::prólogo::



Epílogo
Ou Falling To Pieces


Eu estava olhando aquela parede rosa bebê com pintinhas rosa-pink há muito tempo. Parecia que já fazia parte daquele puff azul, pois desde que chegara ali, meu traseiro estava encaixado naquela coisa fofa e fedorenta. Não sabia que horas eram, mas podia sentir James se mexer irrequieto de cinco em cinco minutos. Ele sempre ficava muito impaciente se visse que passara das sete da noite e ainda estávamos em nossa casinha aconchegante; saíamos ao perceber que o Sol já tinha se posto. Não gostávamos do Sol, sempre concordávamos com isso: nossas peles eram demasiadas claras para ficarem expostas àqueles raios intensos, especialmente nas férias de verão.


Minhas pálpebras, já pesadas, não se deixavam vencer pelo cansaço e pelo tédio. Eu não queria ser esmagada por aquele clima silencioso e incomum. Mas já fazia algum tempo que sustentávamos a tensão e nada fazíamos ou falávamos. Ostentávamos prepotência, embora o desamparo já tivesse nos tragado há meses. Eu não queria aceitar aquilo, não podia admitir que o nosso mundo tivesse se arruinando tão fácil, de modo tão quebradiço.


James, entretanto, não parecia se incomodar e, por mais que ele fosse do tipo que não desistia fácil, seu fingimento estava me irritando. Qualquer um sabia que tinha algo errado entre nós. Até mesmo seus avós, aqueles senhores tão bondosos e que sempre estavam preparando alguma comidinha apetitosa para nós todas as tardes, entendiam que aquele laço entre mim e James tinha se partido, que nossos percursos tinham se separado e, talvez, nunca mais andassem de mãos dadas, como antigamente.


Era triste aquela situação. Eu não queria magoá-lo. James era o meu melhor amigo. Eu não tinha o direito de machucá-lo.


Olhei para ele: como todos os dias, continuamente, estava de barriga para baixo nas ripas de madeiras. Naquela noite, lia o livro pedido por nosso professor de literatura. Nunca entendera o fato de James sempre estar disposto a compreender e a acatar tudo à sua volta. Por ora, me repugnava. Era caótico, desnecessário, inútil.


- James? – chamei baixo. Minha voz não ecoou pela casinha de madeira.


Instintivamente, o garoto de olhos verdes cujo cabelo eu nunca o tinha aprovado cortar (só aparar), levantou o rosto das páginas que o absorvia.


- Fale, Lily – James disse, sem entonação alguma. Eu tinha certeza: ele, igualmente, também estava exausto de permanecer na Casa da Árvore. Estávamos dentro daquela caixa há mais de cinco horas, não era para qualquer um.


Antes, até passávamos as noites ali. Levávamos o colchão de ar de acampamento do meu pai lá para cima e o inflávamos; dormíamos lado a lado e dividíamos as cobertas. James nunca as roubava de mim, como minha mãe reclamava do meu pai. Mas, depois de dez anos, as coisas tinham mudado. Fazia meses que não mais acordávamos a centímetros um do outro e não o escutava dizer que “meus cabelos estavam uma bagunça”. James, por muitas vezes, sugerira a mim que repetíssemos as nossas Noites de Terror, mas eu não mais as estava aceitando. Não conseguia ter de sentir os pés gelados dele se encostando aos meus nem sua voz me desejando boa noite. De um modo débil, tudo aquilo – as nossas lembranças do antes – parecia desencaixado e desalinhado com o nosso amadurecimento. E eu nunca tinha sido o tipo de garota que esnobasse sensações novas. E, eu sabia, as sensações novas tinham me modificado um pouquinho e me afastado de algumas coisinhas. Por exemplo, do meu melhor amigo.


Mas eu não queria pensar acerca daquilo. Magoava- me, me corroia.


- Vamos para o boliche? – quis saber. Minhas costas reclamavam por estar há horas na mesma posição.


Domingo à noite era noite do boliche. Antigamente, íamos lá não apenas nos domingos; James adorava se gabar por ter vencido duas rodadas de mim. Embora nunca tivesse sido algo que me irritara, fazia alguns fins de semana que não o suportava dizer naquela voz rouca: “Tá vendo, Lily? Adivinhe quem venceu você! Eu!”.


Tudo estava errado, ridículo, incapacitado.


- Pensei que você não gostasse mais de ir para lá – ele comentou naquela voz queixosa e articulada.


Na verdade, eu tinha perdido o interesse em muitas coisas. Mas acho que James fingia não perceber.


- Agora gosto, de novo – dei de ombros, sem saber o que fazer – Vamos?


James parecia péssimo. Não que suas roupas estivessem sujas ou rotas; ele não gostava da sujeira. Tínhamos deixado de admirar melecas e lamaçais desde os dez anos. Entráramos em um acordo que criança esfiapada não era o que gostaríamos de nos tornar. Porém, o que estava definhando era sua alegria; aquela alegria-de-James que eu era apaixonada, que nunca tinha abandonado. Seu semblante não me comunicava sentimentos agora, olhava-me com indiferença esquisita. Nunca tinha sido bruto, até aquele ponto. Seus lábios andavam se contraindo há muito, não mais relaxavam.


- O que você quer afinal, Lily? – ele me indagou. Não precisei continuar encarando-o para ter percebido sua voz inflexível e irritadiça.


Não pude deixar de pensar naquela pergunta.


O que eu queria?


- Jogar boliche – respondi, fazendo-o murchar os ombros. Eu mesma não suportei essa resposta.


- Sua esquisita – James me xingou.


Mas, assim que o senti em cima de mim, naquele puff minúsculo, sabia que tudo estava bem. Tudo estava se camuflando bem.


- Ai, James – reclamei. Eu era reclamona, nem sabia como ele me agüentava.


- Por que você nunca sabe o que quer?


- Porque ainda estou crescendo – ele tinha se sentado à minha frente, no assoalho que gemia – E você também – dei um tapa em sua cabeça.


- Eu já cresci – ele se orgulhou, rindo.


- Quem é o esquisito, hm?


- Você. Você sempre foi mais esquisita do que eu, Lils – ele afundou um de seus dedos em minha bochecha.


Eu adorava quando ele fazia aquilo. Era tão doce. Tão diferente do modo como os garotos do colégio tratavam suas amigas.


- Vamos ou não? – cruzei os braços.


- Vamos – ele assentiu, mas seu dedo continuava pressionado em mim.


Minha pele ardeu, e eu o afastei de mim.


- Qual é o seu problema? – James voltou a se sentar no chão.


- Não sei – menti.


Eu odiava mentir para James.


Mas eu não sabia mais o que lhe dizer para escapar dele.


Aquela relação estava se tornando um martírio, uma farsa.


Não queria abrir mão do meu melhor amigo.


Então, antes de partirmos dali, comemos o sorvete de chocolate derretido de nossas tacinhas de plástico e limpamos o chão.


Tudo se tornara metódico, obrigatório e rápido.


Não me lembrava qual fora a última vez que o tinha beijado no rosto. Aqueles beijos do passado, julguei, já tinham deixado de me fazer feliz.


James tinha razão: eu era esquisita.  





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N/a: hey hey, meus leitores *-* eeeeu voltei, ha! Bom, mais ou menos. E, não, você não está tendo dejavu: esse epílogo realmente já foi postado um dia, mas na fic No One Like You. E esta fic foi cancelada. E agora eis que ela resurge das cinzas com um novo nome e com uma trama realmente existente. E que vai me dar inspirações e que não vai me fazer cancelá-la. 
Tudo o que quero é que vocês apreciem essa fic, como sempre. E prometo que assim que eu conseguir, eu posto o capítulo um. Sério, vocês NÃO sabem o que estou imaginando para essa fic. Vai ser dumal. Haha.  
#ps: quem quer aparecer nos "agradecimentos" levanta a mão e, por favor, faça uma capa para mim. Eu sou péssima nessas coisas :/

Nina H.


25/05/2011

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