Capítulo III



 Sempre trabalhei por amor a profissão. Modéstia parte boas condições me foram deixadas por antepassados. Não retornarei ao Ministério, pois não devo e não quero prestar contas a ninguém. Sou bem servido pelos meus elfos e agora é prioridade destruir a criatura que me pôs atrás das grades – por erro meu, mas quero vingança.


 Quando deixei a prisão fui para casa onde ateei fogo as vestes e me permiti um banho durante horas. Os elfos estavam muito animados, nunca fui uma pessoa ruim com essas criaturas aprisionadas. E agora eu poderia falar por conhecimento de causa.


 Separei os meus livros para procurar um motivo para o meu erro passado. Não encontrei. Ou melhor, eu já sabia que não encontraria. Já conhecia todos os títulos e índices de minha velha biblioteca e livros didáticos e tinha plena certeza que a causa do meu erro não estaria explicado naquelas páginas, ou eu me lembraria.


 Não tinha o que fazer e confesso que por algum tempo me perdi dos meus objetivos. Voltar a ver a luz do dia era muito agradável.


 Eu estava me sentindo como criança novamente dentro daquela casa enorme, sendo servido do que quisesse e sem preocupações notórias. Mas eu era um apaixonado pelos mistérios e, além disso, tenho consciência e boa memória.


 Peguei o costume de mandar que os criados fechassem as cortinas de toda a casa em dias chuvosos. Eu agora gostava de luz e sol, fiquei um pouco traumatizado e acredite que isto é muito bom, ao menos não perdi a sanidade. Ou eu acho que não a perdi.


 Bem, em um desses dias chuvosos e de casa mal iluminada as coisas ficaram um pouco estranhas. Senti que na minha mente algo queria falar.


 Toda vez que eu sentia essa sensação também via passar pelo corredor uma imagem conhecida. Eram vultos e sons que me traziam lembranças reprimidas. Para encurtar, em um desses dias de aflição mental resolvi segui essa sombra veloz que me aturdia.


  Eu não pude crer no que vi. Chegando ao fim do corredor que levava aos meus aposentos, me deparei com um antigo conhecido. Mas agora eu já era um adulto, muito bem vivido, cheio de experiências. Não pensei duas vezes e apontei ameaçadoramente minha varinha para meu amigo imaginário que resolvera fazer-me uma visita.


 O que me intensificava as aversões era o seu sorriso. Mesclo de macabro com feliz. Eu juro que tentei de tudo: feitiços, encantamentos, contra-feitiços e até me atrevi a tentar transfigurá-lo. Vãs tentativas.


 Ele corria tanto que eu mal podia conter os berros. Não sabia o motivo de estar correndo. Não me recordava, havia suprimido.


 Você deve estar imaginando que fui bem sucedido. Ou estar pensando que estou louco por correr atrás de um fruto da minha imaginação.


 Eu ainda acho que estou louco, essa é a verdade.

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