Da Noite na Torre



Com o Natal chegando, o clima de perigo que Snape percebia em Hogwarts parecia ter amainado. Quirrel andava distante e parecia cada dia mais temeroso. Algo estava acontecendo com ele... Parecia estar sendo consumido... Pedira dispensa antecipada haviam dois dias, alegando uma viagem. Certamente algum trabalho para o Lorde, mas mesmo assim Snape sentia-se mais seguro, por si mesmo, por seu filho e por Lunare. Finalmente teria alguns dias de descanso.

Logo no primeiro dia do feriado prolongado, com as crianças quase todas fora do castelo, aquela noite de Lua cheia encontrou-o bem disposto e decidido a aproveitá-la da melhor maneira. Decidiu-se por chamar Lunare, afinal, ela era uma companhia que ele apreciava muito... Ficariam na biblioteca lendo alguma coisa, conversando... Claro, era difícil controlar o desejo que às vezes lhe assaltava, mas isso não era exatamente ruim.

Ia andando em direção ao quarto da professora quando deu com ela que descia os últimos degraus da escadaria.

- Boa noite! Eu... Pensei que poderíamos ir à biblioteca aproveitar a noite, mas vejo que está de saída.

- Bem... Eu ia dar uma volta... ahn... estou... meio... com calor... - Ela falava devagar, espaçando as palavras. Ele já a vira assim. Sabia o que estava acontecendo, como ela estava se sentindo. Ele não ia mais deixar a oportunidade escapar, não naquela noite.

Ela não conseguia se conter, respirava alto, com força sem que ele nem mesmo a tivesse tocado... Estava languida, passava a mão pelo pescoço devagar e fechava os olhos longamente, enquanto engolia em seco tentando em vão se controlar. Só a proximidade, a máscula energia que ele emanava já era suficiente para deixá-la quase ofegante... Entendia agora porque ela se recusava a tomar bebidas alcoólicas... Mas aquilo tudo era contagiante e ele começava a se envolver totalmente naquela aura de luxúria, ele a desejava como urgência e, sem perceber, já estava respirando mais rapidamente...

- Eu...

- Lunare, não preciso de Legilimência para saber o que você quer. Não sei se você reparou, mas está praticamente materializado... - Enquanto ia falando, ia aproximando-se dela cada vez mais, quase tocando-a - Às vezes você não consegue controlar toda essa energia, não é? Bem, eu já havia percebido, poderia te oferecer alguma poção para isso, mas sei que você é alguém que não admite se reprimir... - Agora estava há poucos milímetros dela, encarava-a de frente, seus vapores confundindo-se - E, afinal, devo me desculpar pela falta de cavalheirismo, mas eu não queria que essa sua... alteração dos sentidos... cessasse. Ora, você sabe que me atrai! Você atrai a todos que entram na sua maldita sintonia!

Snape segurava a cintura dela com força enquanto ela sentia-se queimar por dentro, derretendo ao contato dele, tornando-se uma criatura ígnea, uma elemental do fogo que tinha necessidade vital de unir-se a seu elemento. Como tal, estava sem razão, tomada completamente por seus sentidos que gritavam sinleciosa mas violentamente e ele via o fogo queimando em seus olhos, chamando-o, não lhe deixando escolha... Ela era pior que Aquele... Ao chamado de fogo não havia escolha a não ser atendê-lo, por mais que ele soubesse como enfrentar a dor e a morte, aquilo não era racional, ele não tinha como enfrentar porque estava realmente acima dele, a Mãe Natureza o chamava para o Grande Destino, uma coisa primitiva e óbvia, mas definitiva, a base de tudo, a razão de tudo... Não a razão que todos buscam, a imunidade aos sentidos e aos sentimentos, mas a razão irracional do universo, clara e simples, um livro aberto para quem pudesse sentir e acreditar, um livro aberto para o qual todos, inclusive ele próprio, haviam fechado os olhos em favor da civilidade, aquela coisa pulsante que estava sendo destruída pelos humanos que já não queriam fazer mais parte dela... Mas ela estava lá agora, pulsando em toda sua glória, jorrando daquele ser a sua frente que exigia que ele se rendesse, que se unisse a ela e... Embora esses pensamentos todos tivessem durado apenas uma fração de segundo, ele não os conseguiu concluir, era mais forte que ele e finalmente tocou a pele incandescente daquela face macia e deixou-se cair no abismo daquela boca carmesim, onde corria um rio de águas deliciosamente quentes e violentas às quais não pode ceder. Ambos beijavam frenéticamente, com fúria, desespero, misturando sangue e saliva, respirando o mesmo ar viciado, sentindo as pulsações reciprocamente... De repente ela parou e afastou a boca devagar, olhando-o nos olhos.

- Vamos... Ahn... para um lugar mais reservado - ela sorriu largamente - Que clichè!

Ele riu-se e acompanhou-a, a passos rápidos e ininterruptos na longa subida até a torre, que outrora servira de prisão, e agora servia de quarto à professora Lunare... Sem perceber, notou a semelhança com sua masmorra: as algemas de ferro pregadas nas paredes, as paredes nuas e o chão de pedra com manchas escuras - provavelmente sangue antigo. A diferença é que na torre haviam janelas com grades, que não existiam nas masmorras. Reparou que ela mantivera alguns instrumentos de tortura no recinto, visivelmente com a função de adorno, juntos com tapeçarias medievais de vários locais da Europa e algumas plantas. Havia uma pesada escrivaninha vitoriana cheia de pergaminhos, uma grande estante com velhos alfarrábios, uma poltrona também em estilo vitoriano forrada com um velho tecido de rosas desbotadas e um tapete persa enorme e pouco conservado no chão. Do outro lado, uma grande cama de dossel - muito comum no castelo de Hogwarts - e um baú aberto, deixando ver uma séria bagunça de roupas, que por sinal, também estavam espalhadas pela poltrona e sobre a cama, mas que, no quadro geral, davam um ar mais pessoal e aconchegante, combinando perfeitamente com o perfume que pairava no ar, algo de madeiras exóticas e frutas...

Ela puxou-o porta adentro gentilmente, trancando-a, enquanto ele já a abraçava novamente, encostando-a na grossa porta, sentindo-se, agora, à vontade para explorar aquele corpo que há tanto vinha desejando...

Ela também estava sedenta, abria os botões das vestes com pressa, passando a mão pelo corpo dele e sorvendo-lhe o aroma com vontade, enquanto ele acarriciava-lhe os sedosos cabelos com as duas mãos, aproveitando ao máximo cada sensação. Finalmente tendo deixado-o sem camisa, ela observou voraz o peito e as costas muito brancos, marcados de cicatrizes e este fato pareceu deixá-la ainda mais excitada. Ele voltou a beijá-la com aquela fome insaciável, enquanto a despia violentamente, deixando-a nua, aquecida apenas pelo calor da lareira, com a pele arrepiada, pedindo pelo toque da pele dele, abraçando-se à ele com força, como se isso pudesse uni-los. Então, ele a pegou no colo e colocou-a na cama gentilmente, conjurando uma garrafa de vinho e duas belas taças de cristal...

- Sei que você me disse que não bebe, mas sei que um pouco de vinho pode aguçar seus sentidos... E, sendo uma mulher de paladar refinado como é, tenho certeza que não se negaria aos prazeres de um Château du Foncé, 1498...

- A melhor safra de todos os tempos... Um vinho produzido por bruxos, com 500 anos... Como... Como conseguiu?

- Digamos que os Foncé deviam favores à minha família... Mas isso não vem ao caso - disse abrindo a preciosa garrafa e derramando o líquido cor de sangue em uma das taças - Me acompanha?

- Certamente...

E novamente aquele sorriso malicioso estampou seu semblante, combinando-se perfeitamente àquele olhar perigoso... Os reflexos sangüíneos do vinho a deixavam ainda mais sedenta e quando segurou a taça, apreciou o aroma complexo e logo levou-a aos lábios, tomando um considerável gole, que fez passar pela língua, apreciando o gosto intenso e a textura sedosa...

- Então?

- Aroma amadeirado com um quê de especiarias, tabaco e amoras mordentes... Encorpado, macio, taninos finos... Selvagem, eu diria... Como acariciar um tigre deitado sobre almofadas indianas sentindo o aroma dos incensos numa tarde quente...

- Sim... Selvagem... Como você... Quente, intensa, macia, exótica e clássica ao mesmo tempo...

Ele bebeu o conteúdo da taça todo de uma vez, deixando um fio vermelho escorrer pelo canto da boca, correndo livre pelo alvíssimo tórax... Depositou a taça sobre uma pequena mesinha de cabeceira enquanto ela tomava uma grande gole e fazia o mesmo.

Debruçou-se sobre aquele corpo lácteo, segurou-lhe fortemente os pulsos acima da cabeça contra o macio colchão, enquanto beijava-a ferozmente. Devagar, soltou os punhos frágeis e começou a explorar o corpo dela com mãos deicididas e famintas, acariciando com desejo seus braços, ombros, pescoço, costelas, até chegar aos seios, que apertava com força, chupava, mordiscando os pequenos mamilos, os gemidos fracos de ambos se misturando no turbilhão de sensações... Ia descendo, passando a língua de fogo pela barriga, circulando o umbigo transpassado pelo piercing... Ocorreu-lhe que talvez ela apreciasse a dor... Tudo indicava que sim... Os termos que ela usava em conversas, a decoração do quarto, os piercings e tatuagens que ela revelara ter feito em um body artist trouxa... Pensava isso quando surpreendeu-se com gemidos mais altos e viu que chegara a um ponto quase que definitivo... Quem sabe essa fosse a hora de testá-la quanto à dor, afinal, era algo que ele próprio apreciava e seria interessante descobrir uma parceira tão apropriada.

Ele delirou ao ouvi-la gemer daquela forma, alto, dissonante, aprovando inconscientemente as mordidas cada vez mais fortes em regiões sensíveis. Ele saboreava o néctar agridoce da Porta da Vida, mas logo que percebeu que ela poderia chegar ao clímax, parou, ergeu os olhos, alcançando os dela e gentilmente pediu que ela se virasse de bruços. Ela se encolheu um pouco, virando em poucos movimentos, desarrumando ainda mais a cama e, finalmente, deixando-o vislumbrar uma maravilhosa paisagem que se assemelhava a colinas cobertas pela neve seguidas por um vasto descampado onde lebres albinas poderiam brincar graciosamente, a menos que... Cobria toda a área das costelas... Era maravilhoso e ao mesmo tempo aterrorizante. Um crânio humano com uma serpente enroscando-se pelos orifícios onde ficariam os olhos e a boca, sobreposto a uma rocha, coberto de belos fungos, rodeado por insetos, plantas e fadas asquerosas... Então aquilo era ela... Claro, a enorme tatuagem em sépia refletia sua alma que encerrava a mesma marca de um Comensal da Morte. Sentiu o estômago retorcer-se com a sensação de perigo, mas ao toque daquela pele, exposto àquele aroma inebriante e àquela aura sensual, o perigo e a dor eram desejáveis e seu corpo reagiu com um leve gemido. Então, surpreendendo-o, ela se virou de frente para ele, fê-lo deitar-se na cama, acionou um feitiço prendendo seus pulsos e pôs-se a abri-lhe a calça, sem pressa, massageando toda a região e finalmente deixando-o apenas com as roupas íntimas, que já apresentavam uma nódoa úmida. Sentou-se sobre ele, beijando-o na boca, mordendo seus lábios, lambendo-os, passando para o pescoço, onde sugava com voracidade e dava fortes dentadas, fazendo-o gemer intensamente, debater-se contra o ferrolho invisível que o prendia, mal podendo conter-se. Ela sorria maliciosamente sempre que trocavam olhares e descia pelo tórax, lambendo com vontade ainda maior as cicatrizes, deleitando-se com as batalhas, derramando o ungüento de sua boca naquele que saíra vitorioso. Chegou nos mamilos e não o poupou, mordia com força, fazendo-o gemer de dor e prazer, mas logo os abandonou, retomando o caminho que já se apresentava marcado por delicados pelos negros, os quais ela seguiu com passos lentos mas decididos e finalmente encontrou o que queria. Agora ela ocupava-se em torturar seu prisioneiro com sua língua ofídica trabalhando ágil, toques ora mais leves, ora mais intensos, ao que ele se retorcia, contraindo o corpo e expirando gemidos e palavras que ela não se importava em compreender. Foi diminuindo o ritmo e apertando o cerco, envolvendo-o por completo, até que se sentiu segura para aumentar novamente os movimentos, agora, em outro ângulo, certamente mais dominador. De início ele pareceu se acalmar, de certa forma, e apreciar o momento sem nenhuma sombra de agonia, mas conforme ela ia intensificando seu trabalho, ele ia retomando a agonia até chegar a tal ponto que ela não pode mais ignorar suas palavras. Estava dado o sinal. Empunhando a varinha, murmurou um "Finite Incantatem" e as algemas desapareceram. Ela ia deslizando sobre ele, tencionando unir novamente suas bocas quando ele interrompeu o movimento com violência, segurando-a com desejo, recostando-a novamente nos travesseiros. Era como uma guerra, ele havia acabado de tomar o controle da situação e estava abrindo as sólidas defesas do oponente sem nenhuma dificuldade, percebeu que a hora H chegara e se rendeu aos prazeres do sangue, sentindo aquela intensa força viril percorrer seu corpo enquanto sentia-se envolver no calor e na semi-loucura, esquecendo-se de tudo que estava ao seu redor, de toda a razão, de tudo que não fosse ele próprio ou àquela a quem estava finalmente unido num frenesi que ele desejava que fosse interminável. Ela gemia incessantemente, após horas de tensão ela enfim se entregara à ele por completo, estavam intrinsecamente unidos, compartilhando de uma sensação única, tocando a Alma do Mundo com uma só mão e, no segundo seguinte, desfalecidos, o corpo perdendo calor... Estavam entrando novamente no que costumava-se chamar de realidade.

Após alguns minutos ele respirou fundo e sentou-se na cama, apoiando a cabeça nas mãos. Ela, que já estava no limiar do sono, acordou com a leve movimentação e abraçou-o, acariciando-lhe os negros cabelos. Pegou o cobertor sobre a cama e pôs sobre os ombros de Severus, que lançou-lhe um olhar agradeicdo. Embrulhando-se em outro cobertor, conjurou dois mugs de capuccino, atiçou o fogo na lareira e sentou-se ao lado dele, oferecendo-lhe uma das canecas. Ele tomou devagar e recostou a cabeça no ombro esquerdo de Lunare, com um ar cansado. Ela acariciava-lhe os cabelos quando, parecendo ter encontrado algo entre eles, perguntou: "O que há? Parece um pouco... preocupado? É isso?"

- Bem, desde que chegou você vem me fazendo sair do sério... Tenho um vasto treinamento e um poderoso autocontrole que simplesmente parece ir desvanecendo conforme me aproximo de você... Hoje ele me abandonou completamente e, não que não tenha sido uma experiência fantástica, foi algo além de tudo que já conhecia, mas pergunto-me se estou relaxando em minha força de vontade... Isso definitivamente não é bom para mim, preciso dessa habilidade, preciso estar pronto caso ele volte...

- Ele? Ah, sim... Bem, também não acredito que essa paz possa ser realmente algo permanente, muita coisa ficou no ar... Enfim, você vai ter tempo durante os feriados para ter certeza de como anda sua Oclumência... Vou passar esse tempo em Londres com o que resta de minha família e, se eu for a causa disso, realmente, você saberá, terá um tempo para si mesmo... Vai ser bom... Eu estou muito feliz, Snape, por termos ficado juntos... Eu estava precisando muito disso, sabe, de uma companhia especial. E, bem, você está muito além do que imaginei... Espero que não se ofenda, mas acho que somos bem parecidos...

- O que há de ofensa nisso? Se eu tivesse algo a reclamar de você, com certeza estaria reclamando de algo em mim mesmo. Mas você está certa. Foi muito importante consumar algo há tanto desejado e enfim estar com a mente limpa para me olhar por dentro...

- Agora - levou a mão à boca e deu um longo bocejo - Acho que devemos nos deitar e descansar. Fique aqui comigo, Severus. Vamos terminar o que começamos...

Ele olhou-a espantado e ela riu-se.

- O que eu quero dizer é que durma a meu lado esta noite. O quarto está quentinho, tenho certeza que não quererá encarar os corredores gelados e, bem, a cama é grande o suficiente para que fiquemos confortáveis.

- Claro... Eu agradeço. - Ele pareceu animar-se, ajeitando os lençóis para que ela deitasse - Prometo que vou retribuir-lhe. Sei fazer um ótimo café da manhã!


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N/A: Hehe, não reparem nas metáforas inspiradas em "As Brumas de Avalon", não deu para evitar! ^_^0

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