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Até o fim de semana eu não conversei com o Ronald. Ele me cumprimentava e eu cumprimentava ele, mas estava tudo muito formal. Era isso que eu temia: acabar a amizade por nada.


 


Mas, mesmo assim eu resolvi dar um tempo pra ele. Garotos são lerdos, quem sabe ele não estava pensando no que iria fazer para mim? Tá, eu sei que às vezes eu vou longe, mas, sinceramente, que menina nunca teve a esperança maior do que a realidade?


 


E cá estou eu, em pleno sábado a tarde, lendo um livro babaca, ou pelo menos tentando. E que fique claro, eu amo livros, mas hoje eu não queria ler. Eu queria sair, de preferência com um ruivo lindo e maravilhoso.


 


Ah! Terça-feira é meu aniversário. Pedi um celular novo pra minha mãe, daquele que até come por você, sabe? Ela já me deu, mas eu fucei tanto ontem que perdeu a graça.


 


Eu li e reli, por mais de cinco vezes a mesma frase, mas não consegui absorver nem uma sílaba. Até que eu escutei a campainha tocar. Como eu não estava fazendo nada de útil, fui atender.


 


Assim que eu abri a bendita porta, meu coração deu um pulo e meu estômago um solavanco. Ali, na minha frente, estava Ronald Weasley, bem arrumado, perfumado, com os cabelos vermelhos penteados e uma rosa branca na mão.


 


--Oi. –Ele disse.


 


Eu não respondi nada, e ele sorriu de lado.


 


--É para você. –Ele me deu a rosa. Era incrível, o cheiro dele estava nela. –Seu pai está aí?


 


--Meu pai?


 


É simplesmente impossível ele querer falar com meu pai. Ele morre de medo do meu pai! Desde que presenciou-o dando um ‘passa fora’ em um ex-namoradinho meu, o Vítor. Faz um ano isso, e desde aquele dia ele mantinha distancia do meu pai.


 


--Sim, Filipe Granger, seu pai. Ele está ocupado? Eu queria falar com ele.


 


Eu mandei o Rony entrar.


 


--O que você quer falar com ele?


                   


O ruivo perdeu o sorriso, e eu pude ver uma sombra de nervosismo perpassando por sua face.


 


--Preciso conversar com ele, Hermione.


 


Eu bufei e mandei-o se sentar no sofá, mas ele não quis. Fui chamar o meu pai, que estranhou o chamado.


 


--Ronald? –meu pai indagou assim que entrou na sala.


 


Rony engoliu em seco e se adiantou, apertando a mão do meu pai.


 


--Sr Granger, como vai?


 


Tá, o Ron não é do tipo educadinho, mas também não é sem-educação.


 


--Bem, bem. E você? Sente-se.


 


Rony obedeceu e se sentou de frente para o meu pai. Eu me sentei no braço do sofá, queria saber do que se tratava.


 


--O que te traz aqui?


 


Meu pai quem perguntou.


 


--Senhor Granger, é um assunto complicado. –Meu coração saltitou – É sobre, bem... Hermione.


 


Eles me olharam.


 


--Quer que eu saia?


 


É claro que se eu saísse, eu ia escutar atrás da porta.


 


--Não precisa. –Ron respondeu. –Na verdade, é bom você estar aqui.


 


Tá, agora eu tava enfartando. Será que ele ia fazer o que eu queria que ele fizesse?


 


--Senhor Granger, eu quero que saiba que tenho ótimas intenções, e que... –Ele respirou fundo. –Posso namorar com a Hermione?


 


Acho que o texto dele não era bem assim, mas eu nem liguei. Senti meu rosto se contrair no maior sorriso do mundo, e senti meu coração batendo como nunca antes. Rony suava frio, e meu pai parecia ter sido esbofeteado.


 


--Você quer namorar com a Hermione?


 


Pai, já entendemos o que ele perguntou. Pra quê repetir?


 


--Sim senhor. –Ron confirmou.


 


Meu pai fechou os olhos por um momento, e, ainda sem abri-los, respondeu:


 


--Se for da vontade dela...


 


Os dois me olharam, e eu assenti com a cabeça, eufórica. Minha mãe, que aparecera na porta logo no início da conversa, sem eu ver, soltou uma exclamação baixa.


 


--Meu rapaz, eu quero que saiba onde está se metendo. Ela é a jóia mais preciosa que temos, e se você fizer algum mal à ela, quem vai sofrer é você.


 


Ron engoliu em seco.


 


--Tem certeza que é isso que você quer?


 


--Sim.


 


AAAAAAHHH! Ele ainda confirmou. Deus, vou desmaiar.


 


--Então, agora é com ela. Você tem a minha permissão. E acho que a da Jane também.


 


Papai indicou minha mão, que estava quase dando pulinhos perto da porta.


 


Ron, então, se levantou e ficou mais perto de mim. Ele tirou uma caixinha preta do bolso da calça e abriu, revelando duas alianças de prata com nossos nomes gravados. Pirei.


 


--Mione, você quer namorar comigo?


 


A mão dele tremia. Fiquei com dó. Respirei fundo e respondi o seguinte:


 


--Você sabe a resposta.


 


Ele pareceu ficar mais nervoso, então eu acrescentei:


 


--É claro que sim.


 


Achei que ele fosse cair ali, diante de mim. Me coloquei no lugar dele, e vi que eu não teria coragem de fazer isso.


 


Com carinho, ele pegou a minha mão e colocou a aliança, e eu fiz o mesmo com ele.


 


Depois, ele me puxou pela mão e me abraçou. Eu fechei os olhos e curti o momento. Nosso abraço durou bastante tempo.


 


--Então, meus queridos, vou preparar um lanche. Vocês vão comprar pão fresco?


 


Aposto que ela fez isso só para podermos sair juntos. Já disse que eu amo a minha mãe? Sim, eu a amo.


 


Ron soltou o abraço e segurou a minha mão. Depois, pegamos dinheiro e fomos juntos até a padaria.


 


O clima estava meio estranho entre a gente, enquanto andávamos lado a lado na rua. Ele segurou a minha mão, e com a outra brincava com meu celular. Acho que ele estava com a mesma vergonha que eu. Não trocamos muitas palavras no percurso.


 


Depois de voltarmos pra casa, conversamos coisas banais com a mamãe. Assistimos televisão, sentados um do lado do outro, mas não houve nenhuma forte aproximação.


 


Já estava tarde quando ele resolveu ir embora. Não que fizesse muita diferença o horário que ele saísse, já que éramos vizinhos.


 


A rua estava deserta quando eu fui levá-lo até o portão. A lua estava bonita no céu. Nós nos encaramos por um momento. Foi algo incrível poder mergulhar sem pudores naquele mar azul dos olhos dele.


 


Ficamos assim por um tempo, não sabíamos como prosseguir. Até que ele me abraçou, colocando a mão na minha cintura. Meu sorriso sumiu e eu comecei a suar frio.


 


--Então é isso, né? –Ele disse.


 


--É. – concordei.


 


Ele deu um sorrisinho e se aproximou de mim. Quanto mais ele se aproximava, mais meu pescoço ia para trás. Até que aconteceu o que eu temia: ele me beijou.


 


Mas não foi um beijo de verdade, foi só um simples selinho, porque eu não consegui continuar e me afastei rápido. A expressão dele estava meio decepcionada, mas eu tenho certeza que ele me entenderia.


 


Nos despedimos com um ‘tchau’ e ele foi pra casa dele.

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