tudo isso enquanto observava Ron dormindo. Pouco depois dele se encontrava Harry, que também parecia estar em sono profundo. Não sabia se devia ou não acordar o ruivinho. Mas se sentia tão amedrontada e sozinha que não resistiu.


“Ron”, a menina chamou vacilante. “Hummm”, o rapaz balbuciou, se mexendo no colchão. “Ron!”, insistiu, dessa vez mais alto. “Hermione!”, ele respondeu abrindo os olhos assustado e se sentando. “O que houve?!”, perguntou o bruxinho, que também não dormia um sono tranquilo e estava alerta para qualquer movimento estranho daquela sinistra residência.


- Desculpe-me por acordar você. Eu não consigo dormir. Estou com medo – confessou.


- Oh, Mione! Não precisa ficar assim. Eu não vou deixar nada acontecer com você – garantiu com ternura.


- Se depender de você, sei que vou estar sempre em segurança. Mas estamos lidando com bruxos terríveis, poderosos e sem escrúpulos, capazes de tudo para alcançar seus objetivos – analisou.


- Preferia que você não tivesse vindo conosco – falou, empunhando a própria varinha acesa e contemplando os olhos castanhos da menina – Podia ter continuado em Hogwarts estudando. Estaria mais segura lá.


- Em primeiro lugar, eu sempre estive ao lado de você e do Harry, desde o nosso primeiro ano em Hogwarts, e não abriria mão disso agora. Depois, por mais que você não admita, sei que tenho a minha contribuição a dar na busca das horcruxes – afirmou a menina, erguendo a varinha para enxergar melhor o rosto do amigo.


“Essa luz está me incomodando”, o ruivo se queixou, tapando o rosto com a mão. Hermione pediu desculpas e abaixou a varinha. O rapaz então respondeu, sem tirar os olhos da amiga. “Mione, você é indispensável, especialmente para mim. Mas não queria que corresse todo esse risco”, argumentou.


- No meio dessa guerra que está prestes a começar, não existe lugar seguro – lembrou a menina.


- É verdade. Se fosse para Hogwarts, também correria risco. Pelo menos aqui eu tenho você ao alcance dos meus olhos – ponderou, sem conseguir evitar que suas orelhas ficassem vermelhas.


A menina também enrubesceu ao ouvir aquelas palavras, mas isso não era perceptível sob a luminosidade difusa originada pelas varinhas. Foi Ron que quebrou novamente o silêncio.


- Amanhã teremos muito a conversar e planejar com Harry. Será que agora você consegue dormir? Acho que precisamos descansar – sugeriu.


- Eu sei. Vou tentar dormir – resignou-se.


- Boa noite, então, Mione – falou o rapaz, voltando a se esticar no saco de dormir e comandando a varinha para que deixasse de emanar luz.


- Boa noite, Ron – respondeu a menina, que também se deitou e fechou os olhos, mas não abriu mão da luminosidade fraca de sua varinha.


O rapaz, que mantinha os olhos abertos, contemplou mais uma vez o rosto da amiga, tentando saber se ela já se acalmara. Recordou como Hermione estava linda no casamento. Tinha sido tão bom tê-la próxima a ele enquanto dançavam. Essa imagem deu lugar à outra, da receptividade da menina ao seu abraço caloroso depois do patrono de Arthur entrar em Grimmauld Place e anunciar que toda a família Weasley se encontrava bem. Querendo tornar ainda mais vivas aquelas doces lembranças, finalmente cerrou os olhos. Mas logo ouviu a voz de Mione chamando novamente o seu nome.


- Você não vai conseguir dormir, não é? – ele perguntou, acendendo mais uma vez a varinha.


- Desculpa, Ron. Eu continuo com medo – reconheceu.


- Não precisa pedir desculpas. Se quiser, fico a noite toda acordado, conversando com você – afirmou, abrindo um sorriso sereno.


Caso fosse em outro momento, a menina adoraria falar por horas e horas com o ruivinho. Nunca se cansava de conversar com o rapaz e amava a voz dele. Mas sabia que precisavam relaxar o corpo e a cabeça para pensarem nas próximas ações.


- Acho melhor conversarmos depois. Eu concordo com você. Temos que descansar – reconheceu.


- E o que eu posso fazer para você ficar mais tranquila? – questionou.


- Pode me dar a sua mão – respondeu com simplicidade.


- A minha mão? Claro – ele falou sem conseguir evitar uma expressão curiosa, estendendo o braço direito em direção da menina.


A bruxinha sentiu a mão grande, forte e quente do amigo envolvendo a sua, pequena, delicada e que, naquele momento, estava muito fria. “Quando eu era criança e tinha algum pesadelo, meu pai sentava na beira da minha cama e me dava a mão. Eu me sentia segura e conseguia volta a dormir”, ela contou.


- Você se sente segura agora, de mãos dadas comigo? – a interrogou despretensiosamente.


- Sim. Muito. Obrigada – assegurou, dando um leve sorriso e fechando novamente os olhos.


- Obrigada por quê? – o rapaz quis saber contemplando a face agora tranquila da amiga, que finalmente apagara a luz da sua varinha.


De olhos ainda fechados, Hermione respondeu: “Por me dar a sua mão”. Queria dizer muito mais. Agradecer por Ron estar ao lado dela e apoiá-la nos momentos nos quais mais precisava, mas o sono já a envolvia. “A minha mão é toda sua, assim como meu coração”, o ruivinho teve vontade de falar. Mas ficou em silêncio. Segundos depois, porém, não conseguiu evitar que uma palavra escapasse de seus lábios.


- Hermione... – sussurrou o ruivo, também fechando os olhos. Como era bom pronunciar aquele nome, que significava tanto na vida dele. Poder envolver mão tão macia e delicada, sentir o calor, o perfume, a presença da menina que amava com paixão, tudo isso aquecia o coração do rapaz. Mas o melhor era perceber que, de alguma forma, podia protegê-la.


O ruivo não imaginava, porém, como Hermione se sentia confortada apenas por ouvir o seu nome ser balbuciado por ele. Somente Ron, e mais ninguém, sabia falar o nome dela assim, de um jeito forte e suave. Mas, acima de tudo, com grande sentimento.


- Mione?! – dessa vez o rapaz a chamou com urgência e certa apreensão e a menina, que já começava a se entregar ao sono, abriu os olhos preocupada.


- O que foi, Ron? – questionou, encarando o rapaz.


- Queria apenas dizer que vou estar ao seu lado em todos os momentos dessa jornada tenebrosa. Apesar de já ter falado isso uma vez, não custa repetir. Eu defenderei a sua vida como se fosse a minha – afirmou com convicção.


- Ron... Nem sei como agradecer – murmurou.


A varinha do amigo continuava a iluminar o ambiente e, mais uma vez, Hermione reencontrou os olhos que lhe lembravam do profundo oceano azul. O ruivinho, que com o polegar fazia carinho no dorso da mão da morena, deu um suave sorriso antes de responder.


- Não precisa agradecer, Mione. Agora vamos descansar – sugeriu.


Pela terceira vez, a bruxinha fechou os olhos, percebendo que aquelas orbes azuis ainda a contemplavam. Não demorou muito para começar a adormecer, mas novamente a voz que tanta amava a chamou. “Hermione! Você já está dormindo?”, o rapaz perguntou. “Hã...Ron? Hum, eu estava”, respondeu, abrindo lentamente os olhos.


Como foi bom ser retirada daquela madorna para contemplar mais uma vez o rosto do ruivinho, iluminado pela fraca luz da varinha que ele segurava. “Mil perdões, eu não queria acordar você”, falou o rapaz, envergonhado.


- Tudo bem, Ron. Mas o que aconteceu? Agora é você quem está com medo? – perguntou com o bom humor que tinha aprendido a apreciar graças ao amigo.


- Na verdade, eu só queria dizer que gostei muito de dançar com você na festa. Foi um momento mágico – afirmou em voz baixa.


Feliz e envergonhada ao mesmo, Hermione desviou seus olhos do rapaz e, intuitivamente, acabou contemplando as duas mãos enlaçadas. “Eu também gostei. Você dança muito bem”, garantiu.


- Não precisa exagerar, Mione. Eu nunca tive ritmo algum – avaliou – Com você, porém, consegui me sentir muito bem dançando. Pena que durou tão pouco...


Inesperadamente, o rapaz aproximou a mão de Mione dos lábios dele e a beijou com suavidade e respeito. “Ron...”, a menina balbuciou. “Sempre achei a sua mão tão delicada e macia”, ele pensou alto.


“Eu... Eu acho que precisamos dormir”, disse a menina com timidez. “Você tem razão. Não vou mais acordá-la”, o ruivo respondeu, apagando mais uma vez a varinha. “Mas se precisar, pode me chamar”, ele completou.


Aquela voz pronunciando palavras carinhosas ainda ressoava nos ouvidos da menina. Ao mesmo tempo, o toque suave e quente do rapaz sobre a mão da bruxinha confortava o coração dela, dando segurança e paz. E assim, sentindo-se amada e protegida, de mãos dadas com o ruivinho, Hermione não demorou a adormecer. Pouco depois, Ron também pegava no sono. Tiveram uma noite tranquila, sem novos pesadelos. Estavam bem. Estavam juntos.


xxx


Quando acordou no dia seguinte, assim que os primeiros raios de sol entraram pelas frestas das pesadas cortinas da sala dos Black, Hermione avistou Ron dormindo. A sua mão ainda estava muito próxima da dele, provavelmente haviam se desprendido assim que caíram em sono profundo. Foi apenas depois de alguns instantes contemplando o rosto sardento do rapaz que ela se deu conta que Harry não não se encontrava mais lá e ficou preocupada.


Apesar de estar ainda em o sono pesado, Ron acordou assim que Mione o chamou. Empunhando as varinhas, os dois começaram a procurar por Harry em alguns cômodos, sem sucesso. A menina foi quem encontrou o amigo no antigo quarto de Sirius e avisou o ruivinho, que estava entretido observando alguns velhos troféus e outros objetos estranhos daquela velha casa.


Ron começou a achar que os dois estavam demorando demais lá em cima. Por que Harry e Mione sempre tinham tanto a conversar, ele se perguntava. Falavam com desenvoltura sobre os planos para derrotar Voldemort e ele se sentia excluído. Não era esse o tema que mais interessava a Ron, que ficava retraído para abordá-lo diante do corajoso e perspicaz Menino-Que-Sobreviveu e da bruxinha inteligente e expert em feitiços. Claro, eram os seus grandes amigos, mas também eram brilhantes e ele, ao contrário, se achava medíocre.


No entanto, havia algo que Ron sabia fazer como ninguém: estar sempre alerta para socorrer os amigos. Por vezes se mostrava um fracasso, como durante o ataque dos Comensais na cafeteria. Ele logo foi preso por um feitiço e nada pôde fazer além de aguardar o desfecho do combate para então ser libertado das cordas por Hermione. Patético. Era assim que se sentia.


Esse instinto para defender quem amava, no entanto, agia independente do próprio sentimento de inferioridade. Por isso correu escada acima, com a varinha na mão, quando Hermione gritou seu nome. O que julgou ser um pedido de socorro foi apenas para lhe mostrar a grande descoberta que Harry, sempre ele, fizera. As iniciais do nome do irmão de Sirius, Regulo Arturo Black, formavam a sigla RAB, a mesma que assinava o bilhete encontrado no falso medalhão.


Ainda naquela primeira manhã, Monstro desaparatou da velha mansão para procurar Mundugo, que havia roubado o verdadeiro medalhão. O objeto tinha sido confiado por Regulo ao elfo para que ele o destruísse, mas Monstro confessara, envergonhado, o seu fracasso. Ron ouviu com especial atenção toda a história daquele ser que sempre considerou desprezível e, mais uma vez, ficou impressionado com a sensibilidade de Hermione.


A menina, que chorara ouvindo a história de como Monstro foi usado por Voldemort para esconder o medalhão na caverna junto ao mar, mostrou emoção e conhecimento ao falar sobre a submissão dos elfos domésticos aos seus senhores. “Estão acostumados a ser maltratados e até brutalizados e são leais àqueles que os tratam bem. A srª. Black deve ter sido boa para ele, e Régulo certamente o foi, portanto, Monstro os servia de boa vontade e repetia as crenças deles”, explicou.


Enquanto Harry fazia nova busca no quarto de Sirius, à procura da segunda parte da carta da mãe que havia encontrado no dia anterior, Ron foi falar com Hermione. A menina lia e, mesmo percebendo a presença do ruivinho, demorou alguns segundos até levantar os olhos. “Está tudo bem? Continua preocupado com a sua família?”, ela perguntou. “Um pouco. Na verdade, sinto muita falta deles. Mas você sabe como é isso. Sei que também sofre pela distância dos seus pais”, ponderou.


Ron permitiu-se contemplar intensamente a amiga. Não tinha qualquer maquiagem no rosto, não usava brincos, seus cabelos estavam um pouco desarrumados, vestia um jeans, tênis e camiseta verde de malha. E mesmo despojada assim permanecia linda para ele. Nem o ar cansado e o jeito preocupado pareciam macular a beleza de Hermione que, como o rapaz agora finalmente entendera, vinha de dentro, transbordava pelos olhos e irradiava em todo o seu exterior.


- Sabe, Hermione, sempre admirei muito os meus pais. Até entrar para Hogwarts, eu sequer me dava conta que pertencia a uma família puro-sangue, como alguns gostam de nos descrever. Para eles, isso não nos faz melhores ou piores do que qualquer ser humano, seja ele bruxo ou trouxa. Nunca ligaram para riqueza ou prestígio e me ensinaram a importância de valores como a amizade, a honestidade e a coragem. Ainda assim, devo admitir que sempre achei muito natural os elfos domésticos servirem aos bruxos –  contou.


- Mas não é natural, Ron. Trabalhar assim, sem descanso e salário, é escravidão. E todo ser precisa de respeito – a menina falou com firmeza.


- Acho que comecei a compreender isso hoje. Mas ainda tenho grande repulsa por Monstro. Ele parece ter um coração gélido, sem qualquer sentimento – explicou.


- Monstro é o que fizeram dele. Se tivesse sido tratado com maior consideração, aprendido valores, como os que seus pais lhe ensinaram, com certeza seria diferente – garantiu Hermione.


- Não sei se concordo com você... Mas o que eu queria dizer mesmo é que acho você fabulosa, Mione – o rapaz a surpreendeu.


A bruxinha não conseguiu evitar um sorriso e Ron achou que ela não o estava levando a sério. “O que estou falando é a mais pura verdade. Gostaria de ter essa mesma compaixão por todos que percebo em você”, afirmou olhando para a menina com profundidade.


Mione ficava feliz e até emocionada com os gestos de carinho e consideração do ruivinho com quem brigara tantas vezes e um dia a chamara de pesadelo. Naquela noite, durante a visita de Lupin a Grimmauld Place, não foi diferente. Hermione percebeu a expressão preocupada de Ron enquanto lia em voz alta, no Profeta Diário trazido pelo auror, a notícia de que os nascidos trouxas deviam se cadastrar no Ministério. O artigo os acusava de terem obtido os seus poderes, provavelmente, por meio do roubo ou uso de força.


- As pessoas não vão deixar isso acontecer – disse Ron.


- Já está acontecendo. Os nascidos trouxas estão sendo arrebanhados, por assim dizer – informou Lupin.


Olhando para a menina, que mordia os lábios, o ruivo falava do absurdo daquela acusação do Ministério. “Mas como supõem que eles possam ter ‘roubado’ a magia? Isso é pura debilidade, se fosse possível roubar magia não haveria bruxos abortados, não acham?”, argumentou o rapaz.


- Concordo, mas a não ser que você possa provar que tem, no mínimo, um parente próximo que seja bruxo, concluirão que obteve o seu poder ilegalmente e será passível de punição – alertou Lupin.


Mais uma vez Ron olhou para Hermione, visivelmente preocupado, antes de declarar: “E se os sangues-puros e os mestiços jurarem que um nascido trouxa faz parte da família? Eu direi a todo mundo que Mione é minha prima”.


O coração de Hermione bateu feliz com aquele gesto de atenção do ruivinho. No mesmo instante, ela colocou a sua mão sobre a de Ron e apertou-a.


- Obrigada, Ron, mas eu não poderia deixar – falou de um jeito carinhoso.


- Você não terá escolha – assegurou Ron impetuosamente, segurando com força a mão dela - Eu a ensino a reconhecer a minha árvore genealógica e você poderá responder às perguntas deles.


Como ela amava ainda mais aquele novo Ron, que chegava a mimá-la algumas vezes. Envaidecida por proposta tão afetuosa, mas ainda assim fadada ao fracasso, Hermione deu uma risada gostosa. E lembrou ao rapaz que os dois estavam fugindo com Harry, a pessoa mais procurada pela comunidade bruxa da Grã-Bretanha. Portanto, ela corria maior risco por isso do que devido a sua origem trouxa.


xxx


Não era fácil estar de volta a Grimmauld Place. A residência que sempre fora sinistra, cercada de antigos feitiços, parecia ainda mais sombria e triste. Isso abalava o humor dos três amigos, que se encontravam muito apreensivos com a difícil missão agora iniciada.


A menina havia notado que Ron estava mais silencioso que o normal, retraído até. Não imaginava que o rapaz já começava a ficar enciumado por ela e Harry terem sempre tantos assuntos a conversar. E o ruivo se sentia excluído. Sem falar da saudade de sua família, da deliciosa comida preparada pela mãe e do aconchego d’A Toca.


Tudo isso acabou culminando em uma briga por motivo bobo, mas que os fez sofrer. Mione tentava se concentrar no livro que herdara de Dumbledore e Ron brincava com o desiluminador, que acendia e apagava sem se dar conta do próprio gesto. A menina, irritada por não estar conseguindo ler, acabou sendo rude com o rapaz. Mas os pedidos recíprocos de desculpas logo foram aceitos.


Ainda assim, Ron e Mione mantinham uma proximidade e cumplicidade da qual Harry jamais poderia compartilhar, especialmente depois daquela noite que dormiram de mãos dadas. Muitas vezes trocavam olhares significativos. E a pergunta que não havia sido feita no dia do casamento de Gui e Fleur crescia dentro da menina.


Naquela tarde, enquanto Harry parecia muito entretido conversando com Monstro, Hermione achou que chegara o momento. Ron estava no sofá da sala, folheando uma revista antiga de quadribol e ela se aproximou, sentando-se ao lado do rapaz.


- Ron? Eu posso fazer uma pergunta para você? – disparou antes da timidez vencê-la mais uma vez.


- Não sei se é uma boa ideia. Ao contrário de você, eu não sou muito bom em dar respostas...


- Mas só você sabe a resposta para a pergunta que quero fazer – assegurou um pouco constrangida com a profundidade com que aqueles olhos azuis a contemplavam.


- E qual é a pergunta? – ele questionou intrigado.


 - Por que você me beijou? – Mione disse sem respirar, com a face já rosada.


- Lembra do que combinamos? Por que comentar sobre um devaneio? – Ron ponderou decidido, mesmo se as orelhas vermelhas denunciavam a sua emoção.


- Um devaneio que tivemos juntos, você quer dizer... Mas reconheço que está certo. Combinamos de não voltar a esse assunto. Eu me segurei para não perguntar. Porém sou muito racional, você sabe, e fico agitada quando não tenho uma resposta – explicou.


- Acho que precisa aceitar que não pode ter todas as respostas que deseja – o ruivo falou olhando com seriedade para Hermione.


- Foi uma ação impulsiva, não é? Você mesmo falou que não pensou muito antes...


- Não foi uma ação impulsiva – o rapaz a cortou – Muito menos eu quis aproveitar da fragilidade que sentia por estar separada dos seus pais. Se eu magoei você, peço desculpas.


- Eu não fiquei magoada, Ron. Só achei que você... Quer dizer, é difícil entender o que passou na sua cabeça se não fala... Não tenho como adivinhar os seus sentimentos. Aliás, nunca fui boa em Adivinhação – comentou com um leve sorriso e o rosto muito vermelho.


- Mione, me desculpa, não vou responder a sua pergunta. Para isso eu teria que falar de sentimentos e acontecimentos dos quais não podemos tratar no momento – disse com a voz um pouco baixa.


- Tudo bem Ron. Se você prefere assim...


- Nem sei por que você fez essa pergunta. Aquele beijo não aconteceu de fato. Você me empurrou, esqueceu? – deixou escapar.


- Ron, eu... Naquele momento... parecia a atitude certa a tomar. A gente estava para começar uma difícil missão, precisava ficar ao lado do Harry – tentou explicar e o rapaz não pôde deixar de reparar o quanto aqueles olhos castanhos pareciam aflitos.


- Pelo visto você também não tem muito a falar sobre isso – argumentou, querendo logo encerrar aquela conversa.


- Sabe, Ron, se você tivesse explicado o que estava sentindo, talvez eu agisse diferente – reconheceu, voltando a enrubescer furiosamente.


- Hermione, me perdoa... Eu sou mesmo atrapalhado, faço tudo errado. Só posso mesmo pedir para que esqueça essa minha atitude desastrada. Acabei lhe magoando, eu sei, mesmo que você não admita – falou constrangido.


“Não, Ron. Pelo contrário. Fiquei feliz porque com o beijo você finalmente pareceu admitir que gostava de mim. Agora sim você está me magoando”, pensava a menina enquanto encarava aqueles olhos azuis que pareciam tão assustados, denunciando o medo do rapaz de receber palavras ásperas.


Com sua inteligência rápida, ela logo disparou, com o tom mais indiferente que conseguia: “Sem problema, Ron. Tudo isso ficou no passado. Agora precisamos nos concentrar no presente e na importante missão que temos a cumprir”.


- Isso mesmo. Precisamos nos concentrar em encontrar e destruir as você-sabe-o-quê. O resto não importa – ele reforçou, fazendo toda a esperança da menina murchar como um balão.


Mione levantou-se rapidamente do sofá e saiu da sala para o quarto, segurando heroicamente as lágrimas que teimavam em querer ser derramadas. Não choraria na frente de Ron. Não dessa vez, prometeu a si mesma. Deixaria para cair em pranto quando se encontrasse mais uma vez sozinha.


A menina estava realmente triste. Mesmo se acreditava que os dois não podiam começar a namorar, ela tinha uma grande urgência de saber se o seu amor era correspondido. Mione não queria tomar a iniciativa de revelar os seus sentimentos mais secretos. Desejava que Ron se declarasse antes e por isso voltara aquele assunto. Mas havia sido inútil.


Ron, por sua vez, apesar de amar Hermione, estava novamente convencido de que não a merecia. Tudo não passara de uma ilusão e o melhor que podia fazer era se concentrar naquela missão para que tivesse o máximo de sucesso e terminasse logo.


xxx


Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo:


Dont’t Let Me Be The Last to Know


http://irpra.la/m/1110661


My friends say you're so into me
And that you need me desperately
They say you say we're so complete
But I need to hear it straight from you
If you want me to believe it's true
I've been waiting for so long it hurts
I want to hear you say the words
Please


Don't, don't let me be the last to know
Don't hold back, just let it go
I need to hear you say
You need me all the way
Oh, if you love me so
Don't let me be the last to know
(…)


 

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Comentários (28)

  • Morgana Lisbeth

    Oi, Camys... Às vezes eu me sinto uma "bruxa muito má" me divertindo com o sofrimento deles. Mas meu coração dispara com essas idas e vindas (hehe). bjs!

    2013-02-06
  • Camys Lovegood

    Ô meus Deus! Esses dois... só eles não veem o óbvio

    2013-02-06
  • Samantha Gryffindor

    Ownt, Ron é meu héroi, tão atencioso,afetuoso e amoroso com a Mi, estou muito orgulhosa dele. Fez uma fã muito feliz. 

    2012-11-08
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Lily, estava com saudades dos seus comentários, sempre aprofundados, que me fazem pensar ainda mais nos personagens. Você tem razão: tornar-se adulto é desafiante. Mas os dois, especialmente Ron, que sempre foi mais imaturo, estão nesta caminhada (muito bela, por sinal).Agora fico esperando pela sua presença no próximo capítulo. Bjs! 

    2012-09-13
  • Lily_Van_Phailaxies

    Preciso começar este comentário com a citação abaixo:- Na verdade, eu só queria dizer que gostei muito de dançar com você na festa. Foi um momento mágico – afirmou em voz baixa.DEZ pontos para Grifinória!Rony como sempre foi muito fofo dando esse apoio para Mione logo no começo, realmente para eles foi a quebra definitiva para realidade, foi se ver perdido em meio ao mundo de coisas poderosas e se sentir extremamente despreparados.Bom vamos lá, realmente é triste ver os dois começando a se afastarem, mas é normal quando todos os sentimentos começam a entrar em conflito, ao mesmo tempo em que precisa tomar atitudes mais adultas, porém temos que lembrar que se trata de adolescentes que ainda estão se tornando adultos, então tudo que é vivido é mais intenso, mais difícil de controlar.Final apesar de trsite, foi muito importante para os próximos capítulos.Falando nele, até o próximo comentário daqui alguns minutinhos rsrsrsrsObservação: Desculpa a demora, como disse toh na correria, vc deve perceber pela minha chatice de reclamar as vezes no Twitter rsrsrs

    2012-09-13
  • Morgana Lisbeth

    Olá, Aline! Também eu estou aflita, em busca das melhores palavras, para responder comentário tão pleno de sentimento. Só tenho a agradecer por todos os meus leitores serem fantásticos e a sua chegada confirma isso. Mas sei que todos os elogios são para Rowling – ela, sim, uma escritora extraordinária que construiu personagens tão marcantes – e fruto da grande generosidade sua e de outros dos meus fantásticos leitores. Quer dizer que você leu as duas primeiras fics da série “Entrelinhas”? Claro que não é uma pré-condição para acompanhar essa, mas acho que é sempre mais interessante para entender os rumos dos personagens aqui. Tenho um carinho todo especial pela primeira, quando Ron finalmente entende o sentimento forte e confuso que Mione desperta nele.  Não conheço a música “Te Vivo”, mas vou ouvi-la, com certeza. Quando estava pensando na trilha sonora para esta série, planejei colocar apenas músicas em inglês. Primeiro, por transmitir melhor a cultura dos nossos bruxinhos, depois, porque quando a canção é na nossa língua, fica mais difícil ouvi-la e ler ao mesmo tempo (pelo menos eu acho isso).  Mas, com certeza, vou aproveitar a sua sugestão, aqui ou em uma próxima fic.  Bem, agora que tenho uma leitora fiel assim, minha responsabilidade aumenta. Estou vivendo um momento bem conturbado e tenho conseguido escrever muito pouco, mas fique certa que não vou abandonar a fic. Também sou apaixonada por Ron e Hermione e na minha próxima “divagação”, que posto sempre no capítulo “Atualizações e Afins”, quero falar sobre as possíveis causas dos dois terem me conquistado. No mais, só preciso agradeço por comentário tão carinhoso e garantir que conseguiu o seu objetivo: encontrou as melhores palavras e essas dizem um pouco o quanto você é, com certeza, uma pessoa especial. Bjs! :D

    2012-09-10
  • Aline G. Weasley

    Começo á escrever essas palavras, muito aflita, porque quero usar a melhor delas para poder descrever o quanto estou grata, por você existir e usar esse seu dom que pode ser considerado bem mais do que mágico. Comecei á ler a primeira fic da Entrelinhas (ou perfeição, que é o que define a fic) essa semana, não comecei á comentar loucamente em todos os capítulos te elogiando, que é algo que eu poderia fazer por um tempo que você nem imagina, achei que isso lhe daria muito trabalho, queria poder ter acompanhado a série desde a primeira fic, mais como não pude, irei acompanhar agora, como uma leitora fiel okay? Agora, 3 e 1 da manhã, e eu aqui, é, estou completamente viciada na fic, um dia até imprimi os capítulos, porque não aguentaria até o outro dia para ler pela internet, e gostaria que você pensasse numa dica minha: Pra mim, a música que mais marca o casal mais lindo do world inteiro (ai como eu sou maníaca), obviamente Romione é "Te Vivo", do Luan Santana, cada vez que vejo o clip, ou ouço a música, já tenho imagens do Ron e da Mione na minha mente, uma vez eu li uma fic, "Forever and Ever - A morte não é nada", que realmente me emocionou, assim como essa fic, que mostra a eternidade de Romione, (Como eu desvio de assunto, pfvr, mais voltando a música...) Eu gostaria de indicar essa música, pro capítulo que você achar melhor. E, assim como eu sempre fui e sempre serei leal á Harry Potter, serei leal á você, e te acompanharei até o final dessa fic, e te acompanharei em outras que você criar, que serão tão perfeitas quanto essa, mais uma vez obrigada, obrigada e mais obrigada, por ter criado essa fic, que está me deixando fascinada. Não sei se consegui descrever tudo o que eu sinto, e o quanto estou agredecida, mas, foi o máximo que pude, afinal, não sei se teria esse dom de escrever até as 4 da manhã o quanto eu acho perfeita essa fic entre muitos outros elogios, mas pode ter certeza, palavras não conseguem descrever o quanto estou feliz por essa fic existir. E a nota cinco é menos que o mínimo para essa fic, ela merece uma nota "Infinita", tão infinita quanto á paixão de Ron e Hermione. 

    2012-09-09
  • Morgana Lisbeth

    Olá, Lilian! Os dois estão vivendo a insegurança do primeiro amor e, como têm dificuldade para expressar os sentimentos, acabam se fechando... Sem falar que agora começam essa tenebrosa jornada em busca das horcruxes. Falo um pouco mais sobre isso no meu último post do capítulo "Atualizações e Afins". Dê uma olhada lá quando tiver tempo. Bjs!

    2012-09-03
  • Lilian Granger Weasley

    oiiiii! Tem horas q fico triste por eles ficar nesse jogo! Ambos são cabeça dura mais, vamos ver o desenvolver da fic ,pois , tenho certeza que vai ter partes vão fazer eu ficar super feliz!!!!!!!!!!! obs: Não esqueci dos seus comentarios, só num tive tempo de posta-los! Bjooo! 

    2012-09-02
  • Morgana Lisbeth

      Oi, meninas! Clara, essa cena dá margem para muitas leituras além das linhas (hehe). E claro que não dá para pensar que Mione poderia ter buscado conforto com Harry, mas... Ron é o cara! Mariana, o entrelaçar de mãos é um momento muito fofo mesmo! Mas sabemos o que está por vir... Sem desespero porque quando os dois se afastam é que descobrem que já pertencem um ao outro. Por isso o desiluminador indica a Ron o caminho de volta :)  

    2012-08-31
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