Dois



- Pontas? – Potter escuta uma voz familiar chamando-o e tenta  abrir os olhos, lutando contra o sono. – Pontas, que coisa feia. Você esqueceu que eu vinha pra cá? – O rapaz foi sacudido e abre os olhos de repente, gemendo pois a luz fez sua cabeça doer.


- O que tem aqui? – A voz continua falando. James vê-se deitado no sofá de sua casa, os pacotes sobre a mesinha de centro sendo cuidadosamente violado por seu amigo de cabelos negros, Sirius Black.


Levantando de supetão, James ajeita os óculos para olhar com preocupação para o amigo. Sirius tinha os olhos quietos, apesar do sorriso em seus lábios demonstrar animação.


- Os escaravelhos... – O jovem de cabelos espetados murmura e o amigo desvia o olhar. James se aproxima de Sirius.


- Não me machucaram muito. – O rapaz de cabelos negros dá de ombros levemente – Andrômeda já me deu poção cicatrizante. Vou ficar bem logo. – Repentinamente Sirius parece se dar conta de algo, os olhos acinzentados procurando os castanhos – Como sabe dos escaravelhos, James?


O garoto Potter se senta no sofá e bagunça os cabelos, cansado.


- Fui à Travessa do Tranco ontem comprar isso para nós – Aponta para o pacote de papel pardo sobre a mesa de centro – Vi sua mãe lá. Ouvi uma conversa estranha dela, e vi ela comprando os escaravelhos. Não achei que ela fosse usar tão cedo, e quando cheguei em casa eu caí num sono fora do comum... – Suspira, mostrando-se culpado. – Me desculpe, Sirius, eu deveria tê-lo avisado assim que cheguei em casa...


- Ei, Pontas, não se preocupe. Não foi você que fez isso comigo. – Ele sorri de um lado só – Eu sei me virar.


James morde o canto do lábio inferior e assente com a cabeça. Não teria sentido continuar falando sobre aquilo, lembrando o amigo de uma experiência que deveria ser, no mínimo, desagradável.


- Quer dizer que vai ficar aqui, agora? – O garoto de óculos pergunta. Sirius dá de ombros.


- Se puder, sim. Se não, vou alugar um quarto em algum lugar. – Declara tentando espiar por entre as frestas que o pacote fazia sobre a mesa, um tanto amassado.


- Quarto, que nada. Seu quarto já está garantido aqui, não se preocupe cara – O sorriso de Sirius se alarga ante a afirmação de James, e o maior abraça o menor com força, tirando-o do chão. James respira fundo, satisfeito por poder fazer algo por Sirius, finalmente.


- Então, afinal, o que é isso? – Sirius aponta para o pacote, curioso.


- É um espelho de duas faces. Você chama o nome da pessoa que tem o par do espelho e eles se comunicam. Será útil em Hogwarts quando formos pregar alguma peça, ou quando não pudermos dividir o Mapa – O estudante de cabelos espetados se senta sobre o tapete da sala, começando a rasgar o pacote.


- Você disse que viu minha mãe, lá. O que ela fez, além de comprar os escaravelhos? – Uma desconfiança sombria perpassou pelos olhos cinzentos do mais alto. James bagunçou os cabelos com a mão.


- É bom chamarmos Remus também. Assim eu explico tudo uma vez só – O outro assente e James se levanta, dirigindo-se à lareira. Chama Remus, que disse que estaria ali em algumas horas – fora convidado para passar o restinho das férias lá, e seus pais deixaram, então tinha que arrumar a mala.


Duas horas depois os quatro estavam jogados na sala dos Potter, comendo salgadinhos de cheiro duvidoso, do tipo que apenas rapazes conseguem comer. James deu um suspiro solene - assim que pararam de rir de qualquer coisa - e começou a relatar aos amigos o que vira, ouvira e suas conclusões sobre o ocorrido do dia anterior. Os dois ouviram atentamente, a mesma preocupação sombria e séria no semblante.


- O que acham? – O moreno perguntou ao final, observando Sirius deitar-se de lado no sofá e Remus apoiar as costas na mesa de centro.


- Eu acho que querer ir para a cama com Bellatrix não era culpa minha – O outro declara simplesmente, um tanto zangado, um tanto aliviado. Isso o tornava inexpressivo e sombrio, um espírito reflexivo e nostálgico que definitivamente não combinava com a imagem habitual de Sirius Black.


- E quanto a esse tal monstro, James? O que acha que seja? – Remus indaga e o outro dá de ombros.


- Só sabemos que é para Sirius. E que é belo, de alguma maneira. Como um monstro pode ser belo? – James deitou-se no tapete, comendo mais um punhado do salgadinho.


- Não pode ser coisa boa, com certeza. Nada que vem de minha mãe o é – Sirius imitou o amigo, mastigando devagar, como se assim quisesse evitar falar o que tinha em mente.


- Talvez nos devamos descobrir o que é – O rapaz de óculos se senta, parecendo encurralado. – Não podemos ficar aqui parados esperando essa criatura aparecer e tentar torturar ou matar Sirius. Ele está morando aqui, mas isso não impede nada – Os outros dois assentem, Remus mordendo o canto do lábio inferior.


- Você tem razão. Mas como iremos descobrir onde está essa criatura? – Sirius desliza a mão pelos cabelos.


- Pensei em mandar um elfo se infiltrar em sua casa e tentar escutar ou procurar alguma coisa. – James diz e dá de ombros – É arriscado, mas é o que temos.


Um silêncio hesitante se instalou no cômodo. Sirius engoliu em seco audivelmente.


- Vai arriscar seu elfo por uma informação que não sabemos se podemos usar, James – Ele diz sério.


James negou com a cabeça.


- Não há riscos. O instruirei para que, se achar que está em perigo, ele aparatar imediatamente aqui em casa. Qualquer coisa, dizemos que ele se enganou – Dá de ombros. – É sobre sua segurança que estamos falando, Sirius. Ela vale o risco.


O jovem de cabelos negros fita um amigo, e depois o outro, buscando segurança. Então cede, fechando os olhos em rendição.


- Certo. Envie-o hoje ao Largo Grimmauld nº 12. Espero que seja uma boa idéia, Pontas, porque eu não quero nenhuma vida tirada em meu nome – O moreno avisa e James sorri, dando leves tapinhas em seu ombro.


- Não se preocupe. Dará tudo certo – Ele deixa a sala e Sirius fica ali, contrariado, sob o olhar apreensivo de Remus.

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