Capítulo II



  Lembro-me como se fosse ontem. As minhas celas se abriram com um estrondo que quase me fez aparatar instantaneamente – se me permitem a comparação.


 Observei um patrono em forma de guepardo adentrar o local. Todos os meus sentidos dispararam e se por algum bondoso acaso o beijo da morte não me encontrar, sairei daqui para recomeçar – pensei. Sua voz me falou em um misto de rouquidão animal e ferocidade humana ‘siga-me de perto se não desejas morrer’. Eu, com o coração na boca, o segui prontamente. Tive certa dificuldade para acompanhar devido ao meu estado físico e verdade seja dita, até em espectro esse animal é veloz. No caminho escuro que se seguiu eu podia sentir um frio quase palpável e comecei a tremer sonoramente. A única coisa que impedia os incansáveis dementadores de se aproximarem de mim era aquele patrono.


 Cheguei à frente de um grande portão de ferro cheio de trancas mágicas. Não sei se por maldade, mas antes que o portão se abrisse para a minha passagem o dono do patrono o dissipou e os dementadores rapidamente avançaram em minha direção. Eu me esqueci do frio e me desesperei, antes que o portão se abrisse para a minha passagem, um deles conseguiu me alcançar e sugar-me um pouco de bons momentos que me restavam – e por esse motivo se viu insatisfeito. Imaginem-me sorrindo.


 Escutei com estrondo o portão se fechar atrás de mim e pude observar uma boa quantidade de bruxos que trabalhavam no local. Em consequência da Histórica Fuga que aconteceu em Azkaban, o Ministério escalou um maior número de aurores para trabalhar no local para que possam controlar alguma rebelião, afinal os bruxos não podem reagir de maneira eficaz sem suas varinhas e força física e dementadores são relativamente fáceis de controlar com patronos.


 Em suma, me guiaram para um banho, onde me entregaram minhas vestes. Admito que as roupas me trouxeram lembranças ruins, pois foi vestido delas que cheguei a este lugar. Uma refeição não muito melhor a que me era dada na cela foi servida e minha varinha devolvida.


 Se alguém estiver lendo esses pensamentos quero que saiba que sim, escrevi essas últimas linhas fora de Azkaban. No caminho para casa perdi muitas das páginas que escrevi, mas as que restaram estão reunidas agora como um troféu. Sobrevivi.


 Retomar a minha antiga vida sei que não irei – e nem quero. Terei momentos para relaxar, mas também não os quero por agora. Tenho alguns serviços para fazer. E faz parte do legado da família misturar prazer, trabalho e assuntos pessoais. Quem precisa de momentos de descanso quando se acaba de retornar de agradáveis e calorosas férias de trabalho? – Não sorri nesse momento.

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