::capítulo sete::



Oi. Nina aqui. Eu sei, estranho. Mas só para avisar que no final desse capítulo tem uma cena, hm, um pouco mais picante e tal. Se você não gosta desse tipo de cena, por favor, não se dê ao trabalho de lê-la para me xingar depois e dizer que não estou avisando, ok? Beijinhos, queridos. 

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Capítulo Sete
Ou
I’ve Got Nothing Left To Lose


Eis que mais uma etapa se encerrava.


Eu já tinha aproveitado e deixado de lado muitas etapas. A etapa de criança. A etapa dos meus dez anos, quando todos me presenteavam com roupas e eu ainda desejava brinquedos. A etapa de ser sempre a segunda opção de meus pais - não que essa etapa já tivesse se esgotado; acho que ela nunca acabaria. A etapa de achar que todo mundo queria roubar o meu melhor amigo. Okay, acho que isso é mais uma paranóia, porque eu ainda achava que as pessoas queriam me afastar de James.


Passei também da fase dos meus quinze anos, quando minha mãe estava quase me obrigando a debutar, e eu disse que não queria ser uma dessas meninas frescas, e a Petúnia se ofendeu e me prometeu nunca mais gastar seu dinheiro com um vestido lindo comigo - sinceramente não sei de onde ela conseguiu juntar tanto dinheiro para comprar aquele Miu Miu, mas tanto faz, depois ela ficou com ele e devo dizer que ela fez muito bom proveito dele. Passei também da minha fase de relaxada, a ponto de implorar para minha mãe me deixar ir de pijamas para o King Williams College no inverno.


Mas tudo bem. Eu já tinha deixado de ser a mesma menina há tempos. Agora eu estava encerrando a minha fase de adolescente e pisando em terreno misterioso.


Meu aniversário de dezoito anos.


Minha mãe estava toda ululante, mas satisfeita. Meu pai, ainda que não demonstrasse, também estava. Ele achava que assim eu criaria mais juízo e me concentraria mais nas notas para a faculdade. Petúnia... bem, ela ainda me considerava uma fracassada, ainda que tivesse dito que ficava feliz por eu finalmente deixar de ser criança, ao menos na idade.


Eu estava pensando em apenas reunir a família e amigos para a noite de aniversário, mas uma semana antes minha mãe me comunicou que eu deveria deixar de ser tão careta. É, eu. Careta. Vê se pode. Mas eu estava sendo “tão careta” porque simplesmente não achava que precisaria de mais pessoas naquele dia. Eu não estava a fim de convidar o pessoal da escola, muito menos os amigos de Petúnia – que eu sabia que apareceriam do mesmo jeito -, então, queria uma festa mais privativa e pequena.


Mas claro que minhas opiniões nunca contavam dentro de casa. Mamãe se encarregou de encomendar o bufê e um VJ – que, na verdade, era o Carl, uns dos amigos de Petúnia, da faculdade -, e minha irmã, ainda que já tivesse jurado que nunca mais iria se preocupar em gastar dinheiro em roupas comigo, me levou a lojas no centro – daquelas que você nunca entra porque tem medo de que alguém vá pensar que você é uma sem-teto invadindo a loja – e me fez escolher um vestido bem bonito e tal. Eu não reclamei, porque ela disse que aquilo era seu presente de aniversário para mim. Então tá.


Enfim, era uma noite especial. Minha mãe só faltava chorar, a casa estava em terror.


Não fui ao cabeleireiro nem nada assim. Não fiz as unhas nem compactei meu cabelo em um penteado chique. Meramente passei base nas unhas e fiz uma chapinha um pouco mais caprichada no cabelo. Não que eu precisasse de mais, de acordo com meus pais. Mas sabe como é, pais. Eles só dizem essas coisas porque têm de dizer, afinal.


E devo dizer: ficar em frente à porta recebendo os convidados é o maior saco. Eles fingem que se importam muito com a data, lhe abraçam, lhe entregam o presente e simplesmente saem borboleteando pelo recinto atrás de alguém ou de algo – tipo, cervejas, coisa que meus mais não aprovaram; mas tinha champagne, pelo menos.


- Ai meu Deus, não acredito que o Carl está tocando essa música – reclamei para Petúnia no corredor, quando estávamos prestes a entrar de novo na sala. Eu tinha ido até a cozinha checar os refrigerantes diets – É tão porcaria!


Tudo bem, eu dissera aquilo mais para irritar minha irmã, porque sabia que ela tinha gastado toda a sua mesada quando tinha dezoito anos para comprar todos os CDs da Britney Spears já lançados. A música que enchia meus ouvidos era You Drive Me Crazy.


Quero dizer, na minha festa? Não, de jeito nenhum!


- Vê se se concentra em não cair desses saltos, Lily! – foi o que Petúnia me respondeu com aborrecimento.


Rolei os olhos.


Minha irmã era tão babaca!


- Dã, eu não sou você, sua girafa de rollers! – gritei, rindo.


Ela me beliscou no braço e seguiu até suas amigas mega cultas da faculdade, que só sabiam falar dos vestidos da festa.


Assim que consegui chegar à porta de novo, percebi James sentado no banco no jardim. Parecia que já estava ali há um tempo, a julgar pelos seus tremores de frio. Ele segurava uma bolsinha de veludo entre os dedos e fitava a escassa neve acumulada na grama.


- Parabéns, Lily – Toby Blum me disse, meio distraído, estendendo-me um pacotinho envolto em um papel de presente brilhante.


Fiz uma careta de surpresa misturada ao desinteresse.


- Oh – falei, mal olhando para Toby, pois estava de olho no James lá fora, sentado no banco – Obrigada – sorri sem jeito, me afastando do hall.


Depositei o presente na mesa de jantar disponível para aquilo e agarrei o primeiro sobre tudo que vi no armário debaixo da escada.


Tentando correr, alcancei a maçaneta mais uma vez.


- Hey, Lily, vai fugir da própria festa? – Adelaide Berdent me perguntou, quando foi se servir de mais champagne.


- Não – falei, aterrorizada. Caramba, era a minha festa, então, tecnicamente, eu poderia sair de dentro de casa por alguns minutos, não? – Só vou... hm, ali um instantinho – gaguejei, apontando precariamente para o jardim.


Quando fechei a porta atrás me mim, James me encarou, mas logo tornou a mirar o nada.


Muitas pessoas ainda chegavam. Eu acenava para todas, concentrada em não cair dos degraus.


Parei na frente de James, abraçando meus próprios ombros de frio.


- James? – perguntei – Você vai congelar aqui fora.


- E desde quando você se importa comigo? – ele me devolveu.


Sua franja jogada em cima dos olhos lhe conferia um ar de cachorrinho.


- Desde que somos melhores amigos – respondi, rezando para que ele desse logo o braço a torcer.


Ele fez um silêncio e suspirou. Eu me ajeitei ao seu lado, tomando cuidado para não deixar que a onda de carência e de mágoa me inundasse.


- Seu presente – ele deslocou as mãos para perto das minhas, oferecendo-me a bolsinha de veludo.


Assenti.


- Obrigada – agradeci, sentindo-me enjoada.


Será que ele não iria se desculpar? Porque, bem, de que eu poderia me desculpar? Bem, tudo bem, talvez eu devesse me desculpar por ter me transformada em um monstro sem coração e que guardava muitos segredos. Mas e daí? Quem me ofendeu foi ele. Eu totalmente não deveria dar o primeiro passo.


- Vai ser assim? – questionei, aborrecida – Vamos comemorar o meu aniversário nesse clima ridículo?


- Bem, me desculpe por não ser o tipo de amigo que você sempre quis – ele me olhou sarcástico.


- James! – exclamei – Você é o tipo de melhor amigo que serve para mim, okay? Só que, bem...


- Ah, sei. Você acha que eu devo desculpas.


- Claro que me deve! – falei.


- Olha, Lily, eu já suportei muitas modificações na nossa amizade, sabe. E é um saco eu fingir que não ligo para elas.


- James, eu não posso voltar atrás. Nós não temos mais dez anos, por mais que você tenha me acusado de ser criança.


- Mas você ainda é! – ele teimou – Você acha que eu devo desculpas por meramente ter lhe dito a verdade!


- A verdade machuca, James – falei.


Ele soltou uma risadinha descrente e ficou quieto.


- Tudo bem, você faz o que acha melhor – dei de ombros, cansada – Só não se esqueça que eu sempre estarei aqui para você, certo?


- E você acha que eu não estou aqui para você também? – ele perguntou, mais de modo perplexo do que indignado.


- Bem, no momento, parece que não – disse com sinceridade, levantando-me do banco.


Avistei Marlene e Sirius chegando lado a lado – mas se ignorando, como de costume, depois da separação - e quis instintivamente voltar para o lado de James, mas mordi o lábio e segui em frente, deixando-o ali.


- Oi, gente – cumprimentei-os, forçando uma felicidade inexistente.


- Você vai amar o meu presente, Lil! – Marlene me abraçou.


- Valeu – sorri, deixando meus olhos caírem sobre Sirius, que me encarava com fingido desinteresse.


- Bom, a minha mãe escolheu o meu presente, então agradeça a ela se gostar – Sirius deu de ombros, parecendo levemente envergonhado.


Peguei as suas sacolinhas e entramos.


- Uau, não acredito que essa música ainda faz sucesso! – Marlene riu ao ouvir as primeiras notas de Big Girls Don’t Cry.


- Esse VJ é meio, sabe como é. Retardado – finalizei.


- Por que o James não entra? – ela quis saber.


- Acho que quer morrer de hipotermia – dei de ombros.


Marlene riu e andou até Dorcas e Peter, que já tinham chegado e estavam conversando no canto.


Quando devolvi meu casaco ao cabideiro atrás da porta do armário debaixo da escada, Petúnia bateu no meu ombro.


- Você e James brigaram? – ela me perguntou, naquele tom de “vou fingir que me preocupo com você, maninha”.


- Bem, se você acha que quando alguém xinga outra pessoa de criança é brigar, então, sim, nós brigamos – respondi.


Só que, claro, eu não podia falar mais nada à minha irmã. Já era ruim o suficiente ela saber sobre Sirius.


- Caramba, que coisa de criança! – ela disse. Eu a olhei com cara feia, então ela complementou: - Bem, qual é, é bem coisa de criança ficar ofendida por uma coisa dessas.


- Bem, o problema é nosso. E não estou nem aí se ele não vai me pedir desculpas, estou me virando muito bem sem ele – menti.


- Cara, vocês têm cada uma! – Petúnia riu, preferindo não fazer mais comentários que pudesse me irritar.


Ignorei-a e me juntei ao meu grupo.


Marlene ignorava Sirius, que ignorava igualmente a ex, enquanto Dorcas se sentia excluída e Peter fingia súbito interesse nos quadro de minha casa.


- Ai, Lily, ainda bem que você chegou! – Dorcas cochichou – Estou me sentindo tão idiota!


Olhei-a surpresa.


- Por quê, oras? – perguntei.


Dorcas sorriu de modo estressado e eu já sabia a resposta: Remus.


Eu tentei achar algum assunto que a fizesse desviar do ex-namorado, mas nada me veio à mente. Assenti, frustrada.


- Lembra ano passado que Remus lhe deu aquele estetoscópio de presente? – ela me perguntou com um ar nostálgico.


Encolhi-me. Droga. Se íamos falar sobre Remus, eu preferiria desaparecer.


- É – disse – Foi bem legal.


- Ano passado ele me deu de presente um ingresso para assistir o Fall Out Boy – Dorcas me contou.


- Ah, sim, muito perfeito – gaguejei, sem ter noção do que lhe responder. Ah, ótima hora para eu estar brigada com James!


Ela deixou um suspiro pairar no ar.


- Sinto tanto a falta dele.


- Nós também – garanti.


- Isso vai passar, Dorcs – Peter disse, esfregando gentilmente o antebraço de Dorcas.


- Quero dizer, foi tão do nada, não? – ela fungou, mantendo os olhos baixos. Eu sabia que ela estava se empenhado muito para não deixar as lágrimas caírem – Não era para ser assim.


- Nunca se sabe, Dorcas – falei, e no mesmo segundo odiei o que disse.


Então, o quê? Era mesmo para Remus não estar mais comemorando os aniversários dos amigos e da namorada? Que cruel, Lily Evans. Ai, meu Deus, eu era uma idiota.


- Ele adorava essa música – Dorcas levou uma das mãos à boca.


Like It's Her Birthday, do Good Charlotte, estava tão alta ali que meu coração pulava de acordo com a batida da canção.


- Olha, tudo bem – falei – Mas você não pode se apegar a cada detalhe. Isso só a faz sofrer mais.


E eu pensando que Dorcas estava superando aquilo! Ha, até parece.


- Eu detesto a minha vida sem ele – Dorcas declarou, ignorando minha frase anterior.


Marlene suspirou, sem dizer nada. Olhou para o ex-namorado e comprimiu os lábios.


- Uma hora vai passar, sério – ela disse para Dorcas.


Então, antes que nós pudéssemos falar mais alguma coisa ou confortá-la de algum modo, ela pediu licença e entrou no lavabo.


Olhei para Marlene, pedindo algum tipo de ajuda. Queria que ela fosse até o lavabo e convencesse a Dorcas de voltar para a festa, mas eu sabia que ninguém ali tinha muita certeza se queria lidar com Dorcas naquele estado.


O restante da noite se prolongou sem maiores estresses. Batemos na porta do lavabo algumas vezes, pedimos para Dorcas vir, ao menos, comer bolo, mas ela se recusou. Então, desistimos.


James, claro, não tinha passado todas aquelas horas lá fora no jardim. Ele tinha entrado e estava se socializando com alguns alunos da faculdade de Brunel. Ainda que me ignorasse, eu não podia deixar de notar que ele sempre lançava um olhar baixo em minha direção, como se quisesse que eu acabasse com aquela porcaria toda.


Mas, é, eu não acabei. O problema era dele se achava que podia colocar nossa amizade em risco.


Perto da meia-noite, decidi que aquilo não estava nada bem. Quero dizer, era meu aniversário. Não podemos passar nosso aniversário de dezoito anos brigadas com nosso melhor amigo. Deve até mesmo dar azar ou algo assim.


Então, por isso, deixei o orgulho um pouco de lado.


James conversava com Petúnia sobre o ateliê que ela pretendia construir quando saísse da faculdade e aproveitei que o assunto era entediante e fui até eles.


- Hey – eu disse – Hm, James pode vir comigo por alguns instantes?


James, que segurava uma taça de champagne, me olhou surpreso, mas disfarçou.


Puxei-o pelo pulso até a lavanderia, coisa que acho que ele não apreciou muito.


- Dá para me soltar agora? – ele me perguntou, quando encostei a porta atrás de nós.


Eu o soltei.


- Olha – comecei, com raiva de mim mesma -, não importa, okay? Talvez você tenha mesmo razão. Talvez eu seja uma criança. Só não agüento essa coisa de não falar com você. A Dorcas está no lavabo, provavelmente chorando por causa do Remus, e eu não sei o que fazer. É meu aniversário, não faça isso comigo, por favor.


- Você acha que estou mega feliz por ter de evitar? – James me perguntou.


- Bem, presumo que não. Mas, então, por favor, vamos deixar isso de lado. Eu estou me sentindo sozinha aqui.


James fez uma careta.


- Olha, se quer um pedido de desculpas, não sei se vai ganhar, okay?


- Tudo bem, eu não quero. Só não me deixe sozinha hoje.


Ficamos em silêncio. Eu não pensava em mais nada e não sabia se ele estava esperando alguma resposta.


- Então, hm, tudo bem entre nós? – perguntei, um tempo depois.


- Você sabe o que ainda acho sobre... – minha expressão ficou tensa e ele revirou os olhos -... aquilo, mas acho que se você prometer que vai começar a fazer as coisas certas, acho que estamos bem.


Com meu salto, eu ficava quase da altura de James, então eu meramente abri os braços e o abracei.


- Eu vou me culpar para sempre – falei.


- Acho que isso não vai servir para nada – ele me respondeu.


Depois disso, as coisas ficaram bem mais leves para mim. Eu podia fingir que não tinha com Sirius na frente de Marlene e de James e tentei afastar Remus de meus pensamentos.


Quando apenas sobraram eu, James e Dorcas – que ainda estava no lavabo -, eu me sentei no sofá.


- Uau, fazer dezoito anos cansa demais – argumentei, tirando os sapatos.


- Vocês vão para a Casa da Árvore? – senti o sarcasmo de Petúnia, mas deixei quieto.


- Cara, está muito frio – falei – Apesar de que com essa nossa briga, faz tempo que não vamos para lá – virei-me para James.


James deu de ombros.


- Você sabe que posso pegar o aquecedor portátil lá do porão – ele me disse.


- Certo – disse – Só vou, sabe como é, tirar a Dorcas do banheiro.


Não foi difícil aquilo, porque ela já estava cansada de ficar lá dentro. Então, quando ela foi embora, eu e James nos mandamos para a Casa da Árvore. Ali era tão quieto, que parecia que nada podia atingir a gente.


Nós ainda estávamos com as roupas da minha festa, mas não me importei. Ultimamente eu não estava me importando com muitas coisas, especialmente se eu estava ou não com as roupas adequadas.


Um longo silêncio se estabeleceu no recinto. Acho que ele ainda estava tentando reconsiderar a atitude de orgulho de não pedir desculpas.


- A Dorcas não parece muito bem – James comentou.


Meu coração se apertou. Dorcas realmente não estava segurando as pontas como eu achei que ela estava.


- Você nem tem noção – respondi – Quer dizer, ela me deixou sozinha na minha festa de dezoito anos para ficar chorando no lavabo! – exclamei.


- É, eu não a vi a festa inteira.


- James – falei – Isso está me matando.


James olhou para mim com interesse, então suspirou.


- Não exagere – ele pediu.


Encolhi-me. Meu sobre tudo não estava me agasalhando bem. E eu estava com medo.


Escondi meu rosto nas mãos.


- A Dorcas nunca vai se recuperar – eu disse.


- Talvez um dia fique tudo bem – James falou. Eu o olhei duvidosa por entre meus dedos – Sério, Lily – ele confirmou.


A verdade é que ver meus amigos sofrerem era a pior coisa que poderia me afligir. Eu mesma já tinha sentido a dor que Peter e Dorcas ainda sentiam. E eu me convencera com minhas mentiras que tudo estava bem. Claro que elas só amorteciam meus sentimentos. Mas funcionava. Ao menos em teoria. Porém, saber que Peter tinha cometido uma loucura por aquilo e ainda ter de ver Dorcas chorar era bem pior do que mentir para mim mesma.


Meu Deus, aquilo estava chegando longe demais! Tinha de ter uma maneira de exterminar a dor.


Mas eu sabia que só havia um modo de fazer aquilo acabar. E eu não estava disposta a fazer a coisa certa. Isso me prejudicaria para sempre. E ainda que James sempre me dissesse que estaria para sempre ao meu lado, eu sabia que nosso elo de amizade estava mais fraco do que nunca e logo iria se romper. E aí eu não poderia contar com mais ninguém.


Senti o choro vindo, mas tentei aprisioná-lo a qualquer custo.


James se levantou do nosso colchão de ar e ficou de joelho ao meu lado, no puff. Ele soprou contra meu cabelo e me envolveu em seus braços.


- Isso tudo vai acabar, eu prometo – ele me disse.


Mas sabe quando você quer acreditar e não consegue, porque você sabe que por mais que a pessoa esteja lhe dizendo tais palavras queira o seu melhor, é tudo mentira? E por mais que eu tivesse me habituado a conviver com mentiras, eu odiava quando alguém mentia para mim, especialmente sobre “ficar tudo bem”. Quer dizer, aquela era a minha frase. Eu é que a dizia com freqüência para Peter e Dorcas.


Sentamo-nos no colchão e eu não esperei mais nada.


Eu estava me sentindo frágil, quebradiça, esfarelada. Qualquer sentimento de dor emocional me absorvia e me fazia querer apenas ficar quieta, chorando. E eu estava fazendo aquilo com muita freqüência. Eu não era de chorar, mas as coisas estavam tão tensas, tão vivas, que nada estava me impedindo de chorar. E, mesmo que não quisesse, não esperei estar sozinha em meu quarto. James sempre tinha lidado muito bem com lágrimas, mesmo que as visse esporadicamente.


Agarrei-me em sua camisa social e fiquei ali, apenas derramando minha dor. Ele não disse nenhuma vez algo do tipo “Tá bom, Lily, é melhor você parar agora. Está me encharcando”. Não. James era fofo demais para destruir aquele momento. Ele sabia que eu precisava de apoio, mesmo que fosse para chorar.


- Vai ficar tudo bem – ele disse, ainda que soubesse que nada ficaria realmente bem. Ele me conhecia e sabia, especialmente, o que eu fizera. Ele não poderia ter escolhido piores palavras.


Olhei para ele com os olhos ainda transbordando.


- Como pode dizer isso? – perguntei, soluçando.


James sorriu-me mínimo. Eu adorava quando ele dava aquele sorriso. Não era nem um pouco parecido com os sorrisos de escárnio de Sirius. Era um sorriso que me deixava especialmente calma. Mas, naquele momento, ele não surtiu nenhum efeito em mim. Só me compeliu a chorar mais.


- Foi um acidente, Lil. Já conversamos sobre isso – James me disse, acariciando minha bochecha como quem afaga um cachorrinho.


- Você não entende. Nada vai me fazer parar de me sentir culpada.


James me grudou novamente a ele.


- É seu aniversário. Tudo bem, já passou da meia-noite. Então não vamos estragar o restante da noite – ele murmurou, pegando minha mão e juntando com a dele.


O tempo passou. Sei disso porque não foi rápido que minhas lágrimas secaram nem que eu parei de fungar. Mas James apenas ficou sentado no colchão comigo, sem fazer nada além de acarinhar meus cabelos, agora já arruinados, claro.


Eu queria ser sincera com ele. Queria me abrir com ele, exatamente como fazia antes de ter tantos segredos. Eu sentia tanta saudade do tempo em que éramos melhores amigos! Naquela época, nunca pensávamos que nossos destinos pudessem se separar ou se modificar. Naquela época, morreríamos melhores amigos. Melhores amigos verdadeiros um com o outro, ainda por cima. Nada poderia ter saído tão dos eixos.


Mesmo que eu não me sentisse mais – mesmo que não fosse mais – a Antiga Lily, aquele aconchego estava exatamente como eu me lembrava. Não que antigamente James tivesse precisado ficar abraçado a mim enquanto eu chorava, mas eu me lembrava de nossos abraços. Claro que o intuito era diferente agora, mas as sensações de calor e de alívio eram as mesmas.


Ele ainda mantinha minha mão presa na dele, como se tivesse segurando toda a minha alma naquele aperto. Enquanto eu estava com frio, James estava quente. Eu queria adormecer apoiada naquele corpo. Talvez pudéssemos nos enfiar debaixo do edredom e dormir juntos, como fazíamos.


Ali com James eu me sentia completa. Como se eu soubesse que com ele nada me atingiria, nada me machucaria. Sempre tinha sido assim, mas naquela hora tudo pareceu mais claro, como se a noite tivesse virado dia. Como se, de repente, minha mente tivesse entendido a raiz de meus problemas.


Abri minha boca, e não disse nada. Levantei meus olhos até os fazerem encarar os de James. E foi aí que eu entendi. Eu realmente entendi tudo.


Minha vida estava uma porcaria.


E nem mesmo ele podia me salvar.


- James... – balbuciei, sem ter a menor ideia do por que estava chamando-o.


Ele ficou me estudando com seus lindos olhos brilhantes e profundos.


Não me mexi, muito menos ele.


- Está tudo bem? – ele me perguntou.


Não me concentrei na pergunta, pois estava olhando seus lábios se moverem. Pisquei, catatônica. Seus lábios pareciam mais convidativos do que os de Sirius. Tive vontade de cobri-los com meus dedos.


Mordi meus próprios lábios, indecisa.


- Sim – respondi, demoradamente.


Eu não sabia se devia, ou se precisava mesmo daquilo. Fosse o que fosse, a próxima coisa que senti foi um arrepio na espinha assim que meus lábios se encontraram com os dele. Eu estava nervosa e ainda espatifada. Ele, por outro lado, parecia muito confiante, ainda que vagaroso.


Quando sua língua deslizou por sobre a minha de maneira cuidadosa, eu soube: James beijava muito bem. Era como se todo aquele tempo beijando Sirius tivesse sido uma porcaria. Beijar James parecia perfeito.


Seus dedos ainda seguravam, firmes, os meus, mas permiti que minha outra mão deslizasse por seu tronco esculpido, ombro e pescoço para chegar até sua nuca.


Fiquei surpresa ao perceber que James não parecia nenhum pouquinho desinclinado a abortar a situação. Ele apenas continuava a me beijar como se aquilo fosse certo, como se sua felicidade dependesse daquilo.


O frio estava se esvaindo aos poucos e eu me sentia aquecida. Quando ele mordiscou levemente meu lábio inferior, eu gemi. Aquilo parecia maravilhoso demais para eu me afastar agora.


Senti suas mãos brincando com as alças de meu vestido, e eu soube que, por mais que aquilo fosse irrevogavelmente errado, estava gostando da sensação de êxtase e de alívio.


A mão que estava em sua nuca procurou os botões da sua camisa desesperadamente. Eu sentia que agora precisava fazer aquilo, precisava avançar e saber até onde iríamos. Usar uma só mão para desabotoar sua camisa me pareceu muito difícil, e ele, percebendo isso também, me ajudou, mas com menos desespero do que eu.


Apartando um pouco nosso beijo, James, assim que desabotoou sua camisa, disse:


- Lily... eu não sei se isso é exatamente uma coisa que deveria acontecer.


Uma parte de mim sentiu-se envergonhada, enquanto a outra sentiu-se ofendida. Será que ele não gostava da maneira como eu o beijava? Mas eu estava treinando tanto com Sirius! James não podia achar que eu não sabia beijar!


Ao invés de lhe dar alguma resposta, eu me ocupei em tirar meus sapatos e ficar de joelhos para beijá-lo melhor.


Havia neve englobando a grama ou os telhados das casas. Tudo o que se ouvia era o farfalhar do vento, seu volume cada vez mais alto, como um inimigo lhe espreitando. A Casa da Árvore estava fechada, então o vento não podia nos atingir muito. Ele entrava vagaroso pelas frestas por entre a madeira, mas não era suficiente para eu estar tremendo de novo. O corpo quente de James bloqueava qualquer sinal de frio que meu cérebro estivesse recebendo.


James escorregou sua mão pelo meu pescoço e seguiu para minhas costas. Meu estômago se revirou, mas de ansiedade. Eu estava lidando bem com aquilo, independentemente de como acabaria.


Eu não sabia qual era o problema com minhas mãos que teimavam em agarrar seus cabelos, a fim de que ele estivesse mais próximo de mim quanto jamais esteve, mas ele pareceu não se importar. Se eu o estivesse machucando, aquilo não importava mais. Eu não sabia se era capaz de parar, e duvidava que James fosse. Ele estava no momento tanto quanto eu. Afastei minha boca da dele e tomei um pouco de ar enquanto ele descobria a pele de meu pescoço em seus lábios. Senti uma onda elétrica pelo corpo e arquejei; agora é que eu não poderia parar mesmo.


Seus dedos alcançaram o zíper do vestido apertado. Fechei mais uma vez os olhos, imaginando o que aconteceria de fato se eu não objetasse aquilo.


- Lily – James me disse, tentando se livrar da pele de meu pescoço.


- Agora está tudo bem – assegurei, distanciando alguns centímetros pequenos seu rosto do meu, para olhá-lo. E se ele estivesse apavorado? Bem, não era isso que seus lábios me diziam.


Nossos olhos se encontraram. Verde no castanho. As duas cores juntas nunca me pareceram tão certas.


Juntei meus lábios, esperando que eles me dessem algum tipo de suporte. Inspirei e avancei contra ele de novo, tomando cuidado para não machucá-lo. Minhas mãos procuraram retirar a camisa social de seu tronco enquanto ele arrastava as dele pela minha cintura. James me ajudou naquilo, já que parecia muito difícil beijar, testar meus sentidos e lhe tirar a camisa, tudo ao mesmo tempo. Não que eu já não o tivesse visto sem camisa. James e eu íamos ao clube nos verões e eu o via apenas de calções. Sua pele era tão clara quanto a minha, embora estivesse fervendo por sobre a minha.


Talvez eu ainda estivesse me sentindo gelada de medo e de surpresa.


Eu nunca quisera tanto na vida fazer aquilo. Nem mesmo no começo do rolo com Sirius. Claro que eu sempre queria transar com ele, mas com Sirius faltava alguma coisa que eu tinha encontrado no James. Algo como afeto ou amor, porque Sirius às vezes era tão cínico. Com James eu sabia que nunca encontraria desestabilidade, e acho que isso me deu forças para dar um ponta pé naquilo tudo.


Soprei contra seu lábio inferior e em seguida ele estava baixando o zíper do meu vestido. Aquela sensação não parecia em nada com sensação de medo que me invadia sempre que fazia aquilo com Sirius e achava que alguém ia nos descobrir. Não. A sensação que estava sentindo naquele segundo era quase antagônica à que eu sempre sentia. Era como se um raio estivesse passando por mim, mas sem causar danos definitivos. Apenas como se o fogo estivesse derretendo o gelo, sabe?


James não quebrou o beijo para olhar para meus seios ou algo assim, como Sirius provavelmente teria feito. Ele apenas manteve o ritmo, como se estivesse despetalando uma rosa.


Arfei quando seus dentes roçaram no lóbulo de minha orelha, e em seguida ele estava fazendo o caminho inverso: de minha orelha para meu pescoço. Eu não sabia como ele sabia que aquela parte de meu corpo era realmente, hm, boa para beijar, mas ele simplesmente descobriu e estava me fazendo sentir sensações maravilhosas. Meus nós dos dedos agarraram com sofreguidão seus ombros largos quando ele começou a descer a boca para meu colo, depositando beijos castos por onde passava.


Ele fez o vestido escorregar pelo meu corpo e percebi que estava apenas de sutiã sem alças meia-taça e de calcinha de algodão. O frio voltou como uma onda grande demais para um surfista, mas James amenizou-o colando seu corpo mais rente ao meu. Minhas mãos foram parar no cós da calça jeans dele, lutando para que ele entendesse que deveria se livrar daquela peça. Por sorte, ele sorriu pequeno ao mesmo tempo em que eu e se despiu dela. Sua cueca box preta contrastava com nossas peles. Depois o que me pareceu ser milésimos, estávamos unidos pelos lábios mais uma vez. Eu podia detectar a mesma ânsia em James que havia em mim.


Assim que desconectei o fecho do sutiã, suspirei bem devagar, temendo que algo pudesse dar errado. James tirou a franja de meus olhos e desenhou minha bochecha esquerda com as pontas dos dedos. Acho que ele queria me dizer alguma coisa – qualquer coisa que não fosse “pare” -, mas não conseguiu, principalmente porque voltei a fundir nossos lábios. O cheiro almiscado de seu perfume impregnava meus sentidos, bloqueando qualquer tipo de fuga premeditada por minha mente. Mas eu não estava nem aí para o que meu cérebro achava daquela situação. Meu coração estava feliz e gordo, apenas ansiando por mais.


Ericei-me no momento em que James fez minha calcinha deslizar por minhas coxas. Eu achava que ele riria dela se realmente a estivesse vendo: a Hello Kitty dava um oizinho na parte de trás. Mas, aparentemente, ele preferiu ficar calado. Não queria estragar o momento, tal como eu.


Ele me deitou com cuidado no colchão depois de ter se livrado da cueca. Eu não sabia muito bem se estava confortável naquela posição, porque tudo o que sentia era meu coração pulsar muito perto de meus ouvidos.


Suas mãos caçaram minha cintura enquanto espalhava mais beijos pelo meu colo. Logo tornei a procurar seus lábios, sentindo-me tonta e um pouco desesperada demais.


No momento seguinte, percebi que nossas intenções tinham se modificado um pouco. Se eu já estava aflita por querê-lo ainda mais perto de mim, contra a minha consciência, meu corpo tentava enlaçá-lo como se ele estivesse fugindo de mim. Mas eu sabia pelos batimentos cardíacos e pela respiração dele, que James jamais me deixaria ali, naquela hora.


Tudo o que eu via era ele. Tudo o que eu respirava era ele. Ele estava me inundando por completa, como se agora o gelo estivesse todo derretido.


Arquejei quando ele pousou uma de suas mãos em meu seio, e ele soltou uma risadinha. Agora eu já me sentia suficientemente aquecida, como se estivesse dentro de um quarto muito quente. Mordi seu lábio assim que senti seus dedos pressionarem parte interior de minha coxa. Aquela sensação definitivamente nunca tinha sido experimentada por mim. Agarrei seus cabelos, pronta para deixar escapar um miado curto.


Ele arfou quando nos juntamos e eu o imitei. Engoli em seco rapidamente, apenas para poder abrir os olhos e me situar.


Certo. James estava em cima de mim. Estávamos na Casa da Árvore. Fazendo uma coisa que melhores amigos terminantemente não fazem.


Cerrei meus olhos novamente.


Enterrei minhas unhas em suas costas e ele apenas me retribuiu com beijos.


A vertigem começou a se intensificar. Era como se eu estivesse em um redemoinho. No momento em que gemi seu nome, entendi o que estava acontecendo. E aquilo não era nada bom. Tentei impedir que a sensação se espalhasse, mas já era tarde demais. Meu cérebro tinha sido enganado pelo meu coração e ambos somente esperaram.


Quando abri meus olhos mais uma vez, tive certeza: meus olhos verdes pertenciam àqueles olhos castanhos.


Após alguns segundos apenas tentando respirar normalmente, abri meus olhos, completamente trôpega.


Ai, meu Deus, eu estava bêbada de amor.


James saiu de cima de mim delicadamente, como se eu fosse uma criança que estivesse dormindo e ele não quisesse despertar, e então ficamos silenciosos, deitados lado a lado, apenas observando os cometas fosforescentes pregados no teto da Casa da Árvore, debaixo do edredom quente que nos envolvia.


Instintivamente, procurei seus dedos e os grudei nos meus. Agora eu não sabia quem estava mais quente ali, se eu ou James. Nossas peles juntas irradiavam fogo.


Por vários minutos permanecemos somente escutando o grito das cigarras e o vento colidindo contra a casinha de madeira.


- Foi a sua primeira vez? – a voz de James parecia estar vindo de por trás de uma parede recoberta de limbo. Ele estava rouco, como se estivesse doente.


Mirei a parede rosa.


James nunca tinha sido bisbilhoteiro ou fofoqueiro. Acho que o mais maravilhoso de ter amigos meninos é que eles nunca vão querer competir com você. Eles apenas ficam ao seu lado escutando suas histórias. Nada mais.


- Não – respondi.


Eu sabia que ele não pediria mais informações. James sabia ser um melhor amigo bastante agradável.


E mesmo que ele me perguntasse com quem eu tinha perdido a virgindade, eu teria de mentir. E eu não estava disposta a perder tempo com mentiras bobas.


Depois de um momento de silêncio, James o quebrou, agora parecendo verdadeiramente assustado:


- O que acabamos de fazer?


Sorri pequeno. Eu sentia que ainda flutuava. E não me importava se aquilo tivesse ido longe demais.


Arrastei-me para cima de seu peito e senti seus olhos castanhos perfurando os meus.


- Não fale nada, ok? – pedi, e em seguida beijei-o.


Ele retribuiu exatamente como minutos antes: com ânsia e vontade. Não tinha nada de exagerado nos gestos dele, como geralmente era quando eu estava com Sirius.


Descansei minha cabeça em seu peito, fechei os olhos e ficamos em silêncio total agora. James pareceu entender que nada do que ele pudesse dizer faria com que aquilo que fizemos desaparecesse.


Antes de cair no sono completamente, sorri ao constatar que eu e James pertenceríamos um ao outro. Para sempre. Independentemente de Sirius ou de sábado de julho. 





:::

N/a: Oi, Nina de novo, yay! Todo bem, meus queridos e queridas? /Olha a Nina sendo simpática de mais, o que será que ela quer?/ Então, esse capítulo já está pronto há tanto tempo e tal, que meu Deus. Então, quem gostou do capítulo, comenta, certinho? Muito obrigada Sah Espósito e Anjinho Doce por comentarem. Anjinho Doce, gostei de você! Você é surtada e eu gosto disso, haha. Comente mais, que eu vou adorar, flor! E tenho de avisar que o próximo capítulo deve demorar um pouco para vir, porque estou mais concentrada nos meus livros. Mas, não, não vou largar essa fic.  
ps: eu amo gente que comenta *-*

Nina H.


12/08/2011

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Comentários (1)

  • hell yeah

    que sexy! hahahaha adorei o capítulo hot, a pegação hot, o james hot! haha :x a muito difícil achar fics com "cenas" que são sexy sem serem apelativas! gostei muito da forma como você escreveu :D

    2011-08-15
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