Um pouco de magia antiga

Um pouco de magia antiga





- Você vai arriscar ou não? – Tiago Potter estava impaciente.

- Mas e se metade minha aparecer na Travessa e outra for parar no Beco Diagonal? – Pedrinho estava receoso na sua primeira tentativa de aparatar.

- Daí você arruína o plano. Ah, e ainda corre o risco de não conseguir se juntar nunca mais... – Sirius falou como se não dissesse nada de mais.

Pedro arregalou os olhos o máximo que pôde, segurando forte a barriga, como se assim pudesse evitar uma possível separação.

- Afinal de contas você vai ou não vai? – Remo olhava para o relógio. - A Travessa do Tranco já é medonha durante o dia e eu não estou a fim de ver como é o anoitecer por lá.

- E se eu aparatasse em forma de rato? – a solução pareceu brilhante para o próprio Pedro, mas os outros três fizeram cara de que tinham ouvido a maior besteira do século:
- Lógico, lógico. – Remo balançava a cabeça afirmativamente. – E imagino que você consiga falar em sua forma de rato...

- Ou segurar uma varinha... – Tiago completou.

Pedro fez cara de desapontado.

- Sem contar que você pode aparatar numa das lojas de animais no Beco Diagonal. Ou da Travessa do Tranco... – os olhos de Sirius brilharam. – Imagine o tipo de monstrinhos que eles vendem por lá...

- Vocês não querem que eu vá... – Pedro fez beicinho, emburrado.

Os outros três suspiraram.

- Pedrinho, se você ainda não consegue aparatar direito não há nada que a gente possa fazer. Você sabe a confusão que pode provocar se te encontrarem dividido por aí. – Tiago já não conseguia argumentar, estava exausto de dar sempre a mesma explicação.

- Então está bem, Pedrinho, se você quer ir, vá. Não vamos impedir. Com certeza você já entrou na Travessa do Tranco alguma vez, sabe como aquilo é... bem... aterrorizante. – Sirius fazia terrorismo com o amigo.

A cara de Rabicho não melhorava. Na verdade agora ele parecia meio triste.

- Eu-eu nunca fui lá...

Os três o olharam espantados.

- Nunca? Você nunca deu uma de perdido ou parou "acidentalmente" na Travessa depois de aspirar Pó de Flu? – Tiago estava abismado

- Não. – respondeu ele quase choramingando – Vocês sabem como é mamãe...

Os três ficaram com dó, mas agora tinham certeza que não podiam levar Rabicho. Do jeito que ele se surpreendia e se enchia de medo com qualquer bobeirinha que acontecia no castelo, imaginem o que não faria na travessa:

- Escuta, Pedro, - Remo agachou-se para falar com o amigo, que estava sentado no chão, encostado no baú aos pés da cama – talvez seja melhor você não ir mesmo hoje. Mas a gente pode fazer isso nas férias. Papai precisa ir sempre ao Beco para fazer compras para a fazenda. Podemos ir juntos e nos "perder" por lá. – ele deu uma piscadela.

Mas a proposta não animou Pedro. Ele levantou sem responder e quando já estava fora do quarto:

- Melhor vocês irem logo, ou vão ter pouco tempo pra procurar o sei-lá-o-que que vocês precisam. – disse sem olhar os amigos.

* * *

Os alunos do sexto ano da Grifinória e da Corvinal estavam quase desabando sobre as carteiras naquela tarde gelada de outubro. As aulas de História da Magia sempre foram monótonas, mas parecia que a cada ano o Prof. Binns conseguia acrescentar uma dose de extra de tédio a uma aula que devia ter pelo menos uma centena de assuntos interessantíssimos. Lílian Evans imaginava como a narração do Duelo entre Gigantes e Duendes poderia ser mais atraente se o professor se preocupasse em utilizar recursos mágicos como fotogramas e pergaminhos enfeitiçados em suas explicações. De repente sentiu a bolinha de papel. Estava pronta para xingar o idiota que a acordara de seu transe, quando percebeu que Frank Longbottom acenava as mãos desesperadamente tentando chamar sua atenção. Ele fez sinal para que ela abrisse o papel que a tinha acertado.

"Abra o seu livro na página 523 e me diga o que acha.

F. L."

Lílian tirou o pesado livro de História da Magia de dentro da mochila. Ela já nem se dava ao trabalho de tirá-lo dali durante as aulas; sabia que sua melhor utilização seria como travesseiro e, para isso, havia livros menos duros e mais confortáveis. Fez um pequeno estrondo ao colocá-lo sobre a carteira, que não chegou a atrapalhar o falatório do professor. Então ela começou a virar um punhado de páginas de uma só vez até chegar a de número 523. Era o começo de um capítulo que deveriam ver só lá pelo final do ano:

Cap. 14 - A separação dos mundos

Por volta do início do século VI...

* * *

- Onde é que nós estamos? – Tiago que estivera só umas duas vezes na Travessa do Tranco não conseguia reconhecer o lugar onde tinham aparatado.

- Parece a Fogueiras & Cinzas. É uma loja de feitiços e vudus. – disse Remo.

Ele conhecia aquele pedaço do mundo bruxo londrino melhor que os amigos. O fato de ser um lobisomem fazia com que ele e o pai visitassem o local freqüentemente em busca de poções e ingredientes mágicos que pudessem oferecer alguma "cura temporária" para o problema do rapaz. Procurar algo desse tipo no Beco Diagonal despertaria suspeitas e tudo o que os Lupin não queriam era que a condição do filho caísse na boca do povo.

- Ei, vocês também têm a impressão de que entrou água no ouvido toda vez que aparatam? – Sirius tentava desesperadamente se livrar daquela sensação incômoda.

- Não. – Tiago e Remo responderam, dando de ombros. – Não deve ser nada... Você tá inteiro, não tá? - Tiago perguntou.

- Tô. - Sirius olhava para si mesmo – Nossa! Ainda bem que o Rabicho não veio. O que será que fizeram com esse rato?

Um pequeno ratinho branco empalhado tinha os olhos esbugalhados de medo.

- Eu não imaginava que um animal empalhado pudesse parecer tão vivo! – Tiago olhava com atenção para a peça.

Remo coçava o queixo e franzia a testa, intrigado:

- E não pode. Não no método normal. Esse rato foi enfeitiçado!

- Posso ajudá-los?

Os três deram um pulo para trás. A voz parecia estar saindo do rato. Então algo, ou alguém, tocou o ombro de Remo:

- Posso ajudá-los?
Um homem baixo, aparentando não ter nem 1m70 de altura, com um olho bastante arregalado e o outro quase fechado dava um sorriso quase sem dentes para os três rapazes. As vestes marrons escondiam o final dos cabelos sujos e compridos que rodeavam o topo calvo. As mãos se apertavam freneticamente:

- N-S-ã-i-o-m! – Tiago e Sirius responderam ao mesmo tempo, tornando a resposta incompreensível.

- É, bem, nós estamos atrás de alguns feitiços novos para nossas aulas de Artes das Trevas... – Remo tentava aparentar calma, mas se o vendedor pudesse olhar dentro dos bolsos das vestes do rapaz, encontraria um pedaço de pergaminho (o mapa do maroto) bastante amassado.

- Hmm... Hogwarts? Eles não costumam mandar os alunos para cá. Além disso, o período letivo já começou há algum tempo, estou certo?

- O Sr. sempre faz esse monte de perguntas a quem chega? – Sirius esqueceu o medo e foi dominado pelo seu costumeiro atrevimento.

O vendedor arregalou o outro olho, tornando a face a ainda mais desfigurada.

- Não, apenas quando recebo visitas suspeitas.

A vontade de Remo e Tiago era tapar a boca do amigo e arrastá-lo para fora dali, mas isso só faria crescer a desconfiança daquele homem. Sirius continuou:

- E desde quando a visita de um Avery é suspeita?

Tiago e Remo sufocaram suas expressões de espanto. Sirius estava louco. O homem devia conhecer os Avery muito bem...

- Avery? Presumo que seja o filho mais velho, Sean?

- Logicamente. – Sirius imitava a arrogância do colega do 7º ano da Sonserina.

Por sorte o tal homem só conhecia o pai do rapaz e se alguém tentasse descrever Sirius Black e Sean Avery, provavelmente fariam o mesmo relato. Ambos eram altos e fortes, conseqüência dos treinos de quadribol onde exerciam a função de batedores dos times de suas respectivas casas. Cabelos pretos e curtos, emoldurando olhos negros bastante expressivos. Colocados um ao lado do outro, ninguém os confundiria; mas sob características tão gerais como essas, Black poderia passar por Sean Avery perfeitamente.

- O Sr. deve se parecer mais com sua mãe. Não poderia reconhecê-lo. No entanto, o Sr... – e o homem começou a analisar Remo. – O Sr. não me é estranho. Qual seu nome?

Remo ficou branco. Não conseguiu pensar em outra coisa:

- Aluado.

- Aluado? Que nome mais esquisito. – o homem voltou a quase fechar o olho esquerdo.

Tiago, já recuperado do susto, socorreu:

- Rômulo Aluado. Os pais dele são de Portugal, por isso o sobrenome soa esquisito, mas lá é muito comum.

Então o homem se deu conta do terceiro rapaz:

- E o Sr.?

- Luke Skywalker, muito prazer. – Sirius e Remo olharam para Tiago admirados, achando que seu ego como jogador de quadribol andava muito alto para usar um sobrenome como aquele. - Meus pais mudaram-se recentemente da Escócia para a Inglaterra. Serviços especiais. Continuam se mantendo em sigilo.

Sirius deu um sorriso maroto para Tiago, enquanto Remo respirava fundo, tentando se acalmar.

- Oh, claro! Muitos bruxos estão adotando nomes falsos... O Ministério anda muito desconfiado. Mas em que posso ajudá-los?

Remo, mais calmo, e ensaiando um sotaque português (Horrível!, mas não faria muita diferença. Provavelmente o vendedor não conhecia nenhum português de verdade!), começou a perguntar:

- Na verdade estamos em busca de feitiços antigos e desconhecidos. Pesquisa para a aula de Artes das Trevas. – Remo evitava falar o nome inteiro da matéria. – Esse rato, por exemplo, que feitiço foi colocado nele?

- Bem se vê que é estrangeiro. – o homem esboçou um sorriso – Pois aposto que seu amigo Avery sabe exatamente do que se trata. O pai dele é um dos melhores comensais do Lorde das Trevas...

Comensais? O que seriam comensais? E quem era esse tal Lorde das Trevas? As cabeças dos garotos iam entrar em parafuso.

- Ora, Aluado, isso é imperdoável! Você sempre se esquece das coisas que lhe digo... – Sirius fingiu que estava emburrado.

- Exatamente: uma maldição imperdoável – o homem começou a falar, satisfeito com a resposta de Sirius. – Aliás, a mais deliciosa delas: Avada Kedavra.

Os três fizeram cara de que estavam entendendo tudo, apesar de não conseguirem sequer imaginar o que essa tal Avada Kedavra fizesse. No entanto, fosse o que fosse, a expressão de terror na cara do ratinho dizia que não tinha sido algo bom.

- O Sr. falou delas, no plural. Quais são as outras? – Remo aproveitava-se da sua suposta (verdadeira) ignorância sobre o assunto.
Sirius fez uma careta e deu um tapa na testa, como se achasse as perguntas do amigo absurdas. Então o homem continuou. Na verdade ele parecia bastante feliz em poder mostrar seus conhecimentos diante de um Avery.

- São a maldição Cruciatus e a Imperius. O bruxo que for submetido à primeira sofrerá a mais impiedosa tortura imaginável no mundo da magia. E a segunda, bem, acredito que possamos demonstrar com seu amigo aqui e puxou a varinha das vestes e apontou para Tiago.

- Não é necessário. – Sirius fingiu olhar com raiva para Remo. – Esse incompetente vai esquecer tudo de novo em minutos. Vocês só vendem magia em livros ou podemos comprar porções individuais?

- Eu tenho o pacote para iniciantes. Quem prestou o exame para comensal no ano passado apreciou muito. Além das instruções para as Maldições Imperdoáveis, vocês também vão receber... – e ele parou o olhar na porta. – Ora, o nosso mais novo comensal da morte está entrando na loja. – e o homem saiu para recepcionar Lucius Malfoy.

* * *

Quem prestasse atenção àquela aula de História da Magia não notaria nada de muito anormal. Perto do final da segunda aula, muitos alunos dormiam com as cabeças sobre as carteiras enquanto outros tinham o olhar fixo no nada, provavelmente divagando sobre provas, namoros e quadribol. Um e outro faziam expressões engraçadas, como se estivessem discutindo consigo mesmo. Mas bem no fundo da sala, uma movimentação aérea teria chamado a atenção de um professor menos indiferente a seus alunos.

Lílian e Frank não paravam de se comunicar através de bolinhas de papel, discutindo um texto do livro que poderia lhes ser muito útil. Vez ou outra a bolinha atingia o alvo errado e acordava algum dos alunos. Mas Sophie Alethea não estava dormindo. A monitora da Corvinal, sentada quase ao lado de Lílian, era uma das poucas alunas que prestavam atenção à aula do Professor Binns. Quando uma das bolinhas de papel a atingiu – ainda bem que Frank não fazia parte do time de quadribol – sua atenção foi desviada, apesar de que, para todos os efeitos, ela parecia continuar interessada na monótona aula de História da Magia.

Lílian fez uma careta para Frank, que mandou sua última bolinha e por pouco não acertou Raymond Sylvester, um dos artilheiros da Corvinal.


A gente discute isso depois dessa aula, na biblioteca, pode ser?

F.L.

A ruivinha fez que sim com a cabeça e guardou o livro na mochila. Por isso ela não percebeu quando Sophie, discretamente, guardou no bolso uma das muitas bolinhas de papel espalhadas pelo fundo da sala. Em cinco minutos a aula estaria terminando.

* * *

- Tira o pé daí, Tiago! – sussurrou Remo.

- E coloco onde? Não tá vendo que não tem espaço?

- Eu não tô vendo nada mesmo! Tá a maior escuridão aqui dentro...

- Isso! Continuem brigando... Daqui a pouco descobrem a gente aqui! – Sirius deu uma bronca nos amigos.

- Ora, esse barulho é mínimo perto do berro que eu vou dar se o Tiago não parar de pisar no meu pé.

Tiago se espremeu mais um pouco, emburrado. Nenhum dos três tinham caras muitos felizes. Se alguém descobrisse aquela pequena “fuga” de Hogwarts, eles estariam mais encrencados que em qualquer outra de suas armações. Talvez até mais do que quando pregaram aquela peça em Snape...

Sirius fechou os olhos, tentando imaginar uma solução. Ficar espremido com outros dois caras dentro de um armário pequeno não era realmente uma boa saída, mas era a melhor alternativa para descobrirem mais alguma pista sobre o desaparecimento/morte de tantos trouxas.

- Mas eles estavam bem aqui... O Sr. Avery...

- Sean? – os olhos cinzas e frios de Lucius Malfoy encararam o vendedor. – Então ele descobriu uma forma de aparatar dentro de Hogwarts? Eu não esperava que ele tivesse competência para tanto.

- Ah, com certeza os Avery não tem a mesma tradição dos Malfoy, mas, ainda sim, são uma família puro-sangue importante.

- Ah, sim, claro. – Malfoy olhava para o interior da loja, examinando cada centímetro sujo e poeirento daquele lugar. – Você disse que ele estava acompanhado... Não seriam Lestrange e McNair?

- Não, senhor. Eram de fora do país. Disseram ser filhos dos recrutas estrangeiros do Lord das Trevas.

Sirius, Remo e Tiago estavam absolutamente calados, tentando ouvir a conversa. Mas a pequena fresta do armário não lhes permitia ver as caretas que Malfoy fazia enquanto conversava com o atendente da Fogueiras & Cinzas.

- Dorway, como eram esses estrangeiros?
- Sabe, Sr. Malfoy, um deles não me pareceu estranho. Era como se eu já o tivesse visto por essas bandas... Mas justamente esse era português, tinha sotaque e tudo – os três marotos seguraram a risada.

- Nomes, Dorway, nomes!

- Ah, sim, Sr. Aluado e Sr... como era mesmo o nome do outro... Ah, lembrei, Skywalker.

Dentro do armário...

- De onde você tirou esse nome, Tiago? – Remo perguntou num sussurro.

- O egocentrismo devia estar em alta, hein? – Sirius e Remo riram baixinho.

- Egocentrismo? Do que... Ei, eu não dei esse nome por causa do quadribol, não! – Tiago tentou se defender. – Tirei de um filme trouxa que assisti com Lílian nas férias. (Não faço a menor idéia de quando o primeiro Star Wars estreou, então faz de conta que foi em 76!)

- A gente finge que acredita, tá? – os outros dois deram sorrisos maliciosos e voltaram a escutar.

- Skywalker? Nunca ouvi falar. E Aluado? Que tipo de nome é esse?

- Português, senhor.

Malfoy não acreditou no atrevimento daquele simples empregado. Não fizera uma pergunta... Estava apenas raciocinando em voz alta. E o encarou com seu habitual olhar de repúdio a seres inferiores a ele.

- Aliás, o Sr. Avery deve ser muito parecido com a mãe, por que nem de longe se parece com o pai... – dentro do armário, Sirius mordeu os lábios.
- Como não? Um é praticamente a cópia do outro mais jovem. Eu estava desconfiando, mas agora tenho certeza. Não era Avery que estava aqui. Me conte, como eles eram. Um deles por acaso usava óculos, com os cabelos espetados assim? – Malfoy esticou os dedos sobre a cabeça, tentando mostrar como eram os cabelos de Tiago.

Os dois não demoraram muito para chegar a uma conclusão:

- Dorway, eu tenho absoluta certeza de que os três de que você está falando eram Sirius Black, Tiago Potter e Remo Lupin!

- Lupin. Mas é claro! Sabia que já tinha visto aquele rapaz. Filho do velho Lupin de Lancashire. Volta e meia bate aqui. O homem tem obsessão por lobisomens!

- Eles não tiveram tempo de sair, Dorway. Vamos! Me ajude a procurá-los. Ah, eles serão os primeiros...

- Então vocês vão começar a segunda fase? – o homem olhou assustado.

- O mais rápido possível. E essas cobaias seriam perfeitas! – então Malfoy reparou no pequeno armário.

O ex-aluno da Sonserina caminhou devagar e em silêncio. Parou alguns segundos diante da porta de mogno e finalmente puxou-a:


- Estupefaça! – e Malfoy caiu durinho diante dos três. Sirius soprou a ponta da varinha:

- Sirius Black! A varinha mais rápida da Grã-Bretanha! – ele brincou com os amigos.

- Ainda não é hora de brincar, Black. E Remo apontou a própria varinha vara Dorway, que avançava em direção a eles. – Impedimenta!

- Que tal sairmos daqui? – Tiago sugeriu.

- Apoiado! – e os três aparataram dali para o Beco Diagonal.

- Ufa! Essa foi das piores! – Remo respirou fundo.

- Ah, eu achei divertido! – Sirius arrumava a capa, tentando esconder o leão da Grifinória em dourado e vermelho.

Então Remo ficou sério e assustado ao mesmo tempo: “Nós esquecemos!”

- Não esquecemos, não! – Tiago sorriu para o amigo.

- Esquecemos o quê? – Sirius não entendia do que os outros estavam falando.

- Isto! – e Tiago levantou o tal kit para iniciantes de que Dorway lhes falara. – Ei, vamos passar na Floreios e Borrões. Quero dar um livro de presente à Lílian.

* * *

- Acho que é mais para a direita, Lílian.

- Eu estou na extrema direita da estante, Frankie.

- Ah, como é que eu vou saber onde você está? Você não me deixa olhar para cima!

- Lógico, que não. Imagine o que iriam pensar.

- Que estou te ajudando a achar um livro?

- Longbottom! Eu estou de saia!

Ele deu um suspiro emburrado:

- Então por que não trocamos de lugares? Seria mais fácil, não é?

- E começar a olhar tudo de novo? Não, obrigada!

Longbottom deu outro suspiro e reparou que uma menina vinha em sua direção. Parecia um pouco com Helen, mas o que ela estava fazendo com as vestes da Corvinal? Só quando ela já estava bastante próxima ele percebeu que se tratava de Sophie, uma das monitoras daquela casa.

- Procurando por isso, Longbottom? – a garota sorriu mostrando um livro velho e amarelado.

Era justamente aquele livro que ele e Lílian estavam procurando havia duas horas na biblioteca. Já tinham revirado todas as prateleiras da seção de Magia Antiga. O susto em vê-lo na mão da menina, e, ainda mais, de ela saber que ele precisava do livro, fez com que ele esbarrasse acidentalmente na escada onde estava Lílian. A escada, a menina e uma porção de livros caíram sobre Frank, causando um barulhão e alguns hematomas.

- O que está acontecendo aqui? – Madame Sandys estava furiosa.

- Não, não foi nada. – Lílian olhou mais brava ainda para Frank. – É que o nosso monitor ainda não acordou direito.

- Fique tranqüila, Madame Sandys. Nós vamos arrumar tudo. – Sophie Alethea chamava a responsabilidade para si, enquanto Lílian a observava atônita.

A bibliotecária saiu e Lílian encarou a garota:

- Não precisamos de ajuda. Você não tem culpa do Frank estar meio abobado hoje.
Pode ir.

- Lílian. – Frank estava sério. – O livro está com ela.

- Ah, você também está pesquisando sobre magia antiga? Um assunto fascinante, não acha? – Lílian tentou disfarçar.

- Na verdade não estou. Mas é que uma certa guerra de bolinhas de papel durante a aula de História da Magia me deixou muito curiosa... – a aluna da Corvinal desviou os olhos do livro para os alunos da Grifinória lentamente.

- Se você não se importa, precisamos desse livro. Para a Aula de DCAT... – Frank tentou ser gentil e sério ao mesmo tempo.

- Ah, é para a aula de DCAT? Eu devia ter imaginado. O manifesto de Morgana deve render um bom estudo. – mas ela não entregava o livro aos grifinórios. – Quem sabe, se vocês me explicarem direitinho o que estão fazendo, eu não empresto o livro pra vocês...

- Ora, sua...

- Evans, você poderia perder 10 pontos por desacatar uma monitora...

A ruivinha bufou de raiva e olhou para Longbottom nervosa. Não sabia o que fazer. Mas ele sabia.

- Ora, Alethea, achei que seu poder de dedução fosse melhor. Os alunos da Corvinal têm fama de serem inteligentes. – ele queria sondar o que ela sabia. Assim não precisariam revelar nenhuma informação de maior relevância.

- Bem, está na cara que vocês estão tentando encontrar uma justificativa para tantas mortes trouxas acontecendo de forma estranha. E sendo a briga entre Morgana e Guinevere a razão para a separação dos mundos mágico e trouxa, vocês devem achar que os assassinos são discípulos de Morgana. Ou melhor, críticos dela, porque acreditam que ela não deveria ter dado margem à criação de um mundo trouxa, e sim destruí-los por completo.

- Eu não poderia dar definição melhor. – Longbottom sorriu para a menina.

Sophie era uma garota bonita. Os olhos bem azuis se destacavam no rosto emoldurado por cabelos negros, na altura do ombro. Assim, de perto, ela não parecia ter nada em comum com Helen, a não ser a altura. Nenhuma das duas devia ter mais que 1m55. Mas o que tinha de beleza não chegava à metade da vivacidade e lucidez da garota. Era capaz de fazer conclusões precisas com rápidas consultas a algum material. Daquela vez não era diferente: as bolinhas e o livro lhe deram uma idéia geral sobre o acontecimento, além de que a morte do pai de Lílian Evans não era nenhum segredo. Juntar tudo era fácil. A monitora da Grifinória escutava tudo apreensiva. Nenhum deles reparou quando outra garota se aproximou:

- Ora, ora. É reunião dos monitores aqui na biblioteca? – Helen tinha as sobrancelhas erguidas e um esboço de sorriso no rosto, que se desmanchou ao ver o livro que Sophie carregava. – Então tem mais gente interessada no conflito dos mundos?

- Então ela também sabe? – Sophie sorriu para Frankie.

- Você vão espalhar essa história para a escola inteira? – Helen olhava de cara fechada para Lílian. Ela evitava encarar Longbottom desde a última conversa dos dois.

- Não, Silver. – a garota mordeu os lábios quando Frank a chamou pelo sobrenome. – A história está se espalhando por si mesma. As pessoas lêem jornal, sabia?

- Ai, vocês não vão começar a brigar agora, né? – Lílian estava desanimada. Era terrível ver seus dois melhores amigos passarem do amor ao ódio em tão pouco tempo.

- Não... Na verdade, bem, eu resolvi ajudar.

Ela olhou para baixo, enquanto Lílian e Frank exibiam sorrisos que iam de uma ponta do rosto a outra. Sophie não entendia muito bem, mas compreendeu que a menina devia saber de coisas que não estavam em nenhum livro. Longbottom então se aproximou da ex-namorada. Se aquele tinha sido o motivo da briga, então devia estar tudo bem outra vez. Ele fez menção de beijá-la, mas Helen o afastou delicadamente, evitando dar explicações.

- Bom, minha única exigência é saber exatamente quem está envolvido no assunto. – ela olhou com cara de poucos amigos para Sophie, que não se deixou intimidar. – E... bem... andei falando com tia Arabella...

- Foi ela quem te convenceu, não foi? – Lílian perguntou com um sorriso; Frank estava sério.

- Foi. – Helen continuava a olhar para baixo enquanto respondia.- Bom, nós achamos que vamos precisar de outras pessoas... Temos uma idéia que pode ser muito útil contra Voldemort.

- Voldemort? – os três olharam para ela, sem saber de quem ela estava falando.

- É, Voldemort, o sujeito que vocês estão procurando. É ele que está por trás desse monte de mortes.

- É, a tal história parece ser realmente muito interessante... – comentou Sophie.

- Não acho que precisamos de uma corvinal metida nisso... – Helen respondeu ácida.

- Precisamos, sim. Ela está com o Manifesto, Helen. – Lílian falou séria.

- Ah, ela não pode ficar eternamente com o livro... E além do mais, eu sei ele de cor.

Os olhos azuis da corvinal estavam assustados. Eles não podiam dispensá-la assim. Não era justo. Ela podia ajudar.

- Pois eu acho que ela pode ajudar... – Parecia que Longbottom lera os pensamentos da garota. Mas ele mesmo na sabia se tinha dito aquilo para afrontar a ex-namorada ou porque realmente acreditasse em suas próprias palavras.

Helen olhou para Lílian que confirmou com a cabeça; ela tinha ficado impressionada com o poder de dedução de Sophie.

- Bom, minha tia decide... Isso é para aula dela mesmo, não é?

- Então vocês podem começar a me contar tudo agora mesmo. Duvido que Arabella Figg impeça que uma corvinal se junte a vocês. Ou você está se esquecendo que sua tia estudou na mesma casa que eu, Silver?

- Quem decide é ela. – a sonserina fez pouco caso. Pouco depois fixou o olhar num ponto debaixo da estante. – Eros, querido, já almoçou?

O gato de Helen surgira do nada naquele corredor da biblioteca. Ela pegou a bola de pêlos prateados no colo e se despediu dos amigos:

- Vejo vocês mais tarde.


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