Não é Ciumes, é só sei lá

Não é Ciumes, é só sei lá



As duas primeiras semanas de novembro continuavam com uma neve fraca ao redor do castelo. O frio aumentava ainda mais e sempre havia discussões frequentes entre os alunos entre quem se sentaria em frente à lareira na sala comunal.


Apesar das férias de natal estarem próximas, os professores não usavam essa razão para não passar mais trabalhos e deveres complicados. Muitos alunos já sabiam executar sabiamente o Patrono na aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, mas Martim nos avisou que enfrentar um dementador de cara com certeza exigiria mais esforços.


A manhã de quinta-feira, porém, era uma data importante do mês: era aniversário de Maria.


- Parabéns! – desejei a ela assim que ela acordou naquela manhã, no dormitório. Eu dei-lhe um abraço.


- Obrigada Lílian! – respondeu feliz. Ela se ajoelhou sobre a pilha de seus presentes e começou a abri-los.


- Ótimo, minha mãe sempre me dá o mesmo presente. – ela disse desembrulhando desgostosa um grosso livro intitulado Regras de uma boa bruxa: volume 7. – Todo ano é um volume diferente. Não vejo a hora de essa editora falir. Aaah! Lílian é lindo!


Ela abrira meu presente. Decidi dar um vestido que certa vez ela vira na revista Semanário das Bruxas.


- É pra você usar em algum encontro que tiver com Dougie.


- E falando nisso, aqui está o presente dele. – ela disse, abrindo uma pequena caixa. Dentro dela havia um par de brincos dourados e com duas pedrinhas que reluziam à claridade vinda da janela.


- São lindos. – falei. Fiquei aliviada que Dougie não fosse um desses garotos insensíveis que dá, por exemplo, uma panela de presente.


- É mesmo. – disse ela com os olhos brilhando, experimentando os brincos.


Eu fiquei pensativa por um instante. Nunca na vida eu ganhara um presente de um garoto, porque também nunca tive um namoro firme. Às vezes eu sentia falta de alguém assim. Alguém para fazer companhia, alguém especial, alguém que tenha mais coisa a oferecer mais do que amizade...


- Lílian, está me ouvindo? – disse Maria. Eu pisquei os olhos.


- O quê?


- Em que estava pensando? – perguntou ela me fitando.


- Em nada.


- Você não me engana. Com certeza está se perguntando por que nunca recebeu um agrado de um rapaz antes, não é?


Como ela sabia disso? Às vezes eu pensava que Maria era uma Legilimens. Ou então ela me conhecia o bastante para entender minha expressão.


- Você é muito boba. – disse ela, desembrulhando uma enorme caixa de sapos de chocolate. – Você sabe que o...


- Não me venha falar do Tiago de novo, por favor.


- Mas é verdade.


Eu ia responder, mas a porta do dormitório se escancarou e as outras meninas entraram no quarto para desejar parabéns pra Maria também.


O dia correu normal. Maria e Dougie ficaram mais grudados do que nunca o dia inteiro, e só apenas no jantar consegui conversar com Maria direito.


- Você soube da última? – ela perguntou enquanto eu me servia de omelete.


- O quê?


- O Tiago...


- Ah, não quero saber. – interrompi olhando para o teto. – Seja o que você for querer dizer sobre ele e mim saiba que não estou nem um pouco interessada.


- Mas...


- Não quero saber, Maria. – respondi e então decidi mudar de assunto. - Você tem notícia da Joanne?


- Não. Mas com certeza ela deve estar com os avós.


Depois do jantar nos dirigimos até a sala comunal, ainda discutindo o paradeiro de Joanne, e fiquei feliz que ela não tivesse começado a falar do Tiago de novo. Quando entramos a sala estava apinhada de alunos.


Eu estava indo procurar por Dougie, que tinha combinado se encontrar comigo e Maria para adiantarmos o trabalho de Transfiguração, quando uma cena me chamou atenção.


Tiago conversava animadamente com Laura Tyson, outra garota que dividia o dormitório comigo. Eles estavam sentados um de frente para o outro em uma mesa, debruçados, sem dúvida muito entretidos na conversa, pois estavam muito próximos uns dos outros, como se fossem...


Eu senti um pouco de raiva. Não, não raiva. Na verdade eu não sabia que sentimento era aquele que se apossou de mim, algo que eu não sentira nunca e também não sabia por que o estava sentindo. Só sei que era estranho. Muito estranho. E na verdade eu nem estava querendo saber que sentimento era aquele.


Minha primeira idéia foi segurar com firmeza o cabelo de Laura e puxar ela sala afora. Outra idéia fora lançar nela um feitiço das Pernas Presas. A cada vez que eu olhava a cena, novas idéias malucas me passavam na cabeça.


- Lílian o que houve? – perguntou Maria.


- Nada. – falei com a voz irritada e esquecendo que eu estava a procura de Dougie subi correndo para o dormitório, Maria atrás de mim.


- O que aconteceu, Lílian? - disse Maria com a voz divertida.


- Aconteceu nada! – exclamei.


- Por acaso você...?


- Não me venha com suas suspeitas bobas, Maria. – interrompi. – Vou dormir.


- Está muito cedo. – ela respondeu decididamente rindo. – E o trabalho da McGonagall?


- Pode esperar. – falei rabugenta. – E não sei do que você está rindo.


- Você está com ciúmes! – ela exclamou, meio que cantando.


- Ciúmes? – indaguei incrédula. – Ciúmes do quê?


- Do Tiago com a Laura.


- O quê? Nem pensar! Eu nem... eu não... não sei do que você está falando.


- Confessa de uma vez, Lílian...


- Dá pra você me deixar em paz e me deixar dormir?


- Tudo bem, mas eu...


- Tchau Maria!


Maria gargalhava a ponto de cair no chão. Olhei pra ela incrédula.


- Não sei por que é que você está achando graça. - falei com a voz embargada.


Eu esperei impaciente ela parar de rir, até que finalmente ela recuperou o fôlego.


- Você precisava ter visto a sua cara. – disse ela esfregando a barriga.


- Ha ha. – eu suspirei, e quase não me contendo perguntei. – Eles estão juntos?


- Sim.


Senti um aperto no peito, meio que sem entender porque senti. Só sei que isso me incomodou muito e comecei a me perguntar por que eu estava ligando tanto para isso. Era só o Potter, um garoto idiota. Por que eu estaria brava com isso?


- Que bom, não é? – respondi pouco convincente.


- Eu sei que você não acha isso nada bom.


- Acho sim.


- Não acha.


- Acho. Quero dizer, tenho certeza.


- Você ficou triste. – disse ela cantarolando outra vez. – Você ficou com ciúmes.


Revirei os olhos, mas não respondi.


- Eu tentei te contar no jantar, mas você não deixou.


- Eu não sabia que você ia dizer isso. – eu disse meio corada.


- Pois essa é a verdade, minha amiga. – disse ela com o tom meio consolador. – Eu te avisei. Já que você não deu a chance que o Tiago queria, outra garota fez isso por você.


Eu abaixei a cabeça.


- Outro dia mesmo, ele... ele parecia... ainda gostar de mim. – murmurei.


- Ele desistiu. Sinceramente, ele agüentou dois anos de "nãos" dado por você, já estava na hora. – disse ela, abrindo um dos sapos de chocolate que tinha ganhado.


- Sabe, nem sei por que estou me importando com isso. – eu disse levantando a cabeça e me pondo de pé. Forcei um sorriso na minha cara. – É bom pra ele, e também para mim. Assim ele sai do meu pé.


No fundo eu sabia que estava mentindo, e é claro, Maria também. Mas me pareceu que ela não decidiu discordar.


- É isso aí. – disse ela. – Bola pra frente.


- Bola pra frente. – repeti.


Era difícil convencer a mim mesma essa afirmação, porém era mais difícil ainda convencer meu coração, que ainda batia acelerado.

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