DECRETO NÚMERO TRINTA E UM



—Lia, acorda! Lia! Vamos!


O cérebro de Lia custou a entender que aquela voz era de Hermione e que não era efeito de nenhum sonho que ela estivesse sendo cutucada até que abrisse os olhos.


—Que foi? – perguntou, tampando com as mãos a claridade que emanava da janela aberta.


—Você tem que vir ver uma coisa!


Com alguma dificuldade, Lia se colocou sentada, tateou às cegas pelo hobbe de flanela vermelho escuro e passou as mãos nos cabelos para fazê-los ficarem menos selvagens, o que pouco adiantou. Hermione puxou-a pela mão sem dar ouvidos aos protestos da menina e a levou escada abaixo até chegarem no salão comunal da Grifinória.


Eram nove horas da manhã de domingo. O salão estava barulhento e muito cheio de gente. Vários alunos, a maioria ainda em roupas de dormir, debatiam alguma coisa com um entusiasmo inflamado de indignação. Outros tentavam convencer estes da idéia contrária, e outros simplesmente escutavam, aparentemente sem saber exatamente o que pensar.


Com dificuldade para passar por entre os alunos que se avolumavam em frente ao quadro de avisos, Hermione levou Lia até ele para que a menina lesse o último decreto que estava pregado no centro do quadro. Em letras anormalmente grandes estava escrito:


- DECRETO Nº 31 -


POR ORDEM DA ALTA INQUISIDORA DE HOGWARTS:


Faz-se obrigatório que todos os alunos que estejam cursando os níveis 4, 5, 6 e 7 da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts compareçam a todo e qualquer evento social que esteja listado no calendário de atividades da escola.


Os alunos que se recusarem a comparecer aos eventos serão devidamente punidos por desobediência e afronta às regras da escola.


Ass.


Alta Inquisidora Professora Dolores Umbridge.


A boca de Lia foi-se abrindo à medida que sua cabeça registrava cada palavra do mais novo decreto pregado entre os outros tantos que enchiam o quadro de avisos da Grifinória.


—Mas o que essa mulher desgraçada tem na cabeça? – algaraviou alto em Português. Em seguida ela virou para Hermione e Gina, que havia se juntado a elas. —E agora, o que a gente faz? Ela não pode obrigar os alunos a comparecem a eventos sociais, eles não fazem parte da grade curricular!


—De fato, ela não poderia fazer isso. – Hermione disse, apertando os dedos com nervosismo —Mas ela foi nomeada Alta Inquisidora pelo Ministério da Magia, não é? Isso lhe conferiu praticamente quase os mesmos poderes que Dumbledore tem em mãos.


Quase os mesmos poderes, você disse. Vamos falar com o diretor então. Isso é um absurdo!


Gina deu de ombros.


—Não sei se Dumbledore vai poder fazer alguma coisa quanto a este baile. Ele já tem problemas suficientes em mente, não concordam? O que é um baile de máscaras perto de tudo o que ele tem para resolver?


—É verdade – Hermione concordou resignada. —Fora que já estamos infringindo bastante regras sem ela saber, não? – disse em voz baixa, fazendo alusão ao decreto vinte e quatro que proibia organizações estudantis de qualquer natureza dentro da escola. —Não sei se vamos conseguir fugir deste baile idiota.


—Bem, não deverá ser tão ruim assim. – Rony disse, se aproximando das três meninas. —Tudo bem que não há muito o que se comemorar, mas prefiro ser obrigado a ir a um baile do que ter que sofrer castigos com as Maldições Imperdoáveis mais tarde.


Lia fuzilou Rony com os olhos.


—E o que Harry acha disso tudo?


Harry estava justamente acabando de descer do dormitório masculino, ajeitando as mangas com pressa.


—Vou falar com Prof. Dumbledore agora mesmo. – ele disse, parecia furioso —Quem vem comigo?


Seus olhos correram decididos pelos amigos que o encararam sem saber exatamente qual resposta dar de imediato. Rony era o mais desajeitado de todos.


—Ah, bem…


—Eu vou com você, Harry! – Lia se prontificou, colocando-se ao lado dele. Gina a imitou.


—Todos nós vamos. Não vamos? – Hermione dirigiu a pergunta mais especialmente a Rony.


—Claro, é claro… É… Vamos agora.


—Lia, você não pode sair por aí em roupas de dormir. – Gina lembrou, esboçando um sorriso que ela tentou conter.


—Ah, é verdade. Esperem um minuto.


Cecília subiu correndo para o dormitório das meninas e desceu cinco minutos depois, vestindo uma calça jeans, uma blusa de lã e um casaco cinza chumbo. Juntos eles passaram pelo buraco do retrato da Mulher Gorda e seguiram Harry, que ia à frente em liderança.


Pararam em frente à gárgula que guardava a entrada do escritório de Dumbledore e Harry não esperou mais nenhum minuto sequer para exclamar a senha (picolé de limão) e fazer com que a gárgula saltasse para o lado. Uma escada rolante que subia em caracol se revelou, e os cinco se encarrapitaram nela.


Harry bateu na porta que se abriu depois de longos cinco segundos de espera.


—Que ótima visita para se ter numa manhã de domingo! – Dumbledore disse sorrindo. Ainda usava vestes azuis para dormir. —Entrem.


Harry, Rony, Hermione, Gina e Lia entraram um pouco receosos. Agora que estavam frente a frente com o diretor, não sabiam exatamente como expressar a indignação pelo último decreto pregado em seu mural.


O diretor se sentou atrás de sua mesa e pousou os olhos azuis nos cinco, porém Harry reparou que ele evitara o seu olhar. Mesmo não se sentindo confortável com o comportamento estranho de Dumbledore, foi ele quem tomou a dianteira:


—Professor, nós não vamos ao baile de máscaras.


Dumbledore se sentiu obrigado a encarar Harry, o que deixou o garoto muitíssimo aliviado. Depois de se demorarem nele, os olhos do diretor correram pelos outros quatro rostos.


—Posso saber qual o motivo para tanta indignação?


A pergunta serena de Dumbledore pareceu ser um tapa na cara de Harry.


—Professor, esse baile é uma afronta ao senhor e a tudo o que sabemos que vem acontecendo desde o final do Torneio Tribruxo no ano passado. – Lia falou, exasperada. —Não podemos concordar com isso, não há nada o que se comemorar!


Dumbledore abriu a boca para falar algo, mas Hermione o interrompeu com uma extrema educação na voz:


—Professor, não há nada que possamos fazer para evitar esse baile?


Dumbledore olhou fixamente para cada um dos presentes. Por fim, disse:


—Eu compreendo a indignação de vocês quanto às medidas que Professora Umbridge vem aplicando na escola, e confesso que fico agradecido em saber que vocês reconhecem a verdade que o Ministério vem trabalhando arduamente para esconder – Harry abriu a boca para falar alguma coisa, mas Dumbledore continuou —e já que é assim, é minha obrigação lhes dizer que existem outras maneiras de demonstrarem a opinião de vocês, sem com isso deixarem de ir ao baile de máscaras.


—Professor, o senhor está querendo dizer que devemos ir ao baile? – Harry perguntou, incrédulo.


—Exatamente, Harry. Até porque, eu não acho que seja uma boa idéia arrumar confusão com a Profª. Umbridge a esta altura dos acontecimentos. Vocês todos já não estão com suficientes preocupações na cabeça?


O olhar de Dumbledore que seguiu sua última pergunta pareceu a eles todos que de alguma forma ele sabia da existência da AD.


—O que o senhor sugere? – Gina perguntou pela primeira vez.


—Vocês podem fazer um manifesto silencioso. Há muitas maneiras de se fazer isso.


—Como assim um manifesto silencioso? – Rony perguntou, sem entender.


—Bem, acho que eu já falei demais. – Dumbledore se levantou de repente, com um sorriso cativo no rosto. —Por que não juntam essas e outras cabeças para bolar alguma coisa? Não posso falar mais do que já falei, ou posso ser condenado por liderar uma revolta dentro da minha própria escola.


Dumbledore ficou de pé diante deles.


—Mais alguma coisa? Srta. Granger?


Hermione havia aberto a boca como se repentinamente uma grande idéia lhe tivesse passado pela cabeça.


—Nada, professor. Obrigada. – ela sorriu. —Vamos, pessoal, vamos tomar café.


Hermione tomou conta de que ela mesma abrisse a porta do escritório do diretor, mas Harry a interrompeu.


—Professor, tem mais uma coisa que eu gostaria de falar com o senhor.


—Pois não, Harry.


—Nós temos uma amiga na Sonserina e… Bem, o nome dela é Valentina Alves.


—Já tive a felicidade de perceber isso. – Dumbledore confirmou, balançando a cabeça.


—Mas… hum… O que acontece é que desde o primeiro dia de aula que ela vem escutando sons estranhos na ala da Sonserina. Eu achei, quer dizer, nós todos aqui achamos que era melhor o senhor ficar sabendo disso.


Dumbledore fitou Harry em silêncio por breves segundos.


—Que tipos de sons a Srta. Alves escuta? Vocês saberiam me dizer?


—Ela escuta vozes, diretor. – Cecília se apressou em dizer. —Como se houvessem pessoas conversando dentro das paredes.


—E somente ela escuta tais vozes?


—Não. Outros alunos da Sonserina também já escutaram, mas é só… E eles também não parecem dar muita importância a isso. – Harry finalizou.


A expressão no rosto de Dumbledore era difícil de ser decifrada, contudo ainda assim Harry achou que o diretor foi repentinamente tomado por uma grande preocupação.


—Por favor, assim que encontrarem a Srta. Alves, digam para que venha falar pessoalmente comigo sobre essas vozes. Ela vai poder me contar com melhores detalhes.


Eles concordaram quase que em uníssono, e depois de se despedirem de Dumbledore, sumiram pela escada rolante em caracol e começaram a falar assim que a gárgula fechou às costas deles.


—Eu sabia que a gente não ia conseguir fugir do baile… – Gina confessou, desanimada.


—Hermione, o que você está matutando aí? – Rony perguntou, correndo para alcançar a amiga.


—Bem, eu entendi o que Dumbledore quis dizer. Manifesto silencioso! Há alguma forma melhor de se fazer um manifesto silencioso do que se todos nós formos de negro a um baile de máscaras? É genial! – Hermione disse, quando todos se sentaram à mesa da Grifinória.


—É uma boa idéia, Mione, mas não se esqueça de que usar negro por aqui é algum um tanto comum.


—Por isso mesmo é genial, Rony! Um baile de máscaras é o mesmo que um baile à fantasia. É para ser algo colorido, diferente! Se todos nós formos de negro, será uma maneira de calarmos a boca daquela – e aí Hermione abaixou a voz para um sussurro —sapa velha.


—É uma boa idéia! – Lia disse, entusiasmada.


—É uma ótima idéia na verdade. – Gina sorriu —Harry?


—É o melhor que podemos fazer já que não poderemos fugir do baile. – ele deu de ombros —Rony?


—Tô dentro, cara.


—Fechado então! – Hermione disse, entusiasmada. —Agora só temos que espalhar a notícia aos outros membros da AD, e tentar fazer com que isso chegue ao maior número de alunos possível. Tenho certeza de que todos vão concordar, tirando o pessoal da Sonserina, é claro.


—Tenho certeza de que a Tina vai gostar. – Rony disse —E olha que ela é da Sonserina.


—Tina é um caso à parte, eu nem sei como ela foi parar lá. – Gina disse.


Naquele exato momento, Tina apareceu no Salão Principal. Para a surpresa dos cinco, ela sequer olhou para a mesa da Sonserina, mas sim rumou direto ao encontro deles.


Ela sentou ao lado de Rony, e quando encarou a todos, tinha um brilho estranho no olhar.


—Muito bem, me digam o que vocês já estão pensando em fazer para boicotar este maldito baile!


Com um entusiasmo que Tina não esperava encontrar nos amigos, eles contaram a ela da visita recém feita ao escritório de Dumbledore e tudo o que foi dito a ele e por ele. Hermione falou com muita pressa sobre a sua idéia de todos irem com fantasias negras ao baile de máscaras; Tina adorou a idéia na mesma hora.


—É excelente! Isso deverá deixar aquela filhote de dragão, no mínimo, desconcertada perante a escola.


—Isso sem falar que tenho certeza também de que o Profeta Diário estará presente para tirar fotos, na esperança de fazer uma matéria mostrando que tudo anda as mil maravilhas e que não há nada com o que se preocupar. – Gina disse. —Isso vai estragar a festa deles!


—Uma pena que não poderei fazer muita coisa para convencer o pessoal da Sonserina a ir de negro. – Tina balançou a cabeça, um pouco desanimada. —Aquelas garotas com cara de trasgos com certeza irão querer se fantasiar de fadinhas.


Todos gargalharam com gosto. Ter um motivo para rir das sonserinas era extremamente agradável.


—Bem, mas sempre haverá alguém, algum garoto, que irá de negro e com isso, sem saber, estará nos ajudando. – Lia disse. —Mas bem, depois que você tomar o seu café, Tina, vá até o escritório do Prof. Dumbledore. Nós aproveitamos para falar com ele sobre as vozes e ele pediu que você fosse até ele contar com maiores detalhes.


—Sem problemas. – Tina olhou receosa para a mesa dos professores. —Bem, acho que…


—Você não precisa ir tomar café exclusivamente na sua mesa aos domingos, esqueceu? – Rony disse, percebendo a inquietação de Valentina.


—Ah, é verdade. Quase me esqueço disso. Aquela Umbridge anda me deixando maluca!


E era verdade. Dolores Umbridge havia se tornado pior do que Snape do quesito Disciplina. Naquela semana, durante os dias em que todos tinham aulas e que Valentina havia parado na mesa da Grifinória para falar alguma coisa rápida com seus amigos, por duas vezes Umbridge havia saído de seu lugar na mesa dos professores para colocar sua mão gorducha e cheia de anéis no ombro da menina e ordenar que ela voltasse imediatamente para a mesa da Sonserina, advertindo-a que se tivesse que fazer isso pela terceira vez, ela receberia uma detenção.


Não satisfeita, durante todas as refeições Umbridge passou a manter os olhos explicitamente pregados em Valentina, dando-lhe a entender que estava sobre supervisão constante. A professora estava atazanando tanto o juízo da garota que na última sexta-feira, Tina entreouviu Snape comentar algo com a mulher de que era ele o Diretor da Sonserina e que cabia a ele supervisionar seus alunos.


Sem então se preocupar muito em tomar café fora da mesa da sua Casa, Valentina comeu pão com manteiga e tomou chocolate quente na companhia de Harry, Rony, Hermione, Lia, Gina, Fred, Jorge (que deu um bom dia muito sorridente para Lia) e de Neville, que curiosamente pareceu muitíssimo sem jeito em se unir a eles e sentar-se ao lado da amiga sonserina. Ele também foi avisado por Hermione a respeito do manifesto silencioso e concordara com a idéia na mesma hora.


Após beber o último gole de seu chocolate quente, Tina se levantou para ir ao escritório do Diretor.


—Eu mostro o caminho pra você, Tina. – Harry disse.


Juntos eles deixaram a mesa da Grifinória. Caminharam praticamente em silêncio e só depois de passarem pelas enormes portas de carvalho, Tina abriu a boca para falar.


—Harry, como andam as aulas de Oclumência com Prof. Snape?


Harry balançou a cabeça, desanimado.


—De mal a pior. Não sinto nenhum progresso e todas as vezes é sempre a mesma coisa: ele invade meus pensamentos, eu tento resistir; não consigo, e por fim caio no chão como um fantoche inútil.


Valentina mordeu o lábio inferior.


—Mas os sonhos, eles diminuíram?


Harry negou, em silêncio.


—Mas não se preocupe com isso. – disse, quando chegaram em frente à gárgula e Harry falou a senha.


—Impossível não me preocupar. Você com seus sonhos premonitórios, se é que se poder falar assim, eu escutando vozes, essa megera querendo instalar uma ditadura na escola…


—É uma pena que seu primeiro ano em Hogwarts não esteja sendo um dos melhores. – Harry disse, sinceramente.


—Tudo bem.


Após alguns segundos de ponderação, Valentina riu.


—Ao menos está sendo mais emocionante do que eu previa.


Eles já haviam subido as escadas rolantes e Harry agora estava a um passo de bater na porta do escritório de Dumbledore. Ele bateu e a porta se abriu sem muito tempo de espera.


—Ah, bom dia, Srta. Alves. Entre, por favor. – o diretor disse, convidativo.


—Bom dia, professor.


—Tchau, Tina. – Harry disse. —Até mais, professor.


—Até logo, Harry.


Muito tranqüilamente, Dumbledore fechou a porta e mirou Valentina com grande hospitalidade.


—Sente-se, por favor.


Valentina sentou-se em frente à mesa do diretor enquanto ele se colocava sentado em sua confortável cadeira atrás da mesa. Dumbledore juntou as duas mãos em cima da superfície lisa de madeira e olhou a garota por cima de seus óculos meia-lua.


—Antes de tudo, eu gostaria de saber como está a sua adaptação à Hogwarts, Srta. Alves.


Tina sentiu como se todo o inglês que aprendera até ali tivesse sumido de sua cabeça. Quando falou, foi com um sotaque bastante carregado:


—Estou achando ótimo, professor. – disse numa tentativa de sorriso que não transpareceu em seu rosto.


Dumbledore sorriu e concordou com um aceno da cabeça.


—Eu também estou achando ótimo, principalmente porque você, junto de seus amigos, está ajudando a quebrar um antigo estereotipo de que Sonserina e Grifinória seriam piores inimigos para sempre. Meus parabéns, Valentina.


Ela sorriu agradecida para o diretor.


—Obrigada. – disse, simplesmente.


Depois de alguns segundos de silêncio, Dumbledore deu continuidade à conversa:


—Muito bem, então. Eu a convidei até aqui porque seus amigos estiveram em meu escritório esta manhã para reivindicar o direito de não comparecem ao baile proposto pela Profª. Umbridge, e aproveitaram para me fazer ciente de acontecimentos interessantes que vêm se passando com você na ala da Sonserina.


Ela apenas concordou com um aceno da cabeça.


—Você pode me contar com detalhes o que está se passando?


Confiante no tom bondoso que Dumbledore usava para se dirigir a ela, Valentina contou sobre todas as vezes em que escutara as vozes nos banheiros e na entrada do dormitório feminino. Em detalhes, ela falou como eram as vozes, com o que se pareciam e como era medonho parecer que havia algo a meio palmo de sair pelas paredes de pedra.


—Você nunca conseguiu distinguir o que estas vozes estavam falando?


—Nunca. Só sei que parecia um grupo de pessoas conversando, mas nunca consegui distinguir uma só palavra.


—E você as tem escutando ultimamente?


—Bastante, professor. E parece que, se é que realmente estão conversando, o assunto anda ficando cada vez mais inflamado. Elas têm ficado mais alvoroçadas.


Dumbledore fitou os olhos de Valentina como se verificasse dentro da mente dela a veracidade daquelas informações. Parecia um tanto quanto preocupado. Levantando-se, ele rumou até uma das portas de um armário de madeira e tirou uma bacia de pedra de dentro dele. Pousou-a numa mesinha e Tina o viu tirar finos fios prateados da cabeça e lançá-los na bacia de pedra. Mesmo sem nunca ter estudado aquela prática antes, Valentina logo deduziu que aqueles fios prateados eram os pensamentos do diretor, e que aquela bacia deveria servir para organizá-los melhor, uma vez que a cabeça estivesse abarrotada demais.


—Muito bem – Dumbledore disse, mirando o conteúdo na bacia de pedra. Em seguida, ele se virou para Valentina. —Qualquer coisa a mais que venha a escutar, por favor me deixe ciente. Preste atenção para caso você consiga entender o que as vozes estão dizendo, está bem?


—Sim, senhor. Mas, diretor… Posso… Posso fazer uma pergunta?


—À vontade.


—Já me foi sugerido que essas vozes poderiam ser de… de… – custou um pouco à Tina pronunciar aquela palavra —cobras.


Dumbledore olhou-a com uma tranqüilidade que ela não estava esperando.


—Não, não é outro basilisco. Posso lhe assegurar isso, Valentina. Conheço outra pessoa que também estaria escutando essas vozes, se fosse o caso.


—Harry. – ela disse.


—Sim.


—O que o senhor acha que pode ser, diretor?


—Podem ser muitas coisas, mas não é hora para que você se preocupe com isso. – Dumbledore esboçou mais um dos seus sorrisos tranqüilizantes. De alguma forma, Tina achou que o professor estava escondendo alguma coisa dela. —Há algo mais importante com o que se preocupar agora, por exemplo, quem você irá aceitar para ser seu par no baile de máscaras.


Tina ergueu as sobrancelhas para Dumbledore, espantada. Mas o diretor prosseguiu:


—Afinal, tenho certeza de que os convites serão muitos. – sorrindo, ele abriu a porta para que a menina saísse. —Obrigado, Valentina.


—De nada, Professor Dumbledore.


Ela saiu, desejando bom dia ao diretor e desceu as escadas correndo para contar aos amigos como tinha sido a conversa no escritório. Contudo, mal havia virado um corredor quando deu de cara com Hermione e Gina, que estavam rindo-se aos cochichos uma com a outra. Quando Tina apareceu, elas a olharam e continuaram a rir.


—O que foi?


—É a Lia. Ela acabou de ser convidada por Jorge para dar uma volta pelo jardim. – Gina disse, entre risinhos.


—O que tem isso?


—Não é óbvio? – Hermione abafou o riso.


—Temos certeza de que Jorge já deve ter convidado ela para ir com ele ao baile.


—Ele está caidinho por ela.


Valentina olhou de uma para a outra e sorriu hesitante. Sua amiga estava tão esbaforida com a idéia de boicotar o baile que ela não sabia se Lia iria aceitar o convite de alguém. Mesmo assim, algo dentro dela lhe dizia que Cecília já tinha um par e que ela, Valentina, gostaria muito de ter um também.


—Por que a gente não vai dar uma volta para aproveitarmos o ar fresco? – Hermione sugeriu, espirituosa.


—E põe fresco nisso… – Valentina murmurou. —Nunca senti tanto frio na vida!


—Ainda estamos no outono. – Gina falou. —Imagine o inverno.


—Vou morrer!


E sorrindo como se não houvesse nada no mundo que merecesse preocupação, as três foram juntas para o jardim aproveitar o céu parcialmente limpo e a grama úmida para darem uma caminhada enquanto comiam biscoitos doces de manteiga.

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