Atraso, Encontros Indesejáveis

Atraso, Encontros Indesejáveis



Até o último dia de férias eu e Sev já estávamos conversando de novo. Era sempre assim: brigávamos, mas sempre voltamos a conversar.


Com toda certeza Sev estava muito mais ansioso do que eu para o retorno em Hogwarts.


- ... e este ano vamos aprender feitiços importantíssimos e, é claro, poções. Espero sinceramente que ensinem o preparo da Felix Felicis.


- Você está com saudades dos seus amigos? – perguntei. Estávamos no parque de sempre, agora com umas cinco ou seis crianças correndo e brincando por ali. Estávamos deitados na grama aproveitando o sol escaldante de verão.


Ele não respondeu de imediato. Quando falou parecia fingir calma no tom:


- Eu não falo sobre Potter, e você não fala sobre meus amigos.


- Mas é diferente, Sev. Potter não é motivo para se preocupar, mas já seus amigos...


- Eu acho o contrário. E se não quiser discussão é melhor nem continuar esse assunto.


Ficamos calados por um tempo. Tantas vezes tentei alertá-lo, tantas vezes tentei convencer ele de que aqueles caras eram maus. Maria e Dougie insistiam que na verdade Sev era tão ruim quanto eles. Mas se ele realmente fosse assim, por que conversava comigo então?


O dia seguinte correu depressa. Felix, meu gato, simplesmente não queria entrar na sua cesta de viagem e eu não achava de jeito nenhum meu livro História da Magia.


- Estava no meu quarto! – insisti. – Eu nem mexi nele esse verão!


Na verdade, no fundo, eu tinha uma desconfiança.


Túnia decidira ficar em casa. Em geral ela não gostava de ir à estação acompanhada comigo e meu malão de Hogwarts, achava muito "chamativo". Ela parecia realmente feliz. De princípio achei que fosse por causa de minha partida. Esse comportamento era novo nela, e confesso que me magoou um pouco.


Quando faltava meia hora para as onze, comecei a ficar desesperada. Decididamente não estava no meu quarto, nem na sala, nem no quarto dos meus pais.


Minhas suspeitas se confirmaram quando fui me despedir da Túnia. Ela estava de costas no chão, no quarto dela.


- Túnia, eu... – comecei a dizer e ela se assustou, levantando-se depressa. Em sua mão, aberto na pagina 214, meu exemplar de História da Magia.


Depois de Túnia não falar nenhuma palavra, tal seu constrangimento, eu lhe dei um abraço de despedida.


O trânsito a caminho de King's Cross estava impossível. Batuquei impaciente na janela do carro.


Já faltavam quinze minutos para as onze quando estávamos na metade do trajeto.


- Pai... – comecei.


- Já é a quinta vez que você me fala pra ir rápido. Nosso carro não é tão potente assim.


Mamãe riu.


- Mas eu tenho que chegar mais cedo! – eu disse indignada. – Sou monitora-chefe agora, tenho que me apressar.


Chegamos à estação. Dei um abraço e um beijo em cada um e prometi escrever.


Faltavam exatamente 5 minutos quando eu atravessei a barreira, em direção ao trem. Sev estava lá, procurando por mim.


- Aí está você. – ele disse, suspirando aliviado. – Pensei que você não viria.


- Ainda conversando com essa sangue-ruim, Snape? – era a voz grossa e rouca de Avery, vindo em direção onde estávamos.


- Vou embora. – sussurrei depressa para Sev. – Tenho que ficar no compartimento dos monitores, e é realmente uma pena que eu só possa dar uma bronca no Avery quando chegarmos a Hogwarts.


Saí apressada deixando Sev para trás. E depois de embarcar meu malão e pegar o Felix, entrei no trem, que com um agudo apito indicava que o trem começou a ganhar velocidade.


Eu estava indo em direção ao meu compartimento, onde Dougie, que também é monitor-chefe deveria estar questionando meu atraso. Meu atraso foi maior quando um garoto entrou no meu caminho.


Apesar de estar um pouco diferente, reconheci Tiago Potter na minha frente. Com cabelos negros totalmente bagunçados, ele parecia ter crescido mais esse verão e me parecia que havia usado um Feitiço de Boa Forma.


- Ah, você. – eu falei descontente.


- Oi, Evans. – ele disse, educado. Me surpreendi de ele não ter usado seu tom galanteador de sempre e ainda não ter bagunçado ainda mais o cabelo. – Como passou as férias?


- Nada mal. – eu disse impaciente. – Pode me dar licença?


- Dê licença para a moça, Pontas. – era o Black agora; hoje não era meu dia de sorte. Sua voz era divertida. Esse aí não tinha mudado nada pelo que se nota.


- É, dá licença. – eu disse. – Tenho que ir para o compartimento dos monitores.


- Então a gente se vê. – disse Potter.


- Espero sinceramente que não. – respondi, passando por baixo de seu braço. Ouvi a gargalhada do Black, seguida pela de Pettigrew.


Quando entrei no compartimento os monitores estavam todos agrupados.


- Por que demorou? – perguntou Dougie. Ele era magro e seus cabelos eram enroladinhos. Seus olhos eram castanho-mel.


- Congestionamento.


- É, os trouxas tem um jeito estranho de se transportar não é? – disse um monitor sonserino, que me lembrou de Túnia falando de bruxos.


- Se está tão interessado, por que não entra nos Estudos dos Trouxas? – quem respondeu foi Remo Lupin, que apesar de ser um dos amigos do Potter era uma pessoa, pelo que vejo, gentil. Ele usava roupas amarrotadas e gastas, remendadas em alguns pontos. Sev falava que ele era um lobisomem, mas pouco me importa. Como uma legítima sangue-ruim eu sei o que é julgar uma pessoa pela raça ou família.


O trajeto foi normal, como nos outros anos. Perto da uma hora fomos ao encontro de Maria McDonald, nossa amiga. Procuramos por ela pelo primeiro vagão e o segundo, e para minha surpresa, e incredulidade de Dougie, Maria estava aos amassos com Robert Kingston, um sextanista da Corvinal.


Eles se afastaram quando nos viram.


- Ah, oi. – disse ela, sem dúvida constrangida. Ela tirou do seu rosto uma mecha lisa de seus cabelos negros; em geral Maria era bonita, ainda mais pelos seus olhos incrivelmente azuis.


- Oi. – eu disse simplesmente. Dougie parecia não encontrar palavras para dizer. – Vamos para o compartimento.


- Duvido que ache um vazio. – disse Maria. – Por isso eu guardei esse pra gente.


Ela apontou com o polegar para uma cabine vazia atrás de si.


Ela olhou para o Kingston e falou baixinho, suficiente para eu e Dougie ouvir:


- A gente se vê depois.


E com um ultimo beijo ele se afastou, com um cumprimento de cabeça. Maria entrou no compartimento, seguida por mim (tive que pegar a mão de Dougie e arrastá-lo para dentro da cabine).


Dougie pelo visto perdera a voz. Eu sempre soube que ele tinha uma queda por Maria, apesar de ele não comentar nada comigo. Maria, ao contrário, nunca percebera.


- Está passando mau Dougie? – Maria perguntou.


Ele olhou para ela, ainda com cara de espanto. Balançou a cabeça, em sinal negativo.


A mulher do carrinho de doce chegara. Apressei a me levantar e Maria também. Dougie não se alterou.


- Cinco sapos de chocolate, uma torta de abóbora e também cinco varinhas de alcaçuz. – pedi. – Não vai querer nada Dougie?


Ele balançou a cabeça outra vez.


- Quero dez sapos de chocolate. – pediu Maria e aproveitou a oportunidade para cochichar comigo. – O que aconteceu com ele?


Dei de ombros e abri um sapo de chocolate. Dumbledore de novo.


O percurso todo foi silencioso, apesar de Dougie ter sarado do transe.


O céu começou a escurecer e umas nuvens arroxeadas apareceram no horizonte. Pouco depois gotas finas de água apareceram e foi iniciando uma das chuvas de verão, que começaram a molhar as janelas.


Vestimos as roupas pretas de Hogwarts, e com um leve solavanco, o trem parou.

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