Capítulo 13



Estavam em meio a muitas árvores, em um tipo de bosque próximo à cidade, pois a floresta estava bem afastada das imediações.


Olhavam para o chão como se procurassem algo. Godric bufou e encostou-se em uma árvore.


- Acho que não tem cobra alguma aqui.


Salazar o ignorou e continuou a olhar em volta. De repente olhou para Godric e sorriu maliciosamente.


- Tem razão. Acho que não tem nada aqui. Mas procure mais um pouco. Talvez atrás de você.


Godric virou-se e em um galho logo acima de sua cabeça, uma cobra debruçava grande parte de seu corpo em sua direção.


- Está bem. Comece a provar.


Salazar contrariado, pois odiava ter que obedecer a alguém, começou a sibilar.


Era um som estranho que saía de sua boca. Palavras que não faziam sentido algum a Godric, mas que chamou a atenção do réptil.


Olá. Você consegue me entender, não é?


A cobra nada disse de tão surpresa que ficou. Não devia ser muito comum para ela, conversar com humanos.


Eu sei que consegue, mas gostaria que fizesse que sim com a cabeça, para provar ao meu amigo que falei a verdade.


A cobra começou a agitar a cabeça de cima para baixo.


- Nossa! Isso é realmente estranho. Mas ainda não me convence.


Pode por favor, parecer que vai atacá-lo?


- Ela vai te atacar.


- O que? – a cobra mostrou a língua e foi em direção a Godric, que por reflexo, puxou a varinha de dentro das vestes.


- Vou mandá-la se afastar e ficar fazendo círculos a sua volta.


Começou novamente a falar em sua linguagem única e o animal fez como combinado.


- Caramba! É verdade.


- Que bom que resolveu deixar de ser cético. Vou perguntá-la sobre o basilisco.


- Sabe algo sobre uma cobra gigante? Não sei se conhecem por esse nome, mas os humanos a chamam de "Basilisco".


- Não. – a cobra falou pela primeira vez. – Ouvi dizer que muitos animais estão fugindo da parte central da floresta por causa de alguma coisa estranha. Mas não saberia dizer se é uma cobra e muito menos com esse nome.


- Sabe quem poderia nos informar melhor?


- Sigam para a floresta e procure outras de minha espécie. Faz tempo que não as visito. Podem saber mais do que eu.


- Obrigado.


- De nada.


A cobra então virou para a direção oposta dos dois e foi-se embora rastejando bosque adentro.


- E então? – Godric perguntou ansioso.


- Nada feito. Ela não soube dizer. Disse para irmos para a floresta.


- Fica um pouco distante do nosso caminho...mas tudo bem. Vamos lá. – falou resignado e voltaram para a estalagem para pagar as contas e apanhar os cavalos.


Após uma hora chegaram à borda da floresta.


Começaram a embrenhar-se por ela e o som foi ficando abafado e sendo substituído por novos ruídos.


Ouviam barulho de água corrente, folhas, galhos e animais diversos.


- Como aqui tem muito mais lugar para procurarmos e vai ser mais difícil, vou tentar chamar alguma serpente que esteja por perto.


Salazar novamente falou naquela linguagem ininteligível para a maioria das pessoas e ficou à escuta de alguma resposta.


Repetiu algumas vezes, sem parar de cavalgar, até que um sibilo distante o fez estagnar.


- Alguém respondeu, mas não consegui entender.


- O que você está dizendo?


- Coisas como "tem alguém aí?", "gostaria de informações"...


- Por que não tenta ser mais direto?


- Se você tivesse a uma distância grande de outro alguém, seria mais fácil ouvir um discurso ou apenas um "olá"?


- Não precisa ser um grande discurso...só algo como... "basilisco? Alguém sabe sobre uma cobra grandona?".


Enquanto discutiam, porém, os sibilos voltaram mais altos.


Um barulho de chocalho veio de trás de um arbusto e uma grande cobra de cabeça triangular apareceu.


Os cavalos relincharam assustados e ficaram de pé sobre as patas traseiras. Os homens tentaram acalmá-los, o que só teve efeito após alguns minutos e quando Salazar gritou na língua das cobras "quer parar de sacudir esse rabo? Vai nos matar!".


Ela parou, mas continuava desconfiada.


- O que estão fazendo aqui? Como falam nossa língua?


- Só eu falo. Queremos informações.


- Não confio em seres que andam sobre duas patas e conseguem me entender...


- Só queremos saber se tem visto ou ouvido falar sobre uma cobra gigantesca que anda matando tudo o que encontra.


- Se ela mata tudo o que encontra, como eu poderia lhe dar essa informação se a tivesse visto? – se pudesse, a cobra sorriria debochadamente para acompanhar sua fala.


- Tudo bem. Obrigado por nada.


Demoraram mais um dia para conseguir alguma informação útil. Não que faltassem cobras, mas as que encontraram não foram de grande ajuda.


O segundo dia na floresta já chegava ao fim e tudo que acharam foi uma família reptiliana em viagem querendo saber como se chegava na Guatemala, uma fêmea fofoqueira que queria apenas contar as fofocas de seus vizinhos e parentes ("Vocês não fazem idéia de com quem aquela peçonhenta da Claudia anda traindo o marido dela! E ela já pôs 20 ovas! Façam-me favor!") e um punhado de outras que estavam tão desconfiadas quanto a primeira que encontraram e nada quiseram revelar.


Durante a noite, no entanto, parecia que a sorte deles havia mudado.


Enquanto dormiam Salazar ouviu uma voz próxima murmurar: "Estou com fome. Preciso matar, destroçar, estraçalhar...preciso de humanos.".


Levantou-se de um pulo e olhou em volta. Não parecia estar muito longe. Godric acordou assustado e com varinha na mão automaticamente.


- O que...?


- Silêncio! – Salazar cortou e voltou a prestar atenção na voz.


O sibilo também estancou.


Resolveu então entrar em contato com aquilo que acreditava ser, finalmente, o basilisco.


- Você é o tão temido Basilisco?


- Quem é? Vamos...apareça para que eu possa brincar com você.


Salazar sussurrou para que Godric mantivesse os olhos fechados e o seguisse, segurando em sua capa, enquanto ele guiava-se pelo som da voz do animal.


- Vou aparecer, é claro. Responda-me, é ou não é o basilisco?


- Não sei o que quer dizer com esse nome...mas gostei. – a voz estava cada vez mais próxima.


- É como lhe chamam nas aldeias. É bastante temido. Eu gosto disso.


- Aldeias? Como você possui comunicação com pessoas?


- Porque EU sou uma pessoa.


Estava diante do imenso réptil.


Arriscou abrir os olhos apenas em direção ao chão. Viu que o corpo rastejante parecia desaparecer por várias árvores ao longo da floresta e mais alguns metros para cima.


Pensou em quanto ouro ganharia. Porém também refletiu sobre um outro plano que tivera.


- Humanos? – a cobra sibilou assustada. – Como consegue entender-me?


- Tenho este...dom. Você sabe que está ganhando bastante fama pelas mortes, não? E que estão oferecendo uma boa quantia de ouro em recompensa por sua cabeça.


- E vocês vieram aqui com esse intuito? Saibam que apenas não os matei, pois nunca havia conversado com um animal de duas patas e sem rabo.


Salazar riu.


- O que estão conversando? – Godric sussurrou cansado de ficar de olhos fechados.


- Calado. Não. Não quero matá-la. Quero apenas a recompensa.


- Mas se para ganhar a recompensa, terão que matar-me...


- Fingirei que você morreu. Você continua bem e eu ganho o que quero.


- Hum...como?


- Arranjarei algo para substituir você com um feitiço de Transformação.


- Não perceberão quando eu voltar a matar?


- Para isso preciso de você. Prometo que em breve voltarei e arranjarei quantos trouxas, digo, humanos, quiser engolir. Eles não se aventuram mais na floresta, com medo de você. A comida fica rara e suas opções ficam em animais pequenos. Então, peço para mudar-se. Ir para outro canto da floresta para que as mortes não surpreendam mais e não liguem a você.


- Como poderei ter certeza que não estou passando fome e você me enganou?


- Bom, você só tem a ganhar. Comida grátis e quando quiser e ficará escondida em um lugar especial sem ninguém saber de sua existência. Enquanto isso as tentativas de matá-la pararão e você poderá comer um humano ou outro, COM MODERAÇÃO, e os animais.


- Compreendo. – a cobra ficou em silêncio como se meditasse a proposta. – Aceito. Gosto de como sua mente funciona. É ardiloso...


- Podemos partir sem problemas?


- Como desejarem.


Deu as costas e afundou-se na escuridão da floresta.


- Ei! Onde ela vai? O que está fazendo?


- Convencia-a de não matar mais pessoas.


- O que? E o prêmio? E como pode confiar na palavra de uma cobra?


- Ela vai cumprir o prometido. E eu não quero matar uma cobra. Sabe que tenho essa ligação com elas...não é qualquer coisa.


- Ta...mas e o ouro?


- Vamos tê-lo. – Salazar apontou sua varinha para um imenso galho em uma alta e centenária árvore.


O galho soltou-se como se fosse encaixado e flutuou suavemente até pousar diante dos rapazes.


- Ahhhh. – Godric pareceu entender.


- Ahhhh. – repetiu Salazar, sorrindo.


Com algumas palavras o galho mudou sua forma e ficou semelhante à serpente que há até alguns minutos estivera parada ali.


- Agora levamos o "corpo" para eles e ganhamos nossa recompensa.


- Brilhante! Mas é errado...estamos roubando dinheiro deles.


- Ora! Pois não os livrei de um perigo mortal mesmo que não a tenha liquidado? Acho que mereço uma recompensa.


- Tem razão...como vamos levar? Não podemos usar o feitiço de locomoção...


- Levamos até a entrada da cidade, de lá chamamos por eles e eles que se virem para tirá-la do caminho.

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Comentários (1)

  • HiHeloise

    Eu achei muito legal a explicação para a ofidioglosia do Salazar, de verdade. E aqui no Potterish é assim mesmo, o pessoal comenta pouco e só quer receber comentários x-x

    2012-07-29
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