Algo que Dá Medo




Para os que me acompanharam até aqui (espero que tenha alguém), umas palavrinhas. Em primeiro lugar, devo dizer que na fanfic vou seguir o ritmo imposto por J. K. Rowling ao relacionamento de Ron e Mione: aproximações seguidas por distanciamentos, gestos de carinho, por brigas, em um movimento que lembra o das ondas do mar. Sendo assim, neste capítulo os dois vão estar muito perto de declarar o forte amor que sentem um pelo outro, mas... (tem sempre um
mas na vida desses dois). Esclareço também que, inspirada pelo poder atribuído por Rowling ao colar que enfeitiçou a estudante Katie Bell em “O Enigma do Príncipe” e ao medalhão de “As Relíquias da Morte”, criei o meu próprio cordão mágico. Mas vou deixar que vocês leiam e cheguem às próprias conclusões. Boa leitura! 


Morgana


P. S: Sou movida a comentários. Se você permanecerem quietos, vou achar que ninguém está lendo e ficar desmotivada a postar novos capítulos... :(


 


* * * * *


 


 


 


 


Na véspera do aniversário de Hermione, Ron abriu mais uma vez a caixinha lilás e olhou o cordão. Por um instante teve medo de dar aquele presente à menina. No fundo, sabia que era uma declaração silenciosa de amor. Ainda não havia admitido para si mesmo que queria a morena como namorada. Achava que a amiga jamais o aceitaria do jeito que era, sempre desejaria mudar algo nele. Acreditava também que Hermione tinha como meta conseguir um namorado mais talentoso e bem-sucedido do que ele. Para que, então, correr o risco de receber um não como resposta? E como iria encará-la depois? Com certeza a amizade entre eles acabaria.


Ao mesmo tempo, porém, sem saber explicar o porquê, algo o atraia fortemente para a menina e o fazia intuir que ela também experimentava os mesmos sentimentos confusos. Por isso logo se convenceu, mais uma vez, que devia entregar o presente. Com medo de perder a coragem na hora que estivesse frente a frente com ela, decidiu pedir a Gina que deixasse a delicada caixinha na cabeceira da cama de Hermione.


“Por que você não entrega? O que vai dar para ela?”, questionava Gina, que não parou de bombardeá-lo de perguntas. O rapaz foi evasivo e pediu simplesmente que fizesse aquele favor e deixasse o presente próximo à amiga. A irmã sugeriu que escrevesse ao menos um cartão.


Depois do jantar, Ron entregou à irmã a caixinha lilás acompanhada por um pequeno envelope laranja. No cartão, apenas as palavras:
 


 Feliz aniversário, Mione!


 Afetuosamente,


 Ron
 


Quando Hermione acordou, no dia do aniversário, a primeira coisa que viu foi a caixinha lilás, pousada ao lado da cama dela. Quem poderia ter lhe dado aquele presente tão delicado? Logo lembrou de Ron e do perfume que havia recebido no Natal. Seu coração acelerou e parecia que sairia do peito. Depois de respirar fundo, ela pegou a caixinha e abriu o envelope. Os olhos da menina logo encontraram a assinatura do ruivo. Mione na mesma hora sentiu o sangue subir e o rosto queimar. Ainda bem que estava sozinha e a cortina da cama, fechada.


Ainda nervosa, leu a mensagem. Ron, como sempre, era o mais econômico possível com as palavras. Dessa vez, porém, tinha exagerado. Apenas desejava feliz aniversário. Mas aquele afetuosamente, na despedida, vinha cercado de significados.


Com muita expectativa, ela finalmente abriu a caixinha. Sorriu ao ver a delicadeza do cordão. Como Ron adivinhara o seu gosto? Será que Gina havia ajudado o irmão a escolher?


Ao tocar no pingente, percebeu que uma magia cercava o cordão, mas não sabia identificar qual era. Intuía apenas que era algo bom, porque seu coração sentia uma grande paz. Não resistiu ao impulso de colocar o cordão no pescoço e escondeu a caixinha e o cartão debaixo do travesseiro.


Quando finalmente abriu a cortina, encontrou Gina sentada na cama em frente. “Achei que não ia levantar nunca. Já ia lhe chamar! Feliz aniversário”, falou a ruiva, dando um abraço na amiga e entregando o seu presente.


Hermione ficou feliz com o estojo de maquiagem que recebeu de Gina, mas não sabia se teria coragem de usar todos aqueles produtos. Nos seis anos que estava em Hogwarts, havia feito uma maquiagem completa apenas no Baile de Inverno. No máximo usava um brilho ou batom claro nos lábios. A amiga, parecendo ler os seus pensamentos, falou:


- Escolhi as cores mais discretas. É só para realçar ainda mais a sua beleza – disse a ruiva sorridente.


- Realçar minha beleza? Como você é generosa, Gina. Sei que não sou bonita – rebateu.


- Você é bonita, sim. E não sou só eu que acho isso... Ron acha... – tentou argumentar Gina sem sucesso, sendo interrompida por Hermione.


- Não adianta dizer que Ron me acha bonita! Ele pode até me achar inteligente, estudiosa, legal, uma boa amiga, qualquer coisa... Mas bonita, definitivamente não! – falou com ênfase.


- Bem, se você prefere pensar assim... Mas não vai deixar de usar a maquiagem, hein?


A menina sorriu e Gina reparou no discreto e bonito colar que ela usava. Sem rodeios, como sempre fazia, perguntou se aquele era o presente de Ron. Contou que ela deixara a caixinha ao lado da cama da amiga a pedido dele, mas desta vez o irmão nem a havia consultado sobre o presente. Notou que Hermione ficou levemente rosada.


Quando Hermione chegou à sala comunal, acompanhada por Gina, Harry, Ron e Neville esperavam por ela. O ruivo, como sempre, estava mais distante do grupo. “Por que ele é sempre o último a me cumprimentar”? Antes que Mione pudesse formular uma resposta, Harry já a abraçava e entregava o seu presente, a última edição, revista e atualizado, sobre História da Magia. Neville, que ficou vermelho ao abraçar a amiga, lhe deu um caderno no qual apenas quem escrevia podia ler as próprias palavras, uma invenção dos gêmeos Weasley, é claro.


Hermione olhou para Ron com um ar de cumplicidade reservado apenas aos grandes amigos, mas o semblante dela trazia, ao mesmo tempo, um quê de mistério. Ron ficou visivelmente constrangido. “Você não vai me cumprimentar?”, perguntou Mione. O rapaz se aproximou, de forma displicente, dizendo: “Estava esperando todo mundo terminar”. Deu um beijo na face da menina e segurando o braço dela, disse baixinho, quase sussurrando: “Feliz aniversário, Mione”.


A menina sentia-se feliz como nunca e, ao mesmo tempo, muito à vontade ao lado do amigo. Por isso foi espontâneo dizer que havia amado o colar. “Eu já estou até usando”, falou. “Eu reparei”, disse Ron. Os dois trocaram olhares e sorrisos. As orelhas de Ron logo ganharam tom escarlate. A menina, que normalmente ficaria constrangida numa situação como aquela, manteve a paz e a tranquilidade.


Os cinco amigos desceram juntos para tomar o café da manhã. Gina colou ao lado de Hermione, o que foi um alívio para Ron, que estava ainda perturbado com o jeito da amiga. Harry aproveitou para tirar uma brincadeira com o ruivo. “O cordão é o pedido oficial de namoro? Imagina o que você vai dar para Mione por ocasião do noivado!”, disse com ar divertido. “Para com isso, Harry. É simplesmente um presente de aniversário. Cansei de dar livros. Ela já tem livros demais”, contrapôs Ron que, com sua cara fechada, demonstrava claramente não gostar daquela insinuação.


xxx


Ron e Hermione não demoraram a descobrir que algo muito estranho estava acontecendo entre eles. Os dois experimentavam uma atração muito forte um pelo outro e uma vontade quase incontrolável de declarar os próprios sentimentos. À noite, quando se encontraram sozinhos, cada um em seu dormitório, chegaram à mesma conclusão: tudo havia ficado diferente depois que a menina passou a usar o cordão.


O rapaz, desde o ano anterior, sentia uma atração crescente pela amiga. Tinha a impressão que Hermione ficava mais bonita a cada dia. Tentava negar para si mesmo tudo isso. Afinal, ela era a sua amiga de muito tempo. No entanto, jamais experimentara algo tão forte assim antes.


Durante todo o dia ficou terrivelmente perturbado com a simples visão da menina. “Será que Hermione é uma veela?” – perguntou para si mesmo. Com medo das próprias reações, fugiu da amiga o máximo que pôde. Ainda assim, por duas vezes sentiu o impulso de se ajoelhar diante dela e repetir uma declaração que agora soava muito antiquada e ridícula: “Hermione, você é a menina mais encantadora que existe e me faria o bruxo mais feliz do mundo se me aceitasse como namorado”.


“Mamãe não me falou toda a verdade sobre aquele cordão. Preciso impedir Hermione de usá-lo senão nem imagino quais serão as consequências. Mas como vou fazer isso?”, perguntava-se o rapaz.


A confusão de Hermione neste mesmo momento não era muito diferente. Ela, como nunca, estava convicta de que amava Ron e o queria como namorado. Mas o que a deixava desconcertada era o fato de estar agindo de formar completamente diferente do habitual. Mione era sempre muito discreta e eficiente em esconder os próprios sentimentos. Dessa vez, porém, parecia que atração por Ron e o desejo de estar com o amigo eram tão grandes que ela não temia expor o seu maior segredo.


Num momento de maior lucidez, quando se deu conta de que tudo havia mudado depois do cordão, pensou em tirar a delicada jóia do pescoço, mas não conseguiu. Desde que começara a usá-lo sentia uma grande paz. E foi segurando o pingente em forma de estrela e pensando em Ron que a menina mergulhou no mundo dos sonhos.


Ela e Ron, de mãos dadas, caminhavam descalços em um belíssimo jardim. Estavam muito felizes e trocavam olhares e sorrisos. Os dois vestiam roupas brancas. A morena usava um vestido longo e esvoaçante, o rapaz, uma calça e uma bata de manga comprida. Entraram juntos em um palácio de cristal, muito iluminado.


Os dois andavam por uma extensa sala, em direção a uma forte luz. Quando chegaram próximos à luz, ouviram uma voz feminina que dizia. “Vocês vieram aqui porque querem descobrir que força é essa, tão intensa, que os liga e os mantém unidos. Hoje vocês poderão entender a magia que os atrai um para o outro e também estarão livres para decidir se querem manter-se ligados assim ou não”. Nesse instante, o pingente começou a brilhar. Uma outra voz, suave a princípio e depois cada vez mais decidida, chamou pela menina. “Hermione... Hermione... Hermione! Acorda!”, falou, arrebatando a morena daquele sonho tão real.


Quando abriu os olhos, Hermione viu Gina em sua frente. Ficou tão decepcionada por ter sido retirada daquele sonho que reclamou com a ruiva. “Por que você me acordou?!”. A amiga pediu desculpas e explicou que Ron e Harry estavam preocupados come ela. “Você nunca acorda tarde e, se não se apressar, além de ficar sem café, vai chegar atrasada na primeira aula”, retrucou Gina.


Hermione não estava acreditando. Tinha a impressão de que acabara de dormir e mergulhara naquele lindo sonho. Mas o relógio e a amiga diziam o contrário. Já eram 7h40 e a primeira aula começava às oito. “Gina, por favor, fala para Ron e Harry não se preocuparem comigo. Estarei na aula no horário, como sempre”. A ruiva, que a olhava sem piscar, não se moveu e Hermione precisou ser direta com ela. “Pode ir, por favor. Eu me arrumo mais rápido quando estou sozinha”. Assim que Gina saiu, Mione pegou a varinha. Lógico que iria usar magia para cumprir o prometido.


xxx


Quando Ron e Harry entraram na sala para aula de Poções, Hermione já se encontrava lá. Estava com o cabelo muito bem penteado, preso de lado, usava uma maquiagem leve e trazia o cordão no pescoço. Para completar, havia passado algumas gotas do perfume delicado e intenso que ganhara do ruivo no Natal.


Se a intenção de Hermione era impressionar ainda mais o ruivinho, ela conseguiu! Ron ficou a aula toda completamente desconcentrado, ou melhor, concentrado na menina. Tentava não olhar a amiga, mas, quando se distraía, estava lá, hipnotizado por ela, com aquela expressão abobalhada antes reservada apenas às veelas. Mione também não ficou indiferente ao rapaz e quando seus olhos se encontravam, tinha sempre aquela expressão feliz de quem sabe que é amada e não tem medo de corresponder a esse sentimento.


Ron havia escrito para a mãe pela manhã perguntando mais sobre os poderes do cordão. Mesmo se a resposta ainda não chegara, o rapaz tinha certeza que Hermione estava enfeitiçada e que ele também, de alguma forma, havia sido atingido pela magia da joia. Por isso estava decidido a convencer a amiga a tirar o colar. Não seria fácil, mas não tinha opção. Por isso Ron tomou coragem e escreveu o bilhete, que entregou para a amiga.
 


 Mione, me espere no fim da aula.  Preciso falar com você.


 Ron
 


Hermione lançou para Ron um olhar apaixonado e ele, mesmo desconcertado, tinha certeza que ela não estava no seu estado normal. Portanto, não podia deixar se convencer por aquelas atitudes diferentes da menina. Quando ela tirasse o cordão, tudo voltaria a ser como antes, acreditava o ruivo.


- Ron, o que está acontecendo? – perguntou Harry ao ver que o menino não se levantara quando tocou o sinal.


- Vou esperar Hermione. Tenho que falar com ela – disse Ron.


Harry nem precisou ouvir que a conversa era particular para entender tudo e despediu-se do amigo, desejando boa sorte. Ron sentiu um certo medo de ficar sozinho com a garota. Ela estava tão bonita e o olhava de um jeito tão desconcertante... Hermione, que arrumava o seu material mais devagar que o normal, finalmente alcançou a porta, onde o ruivo a aguardava. “Vamos conversar num lugar mais tranquilo”, disse o rapaz, puxando-a pela mão até a sala de leitura, que normalmente ficava vazia.


Quando chegaram à sala e Ron olhou nos olhos de Hermione, que estava linda como nunca, e intuiu que precisava agir rápido.


- Hermione, você não percebeu algo diferente desde que começou a usar o cordão? – perguntou.


- Estou me sentindo diferente, sim. Mas não sei se isso é ruim. Acho que comecei a ver certas realidades mais claramente e perdi o medo de mostrar os meus sentimentos – disse a menina, o encarando com decisão.


- Mione, me desculpa, mas tenho motivos para acreditar que esse cordão tem um poder muito forte e não é seguro continuar a usá-lo sem saber exatamente qual magia é essa.


Quando a menina perguntou se tinha sido o amigo a escolher o cordão e onde o havia conseguido, Ron revelou a verdade ao seu jeito. “O colar era da mamãe e ela me deu para eu presentear alguém por quem tivesse consideração”, explicou. “Apenas consideração?”, se perguntou Hermione que gostaria de ter do ruivo ao menos admiração. Naquele momento, no entanto, algo dizia a Mione que o sentimento de Ron por ela era muito mais forte.


- Mas eu não vou tirar o cordão. Estou me sentindo muito bem com ele – disse a menina decidida.


- Por favor, Mione. Deixa que eu tiro o cordão...é só por alguns minutos, para a gente poder conversar... A magia do cordão também está me atingindo...


A menina finalmente concordou e Ron foi mais ágil que nunca. Com um rodopio da varinha, abriu o fecho do cordão que logo estava em sua mão. Hermione sentiu que parte de sua energia havia sido retirada. Levou as mãos ao rosto e curvou a cabeça, experimentando um misto de tristeza e cansaço. Ron percebeu que algo estava errado. “Mione? Tudo bem com você?”, perguntou.


- Estou me sentindo estranha... O que aconteceu? – questionou a menina.


- Você não lembra? Acabei de tirar o cordão que lhe dei de presente... – disse temeroso.


- É... estou lembrando. Você acha que o cordão está enfeitiçado, não é?


- Eu não sei, Hermione. Você não ouviu falar que os Comensais da Morte enfeitiçam muitos objetos? Esse cordão era da mamãe, é verdade. Mas Você-Sabe-Quem tem tantos poderes que nada é impossível.


- Você acha que esse cordão tem uma magia ruim? Claro que não! Eu me senti muito bem usando ele. Mas parece que você foi mais afetado do que eu. O que estava sentindo?


- Eu?! Bom... eu... eu estava me sentindo... fora do meu estado normal. Isso! Fora do meu estado normal - repetiu ao encontrar as palavras que considerou mais adequadas - Com uns pensamentos estranhos, como se estivesse sendo conduzido por algo muito forte e não por mim mesmo.


A menina olhou para ele um pouco decepcionada. As reações de Ron naquele último dia e, especialmente, a forma como olhara para ela a levaram a acreditar que o seu sentimento pelo rapaz estava sendo correspondido. O que o ruivo dizia agora - não estar agindo por si mesmo - parecia confirmar ser um feitiço o causador daquela mudança no amigo. Será que Molly, interessada em poções de amor na adolescência, havia enfeitiçado o cordão? Mas por que faria aquilo? Ou seriam mesmo os Comensais da Morte que estavam agindo?


Hermione lembrou de uma aula de História da Magia, quando o professor falou que a poção de amor já havia sido usada como arma nas guerras dos bruxos. Segundo ele, as pessoas enamoradas ficavam tão fora de si, concentradas apenas no objeto de sua paixão, que não conseguiam agir com lógica e muito menos lutar.


Mas a menina não precisava dessa magia. Já estava suficientemente apaixonada por Ron. Talvez ele sim, como os próprios gêmeos sugeriram. Mas era um absurdo necessitar de um artifício assim para conquistar alguém, especialmente porque não seria um amor verdadeiro e sim uma paixonite que poderia passar a qualquer momento. Hermione não queria aquilo para ela. Se o ruivo não a amava, nada tinha a fazer além de esquecer que sonhara um dia em ser sua namorada.


Ron percebeu que Hermione parecia estar em outro mundo e ficou preocupado com ela. A insegurança do ruivo não o permitia ver que a menina gostava de fato dele e o cordão apenas lhe dera coragem de expor os seus sentimentos. Desconfiava que a mãe, não sabia exatamente porque, havia colocado um feitiço do amor na joia. O que mais explicaria o fato dele ter experimentado um forte impulso em se declarar para Mione? Verdade era que ele estava cada dia mais encantado pela amiga, mas jamais admitiria isso espontaneamente.


- Mione... O que está acontecendo? – disse em tom preocupado.


- Agora está tudo bem. Eu e você nos livramos do estranho poder do cordão. Não era isso que você queria?


Ron não sabia o que dizer. Percebia que a amiga estava decepcionada com ele e se perguntava se havia feio algo errado. “Hermione, me desculpe. Eu não deveria ter lhe dado esse cordão sem antes saber que uma magia o envolvia”, dizendo isso, o rapaz esticou a delicada joia em direção da menina. “Pegue. Mas sugiro que não use enquanto eu não souber por mamãe algo mais do cordão. Já escrevi para ela hoje de manhã”, informou.


- Ron, prefiro que o cordão fique com você. Ele exerce uma forte atração sobre mim e não sei se foi conseguir deixar de usá-lo – disse a menina.


O rapaz concordou e pouco depois os dois saíram da sala. A magia, que havia tornado tão transparente o forte sentimento que os ligava e dado coragem e impulso para revelar esse amor, agora desaparecera. Tudo parecia um sonho distante e os dois voltaram a acreditar que não eram correspondidos e que tudo não passara de um feitiço ilusório.


xxx


Logo depois do almoço, quando ainda saboreava a sobremesa, Ron recebeu uma coruja trazendo a resposta de Molly. Hermione, que estava no final da mesa, sentada com Gina, o olhou com um semblante triste. Ron também não estava feliz. Sentia que tinha feito algo errado. Talvez se precipitara ao seguir o conselho da mãe e presentear a amiga com o cordão. Guardou a carta no bolso, pensando em lê-la quando estivesse sozinho, no dormitório.


Não imaginava que seria abordado pela morena ao se levantar da mesa. “É a carta da sua mãe, não é? Eu gostaria de saber o que ela falou sobre o cordão”. Ron prometeu que informaria a menina sobre o conteúdo da correspondência assim que a lesse. Conversaram ainda sobre outros assuntos e, quando entraram na torre da Grifinória e o rapaz já começava a se despedir, a menina o entregou a caixinha lilás, pedindo para que guardasse o cordão ali.


Ron subiu ao dormitório ainda com a lembrança do olhar triste de Hermione. Por que tinha que ser assim? Queria tanto fazer a amiga feliz, foi com esse objetivo que lhe dera o cordão, e parecia ter fracassado uma vez mais. Não se fixou muito nesses pensamentos porque queria logo abrir a carta da mãe. Com ansiedade, começou a ler a correspondência.
 


Querido Ron,


Você fez muito bem em me escrever relatando o que está acontecendo. A magia desse cordão é muito poderosa, mas de modo algum muda destinos ou direciona os corações. O seu único objetivo é dar otimismo, melhor percepção e crença nos próprios sentimentos. Claro que isso pode motivar ações equivocadas caso não haja maturidade para ultrapassar os impulsos e agir segundo as próprias convicções.


A impressão que tenho – e por isso peço desculpas – é que me precipitei ao sugerir que você presenteasse Hermione com o cordão. Claro que o colar pertence a ela e deveria ser entregue por você, mas ao que indica esse não era o momento. Vocês dois precisam amadurecer ainda mais. Por isso peço que sugira a ela para deixar o cordão guardado por algum tempo. Caso Hermione não entenda e queira alguma explicação a mais, coloco-me à disposição para falar com ela.


Com todo meu amor, um beijo afetuoso,


Mamãe
 


O rapaz ficou algum tempo perdido em seus pensamentos. O que a mãe queria dizer com “seu único objetivo é dar otimismo, melhor percepção e crença nos próprios sentimentos”? Será que a atração forte que sentira pela amiga é porque percebera melhor algo já latente no próprio coração? E por que Hermione o olhava daquele jeito enamorado? Estaria acontecendo o mesmo com ela? Por que a mãe dizia “que precisavam amadurecer”? Eram muitas perguntas sem resposta. Mas o pior é que Mione, curiosa como era, não sossegaria enquanto ele não dissesse tudo que estava na carta.


No intervalo da primeira aula da tarde, como Ron imaginara, Hermione foi procurá-lo. Queria saber o que dizia a carta. “Não entendi muito bem. Vou ler um pedaço para você. Talvez compreenda melhor que eu”, disse, tirando um papel dobrado do bolso da jaqueta.


- Aqui diz que o único objetivo da magia presente no colar é “dar otimismo, melhor percepção e crença nos próprios sentimentos. Mas também pode motivar ações equivocadas caso não haja maturidade para ultrapassar os impulsos e agir segundo as próprias convicções”. Estranho, né?


Hermione não achava nada estranho. Agora entendia perfeitamente o que tinha experimentado. Por causa da magia do colar sentira convicção do seu amor por Ron e otimista quanto à correspondência do rapaz. Mas espera aí! Isso não faz sentido. Na descrição de Molly sobre o poder do cordão ela não dizia que quem o usasse teria percepção também do sentimento de outras pessoas.


- Ron, sua mãe não disse nada sobre o cordão poder influenciar outras pessoas além de quem o usasse? Você disse que estava sendo afetado pela magia do colar...


- Acho que me enganei – respondeu reticente e, imaginando que a menina iria bombardeá-lo de perguntas, completou – Mamãe disse que você pode escrever para ela caso tenha mais alguma dúvida. Agora preciso ir.


A menina não falou nada, mas logo viu que seria uma boa ideia escrever para Molly. Ron, que sempre tivera dificuldade de falar sobre os próprios sentimentos, com certeza não havia contado tudo que estava na carta.


À noite, sentada em sua cama, Hermione escreveu para a mãe de Ron. Na carta, agradeceu pela generosidade dela em passar o cordão para o filho presentear uma amiga. Perguntou ainda mais detalhes da magia do cordão e se essa poderia afetar outras pessoas, revelando que Ron havia dito que o feitiço o estava atingindo.


xxx


No final da tarde do dia seguinte, a coruja dos Weasley entregou uma carta a Hermione. Sorte que Ron não estava por perto, pensou a menina. Gina, porém estava e logo foi perguntar por que Mione havia recebido uma correspondência da casa dela. “Eu queria tirar uma dúvida com sua mãe sobre uma magia da qual ela me falou”. A ruiva, é claro, não se satisfez com essa resposta e quis saber mais. A morena, no entanto, disse que nada mais podia revelar. “Você, Ron e Harry têm tantos segredos... Tudo para derrotar Você-Sabe-Quem, não é?”, questionou. Dizendo que sentia muito por não poder falar mais, Hermione se despediu da amiga.


Mione correu para o quarto, torcendo para não encontrar com Ron. Queria ler a carta com tranquilidade. Não entendia porque, mas sentia grande ansiedade. Imaginava que Molly havia escrito algo revelador, que poderia mudar a sua vida. Mas não compreendia a razão de tanta expectativa. Sem perder mais tempo, abriu o envelope amarelado.

Querida Hermione,


Lamento que o presente tenha causado alguns transtornos. Esse cordão significou muito para mim, já que o usei em momentos felizes de minha vida. Estava com ele quando comecei a namorar Arthur, por exemplo.


Como já expliquei a Ron, o colar não direciona as ações das pessoas que o usam, apenas traz otimismo, convicção dos próprios sentimentos e escolhas, força para seguir o coração.


Quanto a dar esses mesmos “efeitos” em outros, como relatou que pode ter acontecido com Ron, caso exista muita afinidade entre quem usa e essa pessoa, é possível sim. Agora me lembro que Arthur ficava mais romântico e expressava mais os seus sentimentos sempre que eu estava com o colar.


Com relação ao Ronald, sugiro que tenha paciência com ele. Geralmente os rapazes demoram mais a amadurecer e têm mais dificuldade para entender e mostrar os próprios sentimentos. Ron, por sinal, não tem o dom da palavra. Mas, em compensação, é tão transparente! Se você prestar mais atenção no seu olhar e em pequenos gestos vai entender tudo o que se passa em seu coração.


Como os efeitos do colar não foram bem compreendidos, especialmente por ele, ao que parece, sugiro que deixe de usá-lo por um tempo. Logo você poderá voltar a usá-lo e entenderão plenamente como somos felizes quando seguimos o coração.


Com os meus votos tardios de feliz aniversário, lhe desejo muitas alegrias,


Afetuosamente,


Molly
 


A menina releu a carta algumas vezes. Cada palavra estava repleta de significados. Então a magia do cordão só confirmava o seu forte sentimento por Ron? De fato, isso parecia se comprovar. Muitas vezes ela tinha dúvidas se deveria seguir o coração, já que o ruivo parecia não gostar dela da mesma forma e em alguns momentos chegava a destratá-la. Quando usou a joia perdeu todas essas dúvidas e teve certeza de que era correspondida. Parecia que tudo que experimentara se encaixava exatamente na descrição de Molly sobre a magia do colar. Hermione estava mais otimista, convicta do amor que tinha pelo ruivo e sem medo de seguir o próprio coração.


O trecho da carta em que Molly dizia que Arthur ficava mais romântico e expressava mais os seus sentimentos quando ela usava o colar fez o coração de Hermione bater mais rápido. Será que Ron também tinha o impulso de revelar seu amor pela amiga e por isso ficara tão incomodado com o colar? Não, isso não fazia sentido, pensava a menina, sempre tão racional. O ruivo parecia ter medo dela, talvez por perceber a paixão da amiga por ele.


No entanto, foi o conselho de Molly para que tivesse paciência com Ron que a fez estremecer. A menina perdeu as contas das vezes que releu aquele parágrafo, parando em cada palavra:


Geralmente os rapazes demoram mais a amadurecer e têm mais dificuldade para entender e mostrar os próprios sentimentos. O que Molly queria dizer com isso? Será que o amigo gostava dela, mas não tinha convicção plena disso ou sentia medo?


A menina voltou à leitura. Ron, por sinal, não tem o dom da palavra. Mas, em compensação, é tão transparente! Se você prestar mais atenção no seu olhar e em pequenos gestos vai entender tudo o que se passa em seu coração.


Com a respiração suspensa, a menina lembrou as muitas e significativas trocas de olhares com Ron. Em alguns desses momentos teve certeza de que o rapaz não a queria apenas como amiga, que a desejava como namorada. As palavras dele, por vezes agressivas, contradiziam isso. Mas agora Molly dizia que ela deveria estar mais atenta ao olhar e aos pequenos gestos do rapaz.


Lembrava das vezes que o amigo a defendera, expressara o seu carinho com sorrisos, presentes, elogios também. Precisava acreditar mais nisso, seguir o próprio coração, como dissera Molly.


Para completar o texto recheado de entrelinhas, Molly terminou a carta, sempre direcionada a menina, na segunda pessoa do singular, dirigindo-se a segunda pessoa do plural. Entenderão plenamente como somos felizes quando seguimos o coração. Parecia que agora Molly falava para ela e Ron. Mas por que, se perguntava a menina.


Na manhã seguinte, Hermione encontrou Ron na sala comunal e os dois desceram juntos para o refeitório. Gina não tinha guardado segredo sobre a correspondência recebida pela amiga e o ruivo foi logo perguntando se a mãe tinha escrito para ela. Quando a menina disse que sim, o rapaz quis saber o que Molly havia falado e foi a vez da morena economizar palavras.


- Ron, sua mãe apenas explicou, de uma forma mais didática, o que já tinha escrito para você. Nada demais. Mas agora entendi que é melhor mesmo não usar o colar. Pelo menos por enquanto.


xxx


 Para ouvir antes, durante ou depois de ler o capítulo: 


Something

http://irpra.la/m/49038

Something in the way she moves
Attracts me like no other lover
Something in the way she woos me

I don't want to leave her now
You know I believe and how

Somewhere in her smile she knows
That I don't need no other lover
Something in her style that shows me
(…)


 


 

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Comentários (3)

  • Kath Torres

    Essa fic é maravilhosa demais !!!

    2020-05-25
  • Morgana Lisbeth

    Oi, Gego! Que bom que está se distraindo com a fic... Devo confessar que me diverti muito escrevendo. Pode deixar que vou tentar atualizar diariamente. Nos fins de semana e feriados é que é mais difícil. Mas são 18 capítulos (se não estou enganada) e espero que vc continue curtindo! :)

    2012-04-20
  • Gego

    NÃO, não para de postar, por favor. Assim tu terminas de me matar, sério. Tá tudo tão perfeito ;(Desculpa não ter postado ontem. Eu tô no último ano escolar e, com  a pressão de ENEM, escolha profissional e tudo mais, minha vida virou uma loucura - não tenho tempo pra quase nada. Se você ainda não sabe, sua fic, sim, somente a sua, é minha única distração. Então, não faz essa maldade comigo. :( Ontem mesmo fiz um simulado. Não consegui tempo pra comentar, desculpa. Mas fique sabendo que sempre arrumarei um tempinho pra dar uma olhada na fic, prometo.Beijos, da sua FIEL leitora.Ps: Ainda não tive a oportunidade de olhar as músicas... O pc não liga e tenho que usar o celular. Mas quando essa fezes ligar, eu olho. 

    2012-04-20
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