Epílogo



Oito minutos depois...


 


Rony e eu andávamos de mãos dadas de volta para minha casa, e, como de costume, eu me equilibrava no meio-fio, sendo apoiada por ele.


 


No meio do caminho, quando estávamos chegando em casa, eu parei.


 


--O que foi? –Ele perguntou me enlaçando pela cintura.


 


As borboletas no meu estômago alçaram vôo; todas ao mesmo tempo. Eu sorri carinhosamente para ele, com meu coração a mil. Como eu amo esse ruivo!


 


--Só quero fazer uma coisa. –Eu contei, mexendo em uma mecha de cabelo vermelho dele. –Uma coisa que não deu certo há alguns dias...


 


--E eu posso saber o que é? –Perguntou maroto.


 


Eu não respondi com palavras, apenas colei meus lábios nos dele. Sem receio, medo, ou qualquer outra barreira. Afinal, todos os obstáculos haviam sumido há alguns minutos, quando ele me beijou de verdade pela primeira vez. Dessa vez, nem a guia me impediu.


 


 


 


•  Oito horas depois...


 


Estou no meu quarto, deitada e encarando o teto. Já está amanhecendo, a minha festa acabou há algumas horas. Não consigo mais parar de sorrir, e também não consigo dormir. Mas não sinto sono; estou com uma energia como nunca antes. Ronald me faz tão bem!


 


Meus pensamentos estão todos direcionados à casa ao lado. Me pergunto em que o meu ruivo estaria sonhando agora. Será que eu estou no meio?


 


Como uma resposta aos meus pensamentos, ouvi um barulhinho vindo da minha mesa de cabeceira. Estendi a mão e peguei meu celular. “Nova mensagem”; estava escrito.


 


Eu sorri ao ver de quem era. Abri a mensagem, que dizia o seguinte:


 


“Vá à janela, o nascer do sol está lindo. Amo você”.


 


Eu obedeci à mensagem. Me levantei, abri as cortinas e empurrei a janela. Exatamente na minha frente, Ronald estava debruçado no parapeito da janela dele, com o celular na mão, olhando para o lado direito, em direção à rua. Quando eu abri a minha janela, ele me olhou com um sorriso nos lábios, que eu retribuí.


 


Ele não me disse nada, apenas indicou com a cabeça o lado que estava olhando anteriormente. Eu segui o olhar dele e fiquei maravilhada ao ver o sol nascendo, vendo as estrelas dando passagem aos raios do sol.


 


Ficamos admirando o espetáculo juntos. Quando o sol já se firmava no céu, nós nos encaramos.


 


--Boa noite. –Eu pude ler nos lábios dele.


 


--Te amo. –Respondi de volta.


 


Tornei a fechar as cortinas e a janela, e me acomodei na minha cama, mergulhando logo nos sonhos mais ruivamente lindos que se possa imaginar.


 


 


 


•  Oito semanas depois...


 


Só depois de dois meses tivemos que enfrentar a nossa primeira briga. Estávamos em época de provas, e ele estava decidido à não me deixar fazer uma revisão das matérias. Fiquei furiosa, e acabamos nos desentendendo.


 


Foi ali a primeira vez que eu senti um frio desgostoso na barriga. Não queria brigar com ele, mas quando vi já estava tarde. Nesse momento, ele está esparramado e emburrado na cadeira do refeitório, com as pernas por cima da mesa. Gina e Harry estão conversando e comparando resultados de provas e eu estou tentando ler a mesma linha do livro de história há dez minutos, sem sucesso.


 


Bufei alto, atraindo o olhar dos três, e joguei o livro na mesa. Ele tornou a desviar seu olhar de mim, então fui até ele.


 


--Vai ficar assim até quando?


 


Ele resmungou alguma coisa ininteligível. Eu revirei os olhos. Puxei uma cadeira ao lado dele e me sentei, não sem antes tirar a perna dele de cima da mesa, o que resultou em mais um resmungo.


 


Segurei a mão dele, e só então recebi um olhar na minha direção. Eu tinha pegado pesado com ele.


 


--Me desculpa? –Pedi num sussurro.


 


Droga, nessas horas as lágrimas não deveriam existir. Segurei o máximo que pude, mas uma escapou do meu controle.


 


--Sempre. –Quase não acreditei quando o ouvi responder isso.


 


Olhei bem nos olhos dele. Nos aproximamos e ele gentilmente me beijou. Amo os beijos dele.


 


Aquela era a nossa primeira briga como namorados, e era a nossa primeira briga com o desfecho agradável, desde que somos amigos. Naquele beijo eu percebi que tudo estava bem, e que sempre seria assim.


 


 


•  Oito meses depois...


 


Estamos no meio de uma aula de química, com o professor Snape. Ele está com seu mau-humor habitual, e desde quando a notícia do meu namoro com o Ronald se espalhou por Hogwarts, ele começou a pegar mais ainda no nosso pé, dando indiretas cada vez mais indiscretas e diretas para nós dois.


 


--Potter, esta é a terceira vez que eu chamo a sua atenção. Se não está interessado na minha aula, por que entrou?


 


Harry, que estava inquieto na cadeira, fechou a cara. Mas ainda assim, no que eu encarei como uma coragem gigantesca, pediu:


 


--Posso ir beber água?


 


--Não. –Snape foi curto e grosso.


 


Com um sorriso de satisfação pela expressão de Harry, o professor voltou a nos explicar a Teoria dos Octetos.


 


Nem eu, nem Ronald sabíamos o motivo da inquietação de Harry, que estava presente desde que o encontramos na esquina da escola. Ele parecia aflito, ansioso, mas não soubera explicar o porquê.


 


Logo que o sinal da segunda aula bateu, o que não nos animou muito, já que teríamos mais uma aula com o Snape, alguém bateu na porta. O professor crispou os lábios, ele odiava ser interrompido, e abriu a porta. Era a professora Minerva.


 


--Com licença professor Snape. Preciso de três alunos: Potter, Weasley e Granger. Podem recolher seus materiais, vocês estão dispensados. –Ela disse.


 


Foi Snape quem fez a pergunta que veio na minha mente:


 


--Posso saber o motivo de retirar três alunos da minha aula, Minerva?


 


Seu tom era baixo, para que o restante da sala não ouvisse direito, mas como nós três estávamos na frente, pudemos ouvir.


 


--Oh, claro. O Thiago Potter quem pediu para que eles saíssem, parece que Lílian está no hospital e quer que os três vão para lá. Ela está grávida.


 


Pude ver as narinas de Snape tremerem. Ele simplesmente odiava o pai do Harry, desde quando estudaram juntos. Tenho certeza que é por causa da tia Lily, acho que ele é apaixonado por ela.


 


Mesmo com uma resposta, Snape não se deu por vencido.


 


--E por que Granger e Weasley?


 


Eu parei no meio do caminho de guardar meu fichário na mochila. Só faltava ele me impedir de sair! Minerva, meio impaciente com as perguntas, respondeu em tom definitivo:


 


--Granger é sobrinha dos Potters, e Weasley é da família. Os pais deles não se opuseram ao pedido de Lílian.


 


Tive que segurar o riso ao ver a cara de desagrado do Snape. Olhei para Minerva, que estava do mesmo jeito. Harry, do meu lado, parecia querer sair correndo da sala, dava pra perceber que ele havia jogado as coisas na mochila, pelo tamanho que ela estava. Rony, por sua vez, estava descontraído quando pegou dois livros que estavam na minha mão para carregá-los.


 


Snape não respondeu mais nada, nem questionou. Simplesmente voltou ao centro da sala e retomou sua explicação. Nós três, entretanto, seguimos MacGonaggal.


 


Sirius Black, padrinho do Harry, estava nos esperando na diretoria. Ele é muito amigo do Thiago, e eu adoro ele!


 


--Ei, Harry! –Ele abraçou o afilhado – Hermione, Rony. Como estão? –Ele nos abraçou também. –Soube do namoro. Sabia que vocês se gostavam, fiquei feliz.


 


Sorri timidamente.


 


--Vamos? Tem alguém querendo vir ao mundo, e que nos quer lá agora.


 


Concordamos e fomos até o carro de Sirius. Ele ligou o rádio e sintonizou em uma estação qualquer. Harry estava visivelmente nervoso; ele suava frio e não parava de esfregar as mãos.


 


--Você está igualzinho ao seu pai. –Sirius comentou – Quando ele ligou no meu celular dizendo que Lily estava indo no hospital e que era pra eu pegar vocês, a voz dele estava tremendo. Me lembrou de quando você nasceu.


 


Harry riu um pouco, e pareceu se acalmar. Perguntou:


 


--Meu pai ficou nervoso?


 


--Muito. Achei que a sua mãe ia bater nele, porque em vez de acalmá-la, ele estava estressando-a.


 


Os risos encheram o carro. Minutos depois, e com Harry bem mais calmo, desembarcamos no hospital.


 


Na sala de espera, mamãe e Molly nos esperavam. Papai e Arthur estavam trabalhando, e meu tio estava com Lily na sala de cirurgia. Nos cumprimentamos e nos sentamos, embarcando em um silêncio de machucar os tímpanos por alguns minutos; mas logo a conversa voltou, baixa.


 


Rony e eu estávamos sentados de mãos dadas, e conversávamos baixinho, até que uma enfermeira vestida de branco chegou.


 


--São os Potters?


 


Assentimos, afinal, éramos da mesma família. Ou quase.


 


--Ocorreu tudo bem, Lílian está ótima, descansando. A criança está no berçário.


 


--Podemos vê-los? –Harry interrompeu afobado.


 


--Deve ser o Harry. –Ela comentou  – Lílian pediu para que deixássemos você conhecer sua irmã assim que nascesse. Pode vir. Em grupos de quatro.


 


--É uma menina? –Harry se emocionou. –Eu sabia que era uma menina! Eu ganhei a aposta, Sirius!


 


Harry agora chorava discretamente, com um sorriso nos lábios.


 


--Entre com as crianças, Sirius. –Mamãe sugeriu. –Antes que o Harry tenha um ataque do coração.


 


Nem precisou dizer duas vezes, e lá estávamos nós, indo em direção ao berçário.


 


Na frente da enorme janela de vidro, Thiago estava encostado e desnorteado, mas visivelmente radiante. Dentro da sala pude ver vários bebês, mas apenas um, bem na fileira de berços a frente, estava enrolado em panos cor-de-rosa.


 


--Parabéns, papai. –Sirius abraçou o amigo, mas logo deu espaço para Harry fazer o mesmo.


 


--Pai! A enfermeira disse que é uma menina. É verdade?


 


--Sim, Harry. É a nossa pequena Sarah.


 


Até o ultimo momento a família Potter decidiu manter o segredo do sexo da criança, queriam surpresa. Mas Harry, desde o principio, tinha absoluta certeza de que teria uma irmã.


 


Enquanto os três conversavam no canto, Rony e eu admirávamos o pequeno embrulhinho visivelmente ruivo, como a mãe, que dormia profundamente.


 


--Ela é linda, não é? –sussurrei para Rony.


 


--Sim. Ainda bem que não puxou ao Harry. –ele respondeu no mesmo tom.


 


--Ela é ruiva. –observei –Aposto que você terá filhos ruivos, também.


 


--Está errada.


 


Eu estranhei a resposta dele.


 


--Como? Sua família inteira é ruiva. É bem provável que seus filhos sejam ruivos.


 


--Errou, Hermione. Não serão meus filhos. Serão nossos filhos.


 


Não me segurei e o beijei, no meio do corredor do hospital. Se aquilo era um convite para passar o restante da minha vida do lado dele, eu aceitei. Mesmo tendo apenas quinze anos, e a certeza de que não tinha certeza de nada que viria pela frente.


 


 


•  Oito anos depois...


 


 


Rony e eu estamos hoje com vinte e três anos e casados. Sim, nos casamos! A cerimônia foi há quase um ano, e foi realmente perfeito. Um dos dias mais felizes da minha vida.


 


Eu trabalho com os meus pais no consultório, terminei a faculdade de odontologia pouco antes de me casar. Rony trabalha na polícia, quer entrar no FBI. Essa profissão me preocupa, mas só mostra como o meu marido é corajoso. E eu estou grávida, de nove meses.


 


Harry e Gina também estão casados. Aliás, fizemos os dois casamentos na mesma cerimônia. Gina trabalha em um jornal local, e Harry trabalha com Ronald. Eles já têm um filho, o Thiago.


 


O dia está amanhecendo. Rony está, como de costume, roncando ao meu lado. Sorri pra ele e me levantei, com esse barrigão é impossível ficar na mesma posição por muito tempo, sem contar que pareço estar sofrendo de incontinência urinária desde que engravidei.


 


Assim que me levantei, vi uma poça d’água se formar no chão, bem abaixo de mim. Respirei fundo e, detectando o ‘problema’, chamei:


 


--Rony, Rony! Minha bolsa estourou!


 


Não podia entrar em pânico agora, mas ele não acordava! Tive que gritar:


 


--RON!  A minha bolsa E-S-T-O-U-R-O-U!


 


Ele virou na cama.


 


--O que eu posso fazer, querida? Depois você compra outra... –Ele resmungou e voltou a dormir.


 


--RONALD WEASLEY, MINHA BOLSA ESTOUROU E SUA FILHA VAI NASCER! –Berrei.


 


Mal vi como ele se levantou, só sei que no segundo seguinte ele estava como um desesperado pelo quarto, procurando a mala do hospital. Mas ele parou no meio do caminho.


 


--Você está bem? Está com dor?


 


--Está tudo sob controle. Ande, pegue as coisas e se troque!


 


Ele se arrumou e eu coloquei um vestido, não podia ir de pijamas para o hospital.


 


Logo estávamos dentro do carro, voando para o hospital. Depois que Rony ultrapassou o terceiro sinal vermelho, eu me descontrolei:


 


--Ronald, eu não quero morrer em um acidente de carro!


 


Ele freou bruscamente e eu gritei de dor.


 


--Te machuquei? –ele se desesperou. –Ah, meu Deus! O que foi que eu fiz?!


 


--Não foi você. Eu estou tendo contrações! –Gritei de novo. –Volta a dirigir, não quero ter meu filho no meio da rua.


 


E ele voltou a acelerar.


 


*


 


A única coisa que eu me lembro antes de ter entrado na sala de cirurgia foi de sentir a mão de Rony apertando a minha. Depois disso, me concentrei apenas em trazer minha filha ao mundo, cumprir meu papel de mãe. Não senti dor, apenas felicidade quando colocaram minha pequena no meu colo.


 


Cerca de duas horas depois do nascimento, eu ainda estava cansada. Não tinha mais visto o Rony, nem minha bebê.


 


Com dificuldade, eu me levantei, meio tonta, e me sentei na cama.


 


--Ei, vai com calma! –Ouvi uma voz do meu lado. Era ele. –Você está bem?


 


--Estou. –Murmurei. Ele se sentou ao meu lado. –Onde ela está? Você a viu? Quem mais está aí? Posso vê-la? Ela tem que mamar!


 


--Calma. Ela está bem, estávamos só esperando você acordar para trazê-la. Ela é linda. –Ele acrescentou meio bobão. –Seus pais estão aí, e os meus também. Harry e Gina chegaram primeiro. Logo depois vieram Fred e Jorge, Carlinhos, Gui e Fleur, e Percy, por fim. Neville e Luna disseram que vem mais tarde. Se você quiser, podemos ir até o berçário agora. Mas, se você ainda estiver muito cansada, posso pedir para a enfermeira...


 


Nem deixei ele terminar. Me levantei, e ele me apoiou.


 


--Vamos juntos. –Anunciei.


 


Fomos caminhando devagar até a sala com uma grande parede de vidro. Dentro havia vários bercinhos ocupados, mas eu soube na hora qual era a minha filha.


 


Minha ruivinha estava no ultimo berço do lado direito. Não tinha ninguém ali no momento, eu estranhei. Rony, vendo meu olhar, disse:


 


--O médico os expulsou. Era muita gente.


 


Ri para ele, e nos aproximamos.


 


--Ela é linda. –Dissemos em uníssono, como se tivéssemos combinado.


 


Nos entreolhamos e ele me deu um beijo, sussurrando em seguida:


 


--Obrigada, Mi. Ela é o melhor presente que alguém já me deu na vida.


 


--Eu disse que você teria filhos ruivos, não disse?


 


--É, e eu disse que nós teríamos filhos ruivos, não disse?


 


Em resposta, eu me abracei nele, apoiando minha cabeça em seu peito. Ficamos ali por um longo tempo, até a minha pequena resolver chorar, querendo mamar; o que ela fez com uma vontade maior que a normal, mostrando que tinha o estômago constantemente vazio do pai.


 


*


 


Depois do nascimento da minha pequena Rose Granger Weasley, a minha vida mudou. Não só a minha, mas a de Rony também. Nosso casamento ficou mais estável, e paramos de brigar por coisas bestas, mas não totalmente; afinal, uma briga sempre apimenta o casamento, não é? Um ano depois, nosso filho mais novo, Hugo, também veio ao mundo, pra completar a nossa família.


 


Às vezes eu paro para analisar a minha vida, e agradeço intimamente por morar desde pequena na casa ao lado de uma família enorme e ruiva, e me desentender desde sempre com o mais novo dos filhos. Agradeço também, por ter me apaixonado por ele, que é a pessoa mais doce e teimosa do mundo, que completou minha vida, e me faz mais feliz do que qualquer outra pessoa no mundo.


 


E, agradeço mais ainda, pelo presente de aniversário maravilhoso que, apesar de ter que enfrentar um pequeno obstáculo, eu agarrei –literalmente –quando  eu tinha meus quinze anos.



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