Capítulo I



 Para uma pessoa como eu nada parecia poder assustar. Já havia me deparado com criaturas tão assustadoras que não sentia mais arrepio por nada. Eu era um especialista. Falo no passado porque depois que cheguei a esse lugar eu morri. Morri para a vida lá fora.


 Trabalhei no Ministério da Magia por poucos anos, é verdade, mas isso não diminui a minha importância. Ter perdido coisas valiosas quando jovem me fez forte, ou insensível, não sei ao certo. O ponto é que sempre senti atração pelo sombrio.


 Mesmo tendo suprimido da memória a morte de meus familiares dentro daquela maldita casa eu ainda tinha comigo, no sangue e na memória, os valores que me foram passados. Valores do bem. Acredito piamente que o principal motivo para ter sido o que fui se deve a essa mistura: minha atração pelo obscuro e os princípios que se conservaram em meu interior. Talvez quem leia esse diário, se algum dia isso acontecer, se pergunte o que ou quem fui; isso ficará claro depois de algumas folheadas neste diário que eu sei que escreverei até o fim, afinal tenho muito tempo vago. Ou melhor, muito tempo de sofrimento. Atrevo-me a dizer que talvez não o termine. Não sei ao certo. Acredito que me contradirei muitas vezes neste diário por falta de corretivos e principalmente por falta de tempo em sã consciência para organizar a mente e os pensamentos.


 Quando coloquei os pés aqui sabia que não poderia fazer nada, ou quase nada além de chorar e gritar. Minha vida entregue à sorte de criaturas tão horrendas, subjugando o sangue que me foi passado, insultando minha alma mágica com seus vultos gélidos.


 Se o leitor for do tipo que tem medo das verdades que poucos vêem, sugiro que feche este documento agora mesmo.


  Se ainda for interessante depois de tanto tempo aqui espero que as próximas palavras sejam de ajuda, mas para mim servirão de recordação o que escreverei. Não sei se depois de tanto sofrimento ainda conservarei minhas memórias, portanto quero mantê-las vivas mesmo que em páginas sujas e velhas como estas.

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