Gula - Bells Black

Gula - Bells Black



     O colorido dos recipientes cheios dos mais variados ingredientes era o único motivo pelo qual eu permanecia encarando aquela mesa: eles eram bonitos. Eu sabia que nenhuma ideia me viria à mente e eu não estava nem um pouco interessada em me esforçar. Azeitona, azeite, galinha, temperos variados, legumes, verduras e grãos, um bom pedaço de carne e costeletas de porco estavam dispostas organizadamente sobre a mesa ao lado de assadeiras, liquidificador, facas e outros utensílios. Cremes, frutas, massas e bebidas doces estavam dispostas ao lado de travessas de vidro e uma batedeira mágica. 




     Eu olhei tudo aquilo novamente e suspirei de impaciência. Meu pé direito batendo freneticamente no chão não estava dando conta de drenar toda minha irritação.




— E enton? - Nenhuma voz poderia ser mais irritante do que a dela nesse momento. Nenhuma pergunta podia ser mais odiável. E incrivelmente ela conseguia ambas.




     Eu a olhei com a expressão mais mal-educada, rebelde e incrédula que eu consegui fazer.




— Qual é sua dificuldade?




— Hm – eu me fiz de pensativa – Que carne é essa mesmo? - eu apontei inocentemente para a galinha.




— Já chegue! - ela levantou-se e bateu a mão na mesa – Você estarr se fazende de boba.




     Eu não respondi e continuei encarando-a com aquele ar insolente. Eu não costumava ser uma irritante rebelde-sem-causa, mas eu não podia evitar o desejo de tornar o dia de Fleur um pouquinho menos perfeito e entediante.




— Você vai terminar isse agora, ou eu vou desistir!




— É um favor que você me faz.




     Ela me encarou por um segundo com aqueles olhos azuis, suspirou e veio para o meu lado.




— Pense.




— Eu estou pensando – respondi – Ao contrário de algumas pessoas, eu tenho esse hábito e me utilizo dele com frequência.




— Isse é suficiente! - ela exclamou dois tons acima de seu comum – Se você non querr serr uma boa esposa parra seu marido, non serr probleme meu! - ela deu a volta na mesa e foi até a pia, retirando o avental de cozinha. - Eu vou dizerr a Sra. Weasley...




— O que é ser uma boa esposa pra você, Fleur? - eu me aproximei rapidamente, encarando-a e desafiando-a – Por um acaso ser ridiculamente submissa e sacrificar sua vida em nome de serviços domésticos? É isso? Você devia receber Primeira Classe na Ordem de Merlim. - completei debochadamente me virando para ir embora.




— Você non sabe de nada, . - ela segurou o meu pulso, me fazendo virar-me para ela, olhou dentro dos meus olhos e disse num tom baixo, mas cheio de autoridade.




     Eu não sei por que, mas senti-me corar. O brilho que eu vi nos olhos dela me mostraram, muito mais do que o famoso argumento 'ela esteve no Torneio Tribruxo', a mulher forte e inteligente que existia por trás daquele bibelô de porcelana. Eu me senti envergonhada pela minha atitude, meu rosto corou e eu olhei para baixo um segundo, contrangida. Mas tudo isso durou apenas um segundo. Logo depois uma cena absurdamente inimaginável me veio à mente e rapidamente eu olhei para ela novamente e um brilho quase maligno perpassou meu olhar. Um arrepio percorreu minha espinha e de repente eu me tornei muito consciente de suas mãos macias em meu pulso.




     Os lábios vermelhos e molhados, que lembravam muito morangos frescos, me convidaram e eu nem pensei antes de beijá-la.




     Quando a minha língua pediu passagem, a dela se retraiu em choque, mas eu continuei. Depois de um beijo forçado e rápido, eu me separei dela e assim que sua boca ficou livre, ela exclamou:




— O que você fez? Em que estarr pensande?




     Eu não respondi, eu não pensei. Eu segurei sua cintura firmemente e a prensei na pia. “A que horas Gui vem buscá-la?”, pensei sorrateiramente, mas não me lembrava que horas eram agora, então não fez muita diferença.




— Você estarr maluque!




— Talvez essa aula não seja uma perda de tempo, afinal de contas.




     Voltei para a posição inicial, intrigada com minhas próprias ações. Fleur deveria estar pirando, mas totalmente confusa e sem saber o que fazer, o que a impedia de fazer qualquer coisa.




— Eu vou fazer uma salada de queijo, assar uma galinha e assar pãezinhos. Para sobremesa, um bolo de frutas cremoso.




— Non há nada de especial nesse menu. - disparou automaticamente.




— É só o que sei.




     Ela respirou fundo, ainda aturdida.




— Você pode começar.




     Fleur deixou a cozinha, claramente abalada e eu comecei a trabalhar.




     Eu detestava cozinhar. Detestava qualquer tipo de tarefa doméstica.




     Muito provavelmente minha mãe pedira para ter aular de culinária com a Fleuma só para se vingar por eu não ter querido sair do básico das tarefas domésticas quando adolescente.




     Limpei a galinha, morta de nojo - e ainda tive a decência de cozinhá-los e jogar para os cachorros - e a deixei para marinar. Depois, ainda achando tudo aquilo extremamente tedioso, fiz a massa para o pão. Por fim, o bolo foi para o forno enquanto eu arrumava a galinha na travessa.




     Essa é uma das coisas que eu sempre odiei na cozinha: essa coisa de etapas, espera e etc.




     Quando o bolo finalmente assou e eu coloquei a galinha em seu lugar, tive que deixá-lo esfriar antes de fazer o cheio e a cobertura.




     Como eu estava fedendo a temperos, decidi tomar um banho.




     Fleur ainda não estava em casa ou eu a convidaria para tomá-lo comigo.




     Ri com meu próprio pensamento.




     Jamais. Eu iria me casar em apenas alguns meses e ela era mulher do meu irmão.




     Como meus irmãos já tinham trazido toda a mudança para minha nova casa, não precisei ir até a Toca buscar nenhum pertence. Depois de me vestir e arrumar o cabelo, voltei para a cozinha.
     A galinha só precisava dourar mais um pouco. Os pãezinhos eram rápidos, então eu os coloquei no forno apenas agora. Confeitei o bolo com frutas, creme e açúcar e coloquei para gelar. Fleur só chegou quando eu estava terminando de lavar as verduras.




— Gui mandou uma coruja. - anunciei, vitoriosa. - Você vai ter que ir embora sozinha. Ele ficou preso no trabalho, só vai voltar amanhã cedo.




— Que bom que você já estarr terminando, enton.




— Sim, só falta sua nota.




— Ginevre, precisames conversarr sobre -




— Relaxa. - interrompi. - Foi só um beijo. Não vou contar para ninguém e não vai acontecer de novo.




— Muito bem, enton.




— A não ser que você queira.




     Fleur ruborizou fortemente.




— Mas é claro que non!




Cruzei os braços, quase ofendida.




— Não finja que nunca percebeu essa tensão sexual entre nós. A culpa não é minha, você também permitiu.




— Pelo amorr de Deus! Eu sempre serr gentil, só!




— Tá, claro. - debochei. - Então se eu te beijar de novo você vai conseguir resistir?




— Você non me beijarria de novo, é inaprroprriade.




     O meu único problema na vida é que eu não gostava de nada pouco. Sempre tinha que vir muito em quantidade e intensidade.




     O erro era começar.




     E eu começara, eu a beijara.




     Agora eu queria mais. Muito mais.




     Não sei como tive a prudência de diminuir o fogo do forno antes de empurrá-la no sentido contrário, para a mesa. A fiz sentar no espaço em que estava livre para que eu trabalhasse no meu jantar de teste, e meus lábios rapidamente passaram para seu pescoço e colo, enquanto minhas mãos afundavam em suas coxas.




— Gina...




     Ela tentou sibilar algo, mas sua blusa já havia atingido a cintura e meus lábios seus seios.
As roupas de Fleur foram, pouco a pouco, abandonadas no chão enquanto sua resistência explícita mutava para apenas um sinal com os lábios. Lábios doces, posso dizer.




     Eu nunca tinha feito aquilo, mas segui meus instintos, surpreendendo a mim mesma por ter algum. Ela suspirava sofregamente enquanto minha boca - e dentes, de vez em quando - brincavam com seu lábio inferior e minha mão alisava a parte interna de sua coxa.




     Os beijos e mordiscadas que distribuí pelo pescoço deixavam marcas, mas eu honestamente não me importava. Tudo o que me importava eram momentos como o quando Fleur deixou escapar um gemido alto quando minhas carícias chegaram aos seus seios.




     Meus olhos perpassaram o local onde nós estávamos e eu percebi quantas iguarias deliciosas estavam perto de nós. Eu poderia fazer um jantar especial, afinal. Mais do que especial. O que não mata engorda.




     Eu a deixei sobre a mesa, semi-nua, ardente, desnorteada, culpada e dei a volta. Ela abriu os olhos e procurou por mim, atordoada. Eu sorri maliciosamente e desabotoei minha blusa, ela ainda possuía um certo choque no olhar. A falta de sutiã veio à calhar.




     Da cesta de frutas levei um cacho de uvas, doces como vinho. Retirei uma unidade e comi de olhos fechados, percebendo o quão faminta eu estava: em todos os sentidos. Peguei a outra uva e a estourei na boca, sem comê-la, deixando-a escorrer pelo meu pescoço e colo.




     Olhei para Fleur e ela ainda parecia chocada. Levei o cacho de uva comigo e coloquei uma na boca, a beijei. Era como se estivéssemos nas antigas festas do vinho e da orgia na antiguidade. Pobre Merlim, no momento, Baco parecia mais interessante.




     A uva acabou e eu cuspi as sementes fora. Nossas bocas estavam ressecadas, vermelhas e doloridas, mas eu não me importava, eu queria mais. Eu sempre queria mais.




— Isse non deverria estarr acontecende...




—  Shh! – eu ordenei – Estou preparando meu jantar especial, não era isso que você queria? E adivinha? Você é o prato principal.




     Eu me virei de costas para ela e não foi preciso mais do que agarrar seus braços e passá-los por minha cintura para que Fleur liberasse seus mais atuais desejos. Uma de suas mãos voou para os meus seios e a outra abriu o zíper lateral da minha saia, mandando-a para o chão, enquanto eu destacava mais uma uva do cacho e colocava entre nossas línguas dançantes.




     Ao retirar sua saia completamente, não pude deixar de notar como sua calcinha de renda branca parecia inocente diante de toda aquela cena. Por isso, é claro, me livrei dela rapidamente.




     A calda de cereja escorreu pelos seios de Fleur devagar, fazendo-a suspirar com o líquido gelado sobre seus mamilos sensíveis. Passar a língua em cada parte onde o líquido escorrera, fazendo uma boa manutenção de seus seios, mantendo-os vermelhos e empinados não ajudou muito. Ela gemeu. Eu sorri, mas eu não estava satisfeita, eu queria mais. Eu queria ver ela gritar.




     Ainda me aproveitando da coisa do quente com frio, não pensei muito antes de utilizar o sorvete para o próximo passo. Fleur, ainda tentando bancar a vítima até então, deixou escapar o quanto desejava aquilo também quando abriu as pernas para mim, sem eu fazer absolutamente nada.




     Sorri.




     Eu me abaixei com gula voraz e pus meus lábios inexperientes e desejosos em sua intimidade e o seu cheiro e gosto inundaram minha mente, me fazendo explodir em desejo.




     Se eu explodi em desejo, ela explodiu em prazer e seus gemidos – que ela ainda se esforçava inutilmente para conter – não esconderam isso. Encaixei meus dedos com cuidado e ela gritou, surpresa e excitada. Fleur não podia evitar de curvar o corpo para frente e eu não pude evitar de sorrir




— Gina...




     Eu apenas sorri e me sentei na mesa, as pernas – onde as meias e o tênis ainda estavam presentes  – balançando inocentemente como uma criança. Minha fome de Fleur estava quase que saciada, mas meu estômago ainda estava reclamando, por isso levei a mão aos M&M's para confeito e joguei um bom punhado na boca, fechei aos olhos para me deleitar com o chocolate.




     Chocolate. O rei do Quero Mais.




     Quando os abri, Fleur não estava mais do meu lado, então eu virei a cabeça para procurá-la. Para minha surpresa, ela estava do outro lado da cozinha, um creme branco confeitado na ponta de seu dedo indicador, quando ela encontrou me olhar, abaixou para o dedo e o levou à boca provocativamente.




     Eu sorri, ela retribuiu. Então... não é que a sonsa da Fleuma tinha pego o espírito da coisa? Ela pegou o spray que estava em cima da pia e caminhou na minha direção. Eu agarrei sua cintura e abri a boca pedindo que ela colocasse o chantilly na ponta da minha língua, ela entendeu.




     O beijo veio mais lento do que eu esperava, mas isso não diminuiu minha excitação. Pelo contrário, meu sexo pulsava como nunca antes. Peguei a mão de Fleur e levei ao meu sexo, controlando eu mesma os movimentos, desesperada por um orgasmo.




     Quando eu estava quase lá, no entanto, ela parou e se afastou. Abri os olhos, muito irritada. Eu não tenho muita certeza se o sorriso que Fleur me deu foi malicioso ou satisfeito.




     Ela voltou para perto de mim, e, imitando-a instantes atrás, abri as pernas, convidando-a.  Ela atendeu o pedido. Tão, tão submissa...




     Exceto que não estava. Submissa, digo. Sugando rápido e então lambendo devagar, interrompendo o ritmo, adiando meu orgamo, ela me dominou por completo. Eu estava delirando, quase suplicando, movendo meu quadril de encontro a seus lábios, mas ela me barrava e não me deixava comandar.




— Fleur... Eu sou a Chefe. - suspirei, irritada e excitada.




     Ela respondeu com mais um dos movimentos lentos.




— Me fode... por favor...




     Quando ela finalmente, finalmente atendeu meu pedido, não pude deixar de gemer mais alto do que ela. Eu queria fazê-la gritar, e ela que me enlouquecera, no final de contas.




     Ousei abrir meus olhos e soltei um gemido baixo com o que observei: Eu estava apoiada com os cotovelos e quadril na mesa e os cabelos longos e prateados dela caíam por sobre mim, enquanto ela usava sua boca e dedos.




     Foi, sem dúvida alguma, a cena mais linda que eu já vi na vida. Tentei segurar seus cabelos conforme o gozo se aproximou, mas ela me impediu, mostrando mais uma vez estar no controle.




     Suspirei.




     Só parei de mover meus quadris quando o prazer elétrico me dominou, glorioso e forte - como nunca antes.




     Ela veio até a mim, beijando-me intensamente, quando eu mal podia respirar sozinha.




— O jantar está pronto. - murmurei, olhando para o relógio, ainda sem fôlego. - Com fome?




***




     Algumas pessoas costumam acreditar em pecado. Entre eles está a Gula. A maior parte das pessoas acredita que Gula seja comer ou beber demais, mas, segundo o dicionário, não é isso. Gula é ânsia, desejo, cobiça, gana de ter mais. Sempre mais.  




     Eu não acredito em nada disso. Eu acho que se algo te faz feliz e não machuca ninguém, não pode ser um erro, ou pecado, que seja. Nada que não prejudique outra pessoa deveria ser considerado crime. Mas eu não conheço ninguém que pense como eu, embora conheça várias pessoas que cometam esses mesmos erros, crimes, pecados que tanto julgam e repudiam.




     Se é verdade que cada um tem o seu pecado de estimação*, o meu definitivamente é esse. Nada me satisfaz, nada é o suficiente. Eu quero sempre mais. E eu vou atrás do que eu quero. Sempre.




     Era a última aula de culinária antes do meu casamento – que se realizaria dali três dias – e nós precisávamos comemorar. Eu peguei uma garrafa de champanhe sabor pêssego e me dirigi a casa de meu irmão que não ficava muito longe daqui. Quando cheguei, ele ainda estava em casa e eu fiquei encostada na parede apenas lançando olhares furtivos e indecentes a Fleur, que corava e desviava os olhos sempre.




     Quando Gui saiu – dando um beijo na testa de sua irmãzinha caçula sem saber o que ela fazia com sua esposinha já há algum tempo – e nos deixou à sós, Fleur foi para o fogão e começou a falar sobre a receita que iria me ensinar. Como sempre, ela tentava evitar o nosso fim previsível. Eu apenas a abracei por trás e deixei minha respiração quente arrepiar os pelos de sua nuca.




— Eu não sei por que você ainda tenta resistir.




— Parre. Nós temes que...




     Eu nem sequer a ouvi, pois minhas mãos tocaram seu quadril e um de seus seios simultaneamente e ela perdeu o rumo da frase.




—  Eu trouxe um champanhe com sabor de pêssego. - sussurrei em seu ouvido




—  Eo non querro saberr. Eo non querro isse.




— Não? - eu perguntei provocativamente, deixando que  minha mão encontrasse os pelos ralos e loiros de sua intimidade. - Engraçado. Não é o que parece. - completei me referindo a umidade que encontrei ao aprofundar o toque.




     Eu a senti estremecer sob meu toque e sua respiração ficou pesada e lenta. Eu sorri e inspirei os cabelos prateados que cheiravam docemente bem. Ela deixou sua cabeça cair no meu ombro quando minha mão subiu para seu seio por baixo da blusa. Sorri ao senti-la entregue novamente. Não era maçante, embora previsível, era  exatamente como que da primeira vez,  porque eu  nunca estava satisfeita: Eu queria mais, eu sempre queria mais.




*Pecado de Estimação: Conceito frequentemente utilizado na Igreja Católica para designar o pecado principal que uma pessoa comete, o pecado mais frequente em suas Confissões e que ela mais tem o conformismo e a dificuldade para abandonar.



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Comentários (4)

  • ThaiNaomi

    Amei o capítulo... eu sou muito shipper da Fleur com Hermione, mas com Gina... wow, surpreendeu. Eu não me contive em rir quando imaginava Fleur se fazendo de vitima sexual, com ar de choque e o sotaque dela ao decorrer... ficou, apesar das tentativas de fuga, bem claro quanto as duas estão pau-à-pau no jogo de provocação. Um capítulo delicioso afinal...

    2017-10-13
  • Diênifer Santos Granger

    Amei! *-*

    2012-10-15
  • Bells Black

    Willow, é o que vc mais comete e não aprende. Tipo: vc sempre se ferra por fazer fofoca, mas nunca aprende a não fazer.

    2011-11-23
  • Willow Rosemberg

    Agora fiquei curiosa pra saber...Qual será o meu pecado de estimação?

    2011-11-23
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