Jogos, alucinações e vinganças

Jogos, alucinações e vinganças



Para não chamar atenção Rony, Draco, Emily e Fulton se revezavam nas visitas a lojas de ingredientes; diziam estar interessados em um ingrediente especifico para uma poção proibida. Na maioria das vezes os vendedores os deixam falando sozinhos seja na Travessa do Tranco ou no Beco Diagonal. Na ultima loja que Draco e Emily entraram, um rapaz em troca de alguns galeões, mencionou a loja de ingredientes de poções Lancey.


Estavam mais uma vez hospedados no Solar Benbow. Rony olhava para a recepção; o rapaz que o atendera em sua primeira estadia com Emily tinha sido morto por Patrick. Uma de suas piores lembranças, uma de suas maiores motivações para pegá-lo.


–       Já ouvi falar dessa família Lancey. – disse Draco enquanto tentava jogar xadrez com Rony.


–       Eu também; meu pai os prendeu uma vez. São vigaristas.


–       Agora eles têm uma loja. Estranho não?


–       Vou até lá.


–       Você já andou bastante por ai Weasley; Emily pode me acompanhar.


Draco estava zangado com Rony desde que passaram por Gringotes para conferir se Etien Louer estava bem preso no cofre de Fulton.


–       Fazia muito tempo que não via Hermione! Quando a vi tão perto... – justificou Rony.


–       Quase que você estraga tudo! Ela reconheceria você! Emily irá comigo! – disse Draco deixando a mesa. Rony estava perto de derrotá-lo mais uma vez.


–       Infelizmente ele tem razão. – disse Fulton ocupando a cadeira de Draco.


–       Ela estava linda Fulton.


–       Acredito em você Rony.


–       Como está Emily?


–       Fingindo bem. Quando você viu Hermione ela começou a pensar em como reagiria se visse o marido.


–       Foi minha culpa.


–       Rony, já pensou na possibilidade desse bebê resolver nascer em meio a tudo isso?


–       Vou pensar em alguma coisa. As coisas estão muito diferentes por aqui. Solomon Bluter desapareceu e é provável que esteja morto. Talvez minha família não esteja mais sendo vigiada!


–       Pense que ainda está! Não baixe a guarda agora Rony.


–       Draco quer que Emily o acompanhe a essa tal loja. Sabe Fulton, acho que Draco gosta dela afinal.


–       Ele gosta muito menos de nós dois.


–       Ótimo. Isso é a única coisa que permanece igual.


Um dos irmãos Lancey estava na loja e não deu muita atenção a Draco e Emily. Estava sentado lendo alguma coisa por debaixo do balcão. A primeira vista a loja parecia como qualquer outra.


–       Oi. – disse Draco se aproximando do balcão.


–       O que você quer?


–       Estou procurando uma coisa...


Draco empurrou um pedaço de papel para o balconista.


–       O que? – perguntou o rapaz olhando o papel com impaciência.


–       Ele quer que você leia o papel! – disse Emily.


–       Já estou lendo uma coisa interessante. – respondeu Don mostrando a revista com uma Veela seminua na capa.


–       Escute – sussurrou Draco – preciso desse ingrediente e rápido! É para uma poção um tanto diferente.


–       Já procurou por aí?


–       É difícil de achar e imaginamos que vocês pudessem ter aqui. Pode nos ajudar?


–       Talvez.


–       Precisamos de uma boa quantidade.


–       Se você lesse o nome do ingrediente seria mais fácil! – disse Emily com rispidez.


Lentamente o balconista mal humorado abriu o pedaço de papel.


–       Você não sabe o que é, sabe? – perguntou Emily. – Trabalha numa loja de ingredientes...


–       Se não tem o que quer pode ir embora moça! E não trabalho aqui! Sou um dos donos! Sou Don Lancey e eu e meu irmão Jack somos os donos daqui!


Draco puxou Emily.


–       O que me disse sobre ser agradável com as pessoas? Está irritando ele!


–       Esse cara é nojento.


–       Ele é um dos Lancey; é um ladrão. Não sabe nada sobre poções e duvido até que saiba ler! Estamos no lugar certo! Espere lá fora.


–       Não!


–       O que tem naquele barril? – perguntou Draco em voz alta.


–       Pés de galinha moídos.


–       Pode abrir para minha amiga ver alguns?


–       Claro. Fedem pra caramba!


–       Que golpe sujo! – disse Emily saindo da loja para evitar vomitar.


–       Ela esta grávida. – explicou Draco.


–       Parabéns. É Bonita.


–       Essas garotas não perdem tempo. Basta a gente ter um pouco de ouro a mais e pronto.


Don deu uma risada idiota.


–       Sei como é. Ela não parece o tipo de garota...


–       Elas nunca parecem!


–       Ela é sangue puro?


–       É o único motivo para eu agüentar tudo isso. Um belo bebê sangue puro e saudável. Então e os ingredientes?


–       Passe mais tarde; meu irmão pode dizer alguma coisa sobre isso. Pode custar caro... – disse Don guardando o pedaço de papel no bolso da calça.


–       Sem problema!


–       Certo! Venham mais tarde e traga ouro.


Um pouco antes de a loja fechar Draco e Rony entraram.


–       Quem é o cara? – perguntou Don Lancey desconfiado.


–       Um parente da minha amiga; ele anda em “baixa” com garotas ultimamente... – explicou Draco. – Mas resolvemos o problema dele depois. Trouxe o que eu pedi?


–       Não se consegue de um dia para o outro.


–       Então por que disse para eu voltar?


–       Queria saber se estava realmente interessado e se trouxe bastante ouro.


O outro irmão Lancey fechou a porta.


–       Deixe-me ver o ouro. – mandou.


–       Quer nos roubar? – perguntou Rony.


–       Não queremos roubá-los; nós vamos roubá-los!


–       Não acho que isso vá realmente acontecer...  – disse Rony – Expelliarmus!


O mais velho dos Lancey foi desarmado e caiu sentado encostado contra a parede.


Rony acertou um soco no nariz de Don Lancey e o jogou ao lado do irmão.


–       Você quebrou meu nariz!


–       Agora vamos falar sobre nossa encomenda! – disse Rony.


–       Ainda vai querer? – disse Don segurando o nariz sangrando.


–       Sim! Foi pra isso que viemos!


–       Acorde meu irmão; ele sabe aonde conseguir.


Draco colocou o outro Lancey todo torto numa cadeira.


–       Sabemos que não tem na loja, mas também sabemos que vocês podem arranjar.


–       Tem mais alguém com vocês na loja? – perguntou Draco.


–       Nossa mãe. É ela que comercializa os ingredientes. Nós dois...


–       Roubam os clientes quando podem! – disse Rony. – Como é feita a entrega? Quem os fornece?


–       Nem mamãe sabe. O fornecedor é muito antigo; ele manda buscar os pedidos e depois as caixas aparecem. Até os proibidos.


–       Faça nosso pedido. – disse Rony.


–       Não sei quanto tempo vai levar.


–       Diga que é urgente! Que pagaremos extra pela rapidez!


–       Está bem. Vai querer alguma coisa para o seu problema?


–       Sim, pode por na conta. – respondeu Draco rindo.


 



–       Os Lancey gostaram de nós; vamos continuar nossa amizade com eles. Se entregassem quem é o cliente que paga pelo ingredientes proibidos... – disse Rony.


–       São idiotas e logo abrirão a boca. – comentou Draco saindo do quarto.


–       Ele está animado! – comentou Emily.


–       É... ele sempre fica assim depois de humilhar alguém. Ei... Desculpe pelo que fiz em Gringotes. Fulton disse que a deixei perturbada.


–       Estou bem agora. Está procurando desculpas para se livrar de mim?


–       Desde o começo, mas não é fácil! Quero mostrar uma coisa!


Rony arrastou Emily para o quarto de Fulton e mostrou um imenso pacote; Emily o abriu curiosa. Ficou parada admirando um baú branco com desenhos de vassouras em volta.


–       Para o meu afilhado. Para ele guardar brinquedos; Harry deu um parecido para Teddy Lupin e ele pareceu gostar. Tem essas vassouras então pensei que Córmaco também vai gostar.


Emily não respondia. Olhava o baú como se tivesse acabado de lembrar alguma coisa importante.


–       O que vou fazer com ele?


–       Você coloca coisas nele; as coisas do bebê. – respondeu Rony confuso.


–       Onde vou colocá-lo?


–       Bem... isso eu não sei.


–       Como vou sustentá-lo?


–       Está falando do bebê...


–       Rony! Vou ter um filho! Quem tomará conta dele pra mim? Você sabe como se cuida de um bebê? Se nosso plano...


–       Vai dar certo! – disse Rony com firmeza. – Você sempre diz que tudo vai acabar bem! Então... vai!


Rony a abraçou com força. Não resistiu em pensar que se tudo desse errado viver com ela não seria a pior coisa. De alguma forma seriam uma família. Não negaria isso ao afilhado.


Na noite seguinte ele e Draco voltaram à loja dos Lancey; do lado de fora encontraram com o Twain, o Revistador comparsa de Patrick, subindo com algumas malas.


–       Esse nojento vai morar aqui – disse Don apontado o andar de cima – o apartamento acabou de ser desocupado. É um Revistador.


–       Que tem de extraordinário nisso? – perguntou Draco.


Nessas horas era extremamente útil a presença de Draco. Ser esnobe era uma qualidade que os Lancey apreciavam.


–       Ele é amigo de pessoas influentes.


–       Imagino... – disse Rony. – O que aconteceu com o nariz dele?


–       Ele diz que foi quadribol, mas deve ter sido um belo soco. Ei! Quase igual o que você acertou no meu irmão!


Rony acabou achando graça. Ter Twain por perto era ótimo para saber noticias de Patrick em primeira mão. Embora seu desejo de acertar outro soco para acabar de vez com o rosto arrogante do Revistador fosse maior ele teria ter mais um pouco de paciência. Pensava em Hermione e na família. Tudo valeria a pena no final...


Draco serviu uma bebida que havia comprado no caminho. Um liquido transparente com gosto de maça verde; Rony tomou um gole e logo sentiu que precisava de outro.


–       Vá devagar! – alertou Draco. – Lembre-se que são eles que precisam soltar a língua.


Com a loja fechada começaram a beber e a jogar dados mágicos. O objetivo do jogo era que os dados lançados sobre o balcão somassem sete. Como eram mágicos podiam formar qualquer coisa como desenhos de objetos ou animais. A rodada custava dois galeões e o dinheiro acumulado ficava na mesa até alguém conseguir tirar o numero sete. O pai de Rony havia apreendido dezenas desses dados durante sua carreira no Ministério. Diziam que eram a prova de feitiços, mas era improvável que fosse verdade e mais improvável ainda que os dados dos irmãos Lancey não tivessem sido alterados.


–       Por que não convidamos o Revistador? – perguntou Rony. – Ele deve ter algum dinheiro.


–       Ele é um chato.


–       Se ele tiver dinheiro...


Don subiu e convenceu Twain a participar de uma rodada.


–       Quem são vocês? – ele perguntou encarando Draco e Rony.


–       Só clientes. – respondeu Draco.


Rony escorregou um pouco pela cadeira; embora Twain não tivesse visto seu rosto quando o atacou a primeira vez podia reconhecer sua voz ou outro detalhe.


–       Nunca vi vocês por aqui.


–       Acabamos de chegar à cidade. O Bocadio está mesmo fechado? – perguntou Rony.


–       Pergunte a esses dois! – disse Twain rindo.


–       Temporariamente. Sentindo faltas das Veelas Twain?


–       Sim. Tinha uma que era minha preferida. Já a procurei na Travessa do Tranco. Adoro Veelas.


–       Já senti atração por uma. – disse Rony tomando mais um gole de sua bebida.


–       Ei Twain se achar sua noiva diga que temos um possível cliente pra ela!


–       Vai ser difícil encontrá-la me disseram que ela está seguindo os tais bruxos de capuz.


–       Bruxos de capuz? – perguntou Rony.


–       Andam pelo Beco Diagonal falando bobagens; aliciando membros para suas reuniões secretas.


–       Artes das Trevas?


–       Dizem que sim, mas que bruxo das Trevas que se preze diz a uma Veela que trabalhou no Bocadio ou a um elfo que eles são livres e têm direitos?


–       Em outros tempos se você encontrasse na rua uma Veela do Bocadio ela era obrigada a te servir ali mesmo! – disse Don rindo. – Agora ela te chuta!


–       Esses bruxos andam por aí colocando na cabeça desses infelizes que não precisam ouvir pessoas como nós, seus mestres. Que podem fazer o que quiserem! – disse Twain indignado.


–       Tem certeza que são ligados a Artes das Trevas? – perguntou Draco. – Aliciando Veelas e elfos?


–       Também duvidei quando ouvi falar. – disse Jack.


Rony imaginou que se Hermione estivesse ali diria a eles que não havia ligação entre as Artes das Trevas e bruxos de sangue puro. Era um erro comum achar que uma coisa era ligada a outra. Muitos bruxos seguidores de magia negra passavam longe de ser sangue puro.


–       Bruxos de sangue puro estão acabando caso não saibam. A garota que você engravidou... pretende ficar com ela?


–       Não sei ainda, mas diante da situação vou pensar melhor! – disse Draco.


–       Quanto quer por ela?


–       Vou ficar com ela por enquanto.


–       Ela é jovem pode ter vários filhos, podemos revezar o que acham?


–       Você disse elfos? – perguntou Rony. – Elfos estão se juntando a esse movimento?


–       Como se não bastasse aquela garota! Agora tem mais gente dizendo que são livres! E pior: poderosos como um bruxo.


–       Meu amigo no Ministério está tentando descobrir mais coisas sobre esse grupo – comentou Twain – ou vamos destruí-los ou nos juntar a eles até que...


–       Possam controlá-los. Certo... Jogue os dados! – disse Draco.


Mais rodadas e bebidas depois. Twain entregou que o amigo que se gabava de ter era um Conselheiro.


–       Ele representa o maior poder... Ele tem tudo: poder, dinheiro... e poder! Só uma coisa me intriga? Como um homem sangue puro pode se interessar por uma garota trouxa?


–       Ela é linda! – disse Rony já também sob efeito da bebida.


–       Tem belas pernas! – comentou Draco.


–       Cala a boca!


–       Verdade! Ele sempre comenta isso. – disse Twain com um sorriso desdenhoso que deixou Rony furioso.


–       O que? Se ela dissesse que quer sair com você... você negaria?


–       Sim.


–       Prefere pagar uma Veela que nem sabe o nome?


–       Talvez eu saísse afinal de contas. Talvez como as Veelas essas nascidas trouxas tenham alguma coisa diferente.


–       É uma mulher – disse Don Lancey rindo – então sei que ela tem uma coisa que me interessa.


O efeito da bebida deixou Rony sem muita coordenação. Até que tentou se levantar e acertar Twain, mas ao invés disso quase caiu da cadeira.


–       Escutem – disse Twain as gargalhadas pegando os poucos galeões que ganhou durante a noite – se quiserem emprego me procurem. Preciso de ajuda nas ruas.


–       Se achar a Veela no avise. Estaremos por perto. – respondeu Draco.


Rony tomou mais uma dose. Então alguma coisa andava errada no Beco Diagonal e Patrick estava investigando. Harry e Hermione deviam estar ajudando e, provavelmente, nem sentiam a falta dele.


–       Vou levar a garrafa! – disse Rony empurrando Draco. – Ela tem mesmo belas pernas, a garota dos elfos.


–       É tem.


–       Você é nojento.


–       É eu sou. – respondeu Draco passando os braços de Rony pelos próprios ombros.


–       Não é casado com Emily! Eu sou! Ela é bonita também, não?


–       Sim.


–       Você é nojento.


–       Vou largá-lo no meio da rua senão se calar!


–       Hermione... Hermione...


–       Fique quieto!


–       Tudo isso é sua culpa!


–       Ok...


Draco acertou Rony na cabeça com a garrafa e o arrastou pelas pernas o resto do caminho.



Sentada em sua cadeira no centro de sua biblioteca a Sra. Kessler admirava a habilidade de Hermione em abrir um portal mágico que durou pouco mais que dez segundos.


–       Incrível... tão pouco tempo e já evoluiu mais do que... Parabéns Srta. Granger!


–       Obrigada. – respondeu Hermione cansada. – Onde está Heckett?


–       Tratando de outros assuntos.


–       Ela abandonou o Feitiço Enigma? Dizia que estava tão perto de decifrá-lo.


A Sra. Kessler mostrou as gravuras do livro ampliadas em quadros nas paredes.


–       Se quiser tentar Srta. Granger fique a vontade.


–       Heckett pode não gostar da intromissão.


–       O livro é da minha coleção e lhe dou permissão para estudá-lo se quiser.


–       Bem... é mesmo bem interessante.


Hermione seguiu a Sra. Kessler entre as prateleiras. Usavam uma espaçosa mesa; Hermione manuseava as paginas com muito cuidado.


–       É uma das poucas pessoas que entende importância das Artes das Trevas Srta. Granger. – disse a Sra. Kessler apanhando um livro de capa marrom e passando a Hermione. – Sem julgamentos baseada apenas na vontade de aprender. Com certeza McGonagall reconheceu na criança a mulher e a bruxa poderosa que um dia a senhorita se tornaria. Ela estava certa.


Hermione abriu um livro fino sobre magia transitória; parecido ao que estudava para abrir um portal. O processo era parecido, mas as técnicas eram diferentes.


–       “Um portal pode ser aberto pra qualquer lugar daí a dificuldade de realizar o feitiço; uma passagem mágica seja travessia ou direta segue as mesmas regras de qualquer transporte bruxo: partida e destino.” – disse Hermione pensativa. – Grau de dificuldade só abaixo da abertura de um portal...


–       Ainda está se perguntando como aquela mulher Elvira saiu da Ilha Queequeg?


Hermione fez uma pausa e tornou a ler o parágrafo.


–       Por mais esperta que pudesse ser Elvira não tinha conhecimento mágico para tanto! – disse Hermione foliando as páginas seguintes. – E para reabrir uma passagem protegida por uma senha?


–       Isso é impossível. – disse a Sra. Kessler franzindo a testa.


Mesmo interessada na leitura Hermione fez uma pausa e se virou. Sabia que a Sra. Kessler costumava observá-la, no entanto dessa vez não era a bruxa que estava por perto. Um olhar a acompanha das prateleiras e a Sra. Kessler estava atrás dela... Hermione consultou o relógio. Precisava se encontrar com Harry e Patrick. Se despediu da bruxas, mas não pode resistir em dizer:


–      Sra. Kessler pode pedir a pessoa que está me observando que se apresente de uma vez?


A expressão da Sra. Kessler mudou; pela primeira vez Hermione a viu corar.


–       Grimwig! Venha até aqui!


Um garoto saiu de um dos corredores e se aproximou de Hermione. Dono de traços leves, nariz e rosto finos Hermione o achou extremamente bonito.


–       Peça desculpa a Srta. Granger! Agora!


–       Eu não a observei os outros dias. – disse o garoto de voz desafinada.


–       Não ouvi as desculpas Grimwig!


–       Desculpe...


–       Tudo bem... Grimwig? O que ele faz aqui? – perguntou Hermione.


–       É o irmão mais novo de Heckett. – respondeu a Sra. Kessler. – Vá lá para cima Grimwig!


–       Sinto muito Sra. Kessler.


–       Só não faça isso de novo.


–       Não tinha para onde ir. Ele acabou de completar quinze anos; sabe como são os garotos nessa idade! Sempre tentando observar garotas não importa o jeito.


–       Sim, eu sei... garotos são sempre garotos.



Harry não contou a Hermione que tinha estado na Toca e nem sobre sua crescente preocupação com o Sr. Weasley. Confiava que Jorge o avisaria de qualquer contra tempo. Reuniram-se na casa de Patrick para jantar.


–       Acho que acabei causando problemas ao garoto. – disse Hermione depois do jantar sentada entre os dois amigos.


–       Você não poderia saber. – disse Harry.


–       Quem diria que Heckett tem um irmão caçula.


–       Ela nunca mencionou nada a respeito? – perguntou Patrick olhando para Harry.


–       Não. – respondeu Hermione obviamente achando que ele havia feito a pergunta a ela. – É um garoto muito bonito. O que ele fazia andando livremente na sagrada biblioteca da Sra. Kessler.


Harry tomou um gole de vinho; não gostava das indiretas de Patrick e do modo como se exibia para Hermione contando sobre a audiência.


–       Confesso que fiquei preocupada.


–       Eu disse que não precisava.


–       Alguma idéia sobre as passagens mágicas? – perguntou Harry os interrompendo.


–       Sem a senha não podemos passar. Como em Hogwarts pra entrar no Salão Comunal. – disse Hermione.


–       No mundo trouxa sempre há meios de recuperar a senha de alguma coisa. – disse Harry.


–       Mesmo? Trouxas precisam de senha para o que?  - perguntou Patrick curioso.


–       Praticamente tudo! – respondeu Hermione sorrindo. –Talvez por perto das passagens haja uma maneira de se lembrar da senha caso a pessoa tenha esquecido.


–       Vale tentar... – disse Harry – o tempo está passando.


–       Estas passagens são na verdade rotas de fugas – explicou Patrick – Crackit e seus amigos as usam para retornar a Travessa do Tranco.


Harry o observava se aproximar discretamente de Hermione.


–       Tem uma passagem perto de uma funerária. Ninguém passa perto de uma funerária se realmente não precisa. – disse Hermione.


–       Se roubar alguém e correr para lá duvido que algum trouxa te siga. – disse Harry. – Vamos começar por lá.


O quarteirão onde estava localizada a funerária desativada era deserto e escuro. Um enorme prédio marrom com três chaminés; o portão não tinha grades altas e o cadeado era pequeno e simples.


–       Tem uma sala no fundo para cremação a passagem é lá. – disse Hermione.


Não havia nada na sala.


–       Lumus. – disse Harry clareando o ambiente.


–       O que pode ser? – perguntou Patrick.


–       Alguma coisa que chame atenção. Que destoe da paisagem normal de uma funerária. – disse Hermione também olhando ao redor.


–       Que tal vida? – disse Harry apontando a varinha e iluminando um dos vitrais. Uma imagem abstrata em cores fortes de uma mulher segurando uma criança nos braços apareceu.


–       Praesertim. – disse Hermione e a imagem se aproximou como se saltasse do vitral para frente dos três. – Agora posso ver os detalhes...


Ela se virou para perguntar a opinião dos rapazes, mas não pode. Harry e Patrick olhavam a imagem com tristeza; uma tristeza que Hermione pode sentir no ar como se o sentimento tomasse forma e estivesse ao lado deles. Os dois eram órfãos.


Em silencio Hermione deixou os dois um pouco para trás. A imagem a deixou triste não pela mãe, mas pela gravidez da repórter que estava com Rony. Um assunto que ela evitava pensar ao máximo. Eles sempre tiveram tantos cuidados quando estavam juntos e agora Rony teria um filho. A prova que ele nunca a amara de verdade.


–       Acho que a imagem quer dizer família... – disse Harry e Hermione voltou para perto dos rapazes. – Talvez proteção...


–       Talvez proteção... – sugeriu Hermione.


–       Não – disse Harry chegando bem perto e olhando fundo quase que penetrando na pintura – quer dizer carinho, cuidado... acalanto...


–       Acalanto... – murmurou Hermione comovida e as cores da pintura se afastaram abrindo uma passagem.


–       A parte residencial mais antiga do Beco Diagonal. – disse Patrick.


A passagem se fechou logo atrás deles. Uma fina camada de poeira púrpura desceu sobre eles; brilhava muito fraca e era quase impossível de ver. Harry passou os dedos pelos ombros.


–       Não estamos sozinhos... – disse pegando a varinha.


–       Quem estiver aí apareça! – gritou Patrick.


–       Ah! Claro vão aparecer só por que você mandou Conselheiro! Essas pessoas podem saber sobre McGonagall!


–       E vão dizer só porque você vai perguntar Harry Potter! Não percebeu que estão nos cercando!


–       Hermione você está bem? – perguntaram a puxando cada um para si.


–       Sim! – disse Hermione empurrando os dois.


–       Pode deixar... – disse Harry.


–       Com você? É ela que protege você! – disse Patrick com desdém.


–       O que você disse?


–       Você me ouviu Harry Potter ou seu ego ficou tão grande que transbordou e entrou pelas suas orelhas? – respondeu Patrick.


–       Olha quem fala! O que você quer? Se exibir mais um pouco para ela? Como ela ligasse...


–       Inveja?


–       Nem em um milhão de anos! – respondeu Harry em voz alta.


–       É o tempo que vai levar para me vencer Harry! Seja voando, duelando... não sou idiota como seu outro amigo!


Harry encarou Patrick.


–       Pois saiba que ela sempre escolherá a mim... – disse Harry sorrindo – Hermione? Hermione?


Hermione deixou Harry e Patrick discutindo e se aproximou de um homem cavando uma cova; era o Sr. Weasley. Na lápide estava o nome de Rony.


–       Sinto muito Hermione. – disse Gina colocando a mão no ombro dela.


–       Gina! O que aconteceu?


–       Seu pai o matou!


–       O que? Papai! Gina o que...


Gina usava roupas que Hermione não conseguia ver direito. Brilhavam no escuro.


–       Você foi uma grande amiga Hermione. – disse Gina se afastando


–       Onde está Rony? O que está acontecendo?


–       Mamãe o está preparando. Você sente falta dele?


–       Sim.


–       Então por que não se junta a ele?


Hermione abriu os olhos e estava deitada do lado de Rony pálido em um caixão. A Sra. Weasley e Gina jogavam terra sobre os dois.


–       Pelo menos não fico andando pra cima e pra baixo todo convencido! – gritou Harry para uma sala vazia. Patrick sumira de sua frente.


–       Harry? – perguntou uma voz conhecida. – Você trouxe meu corpo?


–       Cedrico?


O corpo de Cedrico se formou na frente de Harry com as vestes da Lufa-Lufa. Ele estendeu a mão para Harry.


–       Quero lhe mostrar uma coisa. Siga-me, por favor.


Cedrico mostrou o galpão onde Harry encontrara os baús mágicos meses atrás.


–       Foi tudo culpa sua. Esse galpão, essa criatura... muita gente morta.


–       Fui irresponsável eu sei, mas não pude evitar! Sou muito...


–       Curioso?


–       Onde está Hermione?


Cedrico lhe deu um tapa.


–       Concentre-se no que é importante agora Sr. Potter.


–       Sua voz mudou Cedrico...


–       Sim! Por que não sou a pessoa que pensa que está falando! Se concentre em sair desse transe Sr. Potter!


–       O galpão queimou. Fogo! Fogo! – gritou Harry.


–       Dessa vez não vai aparecer ninguém para livrar seu pescoço! – disse Cedrico com o rosto deformado devorado por vermes e insetos.


–       Não! Não! Fogo! Fogo! Estou preso!


Harry levantou-se rápido procurando a varinha. Estava em uma bela sala; o calor que sentia vinha da lareira. Um homem o observa de uma poltrona. Harry o atacou; o segurou pelo pescoço e começou a apertá-lo.


–       Você é Harry Potter. – disse o homem com dificuldade. – Estava numa funerária com dois amigos. Uma moça...


–       Hermione! Onde ela está? Rony! Eu prometi a ele... Cedrico! Heckett... Gina!


–       Estão todos na sua cabeça! Nada do que viu é real! – disse o homem o empurrando. – Respire Sr. Potter! Logo todos irão embora vivos ou mortos.


–       Quem é você? Onde está Hermione?


–       Sou John Fargas. Infelizmente seus amigos foram levados...


–       Levados por quem? – perguntou Harry focalizando direito o homem gordo de poucos cabelos ligados a uma barba muito branca. Ele se levantou com certa dificuldade e abriu uma garrafa de uísque; encheu dois copos e passou um para Harry.


–       É o homem que esteve em Hogwarts? O homem que fugiu de lá!


–       Minerva não devia ter ido ao funeral de Waxflatter.


–       Já o vi antes...


–       Acho que não Sr. Potter. Há anos me isolei do mundo. Odeio a luz do dia... e isso não é importante agora!


–       Tenho que achá-los! Hermione e Patrick... Quem mesmo disse que era?


–       Não há muito que possa fazer agora!


–       Você é o homem que esteve em Hogwarts?


–       Minerva... ela salvou minha vida... justo a minha. Tinha um gigante me vigiando em Hogwarts; achei que ainda estava ainda sobre efeito...


–       Efeito?


–       Um pó mágico alucinógeno muito simples e eficaz. Lançaram em você e seus amigos; mistura pensamentos, lembranças, medos... desejos. Aos poucos vai se lembrar de tudo.


–       Por que estava lá? Por que me salvou?


–       Essa passagem, a última... abre bem em frente a minha casa. Eu a criei anos atrás... Do mesmo jeito que vocês... eles também estavam atrás de mim! A primeira foi Umbridge... Não importa! Foi tudo minha culpa!


Harry tirou o copo da mão do velho e ele nem percebeu.


–       Quem levou meus amigos e porque diz que é sua culpa?


–       Antes do Lorde das Trevas... Sou Fargas, o primeiro bruxo... o primeiro Conselheiro. O culpado por tudo que aconteceu...


O bruxo se acomodou na poltrona e começou a falar com olhos arregalados.


–       Um grupo contra o Ministério; contras as família de bem reuniu forças; recrutaram pessoas nas ruas, bruxos nascidos trouxas, criaturas... Prometiam a eles igualdade aos bruxos sangue puro. O Ministério... eu não os levei a serio até começarem as mortes. Crianças! Filhos de pessoas influentes! Waxflatter era responsável na formação dos Aurores. O mandei formar um grupo e ele me apareceu com... Minerva... Umbridge...


–       O Sr. Weasley e Ferdinanda Twitch! Agora me lembro de onde o conheço! Meses atrás o Sr. Weasley mandou uma lista com nomes de famílias que ele investigou nos tempos que fazia batidas e... havia uma foto. O senhor também está nela!


–       Foi minha culpa. Dei ordens... Matamos todos.


–       O que? O Sr. Weasley? McGonagall? Eles nunca fariam isso! Está mentindo!


–       Agora de alguma forma estão reunidos de novo. O Líder era Hayyan Zeelen; um bruxo das Trevas. Eu mesmo o matei! Waxflatter registrou tudo! Mandei que arquivasse o caso e para garantir que nunca ninguém soubesse de nada azarei o arquivo. Ficou tudo sob sigilo mágico e nos separamos.


–       Tentaram matar Umbridge! Mataram o marido da Sra. Twitch por engano! McGonagall está com eles e agora Hermione também?


–       Wax! Eu o fiz ficar louco e o expulsei do Ministério. Foram pegos um a um... Ferdinanda era a mais jovem; eu a odiava por gostar de trouxas.


–       A filha disse que ela tinha viajado e eu acreditei. Estive na casa dela e ela estava com o namorado Adso; eu os interrompi... – disse Harry tomando um gole do uísque que Fargas lhe serviu.


–       Foi tudo minha culpa!


–       Esse pó enfeitiçado. Houve um tumulto no Beco Diagonal e algumas pessoas viram coisas...


–       Tiveram contato com ele de alguma forma.


–       É! E já sei como!


–       Sr. Potter, recebi um ultimato para me entregar a essas pessoas até a meia noite de hoje. Isso salvará seus amigos e tenho esperança que salvará Minerva, Arthur e Ferdinanda também.


–       Irei com o senhor!


–       Isso não será possível. A partir de agora finalmente enfrentarei as conseqüências do que fiz.


–       Eu o ajudarei.


–       Sou um bruxo muito poderoso garoto! Liderei a muitos! – disse Fargas tentando ficar de pé.


–       Está bêbado.


–       Não disse que não tenho lá minhas fraquezas, mas consegui salvá-lo de quem o estava seguindo! Eu estava quase sóbrio. Acertei os que ficaram para trás para pegá-lo!

–       Não. Me deixaram para trás porque sabem que eu vou ajudá-lo. É uma armadilha para o senhor e para mim. Vão matar todos de qualquer jeito... Estão só nos esperando.


–       Seguiram com seus amigos para a sede do clube... Agora devo ir ao encontro deles!


–       Onde estão os homens que o senhor atacou para me salvar?


–       Rapaz, não está entendendo! Se eu me entregar talvez todos possam ser salvos. Esses malditos são muitos e muito poderosos.


Harry se inclinou e segurou Fargas pelas vestes.  


–       Ainda não sei o que o senhor fez ou quem de fato são esses bruxos, mas eles se meteram com as pessoas mais importantes da minha vida! E o senhor sabe onde eles estão... Vamos nós dois!

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