Três



O elfo voltou em poucos dias, pacificamente, informando aos rapazes que não conseguira localização alguma do benfeitor da senhora Black, mas que descobrira seu nome.


- Hofundur, meu senhor – O pequeno elfo, com seus grandes olhos arredondados em expectativa, declara a James.


- Como é? – Sirius se intromete, não entendendo.


- Hofundur. Uma espécie de inventor de criaturas islandês. Paira o boato de que ele mora no interior da Inglaterra, mas oficialmente ele morreu na Bósnia – Remus declarou, atraindo a atenção dos três.


- Acha que pode identificar alguma cidade onde ele pode estar? – James indaga e o amigo assente, deixando o aposento imediatamente.


O rapaz de óculos agradece o elfo, que volta para a cozinha contente de ter sido útil. Sirius e James voltam para a sala e se entreolham.


- Nós vamos até lá? – Sirius indaga passando a mão pela testa, parecendo um tanto nervoso.


James assente. – Não temos opção. Temos de pegá-lo antes que ele te pegue.


O moreno se senta no sofá parecendo nervoso.


- Vai arriscar nossas vidas por minha causa, James! Eu sei que posso dar conta disso sozinho... – Estava claro, pelo modo como Sirius falava, que ele não acreditava que aquilo poderia algum dia ser verdade. Ele não podia lidar com a magia negra da família sozinho, apenas não queria envolver os amigos mais do que já envolvera.


O rapaz de cabelos espetados se senta calmo, sorrindo.


- Nos arriscamos todo mês por Remus, Sirius. Somos os Marotos. Sortudos, habilidosos, todos os nossos riscos são calculados. E estamos aqui um para o outro, senão que tipo de amigos seríamos? – James mantém o sorriso no rosto enquanto diz isso, amenizando visivelmente a postura que antes parecia irredutível de Sirius.


Dois dias depois Remus declarou no almoço que havia encontrado registros sobre uma cidade com criaturas fugitivas e com notícias de uma casa isolada onde vivia um homem que os moradores descreveram como de grande semelhança à foto do inventor. De acordo com os moradores do pequeno vilarejo de Rauour, na Islândia, o homem era baixo, magro, um tanto careca, mas barrigudo. Tudo batia com a fotografia que obtiveram dele, achado nos livros de procurados internacionais do Ministério.


- Ele está em Chesham a 33 milhas de Londres – Remus diz sorrindo, enfiando um punhado de macarrão na boca. Mastiga devagar – “Porra, Remus, fala tudo antes de comer!” Sirius brada – e engole para continuar falando. – Ele vive atrás de uma colina que eles chamam de Colina do Rei. Há uma estrada para lá que passa por uma espécie de pântano, bem pequeno. É o melhor que temos – O loiro diz apreensivo, mas os amigos dão de ombros. Um pequeno pântano não os pararia.


Mais três dias e os rapazes estavam prontos, munidos de tudo que precisariam para as mais diferentes intempéries que poderiam acontecer. Tudo em três mochilas de tamanho médio – com a ajuda de alguns feitiços de aumento do interior da bolsa e diminuição dos objetos desejados – e duas bolsas de mão, com primeiros socorros, água e comida, nomeadamente tudo que teria uso mais urgente ou recorrente.


Remus os aparatou em uma cidade próxima – conhecia o lugar, era nos arredores de onde ele e sua família tinham sítio – e de lá seguiram com um ônibus trouxa, que os deixou a poucas milhas da cidade, para onde seguiram a pé.


- Meus pés doem – Sirius já reclamava pela quinta vez, curvado para frente, perto da cidade que procuravam. James deu uma risada, ajeitando o óculos sobre o nariz.


- Nem parece que você é batedor da Grifinória, Almofadinhas – Os cabelos espetados de James são puxados quando Sirius assimilou a mensagem do amigo, e eles caíram, rolando pela estrada de terra até pararem na grama, que era ladeada por árvores.


Remus chamou a atenção dos amigos com uma exclamação. Os outros dois pararam de brigar e ergueram as cabeças, ainda engalfinhados.


- Lá está. Colina do Rei. – O rapaz loiro declara sob o sol das três horas, quando finalmente encontraram a cidade.


[...] Parecia, na verdade, uma cidade de desenhos animados. À frente deles, um vale onde estavam as casinhas, todas pequenas, coloniais, com flores nas janelas e cercas bem cuidadas. O sol entrava por entre duas colinas enormes, dando um ar dourado mágico às residências. Ruas pavimentadas com paralelepípedos de pedra pura, não havia um prédio ou uma cerca alta que indicasse impessoalidade na cidadela.


James e Sirius, já de pé e limpos dos gravetos que se grudaram neles, acompanharam Remus numa observação espantada do lugar.


- É... – Sirius começou, mas hesitou para terminar.


- Simpático – James terminou, dando de ombros.


- Vamos. Temos que caminhar pela cidade, e arrumar algum lugar para nos instalarmos – Remus os instrui, sendo obedecido.


Caminhar pelas vielas trazia a eles uma sensação estranha. Aquela era uma cidade estranha, certamente. Ao final do vale, perto da colina mais escura, havia uma pequena estalagem rústica onde os rapazes alugaram apenas um quarto, economizando a mesada de James. O estalajadeiro nem ao menos os olhou estranho. Tudo ali parecia bem-aceito e normal.


Tudo, menos o homem que vivia na casa do outro lado da colina, como eles descobriram durante o jantar na grande mesa da estalagem, acompanhados pelo dono, sua esposa, filhos e mais alguns hóspedes do local.


- Ele não fala com ninguém, não sorri e parece sempre mal-humorado. – Brada o dono da estalagem energicamente, uma coxa de frango gordurosa por entre os dedos largos – Só vem até a cidade para comprar pão e alimentos, de vez em quando. Tudo que faz é ficar naquela casa, de onde nunca se escuta nada – Ele completa sombrio, sendo acompanhado pela esposa e pelos filhos em assentimento.


- Ele é mau, muito mau – O filho menor disse, os grandes olhos castanhos arregalados para Remus. – Fala palavras feias para as crianças, fala sim.  – Sirius, apesar de toda informação que recebia, teve de ser chutado por ambos os amigos por sob a mesa para não rir. O moleque o recordava um elfo doméstico, o que o fazia rir.


- Ele mora sozinho. Não entendo como pode ficar tanto tempo sozinho, em silêncio. Às vezes creio que ele sofre muito, ou que, talvez, seja algum tipo de morto-vivo. Não é normal alguém ficar tão só o tempo todo... – A esposa do estalajadeiro disse, ajeitando os cabelos para dentro do lenço hesitantemente. Parecia a única a se compadecer sinceramente do homem.


Os rapazes foram ao banho e a higiene pessoal. No quarto existiam um beliche e uma cama separada, tudo de madeixa rústica. O forro também era de madeira, sustentado por toras lixadas, e no chão, um tapete bege e vermelho, uma mesinha de cabeceira de madeira crua e um guarda-roupas pequeno, mais escuro que todo o resto. Logo ao lado da porta de entrada, uma pequena porta dava abertura a um pequeno banheiro.


- Vamos até lá amanhã – James diz sentado em sua cama – tiraram no palito, Remus acabou na cama de baixo do beliche, Sirius na de cima e James na cama separada – secando o cabelo com uma toalha.


- Não precisamos fazer isso. Podemos voltar para casa agora – Sirius propõe, vestindo a camisa do pijama. James ri em resposta.


- Não delire, Sirius. Deite sua cabeça nesse travesseiro e não se manifeste mais até que seja para reclamar de seu estômago roncando. Acordaremos cedo amanhã – James joga a toalha sobre o rosto de Sirius, que a rebate longe com a mão. Eles riem e se deitam para dormir, seguidos por Remus, que sai do banho logo depois.


Dormem uma noite tranquila, com Remus socando o colchão de Sirius quando este roncava, o que fazia James rir baixinho e voltar a dormir. Assim que o sol despontou no horizonte da pequena cidade, por outro lado, os rapazes já estavam de pé, banho tomado e pertences nas costas. Voltariam a caminhar.


Despediram-se com abraços e apertos de mão, rindo quando o menininho-elfo largou a perna de Sirius e não quis largar nunca, o que fez o rapaz ficar vermelho, não de vergonha, mas contendo acessos de raiva que teria na frente da bondosa família.


Caminharam pela orla da cidade em direção à colina onde supostamente o criador de monstros vivia. Encontraram uma trilha bem leve, quase inexistente, que levava ao caminho menos íngreme para subida e descida da colina. Primeiramente, apenas mato alto com alguns galhos menores – que indicavam a trilha – cobriam a terra inclinada. Depois, algumas árvores esparsas, em volta delas o mato rasteiro acabava, deixando visível um chão de terra marrom-avermelhada bem compactada pela umidade e pela chuva.


Caminharam parcialmente protegidos pela copa das árvores sobre suas cabeças, que desenhavam formatos lembrando rendas de luz no chão, apenas a posição destas deixando os rapazes saberem que horas eram.


Pararam algumas vezes para comer – “se não pararmos, vou virar um cão e devorar aquele esquilo ali na frente”, “cale-se, Sirius” – e se refrescarem. Assim que encontraram o topo da colina, já era noite, fazendo-os parar e acender uma mínima fogueira, apenas para iluminá-los.


- Temos sorte de ser verão. Passaríamos frio com uma fogueira tão pequena – Remus comenta sentado ao lado dos amigos, fitando o fogo.


- Não temos escolha. Se deixarmos rastros demais, seja fumaça ou cinzas, seremos descobertos e Hofundur fugirá – James declara esticando os sacos de dormir, rindo ao ver o modo desesperado com que Sirius devorava as salsichas assadas.


- Eu já dei uma olhada do topo – Sirius diz por entre mastigadas e engole sob os protestos de Remus – Ele mora numa casinha comprida de madeira em uma clareira grande mais ou menos no meio da descida. Tudo para baixo da casa é desmatado, um campo aberto – Diz e olha para os amigos, que também se entreolham.


- Como faremos para entrar lá? – O loiro indaga, aproximando os joelhos de seu peito.


- Acho que deveríamos distraí-lo. – O moreno de olhos cinzas sugere, os olhos atentos indo de um colega ao outro. – Eu posso me tornar um cão e chamar a atenção dele para fora da casa. O atraio para baixo, ele nunca achará que eu sou qualquer coisa além de um cão perdido que o está atrapalhando com barulho. Pelo que os habitantes daqui disseram, ele é rabugento, se incomodará fácil – Ele dá de ombros.


- Enquanto isso eu e Remus entramos na casa e procuramos qualquer coisa que pareça suspeito. Ele sairá às pressas, não se preocupará em trancar a casa, morando aqui e sozinho. – James completa, considerando aquela uma boa hipótese.


-Complicado será descobrir algo suspeito na casa de um homem suspeito – Remus comenta, alertando-os – Precisaremos de algum tempo. Imagino que tudo parecerá um tanto perigoso.


- Mas mataremos o que quer que seja, quando acharmos – James declara e senta-se sobre o colchonete do saco de dormir. Sirius encolheu-se um pouco, apreensivo. – Não se preocupe. Qualquer criatura estará adormecida, bem presa ou controlada naquela casa.  Ele não se colocaria em perigo – Sirius assente antes a consideração do rapaz de óculos, tentando relaxar.


- Ele descobrirá que entramos na casa dele e destruímos suas criaturas – Remus considera mais uma vez, mordendo o lábio inferior.


- E reclamará para quem? Ele não tem como descobrir que fomos nós, está ilegalmente na Inglaterra e é um criminoso procurado internacionalmente. – James se deita e suspira. – Ninguém velará pelos direitos dele.


Dando-se por satisfeitos, Remus e Sirius pegaram cada qual um saco de dormir, estenderam e se deitaram em volta da fogueira, deitando-se.


Nenhum deles admitiu, mas todos tiveram alguma dificuldade para adormecer, apesar de todo o cansaço que sentiam.


 

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