Da Confirmação



Nos dias que se seguiram, Allard não pôde tirar da cabeça os pensamentos relativos ao que vira na sala do professor Snape e a todo momento era assaltado pela indecisão sobre qual atitude tomar. Finalmente, na manhã de sábado ele decidiu-se a fazer o que havia planejado.

Aurea tendo notado o amigo tão distante, não teve coragem de lhe falar, preferiu esperar um momento em que o semblante do colega parecesse menos anuviado. Sentira muito por todo o ocorrido com Allard, definitivamente não sentia o mesmo prazer que Draco tinha em humilhar as pessoas e, embora não fosse perder amizades tão interessantes por causa de Warrick, também não iria perder este pelos outros. Órfão ou não, ela não se importava! Havia dias que sua memória revisitava a cena em que ele lhe falara que preferia ficar sozinho e, frente à lembrança do pequeno rosto contraído pela amargura, Aurea compreendera que talvez ele tenha dito aquilo num momento de desespero, intimidado pela possibilidade de tornar público o seu segredo. Agora ela estava certa de que ele dissera aquilo para defender-se, sem pensar em feri-la.

Sentia necessidade de falar com ele, não sabia o que e nem o porque dessa vontade, simplesmente queria estar em sua companhia, mas ainda sim estava incerta se aquele seria um bom momento.

Naquele sábado, Allard acordara cedo e fizera grande esforço para comer alguma coisa. Sentia-se mais solitário que nunca, perdido na multidão hostil. Quando finalmente tomou coragem, aproximou-se de Argo Filch e, temeroso, comunicou-lhe sua necessidade de conversar com Dumbledore. O zelador iniciou então um pesado questionamento sobre os motivos do garoto, duvidava que daquelas mentezinhas nojentas pudesse sair algo bom e queria certificar-se de que não teria mais dores de cabeça que de costume.

Allard não queria revelar-lhe seus motivos e, mesmo que o quisesse, pensou, a história seria longa e comprometedora demais. Não pretendia contar tudo nem mesmo ao diretor.

Filch bufava ante a relutância e parecia muito ameaçador ao garoto que estava cada vez mais nervoso, gaguejando. O discurso do zelador ficava mais rude e sua voz ia se tornando mais alta; o pequeno Warrick já não podia conter o nervosismo e, sem podr evitar, desatou em copioso pranto.

Filch ficou perplexo diante da cena, raciocinando sobre a possibilidade de aquele diabinho não estar ter estado planejando nada. E se encontrava em tal indecisão sobre o que fazer quando eis que o próprio Dumbledore se aproxima perguntando de forma paternal o que se passava, tendo obtido apenas como resposta de Argo que o garoto desejava falar-lhe.

- Ora, então subamos até minha sala.

Aos soluços, tentando controlar as lágrimas, Allard segue o diretor que lhe vai acalmando pelo caminho. Tendo chegado à sala, ambos se acomodam nas confortáveis poltronas sob os olhares curiosos dos antigos diretores.

- Gostaria de um chocolate quente, meu bom garoto?

- Sim - Respondeu o menino soluçando.

Enquanto servia a bebida em uma bela xícara para o garoto, prosseguiu, perguntando:

- Afinal, Sr. Warrick, o que era mesmo que o senhor queria dizer-me?

Tomando um gole da reconfortante bebida, Allard responde tímido:

- Sr. Diretor, eu queria pedir autorização para visitar o orfanato de onde vim para conversar com a diretora de lá por um momento. Por favor, é muito importante!

- Hmmm... Mas não haveria a possibilidade de enviar-lhe uma coruja?

- Não, senhor, o que tenho a perguntar é muito sério.

- E, eu poderia saber o que é?

- Bem, é sobre minha família...

- Ah... Sim, sim, eu já esperava que logo você começasse a se questionar.

O garoto, espantado, simplesmente respondeu com um olhar de profunda incompreensão.

- Está bem visível, não é mesmo? Digo, a semelhança entre você e o professor Snape é inegável.

- Sim... - e, continuando após um breve momento de silêncio - Por favor, diretor, eu estou em dúvida, ele parece não me conhecer ou saber de algo sobre mim, não sei se realmente há algo...

O nervosismo voltava a tomar conta do pequeno ser, ele não queria dizer nada sobre o pergaminho, certamente seria castigado por mexer nas coisas do professor.

Dumbledore sorria de leve, olhando-o como se conhecesse o presente, o passado e o futuro. Apressou-se a continuar o diálogo antes que o pequeno desabasse em pranto, pois ele ainda teria muito que descobrir.

- O professor Snape nem sempre é o que parece ser. E ele não sabe se seu filho realmente chegou a nascer, ele tenta esquecer essa parte de sua vida porque sofreu muito por ela. Passou muito tempo procurando saber se o bebê que a Sra. Greatfield carregou em seu ventr havia nascido, mas ela recusou-se a falar com ele. O professor Snape tem esse fato gravado na árvore da família e na alma, mas procurou apagar depois que chegou à conclusão que seu filho jamais chegara a nascer. Allard, meu jovem, o professor Snape têm tentado suprimir toda a lembrança que você traz à ele destes tristes acontecimentos, mas acho que agora é uma boa hora para contar para ele, não?

- Contar? - ele parecia um tanto hesitante.

- Sim, meu amiguinho, contar que você descobriu a verdade. Você deve saber que aquele rolo de pergaminho que encontrou só pode ser aberto por alguém da família de Snape.

Allard sentiu um grande bloco de gelo caindo em seu estômago.

- Então quer dizer que...

- Sim! Nosso professor Snape estava enganado. O filho dele nasceu e é um belo rapagão! Você puxou a seu pai, Allard.



Aurea passou a tarde toda com a irmã, que lhe revelara estar muito chateada com a atitude do professor Snape. "Se ele não queria ir, que tivesse me dito antes de assumir o compromisso! Será que eu sou assim tão chata!?" e repetiu essas palavras várias vezes, deixando claro que isso a incomodava, como pode perceber Aurea, que bem conhecia esse costume da irmã. Durante a noite e também durante todo o domingo, cansada da rabugisse de Lacrima, Aurea preferiu passar o tempo com seus colegas de classe sem deixar de notar a ausência de Allard, que não encontrou nem mesmo à hora de dormir. Ficou preocupada com ele, pensando se algo haveria acontecido e decidiu que tomaria alguma atitude logo pela manhã.



O fim de semana de Allard foi cheio e ensolarado, passou-o com seu pai em Hogsmeade e só voltaram para a escola bem à noitinha no domingo. Aquilo era mais que um sonho: ficaria morando no castelo de Hogwarts com seu pai e agora finalmente tinha uma identidade, sabia quem era, de onde vinha. E mais que isso: vinha de uma família muito tradicional. Ele agora era Allard Blake Snape. Deitou a cabeça no travesseiro e dormiu o mais maravilhoso dos sonos.

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