O pesadelo continua



Como sempre, Kirsten demorou mais do que era necessário no banho. Saiu do banheiro e pôde ver Lupin lendo uma carta que não parecia ser muito longa, mas que a julgar pela expressão dele, não devia ser uma mensagem muito boa.

- Algum problema?

Lupin suspirou, como se estivesse procurando uma maneira de explicar o que a carta continha.

- São só más notícias. Parece que Voldemort já sabe que você continua viva, e à solta.

- Megan deve ter informado ele, não se preocupa.

- Eu sei, mas o problema é que você não vai poder ir ao Beco hoje.

Kirsten ficou em choque. Não poderia ir ao Beco Diagonal?

- Por que não?

- Voldemort está procurando por você, e ele não irá descansará enquanto não encontrá-la, entende? É muito arriscado você sair em público dessa maneira.

- Quer dizer que eu vou ter que ficar presa aqui dentro?

Lupin não disse uma palavra, embora seu olhar respondesse que sim. Sem pensar duas vezes, Kirsten subiu as escadas correndo e entrou no quarto, batendo a porta com força, atirando-se na cama e afundado a cabeça no travesseiro logo em seguida. Já não bastava ser a única sobrevivente de um massacre, ter perdido a mãe, ainda tinha que ficar presa entre quatro paredes? Antes que percebesse, seus olhos começaram a queimar e as lágrimas começaram a descer. Se sua mãe estivesse viva, com certeza estaria lá, para dar forças à ela, mas não estava, pois Megan havia lhe feito o favor de matá-la. Kirsten continuou pensando na antiga amiga, que agora havia se tornado inimiga, e com o coração queimando de tanto ódio, dormiu.

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Kitty abriu os olhos, e pôde ver sua mãe trancando as portas e fechando as janelas de uma casa estranha, mas que lhe parecia familiar, apressada.

- O que foi, mamãe? – perguntou Kirsten, em seus 3 anos de idade.

Hellen foi até ela e a pegou no colo.

- Escuta, querida, há um bicho-papão do lado de fora, por isso que mamãe está fechando tudo.

- Pra ele não entrar?

- É, isso mesmo – respondeu Hellen com um sorriso no rosto, tentando esconder o medo que sentia. – Agora, por que você não ajuda a mamãe e vai pegando sua malinha ali no canto?

- Tá – respondeu Kitty, balançando a cabeça positivamente.

Hellen pôs a filha no chão e foi subindo as escadas, enquanto Kirsten ia em direção da sua mala, com medo do tal bicho papão também. Pegou a mala e já ia começar a subir as escadas quando escutou uma pancada forte na porta, que logo em seguida foi destruída, revelando o tal bicho-papão, que fez com que ela arregalasse os olhos.

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Kirsten acordou assustada com o que sonhara, por pouco não gritara. A imagem que vira havia gelado sua alma, mas rapidamente ia abandonando sua memória. Com a adrenalina à mil, começou a olhar em volta e foi se lembrando aos poucos de onde estava e o que havia acontecido. Levantou-se e foi até a janela, onde pôde ver o pôr-do-sol. Estava admirando o céu em tom alaranjado quando outro som lhe chamou a atenção. Alguém havia tocado a campainha. Curiosa, ela abriu a porta do quarto em silêncio, e debruçou-se sobre o corrimão que havia no corredor. Lupin foi até a porta, mas antes de abrí-la, deu uma olhada em volta e assim que a viu, fez sinal para que ela ficasse fora de vista, então Kirsten sentou-se no chão, encostando-se em uma parede, de forma que pudesse escutar o que se passava no andar de baixo.

- Quem é? – Kirsten escutou Lupin perguntar.

- O ministro da Magia, Cornélio Fudge, abra!

- Só um momento.

Kirsten apurou os ouvidos e pôde ouvir Lupin abrir a porta e o ministro entrar com passos barulhentos. O que ele estaria fazendo ali?

- Qual é o problema, Fudge?

- Dumbledore me informou da situação. Ela está aqui, não está?

- Por que precisa saber?

- Ora essa, Remus, sabe muito bem que preciso, pois preciso levá-la à um orfanato.

- Orfanato? – sussurou ela, baixinho.

- Ela não pode ir à um orfanato!

- Pelo que Dumbledore me informou, a garota perdeu a mãe e não tem mais nenhum parente vivo, então sou obrigado a levá-la para um orfanato, já que ela se tornou órfã. Agora, se ela está aqui, gostaria que dissesse para ela vir até aqui, que eu a acompanharei até lá.

Kirsten escutou Lupin começar a subir as escadas, e saiu do lugar de onde estava.

- Não precisa subir, Lupin, eu já estou descendo.

Ela desceu as escadas e foi em direção ao homem que devia ser o ministro.

- Muito bem, Srta. Burns. Eu já preparei suas coisas, elas estão do lado de fora. Há algo aqui que você queira pegar antes de irmos?

Kirsten não tinha nada lá, apenas Sissy, que lhe poupou o trabalho de ir procurá-la voando até ela e sentando-se em seu ombro.

- Não mais – respondeu ela, olhando para a fadinha em seu ombro direito. – Bem, adeus, professor.

- Não diga adeus, Kitty, ainda vamos nos encontrar.

Ela deu um abraço em Lupin e saiu com o ministro. Querendo ou não, ia sentir falta de Lupin, pois era a única pessoa em que confiava agora. Ele havia sido seu professor de Defesa contra as Artes das Trevas nos seus dois primeiro anos em Dragon Fang, mas que teve que deixar a escola pois havia sido chamado para dar aulas em Hogwarts, mas apesar disso, nunca perderam o contato. Mas agora ela tinha dezesseis anos, e não era mais uma criança, e podia cuidar de si mesma, mas a lei não permitiria isso. O ministro chamou o Nôitibus Andante e mais uma vez Kitty iria se sentir enjoada.

- Você vai gostar do lugar – dizia ele, enquanto Kirsten ficava grudada em uma cama para não ir para a frente, caso o ônibus freasse. – É um orfanato trouxa, é só para garotas, e provavelmente Você-Sabe-Quem não irá procurá-la lá.

- É, mas ninguém vai me adotar – respondeu ela, em tom de deboche.

O ministro ficou em silêncio, pois sabia que ela estava certa. Quem iria querer adotar uma adolescente de dezesseis?

- Você não tem mesmo nenhum outro parente? Quero dizer, você não tem um pai?

- Meu pai abandonou minha mãe quando soube que ela estava grávida, e nunca mais apareceu, e sinceramente nem quero que apareça.

- Ele está vivo?

- Não sei, mas seria bom se estivesse morto.

O ministro ficou em silêncio, provavelmente pra pensar em algo pra dizer à ela, mas ela não ficou esperando, e olhou pelo janela, vendo uma casa ir para o lado para que o ônibus passasse. Ela só voltou a olhar para ele quando ele a cutucou.

- Vamos fazer o seguinte, você vai ir para este orfanato e enquanto estiver lá, irei procurar por seu pai.

- Não vou ir morar com ele.

- Você não precisará ir morar com ele, se alguém adotá-la.

- Hum, entendi... Tenho que ser adotada até os dezoito anos.

O ônibus freou novamente, interrompendo a conversa dos dois. Kirsten pegou uma grande mala que continha uma etiqueta com as iniciais K.H.B. e desceu do ônibus, dando uma olhada no orfanato. Devia ter uns quatro andares, com várias janelas, onde várias crianças se espremiam, provavelmente para ver a recém-chegada, ou talvez para ver o ônibus de três andares que nesse momento partia numa velocidade incrível. Na parte de baixo, uma porta se abriu e uma mulher de cabelos castanhos claros com alguns fios grisalhos vinha em sua direção vestindo uma calça jeans cheia de detalhes e uma blusa azul marinho.

- Eleanor! – disse o ministro, abrindo os braços para receber a mulher.

- Corny! – disse ela, abraçando-o. – Há quanto tempo... – A mulher se afastou e reparou que Kirsten estava lá. – É ela?

Fudge concordou com a cabeça e a mulher se aproximou de Kirsten, toda alegre.

- Oi, eu sou Eleanor Harper, sou a dona deste orfanato. Venha comigo, eu vou te mostrar como é lá dentro. Não, não, pode deixar que eu levo pra você – disse ela, assim que Kitty fez menção de pegar a mala com suas coisas.

Kirsten deu uma olhada para Fudge, mas este já havia aparatado. Sem ter muita escolha, seguiu Eleanor. Assim que pôs o pé para dentro da casa, um bando de curiosos se debruçaram nas grades de escadas.

- Atenção, crianças – começou Eleanor. – Esta aqui é Kirsten Burns. Ela passou por momentos muito difíceis, espero que compreendam. Venha, agora, vou te mostrar seu quarto.

Kirsten seguiu Eleanor sem dizer uma palavra, embora se sentisse muito incomodada com todos os olhares que as crianças lhe lançavam. Subiu três andares e foi conduzida até o quarto no fim do corredor.

- Muito bem, você dormirá aqui com as outras meninas da sua idade, elas devem chegar à qualquer momento, mas acho que dá tempo de você guardar as suas coisas. Bem, vou deixá-la sozinha agora, e não se preocupe, você estará segura enquanto estiver aqui.

Eleanor desceu as escadas, deixando Kitty sozinha, olhando para o quarto vazio que devia ter umas dez camas. Sissy, que estava escondida no meio dos cabelos de Kirsten, saiu e foi voando para uma cama, que estava arrumada, diferentemente das outras, indicando que aquela devia ser a dela. Sissy sentou-se no travesseiro, iluminando uma parte do quarto com uma luz violeta, que era a cor de seu brilho.

- Não se acostume, não ficaremos por muito tempo aqui – alertou Kirsten, lançando um olhar de desconsideração para a fadinha, que agora se largava no travesseiro.

Kirsten suspirou e foi para uma janela, e ficou observando os carros que passavam na rua enquanto passava as mãos nos cabelos demonstrando um certo nervosismo. Estava em um orfanato agora, e se não encontrasse ninguém que a adotasse, teria que viver com o pai, se este ainda estivesse vivo. Mas tinha uma boa chance de que ele estivesse morto, o que seria bom para Kitty, que não teria que encarar o rosto do homem que abandonou sua mãe quando ela mais precisou de sua ajuda. Seus olhos passeavam pela rua até que um ônibus escolar parou em frente a porta e várias adolescentes como ela desceram dele, rindo e conversando sobre o dia que tiveram. Kirsten ficou observando elas descerem, uma após a outra, quando a última garota que desceu do ônibus lhe chamou a atenção, pois usava uma bengala e óculos escuros, o que indicava que era cega.

Mas o que mais lhe chamou a atenção era que ninguém a ajudava, ela tinha que caminhar sozinha.

- Hora do jantar! – gritou Eleanor do primeiro andar.

Na hora, Kirsten escutou os gritos de várias meninas famintas, que corriam para o primeiro andar, que devia ser onde iam comer, supôs Kitty.

- Sissy, eu vou jantar agora, e eu quero que se esconda antes que as outras te vejam, tá certo?

A fada concordou com a cabeça, largando-se novamente no travesseiro, enquanto Kirsten saia do quarto e ia direto para o primeiro andar, onde todas as meninas já se acomodavam nas cadeiras, exceto por duas, sendo que Kitty era uma delas. Ela sentou-se na cadeira que estava mais perto, que era justamente na ponta da mesa e assim que o fez, Eleanor levantou-se, provavelmente para avisar que havia chegado mais uma garota no orfanato.

- Atenção, todas vocês – começou ela. – Como muitos sabem, hoje chegou uma nova garota aqui. Espero que vocês sejam gentis com ela e a façam se sentir em casa, e...

O discurso de Eleanor foi interrompido por uma batida na porta. Todas se viraram para ver quem batia, e Kitty pôde ver a garota cega parada na porta, apertando com força sua begala.

- Atrasada novamente, Hannah Watson!

- Sim, Sra. Harper, mas sabe que tenho dificuldade para subir as escadas.

- Você está aqui há um ano, já deveria ter aprendido a subir as escadas. Bem sente-se agora, não quero atrasar o jantar de mais ninguém.

- Sim, senhora.

O único lugar vago ficava do outro lado da sala, e para que ela não tivesse que se esforçar tanto, Kirsten se levantou.

- Pode se sentar aqui.

- Obrigada – disse a garota.

Kirsten não sabia bem porque havia feito aquilo, mas o fez sem pensar duas vezes. Sentou-se na única cadeira vazia, e percebeu que todas as outras meninas agora a encaravam. Com o silêncio, Eleanor retomou o discurso:

- Bem, como eu ia dizendo, hoje chegou uma nova garota aqui no orfanato. O nome dela é Kirsten Burns, e depois dessa demostração de caridade, acho que já sabem quem ela é.

Um monte de garotas riram, e uma onde de raiva se apossou de Kirsten, fazendo seu corpo queimar de ódio. Levou seus olhos à toalha da mesa, que tinha vários desenhos de vaquinha. Seu coração batia tão forte agora que ela podia escutá-lo como se ele estivesse ao seu lado. Estava tão concentrada nas batidas do coração que só se ligou na hora em que escutou um grito de uma das meninas.

A toalha da mesa estava pegando fogo, e por mais que as outras tentassem apagar, não conseguiam, até porque não parecia ser uma chama normal, pois era negra. No momento em que Kirsten viu aquilo, arregalou os olhos, e por algum motivo, ela se apagou sozinha, como se Kirsten tivesse controlado-a. Após alguns minutos, Eleanor e as outras se recuperaram do susto, e começaram a abrir as janelas para que a fumaça saísse de dentro da casa, e logo após começaram a comer em silêncio, como se fosse proibido conversar enquanto estivessem comendo. Kirsten não sentia tanta fome assim, e ficou enrolando, até que só havia restado ela e Eleanor à mesa.

- Não vai comer mais? – perguntou ela.

Kitty confirmou com a cabeça, então Eleanor retirou seu prato e desceu para a cozinha, para lavar a louça. Ela se levantou logo em seguida para ir ao seu quarto. Tudo que queria fazer agora era deitar na cama e esquecer-se do que havia acontecido com a toalha de mesa. Já estava na metade da escada quando viu a garota cega tentando subir para seu quarto, que devia ser no mesmo andar que o quarto de Kirsten.

- Com licença, precisa de ajuda?

- Ah, sim, por favor – disse a garota.

A garota estendeu o braço para que Kitty segurasse e a guiasse.

- Sou Hannah.

- É, eu sei, Eleanor fez o favor de apresentá-la a todas.

- Ah, não, elas já me conhecem, estou aqui há um ano.

- O que houve com sua família?

- Acidente de ônibus. Eu sobrevivi, mas fiquei cega, e você?

Kirsten não respondeu. Não sentia-se bem falando da mãe para os outros.

- Se não quiser falar, não tem problema... Também fiquei arrasada quando perdi meus pais.

- Qual é o seu andar?

- É o 4°, estou no mesmo quarto que você.

Kirsten manteve-se calada até chegarem no quarto, que para surpresa de Kirsten estaria vazio, se não fosse por uma fada escondida atrás do criado-mudo.

- Alguma coisa errada? – perguntou Hannah.

- Ah, não nada.

- Você vai ir usar o banheiro?

- Não, pode ir usar.

- Você pode me levar até lá?

Hannah agarrou no braço de Kirsten novamente e foi conduzida até o banheiro, que não ficava muito longe do quarto. Ao chegaram, ela soltou os cabelos escuros avermelhados, que chegavam até o meio das costas, e tirou os óculos, revelando seus olhos azuis-céu.

- Você não precisa fazer nada mesmo? Eu vou ir tomar banho agora, e costumo demorar.

- Então espera só um minuto.

Kirsten fez tudo que havia para fazer, e logo em seguida saiu, indo direto para seu quarto. Estava pegando o pijama quando escutou umas risadas. Olhou pela janela e pôde ver as outras garotas da sua idade em frente ao orfanato, conversando sobre a toalha que havia pegado fogo. Sem dar muita atenção, vestiu o pijama e deitou-se, embora não achasse que fosse dormir tão cedo...

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