O Expresso de Hogwarts



O trem começou a se deslocar, e Harry acompanhou-o, olhando o rosto magro do filho já iluminado de excitação. Continuou a sorrir e acenar, embora tivesse a ligeira sensação de ter sido roubado ao vê-lo se distanciando dele...


O último vestígio de vapor se dispersou no ar de outono. O trem fez uma curva, a mão erguida de Harry ainda acenava adeus.


- Ele ficará bem. - murmurou Gina.


Ao olhá-la, Harry baixou a mão distraidamente e tocou a cicatriz em forma de raio em sua testa.


- Sei que sim. – respondeu ele.


Já dentro do trem, Rose Weasley e Alvo Potter procuravam por um vagão livre. Quando encontraram uma cabine vazia, um grande borrão preto mesclado de branco passou voando acima de suas cabeças rapidamente, e Alvo e Rose abaixaram-se na hora certa. No mesmo instante, eles avistaram um menino de cabelos cor de fogo, correndo em suas direções e berrando:


- SEGUREM ESSA CORUJA!


Foi o caos. Quando Alvo e Rose se entreolharam, a última coisa que Alvo viu foi um amontoado de cabelos cor de fogo em cima dele e Rose apontando a varinha para a coruja.


- Petrificus Totalus! – disse ela, fazendo a coruja ficar dura e cair no chão.


Alvo continuava tentando sair debaixo do primo, quando Rose falou de novo.


- Fred, saia de cima do Alvo! – disse ela ajudando-o a levantar.


- Desculpe. – disse Fred Weasley, puxando Alvo. – Eu odeio essa coruja. Olhe só, não é patética? – disse ele pegando a coruja petrificada do chão.


- Tudo bem. Vocês querem ficar com agente? – perguntou Alvo, apontando para a cabine vazia á sua frente. Fred reprimiu os lábios rosados.


- Nós já estamos em outra cabine com outras pessoas e Roxanne está lá. Mas agente se vê por aí. Ah, e, obrigado Rose. O feitiço foi muito bom.


- Por nada. – disse ela ficando vermelha.


Ele deu um sorriso e se virou para ir embora, mas parou no meio e voltou a olhar Alvo.


- Só uma coisa, você é o Alvo não é?  - perguntou ele.


- Sim. – respondeu Alvo confuso.


Fred se virou e gritou de repente, fazendo Alvo e Rose pularem.


- EI, ROXANNE! EU ACHEI O ALVO POTTER! – berrou ele.


Várias cabeças de alunos apareceram nos corredores e Alvo ficou vermelho.


- Vamos entrar na cabine. – sugeriu Rose.


- Sim. – concordou Alvo, entrando rapidamente.


Eles guardaram suas coisas e se sentaram.


- Fred e Roxanne são impossíveis. – disse Rose.


- Eu acho eles o máximo. Eles viraram batedores da Grifinória e no primeiro jogo já saíram ganhando! – disse Alvo. Rose revirou os olhos.


- Eu sei. É só que...


Mas o que era Alvo nunca chegou a saber, porque neste momento um menino alto com um sobretudo escuro abotoado  até o pescoço, de cabelos loiros com entradas que salientavam seu queixo fino, parou na quina da porta da  cabine, parecendo assustado.


- Posso me sentar com vocês? As outras cabines estão cheias. – ele disse apontando para o lado.


- Claro! – disse Rose antes que Alvo pudesse sequer respirar de novo. O garoto guardou suas coisas e também se sentou no banco de frente para Alvo e Rose.


- Oi, sou Rose Weasley. – disse Rose, apertando a mão dele. Ele, por sua vez, arregalou os olhos azuis.


- Weasley? Quer dizer que você é filha de Hermione e Ronald Weasley? – perguntou ele admirado.


- Sim. – disse Rose, revirando os olhos. – E você é...?


- Scorpius. Scorpius Malfoy. – disse ele.


Alvo e Rose se entreolharam novamente, fazendo Scorpius perguntar o que tinha acontecido.


- Ah! Nada, é um nome bem legal... – respondeu Rose. Alvo olhou para Malfoy durante um tempo, decidindo em sua mente se deveria ou não se apresentar, até que disse:


- Oi eu sou Alvo Potter.


Scorpius respirou fundo e depois de um tempo engoliu seco.


- E você é filho do Harry Potter...? – perguntou ele com receio. Alvo ficou escarlate.


- É...sou. Mas não gosto muito quando me comparam com ele, sabe? É um pouco de pressão demais. – disse Alvo com vergonha.


- Tudo bem, eu sei como é isso. Prazer em conhecê-lo. – disse Malfoy, apertando a mão de Potter.


Os três ouviram de repente alguém bater no vidro da porta da cabine. Quando eles olharam para o lado se depararam com uma menina de cabelos loiros claros e enrolados até sua cintura, segurando um exemplar de “O Pasquim” ao contrário.


- Me desculpem, mas posso me sentar aqui com vocês? É que me expulsaram da última cabine. – disse ela calmamente. Alvo, Rose e Scorpius se entreolharam, horrorizados com a justificativa dela.


- Claro que sim, sente-se aqui. – disse Scorpius apontando para o lugar vazio ao seu lado.


- Obrigada. – agradeceu ela, indo sentar-se ao lado de Scorpius.


- Pessoal, essa é a Mini Di-lua... – Rose parou no meio da frase e engoliu seco. Alvo e Scorpius se olharam e olharam para ela, mas aí ela completou sua frase. – Lucy Longbottom.


- Você é Rose Weasley, não é? E você é Alvo Potter. Meus pais me falaram sobre vocês. – disse ela olhando para os dois com um sorriso sereno no rosto, então ela reparou em Scorpius. – Qual é seu nome?


- Eu sou Scorpius Malfoy. – respondeu ele.


- É um bom nome. – comentou ela com outro sorriso.


- Obrigado. Hum... desculpe a intromissão, mas, porque te expulsaram da última cabine? – perguntou Scorpius.


- Ah, não é nada demais. As pessoas fazem isso mais para me chatear mesmo. Mas está tudo bem.  – respondeu Lucy tranqüila, como se aquilo fosse a coisa mais maravilhosa do mundo para se falar.


- Mas você não deveria deixar que eles fizessem isso com você. – disse Alvo espantado.


- Ah, eu nem ligo. Eles dizem que me acham estranha, mas eu nem escuto. Mas eu também não os culpo, sabe. Eles estão cheios de zonzóbulos na cabeça. – disse Lucy.


- Zonzóbulos? – perguntaram os três em uníssono.


- É. Eles entram na sua mente e te confundem. – respondeu ela e Scorpius começou a rir. Alvo, Rose e Lucy olharam para ele e só depois de um tempo ele percebeu e parou imediatamente.


- Ah, é que o nome é engraçado...não é? – perguntou ele inocentemente e, para a surpresa de todos, Lucy também riu.


- Eu também acho engraçado. – riu ela. – Mas minha mãe disse que eles existem de verdade.


Enquanto conversavam, o trem saiu de Londres. Agora corriam por campos cheios de vacas e carneiros. Ficaram calados por um tempo, contemplando os campos e as estradinhas passarem num lampejo.


Por volta do meio-dia e meia ouviram um grande barulho no corredor e uma mulher toda sorrisos e covinhas abriu a porta e perguntou:


- Querem alguma coisa do carrinho, queridos?


- Ah! Sapos de chocolate! – disse Alvo, erguendo-se de um salto. Os outros três o acompanharam e compraram, juntos, quase metade do carrinho. Era uma sensação gostosa, pensou Alvo, sentar-se ali com Rose, Scorpius e Lucy e acabar com todos os doces comprados.


Alvo abriu o sapo de chocolate e puxou a figurinha. Era a cara de uma mulher. Ela tinha cabelos castanhos cheios e Alvo repentinamente se lembrou de quem era.


- Rose! Rose, eu achei sua mãe! – exclamou Alvo, dando para a prima a figurinha.


- É, e eu achei seu pai! – disse ela mostrando para ele a figurinha da cara de um homem de cabelos pretos bagunçados e olhos muito verdes, usando óculos redondos e uma cicatriz fininha na testa que tinha a forma de um raio. Sob o retrato havia o nome: Harry Potter.


- Eu acho que peguei seu pai, Rose. – disse Scorpius, mostrando a figurinha com a cara de um homem de cabelos cor de fogo, e sob o retrato o nome escrito: Ronald Weasley.


- Não achei os meus pais. – disse Scorpius de cabeça baixa e o corpo levemente rígido.


Os campos que passavam agora pela janela estavam ficando mais silvestres. As plantações tinham desaparecido. Agora havia matas, rios serpeantes e morros verdes-escuros. Lucy, Alvo e Rose ficaram preocupados. Eles não sabiam o que dizer para o amigo até que Rose disse:


- Talvez ele não estivesse nestes sapos, talvez estivesse em outros. Nós não pegamos todos...não é, Alvo? – disse Rose, dando uma cotovelada dolorosa nas costas de Alvo.


- Hã, o que? Ah, é, claro. Concordo com a Rose. – disse ele atônito.


- Eu não concordo. Meu pai não fez quase nada de especial. Pelo menos, não que eu saiba. – disse Scorpius com a cabeça já levantada, observando a paisagem do lado de fora.


Lucy pousou a mão, muito calmamente, sobre o ombro de Scorpius e disse:


- Está tudo bem, pelo menos você sabe que ele te ama.


- Valeu, Lucy. – agradeceu ele.


- Não foi nada, mas mudando de assunto, em qual casa vocês querem ficar? – perguntou ela.


- Grifinória! Concerteza! – Alvo respondeu rapidamente.


- Eu estou nervosa, meu pai disse que eu tenho que ficar na Grifinória. – disse Rose desesperada.


- Meu pai quer que eu fique na Sonserina, mas para mim tanto faz. – disse Scorpius despreocupado.


- Eu também não sei, meu pai foi da Grifinória e minha mãe foi da Corvinal. – disse Lucy concordando com Scorpius.


Nesse momento a coruja de Alvo piou e Scorpius repentinamente lembrou-se de algo. Ele se levantou e abriu sua mala. Lucy, Alvo e Rose se assustaram logo quando viram ele.


Scorpius segurava uma doninha branca e cinza nas mãos.


- Esse é o Trompete. – apresentou ele. – Eu o comprei sem meus pais saberem.


- Como ele é fofo! – comentou Lucy, pegando a doninha.


- Que legal! – exclamou Alvo olhando para Ferris admirado.


- É, ele até é engraçado, mas, Scorpius, eu acho que doninhas não são permitidas. – disse Rose com um olhar de advertência.


- Fique calma, Rose. Já dei um jeito nisso. – disse ele, dando um sorriso para ela. Rose continuou com seu olhar e Alvo, Lucy e Scorpius continuavam entretidos com Trompete, mas, antes que Rose pudesse dizer mais alguma coisa, uma voz ecoou pelo trem:


- Vamos chegar á Hogwarts dentro de cinco minutos. Por favor, deixem suas bagagens no trem, elas serão levadas para a escola.


O estômago de Alvo revirou de nervoso e ele reparou que Scorpius parecia mais pálido do que o normal. Eles trocaram olhares nervosos e a única que parecia estar calma, (mas ainda sim estava nervosa) era Lucy, então eles se reuniram á garotada que apinhava os corredores.


O trem foi diminuindo a velocidade e finalmente parou. As pessoas se empurraram para chegar á porta e descer na pequena plataforma escura. Rose estremeceu ao ar frio da noite. Então apareceu uma lâmpada balançando sobre as cabeças dos estudantes e Alvo ouviu uma voz conhecida.


- Alunos do primeiro ano! Primeiro ano aqui! Ah meu Deus, Alvo, como está você meu garoto?


O rosto grande e peludo de Rúbeo Hagrid sorria por cima de um mar de cabeças.


- Estão todos aí? Então vamos, venham comigo. – disse ele. Todos o seguiram por um caminho íngreme e estreito.


- Vocês vão ter a primeira visão de Hogwarts em um segundo. – gritou Hagrid. – logo depois dessa curva.


Ouviu-se de repente um “Aoooooh” muito alto.


O caminho estreito se abria de repente até a margem de um grande lago escuro. Encarrapitado no alto de um penhasco na margem oposta, as janelas cintilando no céu estrelado, havia um imenso castelo com muitas torres e torrinhas.


- Só quatro em cada barco! – gritou Hagrid, apontando para uma flotinha de barquinhos parados na água junto á margem. Scorpius e Alvo foram seguidos até o barco por Rose e Lucy.


- Todos acomodados: - gritou Hagrid, que tinha um barco só para ele. – Então...VAMOS!


E a flotinha de barquinhos largou toda ao mesmo tempo, deslizando pelo lago que era liso como um vidro. Todos estavam silenciosos, os olhos fixos no grande castelo no alto. A construção se agigantava á medida que se aproximavam do penhasco em que estava situado.


- Abaixem as cabeças! – berrou Hagrid quando os primeiros barcos chegaram ao penhasco; todos abaixaram as cabeças e os barquinhos atravessavam uma cortina de hera que ocultava uma larga abertura na face do penhasco. Foram impelidos por um túnel escuro, que parecia levá-los para debaixo do castelo, até uma espécie de cais subterrâneo, onde desembarcavam subindo e pisando em pedras e seixos.


Então eles subiram por uma passagem aberta na rocha, acompanhando a lanterna de Hagrid, e desembocaram finalmente em um gramado fofo e úmido á sombra do castelo.


Galgaram uma escada de pedra e se aglomeraram em torno de uma enorme porta de carvalho.


- Todos já subiram? Tudo bem então...


Hagrid ergueu um punho gigantesco e bateu três vezes na porta do castelo.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (1)

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.