A Cegueira de Hermione



A caminhada para Hogwarts foi mais penosa do que Harry imaginara. Quando tinham andado perto de uma hora, a maioria dos alunos já estava desanimada. Rony foi um dos primeiros a reclamar e dar muxoxos altos.

- Vamos, Rony, não podemos parar agora! – Harry o incentivou.

- Estou cansado, e não sou só eu. Os pequenos também estão cansados – disse Rony, referindo-se aos alunos do primeiro e segundo anos.

- É verdade, Harry – implorou Gina – Estamos todos cansados.

- Está bem! – Harry concordou – mas só por alguns minutos.

- Ufa! – Neville suspirou aliviado sentando-se sobre o chão, forrado pela alta vegetação. Os outros alunos imitaram-no, logo se formou uma grande clareira de alunos sentados sobre o chão, bastante abatidos e exaustos.

- Quer se sentar também, Hermione? – Harry perguntou, atencioso, a mão de Hermione firme sob a sua. Os dois se sentaram um pouco afastados da roda de alunos.

Harry achou que agora seria um bom momento para conversar com Hermione.

- Está tudo bem com você? – Harry perguntou. Hermione abaixou a cabeça, preocupando-se mais com seus pés do que com ele. – Eu... bem.... você parece distante. Aconteceu alguma coisa durante as férias, Hermione? Alguma coisa que a aborreceu? Você pode me contar. Nós sempre confidenciamos tudo um para o outro.

- Ah, Harry... – Hermione suspirou, desanimada – Na verdade, não estou muito bem.... – respondeu, fazendo rodeios.

- Eu sabia que alguma coisa estava errada. Se achar que pode confiar em mim, estou sempre do seu lado. Sabe disso, não é. Você é a minha melhor amiga. Se tiver alguma coisa a perturbando eu gostaria de saber. – Harry disse, baixinho de modo que somente ela pudesse escutar.

Ela levantou a cabeça para contemplar o amigo.

- Harry... eu.... eu.... estou.... – Então, de repente, Harry viu os olhos de Hermione se arregalarem e as pupilas contraíram-se como que focando-se sobre um alvo. Tão rápido quando Hermione poderia ser, ela levantou-se e sacou a varinha bem guardada em suas vestes – EXPECTO PATRONUM !

Harry virou-se rápido para a direção onde Hermione apontava. Uma morsa prateada impedia o avanço de três dementadores. Um pouco mais a frente, havia uma centena daquelas criaturas.

As crianças levantaram-se assustadas e começaram a gritar desesperadas.

- CORRAM! – Harry gritou – RONY, GINA, NEVILLE, LUNNA.... AJUDEM OS OUTROS! CORRAM O MAIS QUE PUDEREM... EU E MIONE VAMOS RETARDÁ-LOS.

Harry mirou e conjurou o seu patrono também. O cervo juntou-se a morsa para afastarem os dementadores que recuavam contrariados.

- Vem, vamos! – Harry agarrou a mão de Hermione e a arrastou. Os dois correram rápido demais, mas paravam vez ou outra para conjurar o patrono. Quando Harry percebeu, não havia nem sinal de dementadores, nem de nenhum dos estudantes. – Espero que eles tenham escapado. Sorte nossa que você viu aqueles dementadores, senão eles teriam nos atacado antes que pudéssemos reagir. – Harry coçou a cabeça – Engraçado, por um momento, um breve momento, eu imaginei que.... que besteira a minha.... eu imaginei que você estava cega!

Hermione teve um leve arrepio que cruzou todo o seu corpo. Harry não deixou de perceber.

- Parecia que havia algo estranho em seus olhos. Parecia que você não conseguia enxergar direito...

- É claro que eu posso enxergar – Hermione disse, levantando o rosto para Harry, olhando-o diretamente nos olhos, com uma expressão desafiadora. Mas o foco sobre os seus olhos não durou muito tempo. Harry percebeu que seus olhos se distanciavam levemente a cada segundo que Hermione sustentava aquele olhar. Tão brevemente, Hermione olhava para algum ponto de seu rosto como tentando focar um alvo.

Hermione abaixou o rosto, então, parecendo mais abatida que antes.

- Bom.... você estava me dizendo uma coisa antes. O que era?

- ah... nada! – respondeu Hermione, de forma muito displicente.

- Você estava dizendo que você estava... ? – reiterou Harry, forçando Hermione a responder.

- Que eu estou... cansada! – ela respondeu, irritada, mas um novo tremor perpassou seu corpo, agora de maneira mais evidentemente.

- Você está tremendo, Hermione!

- Eu não me sinto muito bem, só isto!

Harry passou o braço pelas costas da garota, aninhando-a em seu peito e envolvendo-a com seu robe.

- Se apurarmos, chegaremos logo. Já está escurecendo e não é bom para você pegar sereno, se estiver com uma gripe.





Apesar de tentar chegar logo, Harry e Hermione só chegaram a estação de Hogwarts uma hora depois, completamente ensopados pelo sereno.

- Harry, Hermione! Vocês estão bem? – Hagrid veio recepcioná-los. – Acho que vocês são os últimos.

- Os outros alunos chegaram bem?

- Sim – Hagrid respondeu – Já foram para o castelo, mas eu reservei uma carruagem para vocês. Vou ficar mais um tempo aqui. Só para ter certeza de que ninguém ficou perdido.

Hagrid assoviou. Logo um testralio apareceu carregando uma carruagem. Harry ajudou Hermione a subir. Ela parecia ainda mais abatida.

Hermione sentou-se e apoiou a cabeça nos ombros de Harry. Depois de alguns minutos, Harry percebeu que Hermione estava inconsciente.

Quando a carruagem enfim parou no saguão de entrada, Harry tirou Hermione e a carregou nos braços até a ala hospitalar.

- O que aconteceu? – Perguntou Madame Pomfrey, quando Harry a colocou com cuidado sobre uma das camas.

- Ela me disse que estava com gripe, mas acho que ela tem outro problema. Seus olhos estão muito estranhos. Se eu bem conheço Hermione, diria que ela não está enxergando direito.

Madame Pomfrey olhou seriamente para Harry.

- Sente-se Potter, preciso falar uma coisa.

- Mas, e Hermione?

- Não há muito o que se possa fazer por ela.

- O que?

- Acalme-se, eu vou explicar tudo.

- Estou bem em pé – Harry respondeu, indignado.

- Está bem, fique como desejar. – disse Madame Pomfrey, aproximando-se da cama onde Harry depositara Hermione para tomar os pulsos da garota. – Eu previ que isto poderia acontecer.

- Isto o que?

- No ano passado, lembra-se. Quando ela foi atacada no Departamento de Mistérios? No início não sabíamos que feitiço era aquele, mas logo percebemos que foi pura sorte aquele comensal não poder falar, pois o estrago seria bem maior.

- Eu me lembro, mas que feitiço foi aquele.

- Não sabemos. Como eu disse, aquele homem horrível tinha perdido a voz e Hermione é uma garota forte. Ela conseguiu resistir ao feitiço, seja lá qual fosse, mas isto deixou seqüelas muito graves nela.

- Meu Deus.... isto quer dizer que...

- Quer dizer que o feitiço causou uma série de complicações para Hermione. Ela ficará muito doente e debilitada, mas isto não é a pior coisa que lhe acontecerá.

- E o que é então – perguntou Harry, prevendo a resposta.

- Harry, eu gostaria muito se você não falasse para ela. Ela me fez prometer que eu não contaria a você nem a ninguém. Ela acha que será inútil para você se não poder lutar.

- O que aconteceu com ela, Madame Pomfrey? – Harry repetiu a pergunta, impaciente.

- Ela está ficando cega!

Harry encarou Madame Pomfrey abismado, não podendo acreditar no que ouvia, apesar de as coisas encaixarem-se perfeitamente bem com o comportamento estranho dela desde que a vira.

- Existe uma cura? – Harry perguntou, apreensivo.

- Talvez... mas ainda não sabemos.

Harry desabou sobre uma cadeira ao lado da cama onde Hermione estava e segurou a mão dela.

- Harry, por favor, finja que você não sabe. Hermione já esta com bastantes problemas.

- Tudo bem. Se é para ela se sentir melhor, eu faço o que tiver de ser feito.

- Ótimo! Agora é melhor que você vá. Dumbledore está conversando com os alunos. É importante que você esteja presente. Vá, Harry!

- Eu não quero ir.... quero ficar com Mione.

- Não há nada que você possa fazer por ela agora, senão escutar o que Dumbledore tem a dizer. E lembre-se, Harry, este ano promete ser atribulado e você precisa ser forte por Hermione e por todos nós. Agora, Vá!

Harry levantou-se sem vontade e arrastou-se até o salão principal. Quando cruzou a porta Dumbledore os alunos viraram o rosto para ele, mas ele não se incomodou e continuou a cruzar o corredor até chegar onde Rony estava.

- QUE BOM QUE O SENHOR CHEGOU, SR. POTTER – disse o professor Dumbledore que ainda estava em pé fazendo seu discurso de início de ano letivo – E ONDE ESTÁ HERMIONE? ELA ESTÁ COM O SENHOR, NÃO?

- ELA ESTÁ NA ALA HOSPITALAR – respondeu Harry, mas reiterou quando viu os olhares de preocupação dos professores. – ELA ESTÁ BEM – mentiu – SÓ ESTÁ MEIO GRIPADA EU ACHO.

- BOM! COMO EU ESTAVA DIZENDO ANTES DO SENHOR CHEGAR, TEMOS UMA MÁ NOTÍCIA. UMA A QUAL OS SENHORES AQUI PRESENTES JÁ SENTIRAM “NA CARNE”. OS DEMENTADORES HOJE CEDO, REBELARAM-SE E LIBERTARAM TODOS OS COMENSAIS DA MORTE. ISTO QUER DIZER QUE ALÉM DO APOIO PUBLICO DOS DEMENTADORES A CAUSA DE VOLDEMORT – disse o professor ainda arrancando suspiros dos alunos por ter mencionado o tão temido nome – TEMOS FIGURAS MUITO MÁS A SOLTA INCLUSIVE LUCIOS MALFOY, PRESO NO ÚLTIMO ATAQUE AO MINISTERIO EM JULHO PASSADO.

A maioria dos alunos olhou feio para Draco que fazia caras e bocas de quem ignorava o discurso de Dumbledore.

- ISTO QUER DIZER QUE NOSSOS CUIDADOS E ATENÇÕES DEVEM SER REDOBRADOS DURANTE ESTE ANO. POIS O CERCO DAS TREVAS ESTÁ SE FECHANDO SOBRE NÓS. E ESTEJAM ALERTA, POIS SEMPRE HÁ LOBOS ENTRE OS CORDEIROS.

E dizendo isto, Dumbledore terminou o discurso abrindo o jantar, mas Harry não estava com fome.

- Hermione está mesmo bem? – Rony perguntou, servindo-se de coxinhas de frango.

- Sim. – respondeu Harry, decidindo que aquela não era a melhor hora de contar ao amigo o que estava acontecendo.

- Ei, por acaso você recebeu os resultados do NOMs? – Rony perguntou, animado.

- Não! E você? – Harry agradeceu por Rony ter mudado de assunto tão bruscamente.

- Dumbledore acabou de dizer que os resultados atrasaram e só chegaram hoje à tarde. Os envelopes serão entregues só hoje a noite.

- Se eu não reprovei em todas, já está bom. – respondeu Harry sem humor.

- Nossa... você está mal, hein? O que aconteceu na mata? Todo mundo estava preocupado com vocês. Vocês demoraram muito.

- Tivemos que atrasar os Dementadores, e Hermione não estava muito bem.

- Vocês brigaram?

- Não! Por que está perguntando isto?

- Não, nada.

- Nós não brigamos. Hermione está um pouco doente e eu não estou muito bem, estou preocupado com tudo o que está acontecendo – Harry respondeu, alterando-se um pouco – Você também devia estar preocupado. Está tudo acontecendo com muita rapidez. Jamais imaginei que os Dementadores poderiam nos atacar enquanto viajávamos.

- O trem é protegido com um monte de feitiços, sabia?

- Não, não sabia!

- Dumbledore falou. Ele só não sabe como os Dementadores conseguiram quebrar a proteção. O que você acha?

- Eu não sei, Rony. – Harry levantou-se irritado - Eu não estou com fome, acho que vou subir, ta! Ate depois.

Harry caminhou para fora do salão principal, arrependendo-se por ter sido rude com Rony, mas agora não estava conseguindo se concentrar em alguma coisa que não fosse Hermione. Quando ele subia uma das escadas para a torre da grifinória, escutou passos atrás dele e virou-se.

- Gina? Quer alguma coisa comigo? – Harry perguntou à garota que correu para alcançá-lo.

- Eu sei que você está aborrecido, Harry,mas eu precisava falar com você, se não se importar.

- Não, pode falar! – Harry respondeu, tentando ser cortes a Gina.

- Rony é cego quando se trata dos sentimentos dos outros, mas eu posso ver certas coisas que outras pessoas não conseguem. Por exemplo, eu sei que você está preocupado com Hermione e sei que Hermione tem mais do que uma simples gripe.

- E como é que você sabe disso? – Harry perguntou, admirando a percepção das mulheres. Hermione também sabia enxergar coisas que ninguém mais conseguia.

- Observando. Observei que Hermione não estava bem. Observei que durante todo o trajeto ela não largou de você e Hermione sempre foi muito independente e autoritária. E observei que tem alguma coisa estranha com os olhos dela. Ela.... – Gina disse, olhando para os lados para se certificar que não havia ninguém por perto. – Ela está cega, não é?

- Gina... Madame Pomfrey me fez prometer que não contaria nada a Hermione que descobri. – disse Harry, surpreso com a dedução de Gina - Pelo que parece, Hermione não está aceitando tudo isto muito bem. Por favor não conte a Mione que sabemos isso – Harry suplicou.

- Eu juro que não conto nada, Harry. Vou fingir que não percebi nada. Eu acho mesmo que é você quem deve falar isto a ela.

- Eu vou. Mas quando Hermione estiver mais forte.

- E se ela não ficar mais forte, Harry? Se eu bem conheço Hermione, ela vai se fechar numa concha, e não vai revelar seus problemas a ninguém, na ânsia de querer se superar, de ser útil.

- Eu sei... foi juntamente o que Madame Pomfrey disse. Você acha realmente que eu devo falar para ela?

- Não! – Gina respondeu – Deixe que ela fale. Deixe que ela se abra com você. E tem que ser você, Harry. Hermione não se abre com ninguém mais a não ser você.





Próximo Capítulo : A Magia e a Política

















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