Quatro.



4


Parecia que ele havia voltado a sua infância.


Ouvia gritos, de um homem e uma mulher, ele queria fazê-los parar, mas não tinha coragem nem força para isso.


Então ele ficava lá, tentando proteger-se do som, tapando as orelhas com as mãos e deixando algumas lágrimas caírem uma vez ou outra.


Eles nem o iriam notar.


Quando eles finalmente parassem, seu pai iria aparar e sua mãe subir para o seu quarto. Nenhuma palavra seria dita para você, nenhum conforto, nenhum “Não foi nada, vai ficar tudo bem, não precisa se preocupar.” Nada. E você se acostumou com isso.


Mas dessa vez algo estava errado.


Você não conseguiu tapar os seus ouvidos, não conseguiu deixar as lágrimas se libertarem.


Os gritos continuaram e você sentia cada vez mais dor.


E então, finalmente, você libertou aquele grito de dor e frustração, aquele que estava na sua garganta há anos.


Eles pararam.


“Ele.., gritou?” A voz do homem perguntou, o tom de surpresa exagerado.


A mulher pareceu concordar.


“Será que ele ainda está com dor?” A voz feminina perguntou, seu tom era ligeiramente preocupado. “Já lhe dei todas as poções curativas possíveis e fiz todos os feitiços de cura também...”


Draco Malfoy sentiu um toque delicado na sua testa, quase uma carícia, se não tivesse sido tão demorado.


Então ele percebeu que não eram os seus pais, eles não iriam lhe dar atenção.


O que estava acontecendo?


“Sem febre.” A voz da mulher disse, e escutando-a agora, a voz não parecia nada com a de sua mãe, mas sim, era... familiar.


“Ele parece está bem agora” Disse o homem e, de novo, a voz não era nada parecida com a do seu pai, mas era ainda mais familiar. “Talvez ele estivesse tendo um pesadelo. Sabe, isso era bem comum, na verdade, tinha noites que eu não conseguia dormir por causa dele e dos seus gritos.”


Zabini.


Draco não entendia mais nada.


“Bom, obrigada por ter vindo, Blásio... Eu sei que você estava... ahm.. ocupado... mas...” Ele sentiu a mulher se afastar e logo depois barulhos de copos se batendo. “Eu não sabia o que fazer... Não sabia quem chamar... Na verdade, nem sabia que ele havia saído de Azkaban... E quando eu o vi... Eu só... Não podia deixá-lo lá.”


Azkaban?


“Você não precisa se explicar, Hermione. Eu sei que você salvaria qualquer pessoa que estivesse no estado dele... Até mesmo Draco Malfoy!”


Hermione? Hermione Granger?! A sangue-ruim amiguinha do Cicatriz?!


Que porra estava acontecendo ali?


“Ele está se agitando de novo” Hermione Granger disse.


Draco logo sentiu os dois ao redor de si.


“Talvez... Talvez uma poção de sono ajude.” Zabini comentou.


Granger discordou.


“Uma poção para dormir sem sonhar, é isso que vai ajudá-lo.”


“Você tem alguma aqui?”


Hermione suspirou, se afastando outra vez.


“Um armário cheio.” Ela murmurou e depois, vendo a cara do amigo, completou. “Ás vezes, eu tenho pesadelos com a guerra, eles são piores quando o Ron não está aqui, por que acha que eu sempre pareço tão cansada no trabalho?”


Blásio concordou.


“Faz sentindo”


“Eu me levanto, tomo um frasco e volto a dormir.” Ela deu ombros “Ajuda.”


“E você acha que vai ajudá-lo?”


“Tenho certeza.”


O loiro sentiu o vidro frio sobre os seus lábios, o liquido escorrendo para dentro de sua boca e então, mesmo que involuntariamente, ele engoliu.


E a escuridão foi tudo o que restou depois.


 


--x—


“Você tem certeza?”


“Senhora Greengrass, por que eu mentiria para você?”


A mulher levou a xícara de chá aos lábios, deixando o vapor da bebida quente dançar pelo rosto antes de tomar um pequeno gole. Então era isso, o seu querido quase genro havia saído de Azkaban. Ela ainda estava espantada por ninguém ter lhe contado antes.


“Magpie, as suas fontes são realmente seguras?”


“Ora, eu ainda tenho os meus contatos, minha amiga. E, além disso, meu sobrinho é um dos guardas em Azkaban. Ele me deu a notícia hoje de manhã.”


“Oh.”


O homem que se encontrava em frente à Maryse Greengrass não se recordava de ter ouvido a mulher de seu melhor amigo gaguejar em nenhum momento de sua vida, e também não se lembrava de ter-la visto ficar sem palavras muitas vezes. Apenas em situações muito extremas nada saia da boca da senhora Greengrass, quando recebeu a noticia da morte de sua casula, por exemplo. E talvez seja por isso que ele ficou tão surpreso quando a mulher gaguejou as suas próximas palavras.


“Isso... Bom, isso é...”


E silêncio.


“Maryse...” O senhor pegou a mão gélida de sua velha amiga e fez um pequeno carinho, tentado acalmá-la. “Se você quiser, bom, não sei, escrever apenas uma carta para o garoto, não se preocupe, eu posso entregá-la e...”


“Não seja bobo, Elliot. Não posso apenas escrever uma carta para o pobre rapaz, seria, no mínimo, muito deselegante. Afinal ele....” Maryse Greengrass deixou a frase morrer quando as imagens vieram a sua cabeça. O pior dia de sua vida, com toda certeza. Mas ela se recompôs. Limpando a garganta e puxando a mão que estava antes entre as do amigo, ela continuou. “Eu vou falar com ele. Cara a cara. Como deve ser.”


Elliot Magpie soltou um suspiro longo. Claro que ela iria. Mas Maryse tinha razão, aquilo não era um assunto para cartas.


“Mas se não for um incomodo, gostaria de lhe pedir que mandasse uma carta para o herdeiro dos Zabini, perguntando-o onde a minha filha se encontra.”


O senhor Magpie sorriu de leve.


“Dafne continua não dando noticias?”


“Desde os dezesseis anos, meu caro.” A senhora Greengrass pegou o seu chá outra vez e tomou um leve gole. “No natal ela comentou algo sobre passar uma temporada na França, mas não tenho certeza. E ao que parece, ela e o garoto Zabini estão juntos, então ele deve estar mais ciente de onde a minha filha se encontra do que eu.”


A mulher lançou um olhar de desaprovação para a foto pendurada na parede de sua filha mais velha, onde ela erguia a taça de champanhe e sorria para a câmera velha do seu pai.


“Astória sempre foi a mais responsável das duas.” Ela murmurou baixinho, com tristeza.


E o silêncio caiu sobre a sala outra vez.


Elliot Magpie decidiu quebrá-lo de novo.


“Não se preocupe, querida. Eu envio a carta para o Zabini. E ainda envio uma para o diretor de Azkaban pedindo onde colocaram o menino Malfoy, creio que eles não relutaram em me dar o endereço.”


A senhora Greengrass sorriu agradecida. Sabia que se ela enviasse a carta para a prisão eles não iriam lhe informar nada, mas quem negaria um pedido direto de um dos melhores diretores que Azkaban já teve?!


“Obrigada Elliot. Isso seria de muita ajuda.” Ela tomou mais um gole e completou, sorrindo. “Você tem sido ótimo para mim nesses últimos anos. Não sei como agradecer tudo o que você já fez por mim e minha família.”


O homem sorriu, emocionado.


“Richard me ajudou na época mais sombria de minha vida. Sou eu quem está retribuindo o favor a ele, cuidando da família que infelizmente ele não pode mais ajudar.”


Maryse concordou com a cabeça.


“Mesmo assim, obrigada.” Ela depositou mais bebida na xícara agora quase vazia, com um gesto a ofereceu ao amigo, que recusou cordialmente. “Mas me diga, Elliot. Como anda os seus filhos? Jocelyn continua trabalhando no Profeta? E Samuel? Soube que ele noivou com aquela jogadora de quadribol famosa... Como é mesmo o nome? Oh sim, Ruby, das Harpias de Holyhead, correto?” Ela sorriu e ainda brincou “Se cuide, meu caro. Daqui a pouco já vai estar cheio de netinhos para você cuidar.”


 


--x—


“Boa noite, Hermione”


Foi o que Blásio Zabini disse antes de se dirigir para a porta do quarto de hospedes do apartamento da morena. Bocejando e praticamente já dormindo em pé, ele não gostou nada da resposta da amiga.


“Blásio espera! Nós ainda temos que discutir uma última coisa antes de irmos nos deitar.”


Ele olhou rapidamente para o amigo sonserino que dormia tranqüilo numa cama conjurada por ele mesmo, bem ali, no meio da sala. Se não fosse por todos os ferimentos que ele tinha, Zabini estaria com inveja.


“Me deixa adivinhar, é sobre o que nós vamos fazer com o Draco quando ele acordar, não é?”


 A garota assentiu com a cabeça.


“Ele não pode ficar aqui. Ron... enlouqueceria. Mesmo ele estando nessas condições. Simplesmente não dá.” Granger deixou escapar um suspiro antes de prosseguir “Além disso, quando Malfoy despertar ele já vai estar melhor, o que quer dizer que ele não vai poder ir ao St.Mungus. Mas ele também não pode ficar completamente sozinho pois precisa de alguém que o ajude a cuidar dos hematomas e...”


“Granger, eu já entendi. Pode deixar que eu cuido dele.” Bocejo “Ele pode morar comigo por algum tempo. Feliz?”


“Não. Mas estou satisfeita.” E foi a vez da garota bocejar. Não havia percebido o quanto estava cansada até perceber o sono nos olhos do amigo. “Boa noite, Zabini.”


“Ok. Boa noite, Granger.”


Ela viu o amigo se afastar, e antes que percebesse, ela já havia caído no sono também. Bem ali, no sofá, no meio da sala. E mesmo que não soubesse, com a respiração perfeitamente sincronizada com a de Draco Malfoy.


 


N/A: Nossa, esse aqui demorou. Mas, pelo menos, veio.


A última vez que eu postei aqui as minhas aulas estavam começando, agora falta... o que? Quatro meses de aula restantes?


É. Eu demorei muitooo.


Então, desculpe. Mas muito obrigada pelos os maravilhosos comentários que recebi nesse meio tempo. Vocês são uns amores, mesmo.


E lembrem-se, sem coments, sem capítulo, okay?


E eu prometo não demorar com o cinco!


Beijinhos, Cathy.

*O cap ta sem betagem, então se tiver algum erro, me desculpem.* 

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Comentários (7)

  • Byanca

    voce voltou que bom *-*

    2012-12-16
  • jessicaeliane

    Posta logo!!!To muiito curiosaaaa!!!To adorando \o/Parabéns *-*Bjim ♥ 

    2012-11-12
  • Srta. Rouge

    gosti

    2012-09-05
  • Ariane

    Essa fic promete! Está muito boa, de verdade! A história parece que vai ser emocionante e o enredo excelente! Parabéns!

    2012-09-04
  • Undiscovered

    linda, como sempre.

    2012-09-03
  • H. Granger Malfoy

    muito bom!!!!! Espero que o proximo nao demore, porque estou bem ansiosa.. sera que a mione vai ser a psiquiatra de draco? ele precisa de acompanhamento ne... hehe bjs

    2012-09-03
  • Natália Jane

    adorei!

    2012-08-28
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