Colando pedaços



Hermione separou todas as roupas que Rony havia deixado no quarto e as enviou à Toca. Mudou as cores das paredes do quarto como se isso apagasse o que tinha vivido ali. O mais difícil eram as fotografias; ainda não tinha tido coragem de olhar a caixa. Pensou em, talvez, destruí-las de uma vez só. Não era uma decisão fácil.


–       Srta. Granger, a senhorita tem visita. A Srta. Heckett. – informou o elfo.


Hermione abriu a porta.


–       Guiso, desculpe pelo nosso comportamento ultimamente. Ainda estamos um pouco abalados só isso.


–       Sr. Potter está muito zangado; não tem comido e passou a dormir no sofá. – comentou o elfo com a voz anasalada.


–       Vou falar com ele. Você por acaso viu alguns livros e anotações que deixei em minha mesa? Algumas fotos também... não me lembro de ter mexido nessas coisas...


–       Não... Srta. Granger... – o elfo fez uma pausa – o senhor e senhorita Weasley não vão voltar?


–       Não, vão.


–       Sinto muito Srta. Granger.


Hermione sorriu para o elfo e pediu para avisar a Heckett para subir; falaria com ela enquanto escrevia condolências a Deanna Troy; Greg Raiker havia morrido nas primeiras horas daquele dia.


–       Você não vai ao funeral? – perguntou Heckett.


–       Greg Raiker e Deanna Troy são amigos de Gui e Fleur Weasley e eles provavelmente irão. – respondeu Hermione despachando a coruja.


–       Entendo.


–       Deanna deve estar arrasada.


–       É mais fácil quando eles morrem. – comentou Heckett num tom que Hermione reconheceu.


–       Ainda não tive tempo de escrever o que aconteceu.


–       Não tenha pressa; o Ministério continua uma bagunça! Isso é bom para você e os Sr. Weasley. O calor do momento passando acalmará a bronca dos trouxas.


–       É uma estratégia. – concordou Hermione.


–       Na verdade vim convidá-la para um chá hoje com a Sra. Kessler.


–       Interessante.


–       Essa foto... – disse Heckett apontando para uma pilha – foi quando voltaram da tal ilha?


–       Sim. Somos nós com Patrick Rent e a ex-namorada Rebecca Slater. Uma bruxa muito talentosa.


Hermione contou sobre a poção em que trabalharam juntas.


–       Essa bruxa estava preparando a poção Siempre Viva? Onde ela está agora? – perguntou Heckett.


–       Não sei. Ela deixou algumas formulas para Gemialidades Weasley e se foi.


–       Nada sobre a poção?


–       Não, mas se ela tivesse conseguido prepará-la corretamente todos nós saberíamos. Ela não é a pessoa mais discreta do mundo.


Contrariando Kingsley a Sra. Kessler alugou um prédio de três andares no Beco Diagonal. Segundo ela o Caldeirão Furado era um lugar muito arriscado para manter sua valiosa coleção de livros que ocupava o segundo andar quase por inteiro. A bruxa recebeu Hermione e Heckett já preparada para o chá.


–       Soube o que aconteceu com aquele jovem que a acompanhou a festa Srta. Granger. Homens distraem e confunde nossas cabeças. Livros serão sempre nossa maior fonte de prazer.


–       Hermione é muito jovem para essa triste conclusão... – disse Heckett. – Conte a Sra. Kessler sobre a poção que você e sua amiga loira estavam preparando.


–       Siempre Viva. Chegamos bem perto de concluí-la.


–       Amiga loira? Quem? – perguntou a Sra. Kessler interessada.


–       Rebeca Slater, ela é especialista em criar poções. Passou algum tempo na cidade.


–       Uma mestra em poções? Seria um enorme prazer conhecê-la!


–       Espero vê-la de novo algum dia.


Quando terminaram o chá a Sra. Kessler levou Hermione para ver a biblioteca; alguns livros eram de autoria da própria Sra. Kessler e foram proibidos por décadas; outros de autores também proibidos por vários séculos e por muitas gerações de bruxos contrários aos estudos das Artes das Trevas.


–       A coleção particular sobre Artes das Trevas mais completa do mundo. – disse Hermione impressionada.


–       Depois de Hogwarts e do monastério Casulare, sim, é a mais completa. – disse a Sra. Kessler conjurando sua cadeira. – Soube que manuseou um Vira-Tempo quanto tinha apenas treze anos.


–       Minerva McGonagall me deu permissão para usá-lo.


–       Impressionante. Ela nunca deixaria uma aluna qualquer usar um Vira-Tempo.


–       A senhora a conhece?


–       Já nos vimos... Comecei colecionar livros sobre Artes das Trevas na sua idade; depois de muita pesquisa na área passei escrever eu mesma uma coisa ou outra. Fazer traduções... Para usufruir da minha biblioteca a senhorita deve aceitar uma simples condição: nenhum livro pode ser retirado daqui. A senhorita concorda?


–       Certamente.


–       Ótimo! Fique a vontade Sra. Granger.


Hermione sentiu como se a Sra. Kessler a avaliasse, mas não se importou.


Em pouco tempo separou livras de seu maior interesse; o primeiro que abriu sobre a mesa de estudo foi Le vie della magia; um livro sobre portais mágicos. Conjurar um portal era considerado magia das Trevas avançada, pois lidava com elementos da natureza proibidos aos bruxos; cada portal tinha um feitiço especifico para ser aberto. Hermione se lembrou da Ilha Queequeg; sempre desconfiara que Elvira tivesse aberto um portal para deixar a ilha, mas como uma bruxa inexperiente como Elvira poderia fazer um feitiço tão complexo? Apesar da concentração de magia; portais não permaneciam mais que alguns segundos abertos e exigiam muita energia do bruxo. Em outro livro Hermione encontrou belíssimas gravuras que contavam uma historia. O bruxo deveria interpretar a história para realizar o feitiço; eram chamados “Feitiços Enigmas”; o perigo estava em decifrá-lo errado. O bruxo podia pagar com a vida pelo erro.


Após algumas horas Hermione saiu da biblioteca; Heckett a aguardava.


–       A Sra. Kessler se recolheu, mas pediu para lhe dizer que viesse amanha na mesma hora.


–       É incrível essa biblioteca!


–       Ela também acha.


–       Você vai trabalhar com ela agora?


–       Não, ela só me permitiu estudar alguns livros assim como você.


–       Algum em particular?


–       Feitiços Enigmas. A gravura chamada “O Passeio”.


–       A história termina com um bruxo enforcado. Boa parte desses feitiços tem como objetivo a morte de alguém.


–       Você pensa em abrir um portal?


–       Quero muito saber como se faz.


–       O que tem de mais em saber como se faz não é mesmo?


–       É, você tem razão. – respondeu Hermione sorrindo.


Na manha seguinte Harry e Patrick chegaram juntos ao funeral de Greg Raiker. Harry chegou a ficar lado a lado com Percy, mas não se falaram. Gui e Fleur passaram por ele; Fleur acenou com a cabeça, mas Gui o ignorou.


–       Obrigado por me livrar de trabalhar ao lado de Percy. Não suportaria ficar perto de alguém que me lembre Gina ou Rony.


–       Você vai trabalhar direto comigo em alguns assuntos agora, os piores é claro.


–       Legal.


–       Quem sabe depois de algum tempo Rony acabe voltando e se explicando melhor...


–       Não dessa vez. – disse Harry com firmeza. – Sempre quando as coisas não são do jeito que ele quer ele se afasta... Pelo menos dessa vez não há perigo e Hermione está muito bem.


–       Está?


–       Não, mas vai ficar.


–       Ela tem lido os jornais?


–       É a primeira coisa que ela faz de manha antes mesmo de tomar café. Ela já viu... Rony andando pelo Beco Diagonal com aquela garota.


–       Você tinha dito que os viu juntos, mas nunca imaginei que Rony pudesse fazer uma coisa dessas. – comentou Patrick.


–       Essa garota deve valer muito a pena para Rony fazer o que fez. Não há outra explicação para isso. Hermione podia estar muito bem no Ministério com a gente se não passasse a vida pensando em não deixar Rony para trás! Foi isso o que ela ganhou em troca! – disse Harry zangado.


–       E Gina?


–       Terminamos. Era inevitável depois do que Rony fez... ele estragou tudo para todos nós.


Harry imaginava como a Sra. Weasley devia estar se sentindo e um aperto lhe subiu até a garganta. Patrick saiu para falar com a mãe de Deanna a ex-Conselheira Lwaxana Troy; uma mulher alta e magra e bem mais elegante do que Deanna, mas muito menos simpática. Não havia sinal do pai. Harry reparou na família de Greg Raiker. O pai baixo e careca lembrava o aspecto de Mundugo. Ele estendeu a mão para Deanna e a mãe, mas não trocaram uma única palavra de conforto, nada além do cumprimento frio e sem emoção.


–       Acho que esse casamento não era muito aguardado. – Harry comentou com Patrick quando ele voltou a ficar ao seu lado.


–       Lwaxana Troy é uma mulher muito rica. Ela tolerava Raiker porque o achava talentoso.


–       Ele criou o Mapa da Magia.


–       A princípio não gostava da idéia do Mapa da Magia, mas agora com algumas varinhas ainda sumidas tenho que admitir que ajuda bastante. Tenho que pensar num jeito de fazê-lo funcionar como antes.


–       Hermione. Peça a ela.


–       Seria inapropriado nesse momento devido a tudo que aconteceu.


–       Você podia ter prendido Rony. Fez um tremendo favor a ele o deixando ir... Hermione sabe disso. Ela o ajudará.


Uma fila se fez para alguns bruxos cumprimentarem Harry e Kingsley. O amigo parecia muito abatido; a convenção perdera totalmente o sentido com a partida de algumas das figuras mais importantes. Oficialmente Kingsley a encerraria aquela tarde.  O Profeta Diário publicara uma extensa matéria sobre o fracasso do Ministro da Magia “quem sabe no próximo século” dizia a matéria assinada por Rita Skeeter. E para total desanimo de Kingsley a situação ainda iria piorar. De volta ao Ministério encontraram Hermione no corredor.


–       Vocês não advinham quem está aqui! Solomon Bluter. Ele veio pedir uma audiência com você Kingsley.


–       É muita audácia! – disse Kingsley seguindo para sua sala.


Solomon Bluter estava sendo vigiado por um grupo de Revistadores.


–       Pode pedir para essas garotas me darem um pouco de espaço.


–       O que faz aqui Bluter?


–       Sr. Potter como está?


Solomon passou por todos e parou rindo na frente de Hermione.


–       Srta. Granger, sinto muito pela sua situação; espero que encontre um bruxo que a mereça.


–       Já chega! – disse Kingsley. – Se não veio se entregar o que faz aqui Solomon?


–       Vim ajudar o Ministério! Falo com você e com você Kingsley! Não reconheço essas bruxinhas nervosas de varinha em punho.


Os insultos de Solomon provocaram a reação dos Revistadores. Solomon entrou com um largo sorriso na sala de Kingsley.


–       Tudo bem? – perguntou Patrick a Hermione.


–       Esse cara é nojento.


–       Ele é, mas você não se intimidou. Muitos homens não agüentariam aquele olhar muito tempo.


–       Obrigada.


–       Já escreveu seu depoimento?


–       Ainda não.


–       Percy também não entregou o do pai. Achei que ele faria isso no mesmo dia.


–       O Sr. Weasley deve estar pensando a mesma coisa que eu...


Kingsley chamou Harry e Patrick e os colocou a par da noticia: o corpo do Conselheiro Bertel estava no pub de Solomon Bluter e ele exigia que o Ministério tomasse providencias.


–       Tirem-no de lá! – mandou Kingsley. – Solomon nos deu permissão para entrar no pub e recolher o corpo.


–       Permissão?


–       Vão até lá e recolham o corpo; tragam-no direto para cá e não falem com ninguém!


–       Vou avisar Hermione.


Solomon deu uma gargalhada. Patrick puxou Harry pelo braço.


–       Ela vai querer ir junto! É perigoso; sem contar que lá não é lugar para uma garota como Hermione.


–       Você explica a ela?


–       Eu?


–       É! Você!


O corpo do Conselheiro Bertel nu na cama beirava o grotesco. Harry entrou no quarto abafado e pequeno com uma cama de casal; as cortinas eram gastas e havia um vaso de flores de plástico no criado mudo. Agradeceu intimamente Hermione não ter vindo; aquele ambiente deprimente servia para outro tipo de escravidão mais repugnante do que a sofrida pelos elfos.


–       Por favor, tirem esse homem daqui. – disse Solomon passando um lenço na testa.


–       Vamos interditar o pub até sabermos como ele morreu. – disse Harry.


–       O coração dele não agüentou.


–       Quero conversar com a garota que estava com ele.


–       O que? Você é um Auror agora?


–       Calma Harry! – advertiu Patrick.


–       Se vocês me fecharem eu conto o que o Conselheiro veio procurar aqui. Não vai pegar bem pra vocês; especialmente para Kingsley.


–       Você admite que ele veio ter um encontro amoroso com uma de suas garotas?


–       Admito que emprestei um quarto a um amigo para ele se divertir com uma Veela que conheceu aqui.


–       Bertel era seu amigo? – indagou Harry.


–       Claro! Quase um irmão. – respondeu Solomon sarcástico.


–       Mesmo? Ele era casado? Tinha filhos?


–       Tem um Conselheiro morto em um dos meus quartos depois de beber a noite toda. Acredite Sr. Potter seu Ministro vai preferir minha versão da história. Além disso, ele está morto há dias e ninguém deu falta! O que? Não tinham nada para votar no mundo da magia esta semana?


–       Ainda quero falar com a Veela. – disse Harry.


–       Ela está no quarto ao lado.


A Veela não parecia tão jovem quantas as outras que Harry vira na primeira vez que esteve no pub; sentada com as pernas cruzadas parecia estar nervosa com a idéia de conversar com alguém do Ministério.


–       Qual seu nome?


–       Anjla.


–       Você esteve com o Conselheiro Bertel a noite toda.


–       Nos conhecemos no pub e viemos para cá depois.


–       Onde você mora?


–       Travessa do Tranco.


–       Qual o endereço? Podemos acompanhá-la até sua casa.


–       Não é necessário o Ministério se incomodar comigo Sr. Potter.


–       Conte o que aconteceu.


–       Estávamos indo bem e de repente ele parou; achei que caiu no sono porque bebeu demais. Eu o deixei aqui e fui embora.


–       Quando aconteceu?


–       Há alguns dias.


–       Ninguém mais quis ocupar o quarto? Estranho... quantos quartos tem esse lugar?


–       Iguais a esse?


–       Têm melhores?


–       Muito piores...


–       Por que não conta a verdade sobre esse lugar? Conte o que é obrigada a fazer e que foi obrigada a me contar essa historia.


–       E o que acontece depois? Vou para Azkaban?


–       Que tal para casa? Podemos ajudá-la se nos ajudar a processar Solomon.


–       Não tenho casa Sr. Potter e mesmo que tivesse não sairia daqui. Eu fui escolhida para essa tarefa por já estar velha, não sou mais atraente como antes. Posso partir quando quiser, mas não posso deixar as mais jovens para trás.


–       Minha amiga Hermione Granger pode ajudá-la!


–       Acha que já não pedimos ajuda? Estamos aqui há séculos Sr. Potter! Servimos muitos bruxos que o senhor com certeza já cumprimentou na rua.


–       Sinto muito. – disse Harry sincero.


–       A Srta. Granger faz muito pelos elfos; existem mais pessoas como ela...


A Veela se levantou e saiu da sala.


–       Conseguiu alguma coisa? – perguntou Patrick.


–       Nada. Ela não quer falar.


–       Vamos levar o corpo; Kingsley vai pensar no que dizer. A última coisa que o Ministério precisa agora era um escândalo desse porte.


–       Estamos amarrados a Solomon Bluter. – lamentou Harry.



–       Ainda está zangada Hermione? Saímos sem falar com você para sua própria segurança. Pode não acreditar, mas foi mesmo para o seu bem.


–       Harry tem razão! – disse Patrick. – Solomon não gosta de você e em seu território ele pode ser muito perigoso.


–       É suponho que sim... – respondeu Hermione a contra gosto.


–       Conversar com aquela Veela foi deprimente e ela disse uma coisa sobre...


–       Óbvio que ela foi coagida Harry! Mas também não tira a culpa do Ministério! – exclamou Hermione. – Um Conselheiro sumido por dias e ninguém percebeu. O que vão fazer? Dizer que ele morreu praticando algum feitiço?


–       Não podemos dizer onde ele estava ou o que estava fazendo! Seria pior para o Ministério. – respondeu Patrick.


–       Tentamos pegar Solomon e um Conselheiro vai até lá se divertir com Veelas. Inacreditável...


–       Também temos que pensar na família dele... – disse Patrick.


Antes de voltarem ao Ministério Harry insistiu para que Patrick pedisse ajuda a Hermione sobre o Mapa da Magia, mas ele ainda recusava. Harry achou engraçado ele ouvir Hermione falar sobre o Conselheiro Bertel como se esperasse o momento certo para pedir.


–       Patrick tem uma coisa para lhe pedir Hermione! Sobre o Mapa da Magia; ele quer tirar algumas duvidas. Fale!


–       Sobre o que?


–       Bem... o mapa está falhando. E preciso muito dele...


–       Posso vê-lo? – perguntou Hermione interessada.


–       Sim, eu vou... você pode entrar comigo! Tem certeza que quer...


–       Claro!


Hermione ouviu os dois cochichando atrás dela enquanto examinava o mapa com atenção.


–       Por que fez isso?


–       Você precisa de ajuda e ela pode ajudar.


–       Eu disse que é inapropriado no momento!


–       Bem... – Hermione disse interrompendo os dois – me parece que Raiker usou um feitiço de detecção muito poderoso; é o que faz o mapa funcionar. Já vi objetos mágicos ou criados a partir de magia perder a força com a doença ou morte dos seus criadores; o desiluminador que Dumbledore deixou para... está perdendo o poder mágico; ficando cada vez mais fraco. Ro... aquela pessoa... nem o carregava mais por causa disso.


–       O Mapa do Maroto continua em perfeito estado. – afirmou Harry.


–       Foi feito a quatro mãos, ou melhor, a quatro varinhas. Vai durar um bom tempo ainda.


–       Há como dar um jeito?


–       Creio que não.


Patrick olhou para os lados e por cima do ombro de Hermione.


–       Não acho que foi Raiker que fez o mapa – sussurrou – acho que foi Deanna. Ela pode ter usado a varinha dele, mas tenho quase certeza que o feitiço foi feito por ela.


–       Por que acha isso?


–       Raiker não era um bruxo talentoso a esse nível. Ele foi promovido depois de ter apresentado esse mapa a Kingsley. Por outro lado Deanna é...


–       Ela é... – disse Harry balançando a cabeça concordando. – Soube que Deanna foi monitora chefe em Hogwarts.


–       Como soube disso? – perguntou Hermione.


–       Gui me contou... o pai dela não compareceu ao funeral? Você o conhece?


–       Conheço só Lwaxana, a mãe. Uma Conselheira linha dura. Como acha que poderei resolver o problema do mapa Hermione?


–       Se foi Deanna mesmo que fez o feitiço; ela está passando por muita coisa e o feitiço pode estar só enfraquecido; quando ela se sentir melhor o mapa voltará a funcionar. Isso acontece quando o bruxo fica deprimido. Lembra de Tonks?


–       Sim! Espero que ela melhore logo.


–       Eu também... – disse Patrick olhando mapa de luzes fracas e opacas.


Os dois ainda continuaram a comentar sobre Deanna Troy e Hermione sentiu uma ponta de ciúme. Perder o noivo com certeza fora duríssimo, mas a humilhação pública que ela estava passando com todo mundo comentando sobre Rony andando pelo Beco Diagonal com a tal garota grávida também não estava sendo fácil. Um artigo de Rita Skeeter fazia comparações entre ela e Emily e, embora, os leitores ficassem do lado de Hermione muito diziam que Emily era mais bonita. Entrevistas com colegas de profissão também diziam que era igualmente inteligente a Hermione e muito mais simpática. O artigo encerrava com a pergunta: “Como saber o que Rony Weasley estava passando?”.


–       Tenho coisas a fazer, mas você pode ir Harry. – disse Patrick.


–       Acabei de ler os livros que você me emprestou; os trarei na próxima vez que vier. – disse Hermione colocando a bolsa no ombro


–       Ótimo! Então vamos! – disse Harry a caminho da lareira.


–       Quer pegar mais alguns? – perguntou Patrick. – Você levou os quatro primeiros volumes referentes a leis mágicas; os outros quarenta e dois estão na minha sala.


–       Se você não se importar...


–       Claro que não.


Harry se jogou no sofá na sala de Patrick e pegou uma revista de quadribol para matar o tempo. Hermione escolheu mais alguns livros tão pesados que mal conseguia segurar sozinha. Ela e Patrick conversaram sobre títulos e autores; Hermione contou sobre a biblioteca da Sra. Kessler.


–       É uma grande oportunidade; você sabe por que ela permitiu que você tivesse acesso a biblioteca?


–       Não ainda. Por enquanto ela veio com aquela conversa sobre eu ser a bruxa...


–       Mais inteligente da sua geração. É verdade.


–       Deve ter outro motivo.


–       Talvez ela esteja grata por você ter usado livros dela pra derrotar Voldemort. Isso deu um grande impulso a carreira dela.


–       Os livros dela continuaram proibidos.


–       Está brincando? Os livros da Sra. Kessler no mercado negro triplicaram de valor! Um exemplar vale muito dinheiro.


–       É... tinha me esquecido! Heckett nos disse que tem uma livraria na França!


–       As duas têm interesses em comum então.


–       Basta saber onde eu entro nessa relação. – disse Hermione pensativa.


–       Conhece aquele cara cochilando no sofá? – perguntou Patrick apontando Harry.


–       Ele não tem dormido muito em casa.


–       Imagino que não.


–       Quando Rebecca foi embora nós nem conversamos; pedi a Harry para saber se você estava bem.


–       Ele me falou. Você não precisava se incomodar.


–       Doe não é?


–       Você vai superar isso Hermione. – disse Patrick com convicção.


–       Estou tão envergonhada. Nem tive coragem de contar aos meus pais ainda...


–       Você não tem motivo para se envergonhar. Você não fez nada!


–       Harry também está arrasado, mas ele demonstra de outro jeito. Ele anda explodindo coisas. Gina também deve estar sofrendo. Você sente falta de Rebecca?


–       Às vezes. Eu a conheço desde criança; ela foi minha primeira namorada.


–       Sério?


–       Minha mãe a odiava. Dizia que era perda de tempo e eu era muito jovem.


–       Ela não é muito simpática a primeira vista e sua mãe deve ser muito exigente afinal você é...


–       Minha mãe morreu há alguns anos – Patrick disse de repente – ela ficou um pouco perturbada depois que meu pai nos deixou; ele deve estar morto também.


–       Por que não nos contou? – perguntou Hermione surpresa.


–       Eu nunca contei isso pra ninguém. Posso lhe fazer uma pergunta?


–       Claro...


–       Você deu mesmo um soco em Draco?


–       Dei um tapa.


Patrick começou a rir.


–       Desculpe. Ele não devia ter ser metido com você.


Conversaram mais um pouco e Hermione acordou Harry bem devagar.


–       Terminaram?


–       Sim. Obrigada Patrick. – disse Hermione o beijando no rosto. – Devolvo tudo assim que puder.


–       Desde que seja pessoalmente...


–       Ok. – respondeu Hermione sem jeito enquanto Harry se espreguiçava.


Sozinho em sua sala Patrick escreveu um bilhete para Deanna Troy a convidando para um chá. Se ela precisava se sentir melhor para o Mapa da Magia voltar a funcionar completamente... ele já tinha uma idéia de como fazer isso acontecer.



–       O tal Revistador Twain pode já ser perturbado, mas felizmente ainda não pegou o jeito. – disse Rony se levantando da cama.


–       Você quase foi morto!


–       Não sei o que Patrick é, mas ele não é normal.


–       Eu disse que era uma loucura!


–       Precisava tentar Emily!


–       Se ele descobrisse que era você? O que faria com nossas famílias?


–       Já passou! Eu estou aqui e estou bem!


–       Bertel está morto! – disse Emily enxugando os olhos.


–       Já sabíamos disso.


–       Ouvi comentários lá embaixo; o encontraram no pub de Solomon de um jeito degradante! Eu o conheci Rony! Ele era um bom homem!


–       Com certeza era... Então aquela cidade que mencionou. Acha mesmo que devemos ir até lá?


–       Alguém se deu o trabalho de nos mandar esse bilhete. Pode ser importante.


–       Não podemos ir pela Rede de Flu e nem aparatar.


–       Vá sem mim


–       De jeito nenhum! Se ficar aqui sozinha eles vão perceber e será pior. Preciso pensar... temos as coisas que meu irmão mandou. Ele deve ter se encrencado na minha casa para conseguir o que pedi. Queria parar de ferrar com a vida das pessoas...


Bem tarde da noite Rony abriu a porta do quarto. Os homens de Solomon não estavam de vigia no corredor e nem do lado de fora, na calçada. Emily descobrira que a cada quatro horas os vigias eram substituídos e na troca do turno da noite se encontravam no bar para conversar. Esse intervalo dava aos dois um bom tempo para saírem serem vistos. Rony usou o desiluminador e todas as luzes da rua se apagaram; a escuridão naquele momento os deixou assustados e inseguros.


–       Vamos! Tudo vai dar certo! – disse Emily abraçando Rony pela cintura.


Rony apertou as mãos dela e deu impulso em sua antiga vassoura. Só quando estavam a uma boa distancia Rony reacendeu as luzes.


–       Para onde estamos indo?


–       Para uma lareira que sei não estar ligada à Rede de Flu! Não é longe daqui!


O voo foi lento e silencioso; Rony pousou em frente a casa encontrada por Patrick, Draco e Rebecca no Beco Diagonal; a casa pintada para se confundir com a paisagem. Os cantos agora tinham a marca do Ministério.


–       Tem uma lareira não registrada aí dentro?


–       Foi assim que Elvira voltou a Zebediza; ela partiu daqui. Encontramos a casa depois e não havia nenhum feitiço a protegendo para que Elvira entrasse sem precisar recorrer à magia. Hermione lançou alguns feitiços, mas eu estava junto e sei como anulá-los.


–       Certo, mas pra onde vamos?


–       Pra o único lugar que essa lareira leva: a casa de Elvira.


A casa continuava vazia, escura e silenciosa; Rony enfeitiçou sua mochila e a de Emily para ficarem impermeáveis.


–       Você sabe nadar? A casa está no fundo do lago! – perguntou a Emily.


–       Claro que sei nadar! Quem não sabe!


Os dois surgiram num dos quartos da casa submersa. Em meio a corujas empalhadas e lixo que os rodeavam nadaram para fora por uma janela.


Na margem do lago secaram as roupas e foram em direção ao restaurante de Gostamino e da mulher Joana.


–       A cidade está completamente diferente. Você vai gostar daqui. – disse Rony tirando água dos ouvidos.


–       Elvira odiava esse lugar; pude perceber quando a entrevistei.


–       A real história dela se perdeu; as memórias foram alteradas antes que pudéssemos saber se ele chegou a ter filhos. Por acaso ela não mencionou algum relacionamento?


–       Ela deu a entender que nunca tinha saído com nenhum homem. Achei que seria uma indiscrição perguntar. Ela fez questão de reforçar a idéia que tínhamos sobre ela: frágil, tímida, às vezes confusa e até simplória.


O restaurante de Gostamino estava lotado e ele, como sempre, no meio dos hóspedes. Reconheceu Rony e já o mandou sentar.


–       Como está? E seus amigos? Sua namorada?


–       Vão todos bem. Essa é Emily.


–       Uma nova amiga! Seja bem vinda! Vai provar a melhor sopa da sua vida! – disse Gostamino a cumprimentando entusiasmado.


–       E cerveja. – exclamou Rony.


–       Não posso tomar cerveja, mas aceito a sopa.


–       Trouxe aquele dinheiro?


–       Galeões. Sim trouxe!


–       Adoro o dinheiro do seu país! Veja! – disse Gostamino mostrando um belo sorriso dourado.


Emily caiu na risada. Gostamino colocou Rony a par das novidades da cidade; estavam lotados para a temporada de inverno. Com certeza o lago seria ótimo para patinar.


–       Estamos em média temporada e tem bastante lugar. Quanto tempo vai ficar?


–       Alguns dias. Estamos planejando outra viagem e precisamos de um mapa e os horários dos ônibus que passam por aqui.


Com a ajuda de Gostamino; Rony e Emily puderam organizar seus próximos passos. Como ex-mineiro sabia o valor do ouro deu um bom dinheiro trouxa em troca de galeões.


–       Bunko ia adorar ver seu precioso ouro na boca de Gostamino. – disse Rony rindo guardando dinheiro na carteira.


–       Com certeza iria surtar. – confirmou Emily.  – Bom, temos que comprar as passagens e nos preparar para uma viagem de trem.


–       Logo Patrick saberá que fugimos. A primeira coisa que vai fazer é ter certeza que não voltamos pra nenhum dos lugares que está sendo vigiado. Espero que desconte a raiva em Twain... Emily, você quer ficar aqui? Estará segura com Gostamino e a mulher.


–       De jeito nenhum! Tenho contatos na França; eu nasci lá e você não entende nada de coisas trouxas! Não vai se livrar de mim tão rápido Rony Weasley!


–       Certo, eu precisava perguntar. Você tem razão é mais seguro ele saber que estamos juntos, bem longe e fora do caminho


–       Mandarei fotos nossas em Paris para O Profeta Diário. Um casal feliz.


–       Não sabemos o que vamos encontrar nessa cidade e nem se poderá nos ajudar.


–       Precisamos ter algum objetivo Rony ou vamos enlouquecer.


Gostamino chegou com a sopa, a cerveja de Rony e suco para Emily.


–       Diga de novo... – pediu Rony segurando a mão dela.


–       Tudo vai dar certo.


 
Harry achou que se trabalhasse bastante afastaria Gina de seus pensamentos, mas às vezes não havia trabalho bastante que superasse a lembrança da beleza da pele clara sob os primeiros raios de sol. Teve que deixá-la pela segunda vez. Não podiam conviver com a traição de Rony entre eles; com certeza Gina pensava da mesma maneira. A decisão foi tomada de ambas as partes; era o fim.


No sábado pela manha Hermione pediu que a acompanhasse até o St. Mungus. Harry chegou a pensar que ela queria que fizessem uma vista a Umbridge, mas Hermione queria tirar algumas duvidas antes de entregar seu depoimento justificando o uso de magia na presença de trouxas.


–       Quando eu e o Sr. Weasley saímos Waxflatter tinha corrido naquela direção. – explicou Hermione em frente a entrada do hospital.


–       Você não viu se foi mesmo ele que jogou o carro ou acertou você?


–       Não. Waxflatter entrou em um beco sem saída e estava em cima de um muro.


Os dois amigos foram caminhando.


–        A Sra. Weasley me falou de uma passagem mágica para o St. Mungus que se abri próximo ao horário de visitas.


Harry consultou o pulso, mas estava vazio. O presente que a Sra. Weasley lhe dera no seu décimo sétimo aniversário estava guardado numa gaveta.


–       Existem muitos tipos de passagens mágicas – continuou Hermione – a mais conhecida deve ser a entrada para o Beco Diagonal, mas acho que essa passagem é do tipo do tipo túnel.


–       Túnel?


–       Liga pontos não muito distantes e você tem que caminhar por ela!


Chegaram ao beco na hora certa; um túnel provavelmente visível apenas para bruxos estava aberto na parede. Era um caminho estreito e parecia menor a cada passo. A claridade parecia a quilômetros de distancia e Harry começou a se sentir ansioso.


–       O que acontece se fechar com a gente aqui dentro?


–       Não sei...


–       Você sabe tanta coisa Hermione!


–       É, mas isso eu não sei! O que foi?


–       É melhor nos apressarmos!


–       Pensando bem é melhor mesmo. – disse Hermione olhando o túnel atrás deles diminuir quadro a quadro.


Num segundo os dois ficaram prensados um contra o outro; o nariz de Harry entre os cabelos de Hermione. Não conseguiam se mexer; estavam numa espécie de cano. Harry tentava alcançar a varinha na cintura de Hermione; a dele estava guardada no casaco. Os sapatos dele e as botas de Hermione foram sugados e eles começaram a descer. Caíram dentro de um tanque cheio de um liquido quente e grudento.


–       Fiquem calmos os tiraremos daí num minuto. – disse uma voz grossa.


Uma escada surgiu na lateral do tanque e puderam subir. No fim da escada um rosto conhecido.


–       Sr. Potter! Sra. Granger! As últimas pessoas que pensaria encontrar aqui!


–       Srta. Twitch. – disse Harry tirando os óculos lambuzados.


–       Me chamem de Anjelica! Não se preocupem é só caramelo; vocês foram parar no cano da mistura.


–       Como sabia que estávamos presos lá? – perguntou Hermione torcendo as pontas dos cabelos.


–       Isso sempre acontece quando a passagem se fecha; já tiramos famílias inteiras dos tanques.


–       Você trabalha aqui? – perguntou Hermione tentando limpar os olhos.


–       Mais ou menos. É uma padaria bem no caminho da passagem; precisavam de alguém que não achasse a coisa mais estranha do mundo pessoas aparecerem do nada dentro das paredes.


–       Como está sua mãe?


–       Se recuperado aos poucos. Vou levá-los a uma sala para poderem tirar isso das roupas e se trocarem.


No escritório de Anjelica Twitch havia uma montanha de pares de sapatos.


–       A primeira coisa que o cano puxa; às vezes se as calças não estiverem bem presas...


–       Ainda bem que resolvi não usar saia hoje.


–       Meia calça e calcinhas eu guardo em outro lugar, mas raramente as donas veem buscar.


–       Com certeza eu não viria! – disse Hermione rindo.


Depois de se limpar Harry encontrou com as duas e procurou seus sapatos na pilha.


–       Anjelica alguém ficou preso nos canos nos últimos dias?


–       Não, mas Waxflatter veio aqui e me fez essa mesma pergunta.


–       Você já o tinha visto antes?


–       Ele é conhecido da minha mãe. Esteve aqui logo depois da confusão na rua; eu ainda não tinha sido avisada senão teria chamado o Ministério.


–       Acho que estava seguindo alguém que entrou pela passagem. – disse Harry.


–       Pode ser. Essa passagem é uma linha reta até o Beco Diagonal e quando desaparece as pessoas ficam presas aqui ou na tinturaria que divide a parede.


–       As pessoas que trabalham lá podem ter visto alguém? – perguntou Harry.


–       Duvido. Toda troca de turno um feitiço de memória é ativado. Se alguém apareceu do nada lá nos últimos dias ninguém vai se lembrar.


–       Waxflatter disse alguma coisa? Qualquer coisa sobre o que viu?


–       Ele disse várias coisas! Falava sem parar, mas nada que fizesse realmente sentido! Estava tão agitado que fiquei feliz quando foi embora. As poucas vezes que minha mãe recebia notícias dele; ela e papai acabavam brigando.


–       Se não foi ele que causou o tumulto na rua. Por que ele sumiu? Podia explicar o que aconteceu. – disse Hermione.


–       É podia... – respondeu Harry – mas por alguma razão não o fez.


Antes de voltarem para casa Harry e Hermione aparataram no telhado da tinturaria Harry deu uma boa olhada pelos cantos.


–       Quem usou essa passagem voltou ao Beco Diagonal e por algum motivo não quis ou pode aparatar. – disse Hermione.


–       Só uma pessoa pode explicar o que aconteceu: Waxflatter. Sem ele pra contar quem ou o que viu; esse caso se resume a um bruxo atacando trouxas e você e o Sr. Weasley os defendendo.


–       Nossa palavra contra a dos trouxas na rua.


Um grupo de empregados saiu para o telhado para fumar.


–       O que fazem aqui?


–       Nada. – respondeu Harry e apontou para o prédio ao lado. – O que é aquilo?


Quando o grupo se virou Harry e Hermione já tinham sumido.



–       O representante trouxa não vai se importar com essa historia. – disse Heckett quando Harry explicou suas suspeitas. – Ele quer ver algum bruxo ser punido pela lei bruxa e, se possível, pela trouxa também.


–       Na lei atual um bruxo que comete um crime no mundo trouxa ou contra um trouxa é julgado primeiro pelo Conselho e depois enviado para Azkaban. Trouxas não vêm isso como punição completa já que eles não têm idéia do que seja Azkaban. – explicou Hermione.


–       Leu isso nos livros de Patrick?


–       Sim.


–       Bem... Hermione é nascida trouxa. Acha que ele pode exigir que ela seja julgada pela lei trouxa também?


–       É possível.


–       Você pode conversar com o Sr. Weasley? Ele pode ter as mesmas suspeitas que nós e ele conhece Waxflatter.


–       Falarei com ele. – disse Heckett. – Foi usado um feitiço de memória nas pessoas da rua logo em seguida ao incidente.


–       Sim, isso não é justo. Elas poderiam contar o que realmente viram.


–       É a primeira coisa que fazem num caso como esse. – disse Heckett.


–       De qualquer forma obrigado. Não conversamos sobre seu pagamento ainda.


–       Vamos esperar pra ver o resultado. Vai ser um dia bem interessante.


No dia da audiência Hermione se olhava no espelho; usava um conjunto de vestes cinza horrível sugerido por Heckett. Prendeu o cabelo num coque, soltou e fez em um rabo de cavalo.


–       Nem minha avó se veste mais assim. – disse a Harry.


O cabelo de repente se desprendeu; as pontas cacheadas caíram ajeitadamente sobre os ombros. Ela olhou para Harry guardando a varinha.


O Conselho estava reunido. No lugar de Bertel foi chamada em caráter extraordinário a ex-Conselheira Madeleine Hayes.


–       Você não devia ter vindo de cabelos soltos. – reclamou Heckett. – Fica com uma aparência muito jovem.


–       Prefiro assim. – respondeu Hermione.


Strickland, o representante trouxa, estava acompanhado da Sra. Twitch. O Sr. Weasley entrou na sala com Percy e sentou afastado de Hermione e Heckett; evitou Harry, mas lançou um olhar triste para Hermione. Todo processo foi lido por Strickland; no final exigiu uma explicação do Sr. Weasley e Hermione. A versão dos fatos de ambos era idêntica.


–       Parece fácil incriminar um homem desaparecido. – disse Strickland.


–       Também não achamos que o Sr. Waxflatter tenha atacado trouxas. Ele estava tentando protegê-los. – explicou Heckett.


–       Contra quem?


–       Não sabemos exatamente.


–       Outro bruxo das Trevas?


–       Pode ser. – respondeu Heckett encolhendo os ombros. – Ou talvez só estivesse tentando dar um jeito no transito.


–       Exijo uma punição aos bruxos presentes Kingsley. Houve pânico na rua e se fosse permitido o depoimento de não bruxos você ouviria a verdade!


–       Você tem minha palavra...


–       Isso não significa muita coisa Kingsley; você pode alterar minha memória num passe de mágica! Foi a primeira coisa que sua representante fez quando chegou ao local.


–       Confirmo isso. – disse a Sra. Twitch.


–       Claro que confirma! É a lei! A sua lei. Eu só confiaria em você Kingsley; se deixasse puni-los com a minha lei.


–       Não é sua lei. E foi acertado há muito tempo que bruxos são julgados por bruxos.


–       Vocês nos acham incapazes de fazer justiça? O que realmente pensam a nosso respeito?


–       O que exatamente o senhor quer Sr. Strickland? – perguntou Harry.


–       Pra começar nada memórias alteradas. É uma violação! É evasivo!


–       Certo, podemos considerar essa possibilidade. – disse Kingsley.


–       Eles devem entregar a varinha e serem julgados pela nossa lei.


–       A Srta. Granger e o Sr. Weasley salvaram os trouxas na rua. – disse Harry.


–       Se o feitiço de memória não fosse utilizado indiscriminadamente você até poderia provar o que está dizendo rapaz. – respondeu Strickland.


Kingsley se levantou.


–       Considero o Sr. Waxflatter foragido e quando for detido pelo Ministério da Magia deverá ser julgado. O Sr. Strickland será convidado a assistir a audiência. Até que seja comprovado o contrário acredito, e declaro, Arthur Weasley e Hermione Granger inocentes do incidente.


–       Está cometendo mais um erro Kingsley. – disse Strickland com uma expressão que lembrava muito as crises de raiva de Valter Dursley.


–       Durante anos lutamos para que bruxos respeitassem e convivessem em harmonia com trouxas. Chegamos a protegê-los! – exclamou Kingsley.


–       Proteger-nos de outros bruxos! Ao contrario de vocês pensam; nos seres humanos sem poderes mágicos somos evoluídos! Construímos o mundo ao nosso redor! Sei que não somos uma ameaça a vocês, mas se não somos respeitados não há porque haver contato entre nós.


–       Faça o que achar que deve fazer Sr. Strickland. – disse Kingsley se levantando.


 


–       E esse tal de Strickland parecia pessoalmente zangado como se quisesse que o Sr. Weasley e eu pegássemos vinte anos cada um! – disse Hermione na sala de Kingsley.


–       A família dele foi morta por Comensais da Morte anos atrás. – explicou Kingsley. – Foram julgados e mandados para Azkaban, mas ele sempre desconfiou que não houve julgamento algum. Não era seguro um trouxa no Ministério naquela época e decidimos que era mais seguro para ele não assistir a sessão.


–       Não foi uma decisão acertada refletindo agora. – disse a Conselheira Hayes.


–       O Sr. Strickland acha que estamos acima das leis trouxas. – disse Ferdinanda Twitch. – As coisas só pioraram com Bunko em Gringotes criando dificuldade para trocar dinheiro trouxa por ouro.


–       O que ele quer? Ver um bruxo executado como na inquisição? Vamos admitir: ele não pode fazer muita coisa contra nós. – comentou a Conselheira Hayes.


–       Mais um motivo pra nos odiar. – respondeu Hermione magoada por ver o Sr. Weasley se retirar sem se despedir dela e de Harry e zangada com o que acabara de ouvir.


 Nos dias seguintes o corpo de Waxflatter apareceu boiando em um canal ao sul de Londres. Um policial trouxa testemunhou que o viu se atirar no rio. O caso contra o Sr. Weasley e Hermione foi definitivamente encerrado recriando o mal estar entre representante Ministério trouxa e Kingsley. Infelizmente a tensão criada a partir desse caso iria perdurar ainda por muito tempo.


 A curiosidade de Harry sobre a figura de Waxflatter só aumentou depois do funeral. Ele foi enterrado no St. Mungus acompanhado de poucas pessoas. Harry compareceu, mas ficou de longe. Viu o casal Weasley, Minerva McGonagall, Ferdinanda Twitch; todos pareciam muito emocionados. Na saída Harry alcançou a diretora McGonagall e a convidou para jantar antes de seu retorno a Hogwarts; um dos motivos era saber o que ligava aquelas pessoas à figura de Waxflatter, mas ela não apareceu no Largo Grimmauld e nem em Hogwarts.


 

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