Capítulo V



  A criança que existia em mim morrera há anos. Eu era agora um humano, um bruxo, tentando entender o que não se pode entender. Mergulhado em um mundo onde só se entra morto. Hoje reconheço que minha vontade era a de poder controlar essas obras do ódio. Mas acho que o bem também deixa vestígios, pois somente ele para ter me feito errar absurdamente e me feito parar aqui onde estou. Talvez o bem soubesse do que eu seria capaz se continuasse a solto.


 Revelarei o meu erro. Certa amanhã, chegando ao trabalho, eu verifiquei que minhas atividades seriam em um lugar mais afastado do centro da cidade. Eu estava com pressa para chegar, pois não especificaram o tipo de criatura se tratava e isso quer dizer novidade. Saindo do Ministério segui para um lugar discreto e aparatei para um local próximo ao endereço que me foi dado e de lá segui andando.


 Havia chegado ao local e, como de costume, parei para analisar a entrada, lancei feitiços para saber se a casa revidava. Eu precisava saber se era seguro entrar. Tudo na mais perfeita ordem. Ou melhor, fora de ordem. Não é normal uma residência bruxa sem proteção básica, além do mais tudo estava com aspecto de abandonado.


 Eu adentrei a casa e sem demoras percebi barulhos na escada. Uma mulher correu em minha direção e disse que estava deixando a casa para que eu fizesse o meu trabalho. Tentei pará-la, mas ela correu com os olhos cheios de lágrimas. Eu sabia que não se tratava da senhora, pois criaturas desse tipo deixam sensações físicas no ar – a menos que se tratasse de um bicho papão, o que não parecia ser o caso.


 Segui com a varinha erguida quando avistei uma menina vestida de branco, uma camisola. Logo atrás outra menina idêntica. Esta riu e correu na minha direção para atacar. Eu prontamente criei uma barreira de fogo a minha frente de tamanho médio para impedir sua chegada até mim, mas foi vã a tentativa. Ela me derrubou ao chão e tentava me estrangular. Só tive chances porque a outra menina tentou correr, mas a criatura correu para impedir. Era um espectro, sem dúvida, atravessou o fogo. ‘Mas que capacidade de toque físico era essa?’ – eu me perguntava.


 Depois de algum tempo eu descobri que a criatura estava possuindo a menina, mas para isso precisava de certa proximidade. Ela se utilizava da magia da própria menina para dar realidade aos ataques físicos.


 Em suma o que aconteceu foi que a criatura estava entrando no corpo da menina ao invés de apenas controlá-la, então eu tentei tirá-la de lá. O meu foi ter segurado o feitiço por tanto tempo que a menina não suportou.


 Eu fui julgado pela Suprema Corte dos Bruxos, acusado de assassinato e sentenciado a cinco anos de regime fechado e a criatura conseguiu fugir. Tive que me calar novamente.


 Eu fui trancafiado durante toda a minha vida, é verdade. Eu jurei me vingar, mas nunca se sabe se conseguirá sobreviver com a culpa, mas o beijo é mortal. Por isso estou escrevendo, para deixar claro que se eu morrer foi com um sentimento de revolta e vingança. Em parte de mim mesmo. Onde estou não se pode chamar a atenção, é mais doloroso se o fizer. Aqui os loucos controlam suas próprias loucuras por medo da dor. Você aprende a suspirar quando sua voz está sendo reprimida e a vida lhe escorre pela boca. Não é fácil sobreviver aqui em Azkaban.

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