Coração em Alto Mar



 | Do Nosso Jeito |




Capítulo Nove - Coração em Alto Mar






“Existe alguma chance?


Um fragmento de luz no fim do túnel?


Uma razão para lutar?


Existe uma chance de você mudar de idéia?


Ounós somos cinzas e vinho?”


 


 


    -Hermione...


Mas o que quer que Harry fosse falar naquele momento, teria que ser deixado para depois, pois sua frase nunca chegou a ser concluída. Uma luz atravessou-lhe o peito, o fazendo voar alguns metros. Bateu a cabeça em uma viga de madeira, mas ainda pode ouvir Hermione gritar “Protego Maxima!”, antes de apagar.


Um escudo se formou ao redor dos dois, enquanto alguém continuava a lançar feitiços de ataque. Hermione se ajoelhou ao lado de Harry, parecendo nervosa.


“Ennevarte!”


Ele acordou assustado, como se todo o ar do seu corpo estivesse sido expulso. Hermione o ajudou a levantar, na mesma hora em que o escuto se desfez. Harry agarrou as vestes da amiga e a puxou para baixo, fazendo-a cair no chão. Um feitiço vermelho voou em direção do teto, e as vigas de madeira se partiram.


Harry deitou em cima de Hermione rapidamente e preparou as costas para o impacto. As vigas de madeira não demoraram nem um segundo pra ceder e cair em cima dos dois; a única coisa que Harry tentou proteger, além de Hermione, foi a própria cabeça...


No segundo depois, foi a vez de Hermione erguer a varinha e tirar toda a madeira de cima dos dois. Assim que estavam livres, rastejaram até detrás de uma maca, enquanto os feitiços voavam por cima de suas cabeças numa velocidade incrível, quebrando frascos e espalhando poções pegajosas por todo o chão.


–Que merda..? Quem está nos azarando?! – gritou Harry para que Hermione pudesse ouvir.


–Não sei! – gritou ela de volta, protegendo a cabeça. – Ainda não descobri.


–Me dê cobertura, Hermione – pediu ele, apertando a varinha.


–Não – afirmou ela, baixinho.


–O que? – perguntou Harry surpreso. – Por quê?


–Nós só conseguiremos sair daqui se trabalharmos em conjunto.


Eles ouviram um gemido, e gritos de provocação do outro lado da sala. O quer que fossem fazer, era melhor começarem rápido.


–O que você sugere? – Ele levantou-se para lançar um feitiço às cegas, e abaixou-se rapidamente, bem a tempo de se livrar do contra-ataque.


Harry virou o corpo todo para olhar a amiga. Hermione mordeu os lábios assim que ele cravou seus olhos nela.


–Nós atravessamos o corredor – ela disse. – Até a porta, e aí estaremos livres.


Harry fechou a cara.


–Temos que avisar a Neville e Luna.


–Iremos até onde eles estão.


–Certo.


–Vamos logo com isso!


Hermione já ia se levantar, mas Harry segurou seu braço.


–Eu vou à frente.


Os dois desataram a correr. Os feitiços começaram a voar no mesmo instante, e Harry teve que abaixar, levando Hermione consigo. Ele só mirava a próxima coluna, onde podia se esconder, enquanto feitiços de todas as cores do arco-íris voavam em sua direção.


Harry sentiu algo o paralisar, e uma mão o puxou pelas vestes; ele virou e caiu no chão sobre a mão que segurava a varinha. Soltou um berro de dor, o rosto arrastando no chão. Ainda pôde dar uma boa olhada no rosto do homem que fez isso, antes de Hermione o estuporar com um grito.


Era o Caçador que estivera o Átrio do hospital, e ele não estava sozinho. Havia mais um homem e uma mulher com ele.


Na pressa que ele, Hermione e Draco estavam de encontrar com Neville, Luna e Astória, nem notaram que a recepcionista mandara o Caçador com sua vítima para o mesmo andar nos pais de Neville, pois ali havia o único bruxo que usava o método trouxa de costurar ferimentos.


Os feitiços não pararam de voar. Hermione o pegou pela gola da camisa, o arrastando até um local “protegido”. Harry gemeu, segurando a mão inutilizada.


–Acho que quebrei...


–Eu sei – disse Hermione com rapidez.


Os feitiços ainda voavam pelos ares, fazendo um barulho ensurdecedor. Harry sabia que Hermione estava com dificuldades para pensar.


–Não tem... – começou.


–Cale a boca! – ordenou ela, parecendo mais nervosa.


Apontou a varinha para o braço quebrado, fechando os olhos.


Braquium Remendo


Uma luz fez Harry fechar os olhos. Sentiu um pouco de dor, mas depois cessou. Abriu os olhos, olhando seu braço. Só havia um corte que estava sangrando, mas a fratura estava curada.


–É o mesmo feitiço que o Lockhard usou pro concertar seu braço, lembra?


–Prefiro do seu jeito.


Harry se levantou, e puxou a amiga consigo. Ele viu o rosto cheio de cicatrizes de um homem feio se contorcer quando o viu; ele ergueu a varinha, mas antes que pudesse sequer o estuporar, Hermione o derrubou no chão.


Os olhos verdes pareciam que voaram na direção daquela mulher ensangüentada. Por trás dos homens do tamanho de muralhas, uma bruxa magricela segurava a outra mulher pelos cabelos, e o fluxo de sangue na pancada que ela levara na cabeça parecia ter aumentado consideravelmente.


Aquela visão perturbadora fez os músculos de Harry travarem por um segundo, deixando espaço para que ele fosse atingido por um feitiço na barriga, que o derrubou no chão.


Hermione virou de costas, a tempo de ver Harry voando pelos ares. Em pânico, ela notou que seus óculos estavam rachados e que, seus olhos, estavam fechados. Fez menção de ajudá-lo assim que ele aterrissou no chão, mas não conseguiu. Um braço forte a agarrou pelos cabelos, fazendo-a soltar um gemido de dor e protesto.


O Caçador a obrigou a olhar para ele, analisando seu rosto com atenção. Hermione viu, no rosto de seu agressor, um sorriso se formar, exibindo seus dentes podres e amarelados.


–Uma fêmea – ele disse, com uma voz gutural, como se não estivesse muito acostumado a usá-la.


–E uma boa fêmea! – Afirmou um outro homem, se aproximando e cheirando-a, como um cachorro excitado.


Hermione se debateu, tentando inutilmente chutar um daqueles homens asquerosos. Isso fez com que eles rissem mais.


–Nem gaste suas energias, querida. Seu namorado não vai acordar, e nós vamos vender a cabeça de Potter ao Ministério. Ele não parece muito preocupado com você, parece.


O Caçador forçou suas mãos sujas no rosto de Hermione, fazendo sua cabeça virar na direção do desacordado Harry. Ele enrolou o pescoço da menina entre seus braços musculosos, e Hermione tentou gritar, mais não conseguiu; o aperto fechou suas vias respiratórias, e as lágrimas surgiram involuntariamente nos seus olhos.


Seus olhos estavam cravados em Harry, mas estava tão difícil vê-lo... Ele entrava e saia de foco, sempre imóvel, sempre inerte.


–Potter tem toda razão em não se preocupar!


Ela estava delirando, ou estava ouvindo vozes conhecidas?


O golpe em sua traquéia se afrouxou, e Hermione sentiu, com muito alivio, ar penetrar nas suas células, oxigenando seu cérebro.


O brutamontes virara de costas para ver quem atrapalhava sua caçada.


–Ora, ora, ora – o capanga do Caçador falou. – Se não é o Malfoy traidor do próprio sangue com a sua corja de sangues-ruins. Vamos ganhar tanto dinheiro, Grez! Nossa aposentadoria vai chegar mais cedo!


Mas, Hermione, que já se recuperara, aproveitou a falta de atenção dos dois homens e colocou seu peso para baixo, pisando no pé do homem com muita força. Surpreso com o calor que a dor provocou em seus ossos, o Caçador a soltou. Na mesma hora, Neville estuporou o outro homem.


Draco se aproximou, acolhendo Hermione e apontando a varinha para o nariz do Caçador. O homem se resignou, estudando a expressão de nojo de Malfoy.


–Hermione Granger não é uma donzela que precisa ser salva. Ela é uma guerreira – o sonserino empurrou a ponta da varinha no peito do homem. – Aprenda isso, seu aborto nojento.


Hermione buscou ajuda em Neville, que estendeu o braço para apoiá-la em pé. Ela pensou que estava feliz de ver aquela cara redonda do amigo novamente, mas Neville parecia tão diferente, tão determinado.


Mais atrás, estava uma garota branca, com cabelos negros muito grandes, que tinha rendido a bruxa do grupo do Caçador. Era a segunda vez que Hermione via Astória, mas nunca imaginara que ela estava assim, tão doentiamente magra, e com olheiras profundas. Costumava ser tão bonita, tão graciosa, até a ponto de chamar atenção de Draco Malfoy. Ela segurava um pedaço pontudo de vidro contra o pescoço da outra bruxa, e apertava o objeto com tanta força que lhe feria a pele fina.


Draco amarrava o Caçador, e Hermione fitou Luna, que reanimava Harry.


Assim que ele se levantou, Hermione jogou-se em seus braços, apertando-o contra si e puxando sua jaqueta de um modo possessivo.


Malfoy estava com visíveis dificuldades de amarrar o Caçador, que tentava de todo jeito escapar das mãos do sonserino.


–Pare de se mexer, seu idiot...


Porém, a frase morreu na sua boca, pois foi rapidamente silenciada. O capanga, que tinha sido estuporado, ergueu-se, com uma força incrível, e lançou Draco quase três metros com um soco. Harry agiu na mesma hora, buscando proteger Hermione com suas costas.


A bruxa que Astória rendeu aproveitou a preocupação da menina com Draco, e também agiu, tomando o caco de vidro das mãos dela.


O Caçador conseguiu se libertar, e lançou um feitiço na direção de Neville, mas este foi desviado por Luna.


Os três rodearam Harry, Hermione, Neville e Luna.


Parecia que eles estavam novamente no Departamento dr Mistérios, os feitiços voavam sem ser pronunciados, Hermione protegia Harry, Harry protegia Hermione, Neville defendia Luna, Luna defendia Nevile.


Sem cerimônias, Neville, num ato totalmente impulsivo, largou um soco no queixo de um dos Caçadores, fazendo-o ficar levemente confuso.


–LUNA! – Berrou Harry, com força, se esforçando para ser ouvido e para não morrer no meio da chuva de feitiços que o atingiam. – VÁ PARA O CHALÉ DAS CONCHAS!


Neville puxou Luna pelas vestes, e a vez passar pelo buraco recém aberto no círculo dos antigos Comensais. Os dois correram, escorregando entre os escombros, e, assim que tocaram em Draco e Astórias, desaparataram.


Um feitiço passou assobiando pelo ouvido de Harry, e uma mão o agarrou. Hermione gritou, e a mão o soltou imediatamente.


Agora, eram dois contra um. O Caçador estava só, mas, nem por isso, parecia abalado. Ao contrário, parecia, na opinião de Harry, feliz de poder prender Harry Potter e seus amigos sozinho.


–Hermione – murmurou Harry, sem mexer a boca, apontando a varinha na direção do homem. – A mulher. Salve a mulher.


–Não vou deixar você.


–Nos encontramos no Chalé das Conchas.  AGORA!


Ele empurrou a amiga para o outro lado, e a reação do Caçador foi quase que imediata; um feitiço verde voou na direção de Harry, que não conseguiu defendê-lo. O Crucio atingi-o com toda a potência, e seus berros encobriram o som do aparatar de Hermione.


O corpo de Harry reclamou de tantas injúrias que ele sofrera naqueles tempos. Sua respiração tornou-se pesada, ruidosa. Ele estava cansado, exaurido de suas forças. Quando a maldição cessou, e ele apontou a varinha para o Caçador, sua mão tremia.


–Que ridículo, Potter! Como conseguiu vencer o Lord das Trevas assim?


Ele cerrou os dentes.                   


–Voldemort... – Ele fez questão de falar o nome bem pausadamente, causando calafrios no Caçador. – Era um fraco.


–Crucio!


A dor arrebatou as pernas de Harry, quase fazendo seus joelhos arriarem, mas ele se segurou para não cair.


–Não sou um aficionado pelo Lord – comentou o Caçador. – Mas não gosto da sua atitude, garoto.


Dessa vez, Harry estava esperto. Ergueu a varinha novamente, tremendo a mão propositalmente mais. O Caçador riu, achando a fraqueza do menino engraçada, e, por isso, nem se preocupou em defender-se.


–Expelliarmus!


O feitiço atingiu o peito do homem em cheio, mas Harry nem sequer esperou para ver a desgraça que causara. Com um crac, desaparatou para longe dali.


Ele pousou deitado, e sua boca encheu-se de areia branca e sangue. Tentou apoiar-se nos braços, e cuspiu. Teve uma vertigem, e sentiu que não conseguiria sair dali tão cedo, devido às agressões que a maldição Crucio causara em seu corpo.


Ao longe, escondida entre enormes rochas, estava o Chalé das Conchas, e Harry imediatamente soube que ele estava abandonado: as telhas estavam quebradas, as paredes descascadas e as escadas invadidas pela a areia da praia.


Harry sentiu mãos grandes agarrando em seus ombros, e ele foi içado. O mar parecia exatamente o mesmo, soprando uma brisa salgada e fazendo voar os cabelos do Menino-Que-Sobreviveu.


 


                                                                              *


 


                Falava coisas sussurradas e incompreensíveis.


Harry não queria acordar, pois sabia que, no momento que o fizesse, sentiria todas as dores em seu corpo novamente, e, para ser bem franco, ele já não queria. Ele se sentia uma criança, e só queria ficar deitado, ou ser protegido. Coisas que não aconteciam fazia algum tempo.


Mas os sussurros foram ficam mais sólidos, embora suaves. Ele estava aquecido, confortável. Talvez a dor não voltasse.


Abriu os olhos.


A imagem embaçada de Hermione surgiu acima da sua cabeça, e ele notou que estava deitado no lado de dentro do Chalé das Conchas.


O local parecia arejado, e a dor, realmente não voltara, embora ele sentisse um leve desconforto em seu braço direito. Hermione estava sentada ao seu lado, e afagava sua mão num gesto carinhoso, enfiando os dedos entre os seus.


–Oi – ela falou, animada, quando fitou os olhos do amigo. – Você está bem?


–Sim – Harry levantou o tronco, meio desorientado, e sentou-se na cama. Notou uma atadura improvisada na mão que ele quebrara no duelo.  – E você? Está bem? Estão todos bem?


–Estou bem – Hermione fez pressão em sua mão, parecendo ansiosa. – Você está com cara de doente, tem certeza que está bem?


–Estou OK, Mione – ele respondeu, sussurrando. – Onde estão todos?


–Dormindo. Eu não pude dormir, então, fiquei responsável pelo turno da noite das vigias.


–Você pode descansar agora, se quiser – Harry avisou. – Agora que acordei, posso fazer a ronda.


Hermione fez um aceno brando com a mão.


–Não precisa. Eu só estava preocupada com você – abaixou o tom de voz num sussurro. – Não deveria ter te deixado sozinho lá! Você tem idéia do que é ficar na esperando, apenas torcendo para que você estivesse vivo?


Harry forçou um sorriso torto.


–Nós já fizemos isso antes.


–Não quer dizer que eu me acostumei. Ou que um dia irei me acostumar.


–Está tudo bem agora, não está? – Harry afagou o ombro da garota, meio sem jeito.


–É – a voz de Hermione pareceu um pouco desapontada. –Suponho que sim.


–Onde está a mulher? Você ajudou-a?


–Sim. Falei diretamente com um medibruxo conhecido meu.


A cabeça de Harry ainda estava muito confusa. Ele se sentia extremamente cansado, e, notou, que Hermione também. Ela tinha profundas olheiras debaixo de seus olhos, e Harry ponderou se ela estava mentindo sobre não ter sono.


Uma luz fantasmagórica vinha da cozinha, e escondeu por bastante tempo Luna Lovegood, que apareceu perto da cama, segurando um copo com água nas mãos. Ela estava de pijamas verde-limão e seus cabelos estavam mais desgrenhados do que o normal.


–Que bom que acordou, Harry! – Ela disse, sorrindo. – Estávamos preocupados com você. A atadura está confortável em seu braço? Hermione insistiu que não existiam pó de casco de unicórnio nas ataduras, mas eu tenho minhas dúvidas. Se começar a coçar, avise, sim?


Harry sorriu. Nunca imaginou que, um dia, ficaria feliz em ouvir as maluquices de Luna. Mas a verdade, é que ele estava, e sentira até saudade disso.


–Pode deixar, Luna.


 


*


 


                Encostada na madeira de uma viga que dava sustentação a toda a casa, ela o observava tinha alguns minutos, agora. Harry estava sentado à beira da praia, as calças dobradas até metade das panturrilhas, os braços cruzados, os olhos fixos em algo que ninguém mais podia ver. Sua única ação parecia ser a respiração, que ia e vinha devagar, fazendo suas costas moverem-se.


Hermione tentou imaginar o que se passava na cabeça do rapaz. Conseguiu ter algumas idéias, mas nenhuma delas lhe agradou.


Suspirou, e, ao fazê-lo, um barulho chegou aos seus ouvidos. Ela virou de costa, e viu Luna, parada a porta do Chalé das Conchas. Havia um enfeite de búzios pendurado na parede, bem no centro do vão da porta, e garota passava levemente a mão por ele. As conchas batiam uma nas outras, produzindo um som bem característico de praia.


–Trouxas têm o costume de achar que esses objetos dão sorte – Luna falou, enquanto brincava o dedo entre as conchas muito alvas. – Mas eles estão errados.


–Ele não parece ter trazido muita sorte para Gui e Fleur, eu acredito – comentou Hermione, lembrando-se no rosto marcado por uma profunda cicatriz do Weasley.


–Você está equivocada, Hermione – Luna focalizou a amiga. Seu rosto estava muito sério. –Gui tem a Fleur, assim como Fleur tem a Gui. O que mais uma pessoa poderia querer?


Hermione não respondeu, apenar virou-se para novamente encarar as costas de Harry, cruzando os braços sob o vento frio.


As duas ficaram em um silêncio incomodo por alguns minutos, até Hermione esquecer completamente a presença de Luna.


A brisa que vinha do mar para continente fazia todo o corpo de Hermione arrepiar, mas, ao mesmo tempo, essa brisa parecia um abraço reconfortante, que lhe envolvia todo o corpo, todos os sentidos. Um abraço que ela não mais recebia.


–Ele parece solitário, não parece?


Luna esgueirou-se pela porta e postou-se ao lado da amiga, observando Harry com seus grandes olhos azuis.


–Acho que ele sente falta de Ron – comentou Hermione, muito baixinho, abraçando a si mesma.


 


                O mar sempre fora uma coisa que Harry admirara. Talvez por não ter acesso a ele com freqüência. Quando menino, seus tios às vezes passava as férias de verão na praia, e tinham que o levar junto. Já naquela idade, ele adquirira aquele hábito: sentar-se na areia, perto o suficiente para que o mar lambesse seus pés.


Gostava de quietude do lugar, apesar do barulho das ondas batendo violentamente contra as pedras. Achava que era isso que ele estava precisando: um tempo para pensar, um tempo em que pudesse ficar sozinho consigo mesmo.


As coisas vinham acontecendo numa velocidade incrível, mas, mesmo assim, os dias pareciam que se arrastavam desde que Ron partira. A lembrança do amigo era sempre constante na mente de Harry, e, às vezes, ele se sentia tão miseravelmente triste.


Tateou os bolsos, e achou a carta que o amigo deixara para ele. Apertou-a na mão. Ficou imaginando como seria reencontrar os Weasleys.


Gina.


Ele pensou nela.


Nutria um carinho tão grande pela ruiva, mas em seu coração, alguma coisa mudara.


 


                –Todos nós sentimos falta dele – falou Luna. Ela fez menção se tocar o ombro de Hermione, mas não o fez.


A grifinória viu Harry se mexer, apertando alguma coisa com força. O Sol era uma bola amarela e laranja no horizonte.


–Algum dia vai passar? – Hermione encarou a loira ao perguntar, e Luna pôde ver alguns resquícios de lágrimas nos olhos castanhos. – Vai parar de doer?


Luna não respondeu de imediato. O Sol desceu rapidamente, querendo encontrar o horizonte e nele, se perder, pintando as nuvens de laranja e rosa.


–Sabe o que eu acho mais incrível em você, Hermione? – A loira perguntou, mas não esperou a resposta. – Não é a sua capacidade de raciocínio, nem seu vasto conhecimento em feitiços, ou suas habilidades em poções. Essas coisas são incríveis, sim, mas são incríveis apenas porque fazem parte do que você é. Agora, Hermione, a sua característica mais marcante é a fé. Você teve fé em Harry, até mesmo quando ele não acreditou nele mesmo.


–Onde você quer chegar?


–Está faltando fé – Luna girou a cabeça na direção de Harry. – Para vocês dois. Em vocês dois.


 


                Onde estaria o amigo?, ele se perguntou. Será que via o que estava acontecendo? Será que tinha conhecimento da confusão no coração de Harry?


Ele não sabia.


Mas tinha certeza de algumas coisas.


Compartilhava um sentimento muito intenso com Hermione, e havia momentos, em que eles se tocavam, que eram carregados de emoções. Como quando ela passava a mão pelos seus cabelos enquanto ele lia, ou quando saíram abraçados do cemitério. E tudo isso, na cabeça de Harry, parecia tão genuíno, tão verdadeiro, tão... certo.


Harry sentia que, sempre que estava perto de Hermione, desejava mais dela, como se sentisse que alguma coisa entre eles dois não havia realmente terminado.


Enfiou o papelzinho do bolso bruscamente. Devia estar ficando louco. O que Ron diria sobre isso?


Travou uma luta interna. Ele queria saber, precisava saber.


Ele e Hermione, poderiam dar certo?


 


                –Até as mais feias tempestades, eventualmente, passam – afirmou Luna, com um sorriso cativador.


Hermione permitiu-se um meio sorriso e limpou as lágrimas que teimaram em cair de seus olhos com a manga da camisa.


–O que vocês estão fazendo?


As duas garotas viraram-se simultaneamente, e se depararam com um Draco Malfoy muito desconfiado na beira da porta.


–Conversando, Malfoy – respondeu Hermione, sem se preocupar em ser educada. – É o que seres humanos costumam fazer.


Draco não respondeu, e deu alguns passos à frente ao ver Harry ao longe parado sozinho.  Sem dizer uma palavra, o rapaz tirou os sapatos, dobrou um pouco a barra das calças, e andou na direção do mar, deixando Hermione no mínimo curiosa.


Sentou-se ao lado de Harry, mas limitou-se a ficar em silêncio também. Observou o mar azul esverdeado, jogando ondas pequenas e grandes num ritmo perfeito.


–Você esteve aqui o dia inteiro. O que há? – Perguntou Draco, depois de alguns minutos.


–Estou só pensando – Harry respondeu, sem desgrudar os olhos do horizonte. – Ponderando, me perguntando.


Draco virou a cabeça para o pôr-do-sol, mas Harry duvidou que o loiro pudesse ver a mesma beleza que ele via.


–Imagine o poder dessa bola enorme e vermelha – começou o loiro, apontando para o Sol. – Todo dia ele some, todo dia ele se vai. Mas ele não faz isso à toa. Faz isso para dar suporte a milhares de pequenas estrelas, e para dar luz, principalmente, a algo muito maior e mais bonito – a Lua. Toda tarde o Sol se põe, mas nós sabemos que ele está sempre lá. O Weasley está aí, Potter. Em algum lugar dentro de você, dentro de Hermione, dentro dos irmãos, dentro dos pais dele. Aqueles que nos amam nunca realmente nos deixam.


O Sol sumiu por completo no horizonte e Harry sabia, apesar de haver alguns raios riscando o céu, que ele logo daria lugar a uma noite estrelada e a uma Lua alta e gorda.


–Sábias palavras, Malfoy.


Draco deu batidinhas em seu ombro, meio sem jeito.


–Vamos, Potter. Neville está fazendo uma comida muito ruim e verde, e está doido que você experimente.


 


*


 


 


N/A:


Trecho no início do capítulo = Ashes and Wine, Fine Frenzy

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Comentários (19)

  • LiarGranger

    Sua fic é simplesmete linda! Eu quando comecei a ler Harry Potter jurava de pé junto que Harry e Hermione iam ficar juntos! E quando descobri que Ron e Mione, Harry e Gina seriam os verdadeiros casal da saga, fiquei um tanto... chateada, digamos assim, e eu simplesmente odiava H/G, não me conformava. Mas depois de um tempo, eu acho que me acostumei e pra mim pelo menos, não havia mais sentido em H/H!  Mas eu sempre fui apaixonada por H/H de qualquer forma, mesmo não fazendo sentindo, então, leio muitas fics tanto H/G como H/H.  Apesar de entender seu ponto de vista sobre a morte do Ron, eu não concordo. Acho que o Ron sempre fui importante pra saga para morrer. E a Molly não aguentaria a morte de mais um filho. Agora o Harry, faria mais sentindo morrer,  não que eu acharia justo, é claro, ele sofrer tudo o que sofreu e acabar morrendo, mas não seria sem sentido. Agora o Ron, não consigo imaginar, ele morrendo. (Minha opnião, é claro)  Sua fic tem muito sentimento, muito detalhe, trás emoção para a nós, e isso é muito bom! Sua fic é simplesmente, maravilhosa. Eu juro que adoro ela!  Quanto a demora pra postar, que você sempre comenta, eu te entendo direitinho! Eu nunca consigo postar quando quero, minha imaginação não colabora comigo! E então, fique tranquila quanto a isso. Estou esperando por mais em breve, por favorrrrrrrrrrr!  hahahahhaaha Beijão! 

    2012-01-11
  • Nathytx

    Noossa cara hj q eu me cadastrei no site, mas eu entro todo dia pra ver se vc já postou um novo capítulo, essa fic é... é... ela é... tudo de bom, H/Hr é um casal muito fofo, não demora pra postar por favor, please. E o primeiro bj deles tem q ser muito especial. tô shakira loca, loca, loca para ver o próximo cap. bjss to a mando a fic. 

    2012-01-06
  • Andressa Araujo

    Amei o Malfoy todo sentimental e amigo,,, o Harry ta se apaixonando pela Mi aos poucos e ela por ele... ai posta maisssssssssssssss

    2011-12-26
  • Isis Brito

    Li de novo... ^^" Chorei de novo... :') "Algum dia vai passar? Vai parar de doer?" Sim, vai possar... E no lugar irá ficar um sentimento bonito e confortável: a saudade... :) Ansiosa pra que esse casal finalmente dê certo. xD

    2011-12-25
  • Tito Shacklebolt Finnigan

    UM CAPÍTULO GRANDE!! Aeeeeeeeeeeeeeeeeee!!! =] Nossa Jéssica, eu gostei MUITO deste capítulo!! Um dos melhores... aliás, a cada capítulo que você escreve eu fico aqui pensando "esse foi o melhor", daí eu lembro do anterior e fico em dúvida!! Tá perfeito figurinha... A cena da Luna falando da fé de H/Hr, o Malfoy falando do Rony e da comida do Neville... nossa, você fez o mais difícil... você se superou!! =] Aguardamos capítulos!! Beijos!

    2011-12-22
  • Lalaisinhaa

    AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI,AMEI Preciso dizer mais alguma coisa? (:

    2011-12-05
  • Isis Brito

    E por último (eu juro...^^"), eu desejo toda sorte e coragem para o fim do período (eu sei bem como é isso...;D) e inspiração para mais momentos H/Hr, que são meus favoritos... xD Vou estar por aqui esperando atualização... Abraços! =D

    2011-12-02
  • Isis Brito

    E algo que está corroendo minha alma de tanta curiosidade: O que tem escrito na carta do Rony?? *-*  

    2011-12-02
  • Isis Brito

    "O local parecia arejado, e a dor, realmente não voltara, embora ele sentisse um leve desconforto em seu braço direito. Hermione estava sentada ao seu lado, e afagava sua mão num gesto carinhoso, enfiando os dedos entre os seus." "Tateou os bolsos, e achou a carta que o amigo deixara para ele. Apertou-a na mão. Ficou imaginando como seria reencontrar os Weasleys. Gina. Ele pensou nela. Nutria um carinho tão grande pela ruiva, mas em seu coração, alguma coisa mudara." "–Algum dia vai passar? – Hermione encarou a loira ao perguntar, e Luna pôde ver alguns resquícios de lágrimas nos olhos castanhos. – Vai parar de doer?" "Compartilhava um sentimento muito intenso com Hermione, e havia momentos, em que eles se tocavam, que eram carregados de emoções. Como quando ela passava a mão pelos seus cabelos enquanto ele lia, ou quando saíram abraçados do cemitério. E tudo isso, na cabeça de Harry, parecia tão genuíno, tão verdadeiro, tão... certo." "Travou uma luta interna. Ele queria saber, precisava saber. Ele e Hermione, poderiam dar certo?" (Aí estão as partes que eu mais AMEI... Tá tudo tão lindo, tão intenso...! Uma história verdadeiramente emocionante... ^^") "–Vamos, Potter. Neville está fazendo uma comida muito ruim e verde, e está doido que você experimente." (E a parte mais engraçada! Não pude excluir essa do meu comentário!! Realmente hilário!! xD)

    2011-12-02
  • Isis Brito

    Incrível... *-* Simplesmente incrível... *-* Um protegendo o outro... Um cuidando do outro... E, finalmente, a possibilidade de ficarem juntos... Cara, essa história tá demais!! A gente (leitores) descobrindo, junto com o Harry, o amor que está crescendo entre ele e Hermione... O quanto eles "lutam" contra esse sentimento cada vez mais presente, mais forte... *-* Ai, meu coraçãozinho batendo acelerado aqui... ^^" Todo o meu apoio para continuar!! \o/

    2011-12-02
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