De Morte



Galera, acho que esse é o capítulo mais longo que escrevi até agora! XD
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Dormira mal, tivera sonhos estranhos dos quais apenas recordava fragmentos desconexos. Mal falara com as pessoas durante o café da manhã e não conseguia recordar os passos que acabara de dar. Tudo parecia ainda parte dos sonhos confusos. A serpente... O que ele quisera dizer com aquilo? Evitar a serpente... - raciocinava sozinha no breve intervalo entre uma aula e outra - Evitar se quiser manter meus propósitos... A alma que entrou no mundo por outros meios... Aiai, que significa tudo isso?! É óbvio que é relativo a Voldemort, mas como?!
Os alunos entraram de súbito, interrompendo-lhe os pensamentos.
Preferiu se isolar durante o almoço e fez o mesmo no fim do dia. Sozinha, na torre, estava cercada de pensamentos diversos, conectados de forma incomum, indo e vindo sem que ela os sentisse: apenas pensava maquinalmente, como se tudo aquilo não dissesse respeito à ela mesma.
Depois de um tempo que ela não soube precisar, pareceu finalmente acordar daquele torpor que durara o dia todo.
Levantou-se devagar - só agora percebia a perna dormente - estava decidida a falar com Severus. Sim, se alguém poderia ajudá-la, era ele. Mas no mesmo instante escutou o sino. Imponente, mas um tanto trêmulo, como um veterano de guerra usando o perfeito uniforme sobre membros já frágeis. Três. Decerto não eram três da tarde. Um horário nada adequado para visitas, Srta. Lunare - principalmente na Inglaterra - pensou, achando alguma graça.
Resolveu deixar para o dia seguinte, mas ele passou e também assim se passaram os que o seguiram, sem que ela houvesse lembrado ou achado oportunidade adequada para falar a Snape. Não que o caso tivesse sido varrido de sua memória, que era marcante demais para tanto, mas ela parecia só lembrar dele em momentos inoportunos. E assim, de uma forma quase surreal - diria mesmo imperceptível, se passou o segundo semestre para a professora de História da Magia de Hogwarts.

Snape esteve preocupado com ela por um certo tempo. Depois da profunda tristeza que descobrira em seu semblante na ocasião do regresso dos feriados, percebeu que ela andou alheia a tudo por alguns dias... Tentou falar, mas sempre recebia respostas vagas. Não, ele sabia que o problema não era consigo mesmo. Nos lampejos de realidade que ela tinha, sempre o tratava como antes e ele até podia perceber que ela precisava muito lhe falar. Pensou em perscrutar a mente dela, mas rapidamente afastou tal idéia. Claro, seria para o bem dela, mas ele ainda tinha alguma noção de ética!
Com os dias, Lunare pareceu acordar e ele se contentou em vê-la como sempre fora. Evitou falar dos feriados, pois sabia que deviam ter sido desagradáveis e ele não queria incomodá-la mais. Queria-a feliz, o quanto fosse possível. De certa forma, estava feliz também. Tão feliz quanto o podia ser alguém que sabe de um perigo iminente.

Os feriados de Aurea tinham sido um tanto diferentes dos de sua irmã. Obviamente ela percebeu o clima pesado, mas como ninguém quis lhe dizer nada, preferiu ignorá-lo e ater-se a presentes e festejos, embora tenha tentado - com um sucesso mínimo - consolar Lacrima que, indo contra a praxe, deixara transparecer um profundo abatimento.
As aulas iam bem, suas notas estavam entre as melhores da turma e seus laços de amizade tornavam-se cada vez mais fortes. Via com contentamento que Draco e Allard haviam se tornado amigos... Bem, um tipo de amigos... Eles até se davam bem, mas andavam se matando de esforço para parecer melhor que o outro. Entre eles havia uma inegável concorrência, tanto nos estudos, quanto na aparência, na polidez, no cavalheirismo... Até mesmo naquelas brincadeiras bobas - pensava Aurea - que os meninos fazem para chamar a atenção. Gostava de ambos. Eles realmente eram companhias agradáveis e seus duelos de língua eram definitivamente engraçadíssimos.

Mas os dias iam passando e cada vez mais uma aura negra envolvia Hogwarts. Não que todos a percebessem, mas Lunare a sentia e sabia que Snape, apesar de não dizer nada, também sofria com ela. Ele andava mais quieto e pareia muito preocupado. O trabalho dos professores aumentara com a chegada do fim do ano letivo: provas, trabalhos e alunos que os perseguiam implorando notas. Notara, inclusive, que o professor Quirrell parecia mais abatido. Sempre achara que ele era de uma saúde debilitada e agora aparentava estar muito doente. Um cheiro estranho emanava dele e um dia desses, apesar de toda a ocupação e desânimo, Lunare ofereceu-lhe ajuda.
- Professor Quirrell, desculpe-me a intromissão, mas o senhor está bem de saúde? Será que eu poderia ajudá-lo em alguma coisa?
- E-eu estou... Mu-muito bem, professora, o-obrigado pela sua preocupação. - ele respondeu com gentileza e gratidão.
- Que bom... - ela deu um sorriso amarelo - Se precisar de algo, ficarei feliz em poder ajudar... - Ela disse tocando-lhe o ombro carinhosamente, e seguiu seu caminho.
O professor sentiu uma onda morna que o pareceu aconchegar por uma fração de segundo antes de sentir uma dor aguda, como se facas penetrassem por todo seu corpo.
- Deixe de ser fraco! - a voz sibilou dentro de sua cabeça - Essas pessoas em nada podem ajudar, são medíocres, não têm nada de que você precise! Lembre-se, Quirrell, obedeça-me e terá tudo o que quiser e muito mais. Mas pare de fraquejar diante da piedade alheia! Que atitude ridícula! Aceitar a piedade de bruxos inferiores!
- Sim, mestre... - respondeu com a voz enfraquecida pela dor que não cessava.
Mais tarde, Lunare conseguiu se encontrar com Snape por alguns minutos. Precisava falar-lhe com urgência.
- Eu SEI que algo estranho está acontecendo... Eu sinto algo muito ruim. Acho, inclusive, que o professor Quirrell está sendo afetado. Venho percebendo como ele anda estranho... Parece mais doente que nunca. Severus, eu falei com ele hoje e... senti a morte nele. Foi estranho... Não foi simplesmente como falar com alguém na iminência da morte, foi muito mais forte do que quando se sente que a vida de alguém se esvai... Não sei explicar bem... Era como se algo estivesse sugando toda a vida ao redor dele... Algo forte. Nos breve momento em que estive com ele, me senti horrível... E quando o toquei... Deuses... Eu tive medo! Não sei porque, mas tive um medo quase incontrolável!
- Lunare... - ele parou um momento para respirar fundo. Sabia o quão perto ela havia estado do perigo. - Quirrell, ele... - Não queria contar para ela. - Tenho motivos para crer que ele está envolvido com as Artes das Trevas.
Ela arregalou os olhos e já ia abrir a boca para falar algo, mas ele a interrompeu.
- É apenas uma suspeita. Não diga nada, por favor, eu quero ter certeza absoluta. Não se preocupe, se houver algo errado, Dumbledore saberá.
- Bem... - ela não soube o que responder, amedrontada que estava.
Ele segurou-lhe as mãos ternamente e disse:
- Fique tranqüila. Eu estou certo de que grande parte do que você sente é por causa do fim do ano... É muita responsabilidade, muito trabalho... Nós estamos precisando de férias, mas elas já estão aí...
- Obrigada. - ela sorriu num agradecimento sincero.

Mas aquilo tudo não passou. Continuou, ao contrário, aumentando. E houve um dia em que um pressentimento tão forte a assaltava, que não pode sequer jantar. Certificou-se de que a irmã estava bem e retirou-se para a torre, onde não pode dormir, por mais que tentasse. Não conseguia pensar, tampouco e decidiu andar pelo castelo quando já era por volta da uma hora da manhã. Aquilo tudo estava quieto demais... Nem se escutava Pirraça... Mas logo a sinistra quietude foi quebrada: Viu Dumbledore entrar apressado e passar por ela.
- Ah, senhor diretor...
- Não há tempo, minha jovem! - Ele respondeu enquanto passava mais rápido do que se poderia esperar que alguém daquela idade o fizesse.
Ela seguiu-o até onde pode. Sim, porque ele só viu que ele pulou dentro de um alçapão, mas o animal que o guardava a impediu. E realmente ela não gostaria de teimar com um cão gigante de três cabeças... Ficou por perto, não sabia exatamente o que fazer, estava um tanto atordoada. O sono, a estranheza da situação e aquela sensação horrível que parecia ter chegado ao cume não a deixavam pensar com clareza.
Cérbero, o guardião dos portais do Hades... Aquele cheiro horrível de morte saturava o ar, agora... Mas de repente um herói sai do submundo trazendo um corpo...
- Lunare!
Ela sacudiu a cabeça, parecendo sair de um pesadelo, espantando o estranho torpor.
- Por favor, chame Filch, o professor Quirrell está lá embaixo e precisa de ajuda para sair. - disse enquanto, novamente, andava apressado, mas desta vez levando ao colo um garoto desacordado que ela pode apenas perceber que era da Grifinória.
Titubeou por um segundo, mas logo foi em busca do zelador, que, tendo encontrado rápido, seguiu com ele para dentro do alçapão.
Passaram por uma série de armadilhas desativadas até uma espaçosa sala onde encontrava-se apenas o espelho de Ojesed e um corpo ensangüentado caído.
Filch pareceu atônito ao ver a bizarra cena, mas a professora correu ao
corpo no intuito de averiguar a identidade. Era careca e o rosto queimado estava praticamente desfigurado, mas pode reconhecer naquela figura grotesca o professor Quirrell. Quando Dumbledore disse que estava lá, não imaginou que estivesse naquelas condições. Era dele que partia o cheiro que empesteava toda aquela ala do castelo. É certo que Lunare estava acostumada com enfermos e feridos, mas aquilo ia um pouquinho além do que ela já vira até então: a parte de trás do crânio estava completamente moída e uma enorme abertura deixava ver o cérebro do cadáver, cujas áreas marginais já começavam a se dissolver numa substância negra e viscosa, como se estivesse em avançado estado de putrefação. Trazia as feições contorcidas - ela não soube distinguir se de terror ou dor - com queimaduras profundas, deixando entrever os ossos nos pontos onde os tecidos cutâneos eram mais finos. As mãos também apresentavam queimaduras muito profundas.
Apesar de tudo, Lunare conseguiu manter-se controlada. Aquela impressão que algo ruim aconteceria havia se dissipado: O que tinha de acontecer já havia acontecido e, embora uma vozinha distante a dissesse o que era, ela preferiu ignorá-la e manter-se firme em sua dúvida.
Arrumou o turbante que tinha sido abandonado ao chão de modo que estancasse o vazamento de líquidos da parte de trás da cabeça, cobriu-lhe o rosto com a capa e preferiu levá-lo com magia ao invés de deixar que Filch o carregasse. Ele concordou com satisfação e guiou-a pelas passagens secretas, evitando que fossem vistos por alguma criança.
Quando finalmente pode sentar e respirar fundo, na sala do diretor, milhares de perguntas lhe invadiram a mente. Felizmente não as precisou pronunciar para que Dumbledore respondesse. Ela esteve petrificada durante todo o tempo que passou escutando as explicações de como Voldemort havia agido por todo aquele ano, de quão perto havia chegado dele e de tudo o que ele havia feito.
Saiu da sala sem perceber por onde ia e suas pernas automaticamente a levaram à sala de Snape, que, já sabendo de tudo, recebeu-a com um abraço de consolo e proteção.

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