Hogwarts, uma história



A cautela era essencial para se desbravar por aquela floresta ao anoitecer e sabiam que o recurso a ser evitado era a magia. A sinalização de proximidade estava marcada no tronco de uma árvore: uma seta talhada à mão com auxílio de magia. Adiante se encontrava uma clareira em uma pequena depressão, de cujo centro irradiava a luz originada em uma fogueira. Aproximaram-se do fogo e, quando notaram, vultos surgiram por detrás das árvores, cercando-os por completo. Um deles postou-se à frente dos demais; sobre um arco sua mão estava fechada, enquanto a outra pousava levemente às setas em uma aljava que crescia de suas costas.


- Qual o teu desígnio? – a pronúncia do centauro assemelhava-se ao acento escocês.


- Chamo-me Rowena Ravenclaw... Está magnífico o céu, assim como todas as noites. Suponho que tenha lido nossa iminente chegada por meio das constelações. Nosso propósito possui fins pacíficos; visamos o bem-estar mútuo e a aliança entre ambas as raças... – começou Ravenclaw graciosamente.


- Notório o esplendor de uma noite estrelada e decerto que a leve alteração na direção de Leão Menor alertou-me quanto a novos visitantes, e grandes feiticeiros, segundo a inclinação da Cassiopéia informou. Provêm de regiões distintas e longínquas, trazem consigo um propósito plausível. Todavia, convém indagar, estaríamos interessados em realizar um acordo com seres tão volúveis quanto os humanos?


- Primeiramente, gostaria que escutasses a proposta para então refutá-la ou não. Nós quatro, por bem do mundo bruxo, decidimos construir uma academia que leciona magia para os jovens iniciantes. Não encontramos território tão propício quanto este. Esperançosos nós estamos em relação a um futuro melhor, e por isso agimos – explanou-se a bela Rowena com serenidade. – Entretanto, a localização que pretendemos utilizar se resume às três colinas próximas ao lago; por esta imensa floresta, habitat de fantásticos seres mágicos, seria o castelo rodeado, portanto. Para tanto devemos retirar a vegetação e temos o conhecimento de que isto pode influir não somente em vosso cotidiano, como de todas as demais criaturas – apesar de vós sereis os únicos de intelecto, se não semelhante, superior ao nosso. Por isso viemos – e peço perdão por nossa intromissão –, com finalidade de chegarmos a algum consenso.


- Pois bem – prosseguiu – certamente o cumprimento de nosso acordo depende fundamentalmente das próximas gerações e, por este mesmo motivo, adiantamos um planejamento quanto a regulamentos, preparando-nos para este momento caso a resposta seja afirmativa.


- Entendo-te, grande feiticeira, e creio que todos nós compreendemos a situação. Escutei atentamente ao teu discurso e minha audição captou sua ciência e erudição, e indulte-me a indelicadeza de não ter-me apresentado: sou o centauro-ancião Muliphen. Tuas palavras sábias despertaram meu interesse acerca dos seres humanos. Quanto à questão, a tua proposição inclinado eu estou a aceitar, jovem feiticeira. Todavia, estaremos sujeitos a diversos tipos de privações e não foi apresentado nenhum argumento a nosso favor.


- Exatamente, a partir dos regulamentos a serem criados, será proibida a entrada a esta floresta a qualquer aluno ou funcionário sem termos permissão de sua tribo; a quebra está relacionada a severas punições. Ademais, lançaremos encantamentos para evitar que humanos não-mágicos intrometam-se em todo esse território, provavelmente criaremos a ilusão de um balcão baldio. Caso ainda assim insistam, em suas mentes surgirá um ímpeto que será um incômodo e não desaparecerá até ser saciado, isso é capaz de dispersar seus pensamentos sobre adentrar esta região...


- Alvo...


- Peço, então, que retornais à luz da próxima lua cheia e transmitir-vos-emos o ultimato...


-... lendo Hogwarts: uma história novamente? – perguntou Elifas sentando-se ao lado do jovem Dumbledore. – Não larga um bom livro, não é mesmo?


- Com certeza que não, Elifas – respondeu sorrindo.


Descansou o livro no braço da poltrona em que estava sentado e observou o ambiente. Poltronas, sofás, pufes, cadeiras, mesas, a lareira e mais alguns ornamentos davam àquele lugar um aspecto aconchegante. O brasão da Grifinória reluzia em cima da lareira que tinha suas chamas dançando de uma forma hipnotizante.


- Por que não lê este livro também? – perguntou Alvo.


- Quando você der uma chance eu leio – riu-se Elifas.


Dumbledore olhou de relance ao livro. Diferente dos demais sobre o mundo mágico, tinha uma atração ainda maior por aquele. Era como um imã e ele uma peça de metal.


- Já fez aquele trabalho da Profª Merrythought? – perguntou Elifas mudando de assunto.


- Sim, e você?


- Eu estou com algumas dificuldades. Não encontrei as anotações que havia feito sobre os diabretes! Com certeza Youth deve tê-las rasgado. Aquele maldito sonserino!


- Claro – subiu até o dormitório, guardou o livro dentro do bapu aos pés de sua cama de dossel, e retornou para o Salão Comunal. Elifas o esperava de pergaminho, pena e tinteiro em mãos. Entregou-lhe seu trabalho.


- Está bom – concluiu Alvo depois de ler a última linha. – Os detalhes que faltam não são relevantes o suficiente para a professora descontar pontos de você, portanto, acho que é melhor começar a escrever sobre os diabretes. Anote o que vou ditar.


Boa parte da noite foi gasta para termina-lo. Elifas parecia cansado quando o relógio anunciou a meia noite; Alvo, no entanto, estava acordado o suficiente para ajudar o amigo.


Entregaram-no pela manhã do dia seguinte. Galatéia Merrythought, uma bruxa acima do peso e de uma estatura mediana, passou pelas mesas recolhendo os trabalhos. Mas seus olhos se fixaram especificamente no de Alvo; os demais ela colocou por baixo. Um sorriso transpareceu pelo seu rosto e os depositou sobre sua mesa, virando-se para os alunos e começando, então, a aula.


Os professores já estavam acelerando o ritmo das aulas, o número de deveres de casa parecia estar em progressão aritmética. Alvo acostumou-se a auxiliar alguns estudantes da sua turma e casa quando estes tinham algumas dúvidas, entre eles Elifas e Harvey Ridgebit.


Harvey era um rapaz robusto de cabelos ruivos e vivos que havia feito amizade com os dois. Alvo via seu próprio irmão em Harvey: o físico falava mais do que a palavra. Muitos daqueles que intimidavam Elifas procuravam se esconder quando o viam à companhia do garoto. Também não se assustou muito com as marcas no rosto do amigo, pois seu pai trabalhava com transporte e domesticação de dragões e havia lhe ensinado muito sobre eles.


Dumbledore já se sentia mais confortável, sabendo que poderia contar com dois amigos, pelo menos. Desde o começo fora difícil para ele se adaptar aos alunos, todos se lembravam lucidamente do infortúnio de seu pai. E esse era o foco nas conversas quando alguém inesperado chegava para falar com ele.


- Seu pai... Percival Dumbledore, certo? – Perguntou um rapaz que parecia ser de série superior, enquanto andava solitário pelos corredores.


- Sim – disse com firmeza.


- Ele... bem... assassinou aqueles trouxas como dizem?


- Se alguém o disse que ele assassinou alguém, devo lhe dizer, então, que isso é mentira. Porém... sim, ele torturou rapazes não-mágicos – disse Alvo.


- Por que raios alguém faria isso?


- Não sei...


- “Devo lhe dizer, então, que isso é mentira” – repetiu o outro ironicamente.


- Portanto, se eu sei, não poderei contá-lo – disse como uma espécie de brincadeira, sorrindo. – E não nego o ataque que, como muitos dizem “selvagem”, ele realizou no passado.


- Passado? Isso é atualidade, tanto que está preso, não é?! E você?! Falando desse modo parece até normal!


- O que foi feito não dá para mudar, é passado.


- Não é tão simples assim... Custa-me acreditar que o Chapéu colocou-o na casa errada.


Alvo tinha que encarar um a um com o coração apertado. Cada conversa depois ecoava em sua mente e, por um momento, imaginava como seria contar a verdade; entretanto, a resposta retornava indubitável: trairia a confiança de sua mãe e o sacrifício de seus pais.


Assim, uma máscara foi colocada sobre sua face pelas pessoas que não o conheciam de verdade. Na concepção delas, ele apoiava a atitude do pai e também odiava os trouxas. Alvo estava cansado disso e não poderia contar a verdade. Acabou por se mascar inclusive, para não ter que desapontar a mãe, o irmão, e manter em segurança sua irmã.


A aula que se seguiu era de Poções, dois tempos consecutivos. Delfínia Hawksiedge – uma bruxa idosa, levemente curvada devido à idade, gentil e sábia – diferente de alguns professores, abstinha-se de utilizar o livro, preferindo que seus alunos anotassem o passo-a-passo para fixar a matéria e facilitar seu entendimento.


Excepcionalmente desta vez, propôs um desafio: teriam de preparar uma simples poção para encolher; o prêmio era uma caixa de bolos de caldeirão para quem conseguisse obter o melhor resultado no tempo estipulado.


Os olhos esverdeados de Delfínia passavam pelas mesas, onde os alunos trabalhavam o mais rápido o possível consultando o livro incansáveis vezes, e analisavam a evolução das poções em andamento, enquanto caminhava pela sala. Quando percebia que o aluno cometera um grave erro no preparo de sua poção.


- Tente novamente, meu querido. Releia com atenção as recomendações do livro. – Comentou com um aluno ao notar uma espécie de lama formada em seu caldeirão.


Alvo, Elifas, Harvey e um garoto da Lufa-Lufa que havia sobrado dividiam a mesma mesa. Dumbledore preparava calmamente sua poção como indicava o livro, não se importando de ajudar os outros enquanto a esperava curtir no fogo.


- O que eu errei aqui, Alvo? – perguntou Harvey observando que o conteúdo de seu caldeirão não estava como o livro dizia.


- Acho que exagerou na quantidade de urtigas secas.


- Ah, é! Bem que achei que tinha contado mais do que devia quando coloquei. – Disse o outro pensativo, encarando o que havia feito.


Alvo despejou raízes de Encolígera. Esta planta, como havia comentado uma vez seu professor de Herbologia, tinha a capacidade de reduzir os nutrientes a fim de poderem ser absorvidos pelas raízes.


Após algum tempo a professora encerrou o pequeno concurso e, de caldeirão a caldeirão, observou o resultado que cada um obtivera.


- Não, Deodora – disse para uma garota que estava curiosa para saber o resultado –, nem chegou perto... Passou do ponto na primeira cozida, pelo que vejo aqui.


Suas críticas pouco entusiasmavam os alunos e, por fim, anunciou:


- Bem... O vencedor, sem sombra de dúvidas, é o Sr. Dumbledore. A poção foi, dentro do tempo, preparada com perfeição. Cinquenta pontos para a Grifinória e, Dumbledore, tome o seu prêmio – disse, retirando de debaixo da mesa uma caixa e lhe entregando.


Já retornavam ao Salão Comunal quando Alvo comentou que poderiam ficar com os bolos de caldeirão.


- Tem certeza? – perguntou Harvey.


- Claro, não me importo – disse.


 


 


Com o auxílio externo de milhares de outros bruxos, o castelo foi levantado e as semanas se passaram, até que se completou um ano desde o início da construção; Hogwarts estava praticamente finalizada.


O destemido Gryffindor projetou o Saguão de Entrada, o sétimo andar e as torres do castelo. O jovem mago sempre se interessou pelos segredos existentes em um lugar, os desafios e enigmas, e admirava quem os desvendava; uma vez afirmou querer testar a destreza e a curiosidade dos alunos que ingressassem na escola.


A bela Ravenclaw planejou os quatro primeiros andares e um aposento especialmente para ela. Uma sala sem nome que serviria para seus momentos de solidão, momentos em que preferisse meditar, onde ninguém poderia encontrá-la, a não ser que permitisse. A sala era tão misteriosa quanto a jovem.


O velho Slytherin planeou os calabouços e masmorras com intuito de utilizá-los como punição para os alunos que desobedecessem as normas do colégio, e também como seu próprio aposento. A severidade que havia decidido tomar diante a qualquer estudante que pudesse aparecer tão era assustadora quanto à escuridão de sua residência.


A gentil Hufflepuff projetou cuidadosamente o quinto e o sexto andar; também a cozinha e o Salão Principal, em uma proporção em que eles estivessem emparelhados um sobre o outro, assim como as mesas que neles seriam colocadas. Utilizou encantamentos que permitiam os alimentos colocados sobre a mesa de serem transportados automaticamente de um salão para o outro quando necessário.


Alvo descansou o livro na mesa-de-cabeceira e puxou o cobertor para si, mas não dormiu. A iluminação de um rústico lampião era a única fonte de luz do dormitório masculino da Grifinória. “Dumbledore” era estranho ser chamado pelo sobrenome pelas pessoas, da mesma forma como seu pai era chamado; uma alguma espécie de orgulho tomava-o ao escutar a palavra proferida, mesmo que, às vezes, de modo desafiador.


Lembrou-se, então, de um rapaz corpulento e esguio que interrompera seu percurso pelos corredores no intervalo entre as aulas alguns dias antes.


“Dumbledore”, chamou em tom grosseiro.


“Sim?”


“É você mesmo, não é?! Essa família... que já apareceu em todos os cantos de página do Profeta! Primogênito de uma mente insana!”, disse o rapaz rude e por um instante os olhares trocados fervilharam.


“Em momento algum se referiram ao meu pai como demente”, corrigiu educadamente, apesar de as palavras terem-no ofendido.


“Não tem cabimento uma pessoa como você ousar por os pés em Hogwarts!”


“Não entendo por que veio falar comigo se era só para me desafiar.”


“Não encoste sequer um dedo em meu irmão mais novo! Isso é um aviso!”


“Por que motivo eu iria atacar seu irmão?”


E o garoto já virara as costas, decidido, e fora embora. Após uma noite de sofrimento, sozinho em seu dormitório, imerso em lágrimas, Alvo aprendera a não se emocionar com estudantes deste tipo, tratava-os, desde então, com indiferença, embora cada palavra pesasse em sua consciência.


Aliás, nesse dia de reflexão consigo que notou o quanto odiava as cortinas cor-de-vinho do dossel que rodeavam sua cama. Era como se elas o sufocassem, uma barreira criada em seu entorno para separá-lo dos demais. Não havia gostado delas desde o primeiro dia em sua estadia no castelo e uma vez, por mais estranho que fosse, sonhara que elas envolviam-no e apertavam-no. Instantes depois acordou atordoado no chão do dormitório e imóvel, enrolado nas cortinas que haviam se desprendido do suporte da cama e foram junto com ele para o solo.


Harvey havia saltado da cama com o estrondo de um corpo colidindo com o chão duro e inflexível.


- O que está acontecendo? – Perguntou.


- Acordei aqui... tive um pesadelo e acordei aqui no chão... Seu sono é leve, Harvey, volte a dormir, não se preocupe, não há nada de errado comigo. Boa-noite – disse Alvo, respondendo a expressão assustada do amigo, provavelmente o efeito do susto que o acordou ainda não passara, voltando a se deitar, virou-se de o lado e dormiu.


 


 


Depois da refeição matinal, seguiram caminho pelos corredores apinhados de estudantes para a aula de Feitiços. Elifas e Alvo conversavam sobre as notícias que haviam saído no Profeta Diário àquela manhã, apesar de pouco importantes. Distraído, acabou esbarrando em um aluno cujas vestes tinham estampado o brasão da Sonserina.


O rapaz virou-se rapidamente para Elifas e o encarou de modo assustador.


- Saia do meu caminho, bafo-de-cão! Vai acabar me contaminando com esta praga!


Elifas não respondeu, tentou disfarçar, prosseguindo até a sala de aula.


“Bafo-de-cão Doge” era como os outros estudantes o chamavam, principalmente os sonserinos. Uma das sequelas da Varíola de Dragão foi o mau-hálito, que procurava tratar em vão, não era sua culpa, porém tornou-se um dos maiores motivos, à exceção da aparência, para caçoarem dele. O apelido ofensivo teve sua origem na Sonserina e aos poucos outros foram aderindo ao mesmo costume; o fato de estar sempre andando ao lado de Dumbledore era um agravante. O resultado é que, assim como Alvo, seu círculo de amizade resumia-se há poucos amigos.


Ao entrar na sala, sentaram-se nos habituais lugares, que eram o mais próximo possível do professor – as mesas eram compridas e comportavam até quatro alunos. E lá se encontrava Hesper Starkey, a bela menina de olhos escuros e incomensurável gênio. Alvo sentou-se ao seu lado, Elifas acomodou-se do outro lado de Alvo e Harvey ficou com o final da mesa.


Hesper e Alvo eram muito parecidos, compartilhavam de semelhante interesse pelo conhecimento e pelos segredos de Hogwarts. Tinham aptidão para a maioria das matérias e as únicas peculiaridades eram o amor de Hesper por Poções e sua dificuldade em Defesa Contra as Artes das Trevas.


- Bom dia, Hesper – cumprimentou Alvo gentilmente.


- Bom dia – responder a outra com cordialidade, sem desviar seu olhar do pergaminho em que estava seu dever de casa.


O professor Baldern entrou imponente com um breve cumprimento a todos. Encaminhou-se até sua escrivaninha e iniciou sua aula com o tom grave e impositivo contido em sua voz.


Era um bruxo idoso, íntegro, paciente e de sangue nobre, embora fosse severo em relação à disciplina dos alunos. Se Alvo pudesse sugerir algo que o professor fazia melhor que ensinar Feitiços era observar em cada estudante seus dotes e dificuldades, sabendo exatamente como deveria trata-lo. Gostara de Alvo desde que percebeu ser um de seus melhores alunos, via um futuro brilhante no jovem.


- Ao final da aula recolherei os deveres de casa – disse. – Agora, iremos praticar um novo feitiço, abram seus livros na página oitenta e oito – a sala encheu-se do barulho do farfalhar de páginas sendo folheadas. – Muito bem, o feitiço desta aula implica em fazer um objeto flutuar... Melhor começarmos por apenas uma pena. Podem utilizar suas penas de escrever.


Esperou alguns instantes até que todos estivessem prontos e retornou a falar:


- O feitiço baseia-se em girar a varinha e brandir, não se esquecendo de dizer em voz clara e alta o encantamento, que é Wingardium Leviosa. Vejam uma demonstração.


Ergueu a varinha e executou exatamente como havia dito sobre uma pilha de livros sobre a sua mesa. Essa se ergueu no ar e ficou suspensa por alguns segundos, até o professor abaixar a varinha devagar, colocando os livros onde antes estavam.


- Gostaria de vê-los testando o feitiço em suas penas e depois passaremos para uma pedra, e, então, livros, que são mais pesados. Vamos dividi-los em duplas...


Alvo fazia par com Hesper, enquanto Elifas com Harvey. Após alguns segundos, os alunos começaram a agitar suas varinhas e cresceu um coro fora de sincronia: “wingardium leviosa”. Ela e Alvo conseguiram na primeira tentativa fazer as penas se elevarem no ar, o que rendeu dez pontos para cada casa.


O mesmo ocorreu quando tentaram levitar a pedra que o professor lhes entregara.


- É um feitiço simples – comentou.


- Concordo – disse Alvo observando distraidamente sua pena rodopiar no ar sem sair do lugar.


- Desejam mesmo tentar com o livro nesta aula, seria uma tarefa para a aula que vem. Vocês terão de repetir aula que vem – perguntou o professor.


Concordaram em tentar. Porém, apenas Dumbledore realizou o feitiço com perfeição, fazendo o livro levitar, ao contrário de Hesper que teve certa dificuldade quanto à concentração.


Quando o tempo terminou, muitos já haviam conseguido levitar a pena, sendo que o treinamento do feitiço ficou como dever de casa. Alvo havia conseguido trinta pontos, ao todo, com sua perfeição no encantamento.


- Só você mesmo para conseguir pontos para a Grifinória – riu-se Harvey, que conseguira fazer a pena flutuar depois de algum tempo, mas cuja pedra somente estremeceu.


 


 


Ao amanhecer todos se encontravam reunidos para o desjejum enquanto repartiam de seus pensamentos. O castelo estava finalizado, todavia a escola ainda não havia sido aberta; careciam de planejamentos a fim de que pudessem admitir alunos. Surgira um equívoco no dia anterior, visto que cada fundador queria lecionar para apenas um grupo seleto de alunos.


Slytherin pronunciara-se quebrando o ritmo da conversa e o som de tilintar de garfos nos pratos. Ergueu-se ereto e disse em voz alta e clara:


- Nego-me a lecionar a qualquer aluno que não detenha de uma pura ancestralidade.


Godrico fitou-o curioso, entretanto sua atenção desviou-se para Rowena que igualmente acarava Salazar. Seus olhos azul-acinzentados reluziram, seus lábios moveram-se e a suavidade e misticidade de sua voz ao enunciar-se seriam capazes de abrandar uma tormenta.


- Tenho fé de que seja melhor ensinarmos àqueles que têm o gozo da disciplina e a sublime e inegável inteligência. A descendência tem ínfimo significado. Sangue não pode ser equiparado ao cérebro. Um bruxo é um grande bruxo mediante sua capacidade em realizar a magia, e desenvoltura de sua lógica e razão; não por características co-sanguíneas herdadas.


- É sim um grande bruxo o que tiver sido consagrado por seus dons e aptidões! Nomes ilustres por grandiosos feitos. Aos corajosos e somente a esses que devemos lecionar! – disse Gryffindor, pondo-se de pé ao lado do seu amigo Salazar.


- Olvida-te de que a inteligência é um dos principais requisitos para um nome insigne? – ponderou Ravenclaw.


- Desde que tenha puro-sangue – contestou Slytherin com seu sorriso malicioso. – Disse-lhes anteriormente que não irei transmitir meus conhecimentos a nenhum indigno.


- Discordo – passado algum tempo em seus pensamentos, enquanto prestava atenção às opiniões peculiares, a gentil Hufflepuff elevou a voz. – Devemos ensinar a todos! Não importa os dotes e os feitos que fizeram, sem se importar com o sangue ou a ancestralidade! Eu ensinarei a todos, e os tratarei com paridade!


Todos os outros se calaram. Helga ajeitou-se em sua cadeira e percorreu com o olhar de Godrico até Rowena. O único que tinha desviara seus olhos era Salazar, ainda desgostoso.


- Então... – começou Ravenclaw. – Creio que teremos que apartar nossos discípulos, não? Assim cada um poderá lecionar aos que deseja.


- Decisão sensata. Todavia, devemos manter-nos unidos – disse Hufflepuff.


- Como, então, iremos os selecionar de modo ágil e coerente? – indagou Slytherin.


A jovem Ravenclaw analisou o ambiente e todos os grandes bruxos presentes.


- Simples. Necessitaríamos de um objeto que realizasse tal função e não precisaríamos nos preocupar quanto a isso. Algo que saiba identificar em cada um sua personalidade, e creio que o chapéu é o artefato perfeito para poder adentrar os pensamentos de um jovem e descobrir seus temores em ambições. Bem... Decerto que não um chapéu ordinário.


Godrico retirou seu próprio chapéu e o colocou sobre a mesa.


- Então que este seja o chapéu a selecionar os alunos. Faremos dele um Chapéu Seletor; e não teremos mais que discutir por superfluidades.


Por meio da magia, foi-lhe atribuído um cérebro e o poder de desvendar o que se passa na mente de qualquer um em que for colocado; um rasgo perto de sua aba funcionaria, portanto, como uma boca e anunciaria o resultado.


Foram criadas quatro casas diferentes; cada uma teve seu nome em homenagem aos grandes bruxos-fundadores do colégio. Grifinória, como assim ficou conhecida, era a do destemido Gryffindor; Corvinal a da arguta Ravenclaw; Lufa-Lufa a da generosa Hufflepuff; e Sonserina a do velho Slytherin.


A cada casa foi conferido um brasão que se baseava na criatura que melhor representavam-nas. O leão, esbanjando sua bravura por ser o rei dos animais, uniu-se as cores vermelho e dourado formando o brasão da Grifinória. A Sonserina era simbolizada pela serpente, com toda a sua astúcia e ligação ao diretor ofidioglota, e as cores verde e prata. O texugo, que significava protetor dos justos, lealdade e gentileza, compunha o brasão da Lufa-Lufa junto ao amarelo e o preto. A sagacidade e agudez era o que simbolizava águia em meio às cores azul e bronze do brasão da Corvinal.


A leitura de Hogwarts: uma História auxiliava-o a esquecer de seus problemas. Não deixava escapar quaisquer detalhes e, para isso, lia calma e atentamente. O único empecilho era a disponibilidade do livro para reserva.


Fechou o livro e deixou-o sobre a cabeceira e imergiu em um mundo de sonhos. Na manhã da véspera do Dia das Bruxas iria estrear a nova equipe de quadribol da Grifinória – o que não fazia tanta diferença para Alvo, que não conhecia a anterior – em uma partida contra a Sonserina, maior rivalidade de Hogwarts.


E minutos antes do início do jogo, Dumbledore foi assaltado com a inconveniente pergunta. Entrementes, desta vez era um estudante sonserino. O curto diálogo que tiveram demonstrou que alguns apoiavam a decisão de seu pai e consideravam-no um exemplo a ser seguido. Alvo não gostou nem um pouco do que ouviu, enojou-se da maneira grotesca que o garoto se referiu aos trouxas e reagiu ao ver Elifas ir ao encontro de Alvo para comentar algo com o rapaz.


Às onze horas da manhã, o estádio já estava lotado com as cores verde e prata de um lado e vermelho e dourado do outro, sendo que ainda havia alguns alunos da Corvinal e da Lufa-Lufa que também foram para assistir ao jogo. A partida foi emocionante, com a vitória Grifinória, o que dificultou mais ainda as relações entre sonserinos e grifinórios. Não obstante, o jogo acabou por intensificar o ego deles, mesmo após a perda, e provocar uma onda de vaias sempre quando um grifinório passava por perto; além de muitos profetizarem a derrota da casa rival no próximo jogo contra a Lufa-Lufa – e que infelizmente veio a ocorrer.


Alvo não tinha certeza se era o ritmo excitado dos alunos, devido à vitória da sua casa, ou se era por outro motivo, todavia percebeu que estudantes da própria grifinória começaram a se esquecer de sua fama inicial no colégio e começaram a simpatizar com ele. Levava em conta, inclusive que, como a matéria se dificultava gradualmente e os professores acrescentavam cada vez mais dever para cobrir os finais de semana dos alunos, muitos o procuravam a fim de tirar dúvidas ou revisar a matéria aprendida.


 


 


- Abram o livro na página cento e vinte e dois. Será nossa última matéria antes do Natal – disse a voz calma do professor de transfiguração Armando Dippet. – Nada complicado, está chegando a hora de relaxar, sei que muitos estão com pensamentos nas férias e provavelmente nem escutam minha voz... No entanto, preparem-se para o segundo semestre, o ritmo é mais acelerado.


- Então... Todos de livros abertos?... Certo. Hoje iremos aprender um feitiço capaz de transfigurar uma pedra em uma almofada. Vejamos uma situação em que este feitiço possa ser utilizado... Isso é algo bem fantasioso, mas imagine que você esteja caindo e irá se colidir contra o solo rochoso, será capaz de transformá-lo em um grande colchão. Isso se estiver dominando o feitiço por completo, e eu diria que tudo na Transfiguração possui diferentes etapas de um mesmo encantamento conforme a dificuldade da situação.


- O movimento – continuou o professor, retirando sua varinha das vestes e apontando para uma almofada em cima de sua mesa – se baseia no seguinte: oscilar a varinha uma vez e apontar para a pedra; então... Petri Flexibilus


A pedra transmutou-se em uma almofada com rendas e detalhes em fios de ouro. Alvo foi susceptível em sua primeira tentativa e, logo, chamado à mesa do professor.


 - Sabe, Alvo, você tem demonstrado ser o melhor aluno de minha classe. Uma pena que não seja da minha casa – e riu. – Ficará aqui para o Natal? Eu podia-lhe mostrar um pouco do que iremos ver mais adiante, apesar de, nós professores, não termos tanta liberdade para tal.


- Ah, desculpe-me, senhor. Seria uma honra, porém tenho compromisso com minha família – declinou ao convite entristecido.


- Entendo – concordou o outro um tanto desapontado. – Bem... Hora de ver o progresso dos demais alunos – levantou-se e começou a caminhar entre as carteiras, enquanto Dumbledore retornava ao seu lugar.


Naquela época, Alvo já havia demonstrado ser um dos alunos mais brilhantes que o colégio já tivera, para um mero calouro. Esse fato intensificou o processo de eclipsar o modo pelo qual era reconhecido. O progresso que ocorrera com as pessoas de sua casa aos poucos se expandia a Corvinal e a Lufa-Lufa.


Transfiguração era a última aula do dia, e todos se retiraram para o Salão Principal para o jantar. Após a refeição, Alvo retornou ao sétimo andar à companhia de Elifas.


Durante o percurso pelas escadas que se moviam, Dumbledore notou que amigo estava muito quieto e com o olhar perdido, entretanto preferiu não tocar no assunto e, aproveitando o silencio oportuno, pôs-se a ler mais um pouco de Hogwarts: uma história.


No entanto, uma voz trouxe-o de volta a superfície, interrompendo a leitura:


- Alvo? – perguntou Elifas, timidamente.


- Sim? – levantou o olhar para o amigo.


- Bem... estive pensando... sobre... sobre... seu...


- Pai – completou Alvo sorrindo; Elifas demorara a fazer esta pergunta, o que havia o surpreendido. – Diga-me – mantinha toda a calma possível, sabia que Elifas não teria uma reação radical como os outros.


- Houve o ataque aos trouxas... e todos que vêm lhe perguntar, tiram a mesma conclusão... que você odeia trouxas. E gostaria de saber se isso é... verdade.


- Não se pode colocar a culpa do pai em um filho.


- Não é essa minha intenção, não quis dizer isso – corrigiu-se Elifas.


- Tudo bem – disse gentilmente. – Todos já perguntaram, não há problema. A curiosidade sempre acaba falando por nós. Fico até um pouco impressionado pela sua demora a perguntar...  e minha mãe é nascida-trouxa – completou, achando que com este fato daria mais segurança ao amigo.


- Pois é... – o outro coçou a cabeça sem graça e mirou a paisagem lá fora pelo vidro embaçado da janela. – Por que ele atacou aqueles rapazes, então?


- Não é porque atacou três garotos, que ele odeie de fato as pessoas que não tem poderes mágicos, é tudo que posso dizer.


-... sou seu amigo...


- Desculpe-me, Elifas, é tudo o que posso contar.


- Tem algo que eu possa fazer para ajudar?


- Não há como ajudar, Elifas – respondeu Alvo com sinceridade. – Iria ajudar a tirar meu pai de Azkaban? Não, praticamente impossível.


Harvey logo retornava do jantar e o assunto mudara instantaneamente. Agora conversavam sobre nas férias.


- Provavelmente irei para Gales, já que a maior parte da minha família é de lá, e não é tão longe assim daqui – comentou Harvey jogando um pedaço de pergaminho amassado com algumas anotações rabiscadas na lareira. O papel chamuscou e foi se desfazendo aos poucos em meio às chamas, que reluziram.


- Nem sei o que realmente vou fazer. Devo ir à casa dos meus avós paternos, eles moram em uma cidadezinha ao norte da Inglaterra. Se eu for, passarei uma semana lá e só – comentou Elifas estendendo as mãos para aquecê-las ao calor da lareira.


- E você, Alvo? – perguntou Harvey virando-se para o garoto que estava muito quieto e, novamente, perdido nos pensamentos.


- Ficarei com a minha família... em casa.


- Mais nada?


- Não... Tenho que ajudar minha mãe com as tarefas da casa.


- É... Deve ser bem cansativo, então.


Dumbledore sorriu infeliz.


 


 


Alguns se anos passaram desde então. Anos gloriosos em que a Academia teve êxito, em que os vínculos amicais entre os quatro fundadores manteve-se inabalável e proba. Sem tantas discussões, visto que cada bruxo ficara com os estudantes de sua predileção e, desse modo, casas e idealizadores conviveram harmoniosamente.


Todavia, no falível e volúvel coração de cada um cresceu uma temível dúvida, que veio se tornar um equívoco: como poderiam ter quatro diretores? Nutridos pelas suas falhas e medos, o reino da discórdia teve seu início. A amizade beirou o grande abismo que separa o céu da terra e foi seguida da taciturnidade. Ações que refletiam desconfiança. Um receava o mínimo ato que poderia ser tomado pelo outro a fim de tomar o trono de diretor.


As rivalidades entre as casa vieram em procedência. Peleja soturna. O exórdio ocorreu por meio de olhares fuzilantes e teve sua pronuncia entre Salazar e Godrico, cuja amizade foi deixada ao passado no momento em que se confrontaram às portas do Saguão de Entrada.


- Quantas vezes terei de repetir-lhe, Gryffindor? Esses sangues-ruins são um estorvo dentro de nossa propriedade! Exijo que seja resolvido de imediato ou então...


 - Ou? Não tens o que discutir sobre este assunto! Preferível que leves teus discípulos, pequenos crápulas, aonde a linha do horizonte tiver seu fim.


- Não te refiras com tamanha impolidez aos meus alunos! Pareces até que os teus são irrepreensíveis! Vangloriam músculos, e carecem de cérebro.


- Não te ouse enxerir em meus ideais. Diligência quanto vossas línguas de serpente.


- Estás exacerbando os limites! Insinuas que...


- Deixei o mais claro possível!


- Explana-te por qual motivo, então, teu aluno desferiu um golpe em um dos meus? Irás te resguardar novamente em tua muralha de areia?


- Deve tê-lo merecido, Slytherin...


- Decerto que deve, pelo visto por ter ganhado uma aposta... uma porfia com sangue. Agora, foi consagrado com uma bela detenção. Incrível perdedor... afinal, o que estudantes sabem fazer melhor do que isso?


- Felizmente, nesse aspecto eles perdem para os teus!


- Prove!


- Senta-te em sua cadeira de espaldar alto, que reflete teu ego, e espere. Minha advertência: mantenha-vos longínquo de meus.


- Falas como se pudesses comandar Hogwarts... serias uma insinuação?


- Apenas entendemos o que nosso coração almeja, creio que pretendes colocar tuas ambições em meu domínio...


O medo os dominou e os colocou uns contra os outros... o medo é o pior dos males capazes de transformar-nos... Assim foi com Ariana. Retornar a casa para revê-la apática e debilitada foi depressivo... Sorte Aberforth ter feito diversas perguntas sobre Hogwarts, somente assim eu pude reviver o castelo enquanto esperava paciente o Natal passar...


- Alvo, venha cá – chamou-lhe Harvey.


Dumbledore fechou o livro. Já até havia terminado de ler a história, porém pegara o livro novamente na biblioteca para ver as partes principais. Olhou o resto do Salão Comunal, estava vazio, só Harvey havia restado. Todos os outros já haviam ido dormir e ele não estava com sono.


Conforme as provas se aproximavam, os alunos começavam a se encontrar com mais frequência na biblioteca e no salão comunal do que no exterior. Muitos dos que tinham dificuldades em determinadas matérias, começavam a se esquecer do “filho de Percival” e procuravam Alvo Dumbledore, na esperança de que este os ajudasse a estudar. Dumbledore não fazia objeção, assistia qualquer que precisasse.


 


 


Extintos foram os cumprimentos ou qualquer outra espécie de comunicação afável. Salaz radicalizava ao extremo seu tratamento aos demais estudantes. Em público, Rowena acabou se desentendendo com ele. Godrico interveio e acabou no meio da altercação.


-... atuas como se soubesses ensinar, Salazar, perfeitamente igual a Godrico!


- Repitas – vociferou Gryffindor virando-se para Rovenclaw.


- Escutaste-me bem, Godrico, não tens os dotes essenciais a um mestre.


Todavia, já havia sacado a varinha e mirava em Ravenclaw.


- Deixe nossas varinhas falarem por nós!


- Pobre leão ferido – zombou Salazar às suas costas.


- Cale-te, Slytherin! Tu és tão covarde quanto um cão ferido!


Em pouco instantes, o pátio apinhou-se de alunos que se empurravam freneticamente para fugir dos feitiços desviados, muitos correram para dentro do castelo, onde iniciou as outras batalhas entre as quatro casas.


- Achas que Hogwartso é de sua propriedade, Gryffindor? – berrou Salazar.


- Tenho conhecimento de que queres só para si! Não negas! – retrucou Gryffindor.


Hufflepuff, que retornava ao castelo após uma visita a sua estufa, ouviu a balbúrdia e presenciou o conflito.


- De que forma vós podeis... de que forma vós podeis estar duelando?! – indagou. – Pode o orgulho alterar o ser humano deste modo? PAREIS DE LUTAR! – e ela própria retirou a varinha das vestes em uma tentativa de impedi-los.


A tarde como um dia de terror foi marcada. O duelo teve seu fim antes do crepúsculo e conquanto não houvesse vitorioso, somente acresceu a inimizade entre os quatro bruxos. Motivos supérfluos como tais poderiam ter sido resolvidos em um simples acordo, entrementes se encontravam em outras circunstâncias.


Em um clima de tensão e conflitos não era possível dar prosseguimento com a instituição. Dias e mais dias em que os quatro discutiam e travavam confrontos entre si como inimigos. Até que, em uma manhã, o velho Slytherin não compareceu ao desjejum, abandonara o castelo antes do amanhecer, por toda a eternidade. Um dos grandes bruxos da época havia se retirado sem consentimento de ninguém, o início do dia foi inclusive seu fim mediante a notícia...


Esse fato abalou os outros três. Nunca esperavam que pudesse terminar desse modo. A guerra aparentou cessar; cada qual se sentia derrotado, e, mais do que tudo, culpado.


Outro equívoco surgiu: poderiam mesmo continuar com o colégio? Além de um professor perdido – por maiores desavenças que infligiram os quatro –, perdera-se um amigo. Somente então, com o afastamento de alguém, que puderam ver a luz da verdade e a realidade, crua e entristecedora. As aulas foram suspensas.


Godrico Gryffindor recolhera-se para seu aposento, onde passara a viver trancafiado. Rowena e Helga reataram seus laços afetivos, retornando a situação de quase irmãs como era antigamente. Naquele momento, mais do que nunca, necessitavam dos remanescentes unidos o máximo possível para superarem o empecilho.


Godrico em seu retiro, imerso em solidão, acreditou ser o um triste fim de Hogwarts. No entanto, as duas graciosas fundadoras fizeram-no enxergar a indispensabilidade do esquecimento das diferenças e adaptação de seus horários para ensinar a todos os alunos, dividindo as matérias entre si e mantendo as quatro casas.


Outrossim, concordaram que era necessário contratar professores para o ano seguinte, tinham certeza de que estavam prontos para adicionar mais duas matérias ao currículo: Trato das Criaturas Mágicas e Encantamentos Mágicos, que iria abordar os diversos feitiços e azarações diferentes dos aprendidos em Defesa Contra as Artes das Trevas. Teriam de ser bruxos de confiança; ademais, precisariam de algum deles para ocupar o cargo de diretor da casa Sonserina.


A cada ano, iriam eleger um dos fundadores para o cargo de diretor-geral, todos ainda como professores...


- Crianças, hora de dormir – alertou Kendra, descendo as escadas. Alvo estava reavendo suas memórias ao contar Hogwarts: uma história aos seus irmãos mais novos.


- Então, amanhã eu continuo – disse, apressando-os para seus quartos, o mesmo que logo iria fazer.


Ao final do ano letivo, sua fama de anti-trouxa já havia praticamente se extinguido. Todos os professores faziam suposições do futuro brilhante do jovem, e alguns estudantes passaram a invejá-lo.


Retornara a casa com seu primeiro ano em Hogwarts concluído com sucesso e, mais do que isso, sentia um grande alívio ao adentrar seu chalé em Godric’s Hollow e deparar-se com sua mãe, sorrindo de orelha a orelha, com apenas uma palavra formando-se em seus lábios: “Consegui!”.

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