Quando Draco agiu como adulto



Ao chegar a sala de estar da casa de trouxas, Narcissa se dirigiu a porta, onde do outro lado se encontrava o grupo com o qual ela deveria se juntar. Ao passar por uma grande escultura de uma deusa grega, notou pontinhas louras de cabelo saindo de trás do joelho da estátua.


- Draco? – perguntou a mãe. O menino saiu de seu esconderijo, em seu rosto uma expressão de casual desinteresse. Ele pareceu notar que havia algo de errado com sua mãe, correu até ela e a abraçou pela cintura. Ela deslizou os dedos por seus cabelos – O que você está fazendo, meu filho?


Ignorando a pergunta, o garoto a respondeu com outra questão:


- Vai sair, mamãe? – e sem esperar resposta, emendou – Vou junto.


- Tem certeza, Draco? É um chá de senhoras, meu bem. Você provavelmente se entediaria.


Mas o menino já segurava sua mão, a arrastando para fora da casa. Na varanda, um grupo de mulheres barulhentas fofocava sem notar a presença da recém-chegada. Narcissa percebeu que não se encaixava entre aquelas mulheres. Todas mais novas, recentemente casadas com senhores de destaque no mundo bruxo. Todas a exceção de uma. Ao fundo, uma mulher baixa de ar simples endireitava o laço do vestido de uma menininha que parecia pouco mais jovem que Draco. Ela devia regular em idade com Narcissa, embora fosse consideravelmente mais corpulenta. Em seu rosto um olhar cansado e envelhecido lhe conferia alguns anos a mais. A simpatia pela mulher com a criança era muito maior do que pelas outras.


Draco, largando de sua mão, caminhou diretamente até a garota e com um gracejo cortês cumprimentou mãe e filha, exatamente como fazia o pai ao entrar em um aposento cheio de desconhecidos. O menino seguiu saudando educadamente todas as demais senhoras, voltando-se para apresentar-lhes a mãe. Narcissa sentiu orgulho de seu filho, um lorde.


- Senhoras, esta é Narcissa Malfoy, esposa de Lucius Malfoy, filha da mui nobre e antiga casa dos Black, e para minha sorte, minha mãe. – todas as mulheres naquela varanda derreteram seus corações ao ouvirem o menino de onze anos falar daquela maneira. A menininha ao fundo lançou-lhe um olhar interessado.


- Boa tarde, senhoras. – disse Narcissa. A cada dia que se passava o menino se tornava mais e mais parecido com Lucius. O sangue dos Black não parecia atuar sobre o garoto, ela agradecia por isso.


- Olá, senhora Malfoy. Percebo que Lucius lhe transmitiu meu recado. – adiantou-se em dizer Brunette Fudge – Não esperava que se arrumasse tão rapidamente. Já que chegou podemos partir, certo meninas?


A horda de maritacas se levantou e tagarelou alegremente em direção a rua. Narcissa deixou-se ficar mais para trás, juntamente com a discreta mulher que aparentemente também preferira não tomar parte nas conversas das nobres senhoras. A garota alcançou Draco logo atrás da mãe e se apresentou.


- Senhor Malfoy? Meu nome é Francesca Bugiardini, e esta é minha mãe Laura. – ela falava um inglês marcado por um sotaque que Draco não soube reconhecer a origem – Viemos da Itália a negócios, com papai.


- Minha mãe e eu também. – respondeu Draco, reparando em seus olhos verdes, o cabelo em cachos que lhe desciam pelas costas. Ele julgou que a garota fosse quase de sua idade. – Família Bugiardini, eu nunca ouvi falar. Uma família de sangue puro, espero.


- Ah, sim! A família do meu pai é antiga e tradicional em nosso país. Meu pai possui relações muito boas em nosso ministério. – A menina lançou um rápido olhar à mãe. Draco notou uma nota de desprezo em suas feições.


- Nós também! Eu e minha família estamos hospedados na casa de veraneio do Ministro, a convite do próprio Cornélio Fudge. – respondeu Draco. – A família de meu pai possui relações com a família Fudge desde a época em que meu avô ainda frequentava a escola.


Francesca pareceu muito impressionada. Draco gostou daquilo e fez uma anotação mental para contar em Hogwarts sobre sua viagem de férias. Poderia impressionar muitos outros colegas, além da bruxinha italiana.


O grupo seguiu andando por uma rua estreita, com um intenso fluxo de pessoas, todos trouxas. Draco tomou cuidado para não deixar que eles encostassem nele. Levantando os olhos para a mãe notou que ela torcia o nariz para os passantes. Malditos trouxas, um Malfoy não deveria ser forçado a esconder sua identidade bruxa para não incomodar seres tão insignificantes.


Mais a frente uma mulher soltou um gritinho que sobressaltou a todos. Narcissa chegou a levar a mão em direção a varinha e se aproximou do filho.


- Biquinis, meninas! – guinchou uma mulher ruiva com um rosto fino a frente do grupo. – Eu sei que são artefatos trouxas, mas nós definitivamente devemos comprar alguns.


Narcissa mostrou-se interessada nos tais biquínis. Ela sabia que eram como que roupas de baixo para usar quando se vai à praia. Quem sabe Lucius se agradaria de seus novos trajes? A apatia do marido estava a deixando realmente preocupada. As peças pendiam penduradas na vitrine de uma lojinha muito simpática. O grupo de mulheres adentrou a loja e uma jovem francesa veio atendê-las. Narcissa se sentia pouco inclinada a conversar com a vendedora trouxa, mas uma vez que nenhuma das senhoras lhe dava atenção e ela sabia um pouco de francês, aprendido com o marido, ela se encaminhou à trouxa. Antes que Narcissa abrisse a boca, Brunette a atropelou, se dirigindo a vendedora em um francês um tanto deficiente.


-Você trabalha aqui? Vai nos atender? – começou a senhora Fudge sem ao menos olhar para a trouxa – Precisamos de modelos adequados a jovens esposas, não é meninas? Exceto para as nossas queridas senhoras ali atrás. Para a loura nos traga um biquíni mais comportado. Já para a outra certamente precisaremos de um maiô.


As outras mulheres abafaram risinhos. Narcisa se inflamou:


- Posso me virar sozinha, obrigada senhora Fudge. – disse Narcissa em um francês bem mais fluente e elegante. – E também me disponho a ajudar a senhora Bugiardine pessoalmente, não se preocupe.


- Quanta gentileza sua Narcissa, certamente se entenderão muitíssimo bem. Vocês têm tanto em comum. – respondeu Brunette, friamente. – Lucius é um homem de sorte por ter uma esposa tão elegante como você. Talvez isso explique porque ele ainda preserva esse casamento tão longo.


- Algumas pessoas encaram o casamento como algo mais do que uma relação de negócios, querida. – finalizou Narcissa, a voz gelada. Correndo os olhos pela loja, encontrou Laura com as crianças ao fundo do aposento. Draco olhava em direção da senhora Fudge, a cara amarrada e os braços cruzados. Quando a mãe se aproximou dele, falou:


- Mãe, essa senhora Fudge é muito desagradável. Como ela se atreve a falar com a senhora dessa maneira? – o rapaz estava bastante irritado – O meu pai gosta da senhora pelo que é. O casamento de vocês não é uma relação de negócios. Não é mamãe?


- Gostaria de ter sua certeza, meu amor. – respondeu Narcissa tristemente – Mas não se preocupe com isso, anjinho. É assunto de adultos.


Draco a olhava com uma expressão preocupada. Estaria o casamento dos pais estava em crise? O menino passou o resto do tempo que estavam na loja pensando sobre o assunto de adultos. Narcissa comprou roupas de banho para a família toda. Draco ganhou uma sunga em um belo tom de verde-turquesa. Lucius receberia um calção preto de um tecido requintado. Para si Narcissa acabou por comprar um biquíni em cinza brilhante com adornos em metal prateado. Seu modelo era bem diferente do escolhido por suas colegas, havia nele consideravelmente mais pano.


Narcissa se atrapalhou com o dinheiro de trouxas e Laura veio em seu socorro. A mulher lhe pareceu tímida mas agradável. A bruxa tomou-lhe gentilmente as notas das mãos, encontrou o valor correto para pagar pelas compras. Narcissa achou estranha tanta habilidade com o dinheiro trouxa, mas resolveu ignorar o fato.


Uma vez que as maritacas ainda esvoaçavam de um lado pelo outro entre as araras da loja, as mães resolveram tomar as crianças e voltarem juntas para casa. A frente delas seguiam os filhos. Draco havia oferecido o braço para Francesca e os dois seguiam absortos em seus assuntos infantis. Narcissa sentiu uma pontada de ciúmes da garotinha. Geralmente o filho lhe reservava o braço sempre que saiam juntos. Ela pensou nos meses seguintes e lagrimas lhe vieram aos olhos.


Ao longo do caminho Narcissa descobriu que Laura estava hospedada próxima a casa do Ministro, em uma pequena mansão que também havia sido tomada de um trouxa ausente. Ao chegarem a porta da casa um homem moreno e pesado que só poderia ser o senhor Bugiardini já às esperava a porta da frente. Ele apertava com força o corrimão da escada em uma expressão de raiva mal reprimida.


- Finalmente, Laura! Eu viro as costas e você se alia ao inimigo! Não vê que essa mulher e esse moleque , louros assim, só podem ser a família de Lucius Malfoy, o banqueiro inglês? Mulher estúpida, eu lhe disse que este homem era meu principal concorrente na disputa pelas cotas acionárias do banco francês e o que você faz? Se junta à esposa dele. Você só me decepciona desde o maldito dia em que nos casamos...


Laura lançou um olhar ferido ao marido. Abriu a boca como se fosse responder, mas em seguida a fechou e virou-se para Narcissa murmurando um tímido pedido de desculpas, apanhou a filha pela mão e entrou na casa, visivelmente envergonhada pela atitude explosiva de seu marido. Fausto nunca fora um homem agradável, mas ela estava acostumava com o tratamento rude que ele lhe dirigia.


Ao presenciar esta cena, Narcissa arrependeu-se ao lembrar de todas as discussões que teve com Lucius alegando que o marido a vinha tratando friamente. Comparado a Fausto Bugiardini, Lucius Malfoy era um marido incrível.


Aquele homem era tão arrogante quanto era gordo. Ao voltar-se para ele Narcissa mal pôde suportar olhar para seu rosto, absolutamente desprovido de remorso. Agitando os cabelos pelas costas, dirigiu-se ao senhor Bugiardini:


- Senhor, sem pretender ser inconveniente, mas em defesa de sua esposa, devo dizer que Laura não me disse uma palavra sequer sobre seus negócios. Até o senhor bradar furiosamente que meu marido era seu concorrente nas negociações com os franceses eu desconhecia essa informação. – Narcissa deixou transparecer que os Malfoy gozavam de maior controle e educação que os Bugiardini, o que fez com que a face do italiano ficasse ainda mais contorcida de raiva.


Sem esperar resposta, a mulher tomou o braço do filho e caminhou elegantemente em direção a casa em que estavam hospedados. Draco parecia espantado com o encontro que tivera com os italianos, mas a mãe tratara de animá-lo no caminho, dizendo que quando voltassem à Inglaterra iriam ao Beco Diagonal comprar todo seu material para Hogwarts. Draco a fizera prometer que compraria para ele uma vassoura de corrida, um caldeirão de ouro e diversos outros itens excêntricos. A mãe concordou, distraída. Na verdade, Narcissa estava com os pensamentos distantes. Estaria o casamento dela caminhando lentamente para o mesmo destino dos Bugiardini? Não, isso não poderia acontecer. Era o que ela esperava.


Ao entrarem na casa, Narcissa comunicou ao filho que iria para seu quarto guardar as compras e descansar um pouco antes do jantar. Dando um beijo em Draco e o aconselhando a não aprontar nada na casa do Sr. Fudge, ela se retirou.


O menino não estava pensando em peraltices naquele momento. Os acontecimentos daquele dia o preocupavam. A mãe dissera a ele que não estava certa dos sentimentos do pai por ela. Draco gostava dos pais, não queria vê-los sofrendo. Além disso, já tinha ouvido falar que quando um casal não vinha se entendendo muito bem, poderia pedir um “divórcio”, o que significava que eles não iriam mais viver juntos. Ele não queria ter que escolher com qual dos dois ficaria.


Draco chegou à conclusão que era seu dever ajudar a mãe, e isso precisava ser feito logo. Nos próximos meses ele iria para Hogwarts. O que seria daquela família sem ele? Decidiu que era preciso conversar com o pai assim que chegasse.


Para esperar até que Lucius retornasse do trabalho, Draco sentou-se numa cadeira alta que havia no canto da sala de estar. Os pés mal alcançavam o chão, mas o menino tinha um ar decidido e a expressão séria. Era preciso ser um adulto para resolver certos assuntos. Certamente sua mãe riria dele se o visse ali em um canto escuro, com o cotovelo apoiado no braço da cadeira, esforçando-se para parecer maduro. Não importava, ele faria o que tinha que ser feito.


- Francamente. – murmurou Lucius ao abrir a porta e entrar na casa – Quinze pares de meias para cada par de vestes. Narcissa deve pensar que me cubro de meias para ir a reuniões.


 Draco esperou até que o pai fechasse a porta para andar em sua direção. Ele nunca tinha tido uma conversa desse tipo com Lucius. Estava nervoso, mas tomou cuidado para não deixar que suas emoções transparecem em sua voz, disse:


- Pai, precisamos ter uma conversa séria.


Lucius encarou o filho, perguntando-se que tipo de assunto um menino de onze anos poderia ter para tratar com ele. Ele estava cansado e cheio de questões realmente sérias, mas mesmo assim resolveu dar ouvidos ao garoto.


- E qual seria o assunto?  - reparou que o menino estava muito sério, o rosto levemente inclinado para cima para poder encará-lo nos olhos, numa expressão que lembrava a sua própria.


- A minha mãe.


- Narcissa? – o homem inclinou-se um pouco para o filho. Agora ele dedicou a devida atenção ao que Draco dizia. Sua esposa realmente andava estranha nesses últimos dias – O que há de errado com sua mãe, Draco?


- Sente-se, por favor. – indicando o sofá ao pai e sentando-se na mesma poltrona alta. Lucius teve que se segurar para não rir daquela criança, tentando passar-se por um senhor. O homem sentou-se no lugar indicado – Hoje passei a tarde acompanhando a mamãe em um encontro com as senhoras.


Draco narrou para o pai os acontecimentos desde a saída da casa até o episódio na loja trouxa. A medida que avançava na narrativa, o garoto perdeu toda a seriedade que antes ele se esforçava para manter. O filho parecia indignado:


- E então começaram a discutir em francês, aquela mulher horrível do senhor Fudge provavelmente irritou a mamãe, porque ela respondeu muito brava, em francês também. Eu não entendi nada. – o menino já era de novo uma criança insegura – Mas então a senhora Fudge disse que a mamãe não era boa o suficiente pra você, papai.  Minha mãe disse que tudo estava bem, mas depois falou para mim que ela não tinha certeza de que o senhor gosta dela. Eu disse que gostava. O senhor gosta, não é?


Lucius recostou-se no sofá, pensativo. Ele não havia percebido que Narcissa se sentia dessa maneira. Mesmo depois de tantos anos de casado a esposa ainda podia se mostrar insegura a respeito dos sentimentos que ele tinha por ela. Talvez ele não os demostrasse com a frequência que ela merecia. Ao levantar a cabeça, viu Draco inclinado em sua direção, os olhos grandes fixos nele.


- O senhor gosta, não é papai? – repetiu a pergunta, seriamente preocupado com a resposta.


O pai levantou-se sorrindo, pousando a mão na cabeça do filho. Sem olhar para ele, disse:


- Desde o dia em que conheci sua mãe, no primeiro ano dela em Hogwarts, nunca mais tive olhos para outra mulher. Não se preocupe, meu filho. Vou me assegurar de dizer isso a ela.


Draco olhou para cima sorrindo, a mão do pai deslizando para sua testa. Percebeu que o pai estava corado. Lucius fez um carinho na cabeça do garoto e saiu em direção à escada.


Ainda sentado em sua cadeira o garoto decidiu que uma mulher que fizesse sua mãe ficar triste não ficaria impune. Lembrou-se do arsenal de logros mágicos que o pai havia lhe comprado em Hogsmeade e ele contrabandeara na mala, escondido da mãe. A vida da senhora Fudge estava para se tornar mais complicada.

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Comentários (3)

  • Jéssica S.

    A fic de vcs esta cada vez melhor, só quero ver o que Draco vai aprontar...BJS meninas!

    2012-02-05
  • Mari e Lara

    Monica Black, muito obrigada! É muito bom saber que você está gostando e acompanhando nossa história. Em breve postareir o próximo capítulo... está quase pronto! Sinta-se à vontade para comentar e deixar suas opiniões sempre! Mariana 

    2012-01-28
  • Mónika Black

    Gostei muito do cap... Tem sido interessante ler a sua fic!!!!! fico á espera do proximo cap!

    2012-01-27
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