Jogo da Verdade



            Finalmente sábado havia chegado e com ele, o passeio a Hogsmead. Havia duas semanas que Ashley Smith havia morrido, mas a culpa de Lilian, Bárbara e Olívia ainda não havia passado. Apesar de o dia estar ensolarado, o humor das três estava como um dia nublado e, com acordos silêncios no dia anterior, elas decidiram que não iriam ao vilarejo como uma forma de respeito à menina morta.


            As investigações sobre a morte haviam sido dadas por encerradas. Declararam que tudo havia sido fruto de um acidente causado pela própria garota. Uma fatalidade. Apesar de as outras meninas comemorarem por não terem sido pegas, a ruiva não sabia se aquilo havia sido o melhor. Não conseguia parar de pensar em sua família ou na vida que ela não teria mais. Havia conversado discretamente com algumas amigas de Ashley e descobriu que ela ainda namorava o menino que havia deixado Larissa há anos atrás e era o principal motivo dessa vingança. Eles planejavam se casar alguns meses depois de formados. Também descobriu que, além do irmão mais novo que estudava em Hogwarts, ela tinha uma irmã de seis anos e elas eram muito próximas. Sua família não tinha muito dinheiro, mas fazia de tudo para dar conforto aos filhos. Também descobriu que ela pretendia ser medibruxa e tinha as melhores notas em poções e feitiços. Enfim, uma menina exemplar que não merecia o fim que teve.


            Sem que as outras soubessem, alguns dias depois de todo o acontecimento, a ruiva escreveu uma carta para a pequena irmã de Ashley, Samanta. Na carta, ela dizia que sentia muito pela morte da irmã da menina e dizia que ela nunca iria ficar desprotegida. Ela mandou um delicado cordão em forma de coração e explicava que era para Samanta usá-lo sempre e, quando estivesse triste ou em perigo, que o apertasse e alguém sempre iria ao seu socorro. Não sabia se a menina havia acredito em suas palavras ou se usava o cordão, mas havia se sentido um pouco melhor depois do gesto e de garantir que ela nunca ficaria desprotegida já que, se ela apertasse o cordão, a ruiva sentiria em um dos pingentes de sua pulseira e iria para protegê-la. Essa foi uma promessa que fez no túmulo de Ashley.


            A ruiva estava deitada em sua cama, apenas encarando o teto, quando ouviu a movimentação no quarto, indicando que as outras meninas haviam acordado. Ela abriu a cortina em volta de sua cama para ver Lívia e Larissa se arrumando risonhas.


 - Não vai se arrumar Lilian? – Perguntou Lívia encarando a ruiva – Desse jeito irá perder o passeio...


 - Eu não pretendo ir... – Lily disse sem encarar a Senhorita que verificava seu visual no espelho – Não to me sentindo muito bem.


 - O que você ta sentindo Lilian? – Perguntou Larissa aparentemente preocupada.


 - Eu to com um pouco de dor de cabeça e to enjoada... – Ela disse tentando sorrir para não deixar a menina muito preocupada


 - Então vamos – Disse Lívia pegando sua bolsa – Eu não tenho tempo a perder com frescuras – Ela disse encarando a ruiva fixamente


 - Eu te trago um chocolate – Disse Larissa sorrindo e seguindo Lívia pela porta do quarto


            Assim que a porta fechou, Lilian suspirou e deitou novamente em sua cama, pensando como as duas podiam ignorar tudo que havia acontecido e agir normalmente.


 - Elas já foram? – Perguntou Olívia, abrindo seu cortinado


 - Já sim – Disse Lilian – Pode sair Bárbara


 - Ainda não sei como elas conseguem... – Murmurou Bárbara saindo de sua cama e indo para o banheiro.


            As três meninas se arrumaram e, depois de perceberem que todos já deviam ter ido para o vilarejo, desceram para tomar café na cozinha. Caminhar pelos corredores vazios do castelo era assustador e, rapidamente, elas comeram e voltaram para seu quarto.


 - O que a gente vai fazer o dia inteiro? - Perguntou Olívia deitada de bruços em sua cama


 - Eu não to com vontade de sair daqui... – Disse Lilian que estava com a cabeça deitada na perna de Bárbara, que estava sentada no tapete ao seu lado


 - Que tal um jogo? – Bárbara comentou – Faz tempo que não jogamos verdade ou conseqüência...


 - Eu topo! – Olívia falou pulando de sua cama para o chão


 - Tudo bem... – Lily disse se levantando e indo pegar nossa garrafa enfeitiçada, que não permitia mentiras – Fundo pergunta...


            Assim, as meninas sentaram-se formando um círculo e rodaram a garrafa.


 - Então eu começo – Falou Bárbara – Verdade ou conseqüência Lív?


 - Verdade – Olívia respondeu. As conseqüências da mente criativa da Bárbara eram as melhores.


 - Você sempre acabando com a graça do jogo – Bárbara murmurou revirando os olhos e fazendo as outras meninas rirem – Vamos começar leve... O que você sente pelo Sirius Black?


 - Nada... – Ela respondeu rapidamente, fazendo com que a garrafa ficasse vermelha, indicando sua mentira – Tá bom... Eu não sei direito. O que eu sentia por ele quando nós éramos mais novos ainda vive em mim, mas, às vezes, eu acho que fico ainda mais forte e eu não consigo controlar. Mas não é certo e vocês sabem disso.


 - Em outras palavras – Começou Lilian – Você é extremamente e absurdamente apaixonada pelo cachorro. – A ruiva falou rindo junto com Bárbara e fazendo a outra esconder o rosto na almofada que estava em seu colo


 - Gira logo essa porcaria – Disse Olívia, repensando a idéia desse jogo


 - Eu de novo – Comemorou Bárbara – O que você quer ruiva?


 - Conseqüência! – Ela disse, com medo de que algumas perguntas pudessem revelar sentimentos que nem ela ainda tinha certeza de que existiam


 - Assim que eu gosto! A ruiva sabe brincar – Disse Bárbara sorrindo malignamente – Eu te desafio a ir ao quarto dos marotos e roubar uma cueca do Tiago.


 - Só isso? – Perguntou Lilian desconfiada


 - Só – A outra confirmou sorrindo, enquanto a ruiva saia do quarto pra cumprir sua missão


 - Se eu soubesse que você tava tão boazinha, eu teria escolhido conseqüência... – Murmurou Olívia – Todos eles devem ter ido ao passeio


 - Errado minha cara aprendiz – Disse Bárbara como se ensinasse uma lição a menina – Eu descobri que um dos marotos não quis ir ao vilarejo hoje. Adivinha quem é?!


 - Meu Deus, você é diabólica – Comentou a outra, fazendo as duas rirem.


 


x-x-x


 


            Lilian descia as escadas de seu dormitório calmamente. Apesar de sentir que deveria ter alguma coisa por trás dessa conseqüência, sabia que os marotos nunca perdiam uma visita à Hogsmead e, por isso, o dormitório deveria estar vazio.


            Silenciosamente, ela subiu as escadas do dormitório masculino e entrou no quarto bagunçado dos marotos. Sabia que a cama de Tiago tinha um pomo desenhado na cabeceira da cama e no seu malão. Seguiu para esse lado quando ouviu barulhos vindos do banheiro e, percebendo que a porta a sua frente se abria, fez a primeira coisa que veio a sua mente para conseguir escapar sem ser reconhecida.


 


x-x-x


 


            Tiago havia acordado aquele dia sem vontade de ir a Hogsmead. Não conseguia tirar da mente a Senhorita ruiva que queria sua cabeça em uma bandeja. Falando para os outros que estava com dor de cabeça, ficou só.


            Logo após comer praticamente sozinho no salão principal, decidiu-se por um banho longo e relaxante. Estava abrindo a porta do banheiro quando viu, de relance, algo vermelho bem no meio do quarto. Andou cautelosamente, mas, ao chegar a frente da sua cama, surpreendeu-se com um gato ruivo bem em cima de seu malão.


 - Oi gatinha – disse Tiago, pegando gata e deitando-se em sua cama – Como você veio parar aqui dentro ein?!


            Ele levantou a gata na altura de seus olhos, recebendo um miado de desaprovação. Observou-a atentamente, mas se assustou com a cor forte de seus olhos.


 - Esses seus olhos verdes e o pelo ruivo me lembra muito uma pessoa, sabia?! – Ele começou, ajeitando a gata em seu colo, contra a vontade do animal, e acariciando seu pelo – Ela é muito importante pra mim, mas quer me matar... É claro que a culpa é minha; eu fiz besteira, mas eu era tão novo e sem noção dos meus atos ou das conseqüências que eles podem gerar...


            Ele estava se sentindo um idiota conversando com um gato, mas aqueles olhos verdes pareciam incentivá-lo a contar tudo.


 - Sabe, eu magoei muito ela e eu nunca vou me perdoar por isso. Eu queria poder dizer a ela que eu sinto muito e, que se eu pudesse, eu teria voltado no tempo pra impedir a minha própria idiotice, mas a vida é bem engraçada. Eu achei que o que eu tinha feito nunca ia me prejudicar, por que eu não queria mais nada com ela, mas eu não consigo tirá-la da minha cabeça. Eu...


            Ele parou por um momento, avaliando a afirmação da qual ele não tinha certeza... Certeza que, encarando aqueles olhos de gato tão parecidos com os dela, ele percebia que tinha.


 - Eu estou totalmente apaixonado por Lilian Evans... – ele comentou, mais para si mesmo do que para o gato acabando, como se estivesse confessando um crime, de se dar conta da sua situação.


            Nesse momento, o gato fincou as garras em sua perna e pulou para o chão, pegando uma cueca do menino que estava no caminho e seguindo porta afora. Tiago gritou de dor e se levantou, tentando correr atrás do animal, mas o perdeu de vista. Frustrado, ele voltou para a sua cama e adormeceu pensando em penetrantes olhos verdes.


 


x-x-x


 


            Lilian descia as escadas do dormitório masculino correndo com a cueca do maroto na mão. Quando percebeu que ele não viria atrás de si, encostou-se na parede da sala comunal e deslizou até o chão, chocada com a revelação que o maroto havia acabado de fazer, sem saber que ela era a ouvinte.


 - Ai meu Merlim... – Ela murmurou enterrando a cabeça entre as mãos

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.