Cartas para você



     - Ei, Mione, acorda. – dizia uma voz baixinha perto do meu ouvido – Vamos dorminhoca. Daqui a pouco os monitores vão começar a revisar os quartos e pegaremos uma detenção se nos verem juntos.


      - Eu sou monitora chefe. – falei com a voz enrolada, ainda com sono – Eu devo supervisionar a chegada dos alunos em Hogsmeade.


     - Vamos, Mione, já passa das nove horas. – e ao ouvir as horas, levantei da cama em sobressalto.


     - Oh Merlin! Vamos Harry, tenho que sair daqui o mais rápido possível, jantar e ir até a sala dos monitores.


     - Você está bem? – perguntou Harry, me analisando.


     - Yep. Pronta para outra. – falei com um sorriso forçado e ele me acompanhou.


     - Não exagera. Vamos lá, dorminhoca.


    


     Harry e eu descemos as escadas do dormitório e fomos direto ao Salão Principal. Sentamos lado a lado na mesa da Grifinória e esperamos até o banquete iniciar. Aparentemente a festa do dia nos namorados, por fim, havia sido encerrada e a escola poderia voltar ao seu ritmo normal. Agradeci eternamente por isso, não seria nada agradável aturar cupidos soltando flechas mágicas ou aquelas mesinhas românticas espalhadas por Hogwarts. Enquanto estávamos comendo, Cho veio até nossa mesa. Ao ver ela se aproximar, afaguei a mão de Harry por debaixo da mesa e sussurrei “Ela está vindo. Mantenha a calma, ok?”.


    


     - Harry, precisamos conversar.


 


     Eles estavam a uma distância ínfima de mim e eu pude ouvir claramente cada palavra que o meu amigo dizia. “Nós não temos o que conversar, Cho. Já conversamos e resolvemos tudo que deveria ser esclarecido, não há motivos para prolongar essa conversa. Desculpa, mas eu vou terminar o jantar. Você deveria fazer o mesmo”. Fiquei apreensiva ao ouvi-lo tão decidido. Talvez esse fosse o mesmo diálogo que eu teria com Fred. Pensar nele não foi a melhor coisa a se fazer, já que meu coração se apertou e doeu – como nunca havia doído.


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     Nos últimos dias, Harry e eu, andávamos lado a lado durante todo o tempo. Devido as chuvas abundantes e inesperadas, os treinos de quadribol foram suspensos fazendo com que ficássemos na biblioteca mais tempo que o necessário. O silencio era nosso maior aliado e, quando se fazia presente, era confortável e permitia a nossa reflexão. Tanto eu quanto meu amigo estávamos machucados, como dois hipogrifos que perdem uma pena e ficam acuando até a dor passar. A diferença é que não gritávamos a Hogwarts nossa dor, nós a compartilhávamos e, o que não era dito em voz alta, o silêncio abafava.


     A frase de Harry nunca saiu de minha cabeça “Seriamos perfeitos um para o outro. Nós nos completamos, Mione”. Ele tinha razão. Seriamos perfeitos um para o outro em épocas passadas ou talvez, quem sabe, futuras. Hoje, eu achava que a minha perfeição tinha outro nome e sobrenome: Friedrich Weasley. A mágoa que eu sentia era tamanha que, por um tempo, eu preferia mantê-lo afastado. Não li nenhuma de suas cartas. Ao invés disso, deixei-as acumular na minha mesa de cabeceira. Eu sabia que não poderia evitá-lo por muito tempo, mas quando a hora certa chegasse, eu o colocaria contra a parede e o momento seria decisivo. E eu sabia o que eu estava adiando: o possível fim do nosso namoro. Se é que um dia ele começou de verdade.


     Desde aquele infeliz encontro, Fred havia me enviado, no mínimo, quinze cartas. Ou seja, duas semanas já se foram e eu não respondera nenhuma carta. Elas estavam empilhadas, todas lacradas e prontas para serem devolvidas ao remetente. Ainda não tinha o feito porque a doce coruja que me trazia, diariamente, as cartas recusava-se a aceitá-las de volta. O jeito seria ou pedir para Edwiges ou pegar uma coruja qualquer disponível de Hogwarts.


     Levantei um pouco mais cedo que de costume e amarrei todas as cartas com um cordão mais grosso para nenhuma se soltar. Tive que convencer uma coruja a levar todas as cartas porque ela se recusava veemente com um lento e agudo pio. Depois de dar todo pão que fui obrigada a conjurar, ela pegou o maço de cartas pelo bico e saiu em direção a Hogsmeade.


     Meu coração estava doendo tanto que minha vontade era chorar a cada minuto durante o dia. Me debati mentalmente e briguei com minha consciência...eu deveria ter lido aquelas cartas. Uma a uma. Provavelmente ele explicaria o ocorrido e eu desculparia e tudo ficaria bem. Como sempre, eu era a Hermione Tola Granger e nada poderia tirar isso de mim. Maldito orgulho.


     Durante o almoço eu chorei. Aquele remorso por não ter lido as cartas me abateu e meu coração ficou apertado. Fiquei no banheiro durante todo o intervalo, sentada no vaso sanitário com as mãos no rosto, chorando como uma criancinha mimada. Essa noite eu escreveria uma carta para o Fred, pedindo desculpas pelo que eu havia feito e entregaria no corujal na primeira hora da manhã. Um erro não poderia justificar o outro.

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Comentários (1)

  • Karla Vieira

    ansiosamente esperando pelo próximo capítulo, e mais ainda, pelo fim desse mal entendido! 

    2012-01-16
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