Primeiros Passos



16. Primeiros passos


Num cômputo geral, Draco até achava que tinha se saído bem daquela situação toda. Os irmãos Shwon haviam se recuperado completamente após dois minutos com madame Pomfrey. E Dumbledore, aparentemente, havia se esquecido de aumentar sua punição.

Sim, poderia ter sido bem pior. Draco achava mais provável conseguir fazer amizade com um Meteoro Chinês do que se sair mais uma vez tão bem assim de um estuporamento dentro do colégio. Isso, infelizmente, estava longe de significar que a situação estava boa para ele - especialmente nos porões da Sonserina.

Nem mesmo o mais potente feitiço de memória conhecido teria sido capaz de fazer Freya se esquecer tão depressa que algum dia se considerara amiga dele; e ela estava adorando espalhar essa novidade para todo mundo. Siegfried não se mostrava tão efusivo em demonstrar sua opinião a respeito de Draco, talvez em virtude do estuporamento, mas era bastante claro que concordava com a irmã - assim como diversos outros alunos. E, embora estes não constituíssem, nem de longe, a maioria, eram em número bastante incômodo para Draco.

A maior parte dos estudantes da Sonserina não davam à história mais atenção do que à coluna de fofocas de Rita Skeeter no Profeta Diário (interessante, porém esquecido após três minutos de conversa), e existiam alguns deles que até mesmo simpatizavam e apoiavam a atitude de Malfoy - além, claro, daqueles que o respeitavam por ser quem era, apesar de tudo. Infelizmente, todos os que não eram seguidores dos irmãos Shwon se contentavam em demonstrá-lo simplesmente não tomando nenhuma atitude a favor deles; permanecendo completamente neutros. E isso, claro, fazia com que o grupo de Freya parecesse muito maior e mais incômodo do que realmete deveria ser.

Mas, ainda que eles chateassem Draco, havia uma coisa pior. Sempre havia. Nesse caso, tinha até nome: Pansy Parkinson. Não importava o quanto os Shwon não estivessem sendo legais com Draco, absolutamente nada poderia chateá-lo depois de Pansy e sua gangorra emocional histérica.

A menina continuava inconformada de ter sido "trocada" por Luna Lovegood, e atribuía toda a responsabilidade disso à Draco. Fosse outra garota, talvez a raiva de Pansy tivesse se canalizado para a "rival"... mas não era outra garota; era Luna - e, na mente de Pansy, isso queria dizer que a menina era carta fora do baralho. Ela tinha certeza que Luna não tinha capacidade para tirá-lo dela, assim como não poderia ter nada que ela não tivesse. Não, a culpa toda era de Draco, que era burro demais para perceber o quanto ela era essencial. E era por isso que ela estava sempre gritando com ele, alternando xingamentos raivosos que diziam que ela não precisava dele com outros aonde dizia que ele iria se arrepender, ou ainda alguns momentos aonde ela acenava com a possibilidade de estar disposta a voltar para ele e, sem obter qualquer tipo de retorno, voltar a berrar com Draco sobre como ele era tolo por tê-la deixado, enumerando suas qualidades e concluindo o quanto ele iria se arrepender por isso. E não havia nada que a fizesse parar.

Naquele exato momento, inclusive, a menina estava dando mais um desses espetáculos, deixando Malfoy bastante irritado. Por Merlim, ela não tinha amor próprio, nem senso de ridículo? Como raios havia enfiado na cabeça a idéia de que podia se considerar a futura namorada dele, com esse espírito?? Mas nem que fosse a última mulher da Terra.

Draco suspirou e olhou para o teto. Nunca havia se dado ao trabalho de responder à ela, mas recentemente adotara a tática de solenemente ignorá-la por completo, para ver se parava. Obviamente, um fracasso colossal. Ele estava quase se esquecendo que Pansy era uma garota e que provavelmente Dumbledore não seria tão clemente caso ele fosse levado até sua sala de novo quando Freya entrou e começou a tentar convencer a amiga a parar com aquela situação ridícula, porque obviamente Draco não merecia.

"Isso, por favor" pensava ele, "por Merlim, faça com que ela se cale antes que eu crie um feitiço que grude seus lábios para sempre". Embora a hostilidade dos Shwon e seus seguidores não se encaixasse exatamente naquilo que ele chamaria de "vida ideal", Draco não podia dizer que realmente se importava. Como recentemente descobrira, não fazia muita diferença tê-los ou não ao seu lado. Seria melhor que não o odiassem, claro, mas francamente, também seria melhor se o Potter não fosse tão irritante ou se os Weasley não estudassem ali, e nem por isso ele morria de desgosto. Não, aquilo eram apenas picadas em seus tornozelos. A histeria de Pansy sim seria capaz de fazê-lo se matar, e foi por isso que ele quase beijou Freya quando ela conseguiu arrancar a amiga dali. Bem, em pensamento, pois na realidade não moveu um músculo sequer.

"Grande Shwon, só espero que consiga convencê-la a se manter calada para SEMPRE" pensou ele, quando ficou completamente sozinho. Estava tudo silencioso, o que era especialmente prazeroso depois da tormenta Parkinson.

E lhe fazia brotarem pensamentos. Luna.

Depois que admitira que gostava dela, Draco não sabia ao certo como agir. Era uma coisa nova, completamente nova. O pequeno incidente no corredor deixara claro que ele estava muito disposto a não ignorar sumariamente aquele sentimento. Mas a questão era... o que fazer?

Se alguém, no começo do ano, tivesse dito que ele algum dia gostaria da Di-Lua, teria levado uma azaração monstruosa. Ele sabia. E aquele era todo o problema. Como não levara em conta essa hipótese absurda, simplesmente fora se relacionando com Luna de um jeito que, quando percebeu... estava gostando dela. Gostando mesmo, pra valer. Não era como com as outras garotas.

Com as outras (não que fossem tantas assim), Draco sempre se aproximava já com a idéia de estar com elas - e, obviamente, com a idéia de deixá-las logo em seguida. Com Luna, ele não havia se aproximado com este intento, o que acabou fazendo com que... simplesmente... fosse diferente. Ele havia aprendido a se importar com ela. Ele havia aprendido a querer tê-la consigo. Por alguma razão, alguma estranha razão. Não era só estar com ela. Era não querer nada além disso.

"Merlim, isso é ridículo", disse Draco para si mesmo, sabendo que seria em vão. Fosse como fosse, era fato dado. De alguma maneira, havia deixado aquilo acontecer. E o mais estranho era que não podia dizer exatamente que lamentava aquilo. Ele gostava de Luna. Ele estava apaixonado por Luna. E agora, o que iria fazer?

Era uma situação diferente, e alguma coisa lhe dizia que não adiantaria nada tentar o que quer que estivesse acostumado a fazer. Primeiro porque ela não estava nem aí para seu nome ou sua aparência. Segundo porque ele sabia que precisava fazer direito. Precisava porque ele se importaria, e se importaria muito, caso desse errado.

Nesse momento, Draco lembrou-se que Luna ainda poderia estar brava com ele - tudo bem, ele havia resgatado o livro dela, mas vai saber? E se ela considerasse isso como alguma daquelas coisas que ele desfaria logo em seguida? E ficou ainda mais tenso quando considerou a ridícula hipótese de que ela pudesse não querer o mesmo que ele.

Tudo bem, ele era Draco Malfoy! Mas ela era Luna Lovegood, e isso anulava o argumento anterior. Nunca se sabia o que esperar dela... e, por mais estranho que fosse, ela poderia realmente não querer. Ah, não. Aquilo não poderia estar acontecendo. Ser rejeitado por Luna Lovegood seria péssimo, mas pior ainda seria quando todo mundo soubesse...

O que fazer, o que fazer?? Como poderia... contar para Luna? Como poderia convencê-la a querer o mesmo que ele? Ele não podia. Pela primeira vez, ele percebeu que não podia. Suspirou. O máximo que ele poderia fazer seria tentar abrir algum espaço junto à ela e esperar que ela não quisesse perder isto. Um cálculo de incerteza. Poderia dar errado, ele sabia... mas, mesmo assim, Draco achou que valeria a pena tentar. Na pior das hipóteses, ele passaria algum tempo com ela. E, por mais que tentasse afirmar para si mesmo que ela era a Di-Lua Imprevisível Lovegood, a certeza de que ninguém era capaz de resistir à ele era uma voz bem mais alta, bem mais sonora.

Tudo bem. Ele iria mostrar do que um Malfoy era capaz, quando queria. Ninguém poderia resistir.

Pensou mais algum tempo no que poderia fazer, até que teve uma idéia. Não era assim tão fácil porque se tratava de Luna Lovegood. Quem adivinharia o que se poderia fazer para uma garota como ela, sem esforço? Logo ela, que conhecia teorias exóticas sobre praticamente tudo? Mas ele teve. É, ia dar certo. Tinha que dar.

No dia seguinte, infinitamente grato pelo silêncio de Pansy, Draco não foi diretamente para a sua casa após sair da biblioteca. Ao invés disso, se aventurou por corredores e partes do castelo que quase nunca percorria.

"Ok, acho que já passei por essa gárgula antes. Isso pode ser um problema", pensou Draco, olhando para a estátua. Para ele, todas elas tinham a mesma cara, mas tinha quase certeza que a torção da sobrancelha daquela era muito familiar.

"Tá bem, pra que lado vou agora??". Era complicado tentar refazer um caminho que só fizera uma vez, e completamente assustado, querendo que acabasse logo. Tinha certeza que não precisava andar tanto assim, mas não podia desistir. Mesmo porque, não fazia idéia de como voltar.

Mais algumas voltas à toa, e um irritado Draco acabou empregando muito mais força do que precisaria para abrir uma porta, resultando em uma entrada triunfal na cozinha, também conhecida como o mais espetacular tombo de todos os tempos. "Tudo bem, pelo menos cheguei...", pensou ele.

Uma porção de olhos se voltaram para ele, mas quando ele os encarou imediatamente desviaram-se para outras atividades. Elfos domésticos. Típico. Agora, a idéia já não lhe parecia assim tão grandiosa - quer dizer, como exatamente faria com que aqueles animais estúpidos fizessem o que ele precisava? Olhava em torno, tentando escolher um que parecesse menos imbecil, quando notou uma coisa estranha. Parecia uma pilha de trapos se mexendo. Trapos mal cortados, ainda por cima.

A pilha de panos estava atravessando a cozinha, e quando saiu detrás de mesas e fogões foi que Draco percebeu o que era aquilo: era Dobby, seu ex-elfo doméstico, libertado por Potter. Caminhando na cozinha com duas vezes seu peso em peças mal tricotadas. Bem, ao menos aquele Draco conhecia. Ia ser ele mesmo. Se aproximou.

- Dobby. - disse ele, com voz autoritária.

O elfo, que estava distraído, levou um susto tão grande que deixou cair toda a pilha de gorros que empunhava na cabeça, pulando para trás.

- M-Malfoy, g-garoto M-Malfoy! - disse ele. - O... o que q-quer aq-qui, c-com D-Dobby? D-Dobby não é mais da família Malfoy, Dobby agora é livre, trabalha em Hogwarts e recebe salário! - o elfo parecia repetir a si mesmo para tentar se convencer da veracidade das informações.

- Sim, que ótimo - disse ele, sarcástico - Dumbledore realmente é um cara genial. Imagine, pagar elfos domésticos, ainda mais um tão inútil e incapaz de obedecer ordens como vo...

- Dumbledore é o maior bruxo de todos os tempos! - disse Dobby. - e Dobby está muito feliz de trabalhar para ele ao invés de para sua estúpida família Malfoy! - concluiu ele, mas logo em seguida fez uma cara de absoluto horror e começou a bater com a cabeça no chão, ajoelhado. - Dobby mau, Dobby mau!!! Não pode ofender os senhores! Quer dizer... Dobby não é mais dos Malfoy, ele é livre agora, mas... mas... - dizia ele, batendo a cabeça sem parar. Pelo visto, era difícil mudar velhos hábitos. - Dobby não é dos Malfoy! Dobby pode falar mal deles! Pode parar de se castigar! Dobby não quer mais se ferir por isso, não quer, não quer, não quer... - ia dizendo ele, enquanto se mostrava incapaz de evitar.

Draco suspirou. Que criatura burra. Entretanto, percebendo que não conseguiria nada naquele ritomo, decidiu pará-lo. Segurou-o pela camisa enorme que usava e ergueu Dobby do chão.

- ESCUTE AQUI, SEU GRANDE IDIOTA, PARE COM ISSO. AGORA. OUÇA O QUE TENHO A DIZER E FAÇA. FIM DE CONVERSA.

- Dobby não quer, não quer, não quer ajudar o menino Malfoy! Dobby não vai ferir Harry Potter, nem prejudicá-lo da maneira que for! - guinchou a criatura, se debatendo.

- Ao contrário de você, tenho mais o que fazer da vida além de centrá-la no infeliz do Potter da cicatriz mágica. - disse ele, exasperado. - Preciso de outra coisa. Simples, ridiculamente simples, até mesmo você deve ser capaz de fazer.

Dobby olhou-o, desconfiado.

- E o que seria...?

- Conhece Luna Lovegood?

- Ah, a menina maluca! Completamente pirada, amiga da irmã do amigo do senhor Potter! -respondeu Dobby, sorrindo.

Draco soltou-o no chão, fazendo o elfo guinchar de dor com o impacto.

- Não fale assim dela, pedaço de escória - disse ele, enraivecido. - mas sim, vejo que a conhece. Muito bem. Sabe aonde ela senta?

- S-sim, Dobby s-sabe - respondeu ele, massageando a área dolorida.- Já a viu diversas vezes quando...

- Ótimo. - interrompeu-o Draco. - quero que faça uma coisa para ela. Amanhã.

- Dobby não vai machucar a meni...

- Não é nada disso! - gritou Draco, dando um tapa em Dobby. - quero que faça... café para ela.

- Mas os elfos sempre fazem as refeições de Hogwarts, meu senhor menino Malfoy... - disse Dobby, confuso.

- Sim, eu sei. Mas eu quero que faça uma coisa diferente para ela. Especial. - o elfo doméstico estava encarando Draco, curioso. - Dobby... - disse o menino, fazendo uma careta por pronunciar o nome dele - você sabe fazer... panquecas doces? Com calda de frutas, ou de chocolate? - concluiu ele, se sentindo meio bobo.

O elfo sabia, mas não parecia muito disposto a colaborar com Draco - ao mesmo tempo em que parecia se sentir obrigado a fazer tudo que ele pedisse. No final, o menino acabou dando ao elfo um lenço para que fizesse o serviço, apenas para poder ir logo embora da cozinha. Adoraria ter pedido a um outro serviçal, mas aparentemente eles não andavam tanto pelo pavimento superior e não poderiam saber quem era Luna. Amaldiçoou-se por nunca ter reparado aonde ela sentava. Era bom que aquilo valesse a pena. Descobriria na manhã seguinte.

Chegou bastante cedo à mesa, e não precisou de muito tempo para ver aonde Luna se sentava. Ficava perto das extremidades da mesa, ligeiramente isolada dos cantos mais animados. A menina estava escolhendo que tipo de pão comeria quando, de repente, um novo prato se materializou à sua frente, chamando a atenção de todos ao redor com o barulho. Era um prato bonito, com uma pilha de elegantes e arredondadas massas cor de areia, e junto delas havia uma porção de garrafinhas coloridas, cheias de líquidos vermelhos, azuis, cor de chocolate, cor de caramelo. Luna estava sorrindo, surpresa, incapaz de compreender o que estava acontecendo.

Draco sorriu. Esperava que fossem gostosas como pareciam. E, no exato momento em que pensou nisso, um prato similar, mas bem menor, se materializou à sua frente. "Ah, não!", pensou Draco. Ele sabia o que era aquilo. Haviam sobrado algumas da receita que Dobby fizera, e ele tinha resolvido mandar para Malfoy ver se aprovava. "Eu vou matar aquele bicho", pensou ele, enquanto todos olhavam para seu prato e Pansy começava a berrar, apesar dos olhares de Freya, sobre qual era o sentido daquele prato combinandinho com o da Di-Lua. Quando ela se calou, todos já haviam ouvido. O grupinho de Shwon começou a sussurrar maldosamente, para evitar chamar a atenção dos professores. Malfoy queria morrer. Pegou as panquecas e levantou-se dali. Precisava ir embora. Não queria ficar ali.

Procurava um outro lugar livre na mesa da Sonserina quando olhou de relance para Luna. Ela estava sorrindo para ele, parecendo imensamente feliz e completamente alheia ao desastre que acontecera. Acenou, convidando-o para sentar-se com ela. Draco estancou. O que deveria fazer? Olhou para a mesa da Sonserina. Olhou para a mesa da Corvinal. "Ora, que se dane", pensou ele. Se iam falar de qualquer jeito, ao menos ele lhes daria algum motivo. Sentou-se de frente para Luna, no canto esquecido da mesa da Corvinal, e sufocou um sorriso quando viu Pansy sair correndo da mesa, seguida de perto por Freya Shwon.

- Ahn, bom dia. - disse ele, sem saber ao certo o que dizer. "Pff, patético, Draco. Quando foi que você ficou assim?"

- Bom dia, Draco - respondeu Luna, sorrindo. - E muito obrigada por ter me ajudado com o livro da minha mãe... ele é tão importante pra mim, sabe? Espero que tenha dado tudo certo com o diretor... mas deve ter dado, ele é um homem muito bom, eu sei que é, acredite em mim!! Ele é.

- Ahn... - Draco não sabia o que dizer. Desviou o olhar para a mesa, à procura de alguma coisa para comentar. - Lovegood! Você não vai... comer as panquecas? - perguntou ele, notando que estavam intactas.

- Oh, não sei se devo... - disse ela - quer dizer, elas se materializaram de repente, e só pra mim, pode ser alguma brincadeira, e estarem enfeitiçadas, sabe...

- Eu ganhei também. - lembrou-a Draco.

- Sim, sim... - disse Luna, pensativa. - mas mesmo assim... pode ser uma piada dupla, sabe...

- Lovegood, não tem nada de errado com as panquecas. Coma. Acredite em mim.

Luna olhou para Draco. Abriu um sorrisinho tímido, escolheu um dos vidros coloridos e derramou em cima da pilha de massas.

- Nossa, Draco, isso aqui é muito, muito bom! Você deveria experimentar! - dizia ela, feliz.

- Já experimento. - disse ele, sorrindo. Luna havia manchado a bochecha com um bocado de calda. Parecia uma criancinha comendo. Feliz por algo tão simplesinho. Sentiu-se satisfeito. Pegou o guardanapo e se aproximou do rosto da menina.

- Calma, Luna, deixa eu tirar uma coisinha de você, sua desastrada - disse ele, limpando-a. E, daquela vez, ela não ligou de ser chamada pelo primeiro nome.

Draco experimentou suas panquecas. Realmente, Dobby era bom naquilo. Valera aquele lenço. Foi o café da manhã mais divertido de que ele podia se lembrar em muito, muito tempo.

Se Luna estivera chateada com ele antes, parecia disposta a esquecer agora. Quer dizer, ele tinha... tinha reconhecido que se importava com ela na frente da escola toda. Duas vezes, contando agora que estava ali com ela, na mesa de café, pra todo mundo ver. Ela podia dar uma outra chance a ele, não podia? Mesmo porque... ela gostava de estar com Draco. Foi uma refeição um pouco demorada.

- Qual era o número desta? - perguntou Draco, ao final dela.

- Como? - Luna não estava entendendo.

- Esta. Panquecas Doces no café. Vamos lá, que número era? Ou não conta?

- Era... setenta e oito... - disse ela, parecendo completamente surpresa. - Oh, meu Deus...

- O que foi, Lovegood?

- Nada. Nada - disse ela, sorrindo. Levantou-se da mesa e foi para trás de Draco, dando-lhe um abraço. - Obrigada, Draco, obrigada... você... você se lembrou... você... obrigada... - percebia, de repente, que não havia outra explicação senão aquela. Ele havia feito, de alguma forma, aquilo para ela. Só para ela.

- Não me agradeça. Quero que faça algo em troca. - disse ele.

Luna soltou-o. Observava Malfoy estranhamente. Teria errado?

- Bem... claro, eu suponho...

- Sábado à tarde. Sem aulas. Quero que encontre comigo perto do lago.

Luna concordou. Afastou-se, intrigada. Não sabia o que pensar. Não sabia se aquilo era bom. Não sabia mesmo.

No sábado, Malfoy terminou bem depressa a rotina da detenção com a professora Sprout e convenientemente "esqueceu-se" de avisar Filch disto. Foi se encontrar com Luna. Ela estava com a mesma saia xadrez e pullôver de sempre, mas felizmente estava sem nenhum chapéu.

- Lovegood. - disse ele, aproximando-se dela. - Venha comigo.

Puxou-a delicadamente pela mão. Era bom sentir que sabia o que fazer, que estava no comando. Mas não pensava tanto em se daria certo ou não, na verdade. Esse pensamento estava sufocado por um outro, que queria simplesmente vê-la sorrindo como fizera diante do prato de panquecas com calda.

- Draco, aonde nós...

- Você vai ver.

Se aproximaram do alojamento esportivo.

- Draco...?

- Eu era apanhador deste time, até Dumbledore me proibir de praticar. Meu pai comprou vassouras para o time todo. O mínimo que eu receberia era uma chave do vestiário do meu próprio time.

- Não sabia que a Sonserina guardava as coisas aqui...

- Tudo bem, é o depósito de equipamentos antigos. Mas, mesmo assim, eu tenho a chave. - ele abriu uma porta que rangia. - Bem vinda ao mundo do quadribol!

Enquanto Luna observava as coisas, Draco remexeu em alguns armários, até encontrar o que queria.

- Aqui está! - disse ele, voltando com um bastão e uma caixa que se remexia sob o braço.

- Draco, o que...

- Você não queria aprender a rebater um balaço? - perguntou ele, simplesmente. - Garanto que nem mesmo a Hooch seria melhos instrutora do que eu.

- Draco, eu agradeço, mas é que... bem...

- O que foi?

- Eu acho que não vai dar certo... você sabe, eu... ahn... não sei voar.

- VOCÊ O QUÊ?

- É verdade - disse ela, envergonhada. - Não sou muito boa com a vassoura. Passei raspando no primeiro ano, e mesmo assim não foi muito estiloso. Você sabe, fiquei apavorada e não queria soltar o cabo da vassoura - nem mesmo depois que acabou a prova... nem saberia voar e segurar um bastão ao mesmo tempo e...

- Lovegood, você é uma desonra. Como pode se considerar bruxa, se não sabe voar? Hora de aprender. - disse ele, procurando vassouras.

- Draco, você... você não precisa fazer essas coisas. Eu nem sei por que você faria isso...

- Talvez saiba. - respondeu ele, simplesmente, deixando Luna calada.

Draco encontrou as vassouras antigas, e agradeceu muito que a menina não quisesse apanhar o pomo. Luna realmente não havia exagerado quanto ao seu pavor de vassouras, conforme ele pode constatar. Ela estava flutuando, imóvel, a meio metro do chão, e Luna já a segurava como se sua vida dependesse disso, com uma expressão aterrorizada.

- Luna, a vassoura nem está se mexendo. Não precisa fazer essa cara.

- Eu vou cair! Ela vai me derrubar!!!! Eu sei que vai!!!!! Ela me odeia!!!!!!

Draco suspirou. Sentou-se atrás dela.

- Está bem, Lovegood, estou segurando você. Ela não vai te derrubar, vê?

Luna soltou uma das mãos, timidamente, para logo em seguida apertar o cabo com o dobro da força.

- Não. Não vejo nada. Ela me odeia.

Draco segurou os braços de Luna e a fez soltar da vassoura. Ela parecia apavorada.

- Luna, quer se acalmar? Vê, você está segura. Não vai cair. Suas pernas impedirão.

Começou a subir a vassoura, lentamente. A menina estava apavorada. Mas, aos poucos, pareceu se acostumar com a sensação. E finalmente pareceu acreditar nele. Pelo menos até que ele sugeriu colocar a vassoura em movimento. Foi uma discussão épica, até que Luna agarrou firme o cabo da vassoura e fez com que se mexesse. Draco precisou de muita, muita paciência para convencê-la a soltar o cabo, aos poucos, mas não ficou totalmente infeliz. Era engraçado ver as reações de Luna, mas também era bom estar ali junto com ela.

Algum tempo depois, ela já conseguia até mesmo imprimir uma velocidade razoável e fazer curvas mais ou menos perigosas.

- Certo, Lovegood, hora de descer.

- DESCER? -perguntou ela.

E foi então que Draco percebeu que ela não sabia pousar. Ai.

Luna virou a vassoura para baixo, estava indo bem, até... mas ela não soube a hora certa de parar, e terminaram os dois rolando pelo chão.

- Meu Deus, Luna, uma velhota trouxa seria capaz de fazer isto melhor do que você!! - disse Draco, enquanto se levantava. Mas não estava irritado. Estava rindo.

- Draco, me desculpe - disse ela, arrumando a saia. - Machucou...?

- O que, isto? - disse ele, passando a mão em um corte que aparecera no rosto. - Não é nada. Eu era apanhador. Você só precisava saber melhor quando parar.

- Vou tentar de novo, juro.

E ela tentou. E conseguiu. Após uma dúzia de tentativas e cinco atropelamentos por cima de Draco.

E então Malfoy achou que já dava para tentar com os balaços. Luna não era uma exímia voadora, mas as bolas eram velhas, não estavam tão velozes. E ele soltaria apenas uma.

Foi uma maneira divertida de passar a tarde, e Luna conseguiu rebater o balaço.

Era final de tarde quando estavam voltando ao castelo. Luna sentiu-se um pouco tonta e então, de repente... desmaiou no chão. Draco não conseguia acordá-la e, tremendamente assustado, carregou-a até a enfermaria. Ficou surpreso em ver a professora Guinevere ali.

- Oh, Merlim!!!! LUNA! - berrou ela, quando a viu. Tomou-a bruscamente dos braços de Draco e desapareceu.

Draco seguiu-a.

- Você não pode entrar aqui - disse-lhe madame Pomfrey, enquanto o impedia de prosseguir,

- Então espero até poder entrar. - respondeu ele, sentando-se no chão.

A medibruxa deixou-o sozinho. Muito tempo depois, percebendo que ainda estava ali, resignou-se e disse que ele podia entrar. Guinevere não gostou muito daquilo, mas foi obrigada a ceder.

Ele entrou. A enfermaria estava quase vazia. Ficou em pé ao lado da cama de Luna. Ela estava acordada.

- Draco... eu... desculpe, acho que me cansei demais, você sabe, pra quem não está acostumada...

Ele tomou a mão dela.

- Grande, Lovegood. Assim mesmo. - desviou o olhar para o chão. - Eu... que bom que acordou. Mesmo.

- Que bom que... veio me ver. - disse ela. E, quando ela disse aquilo, Draco percebeu alguma coisa. No tom de voz? Nos olhos dela talvez. Era o que ele via em si mesmo. Ela também queria. Talvez quisesse até antes, mas não soubesse... mas agora, agora ela sabia. Assim como ele. Havia descoberto.

- Luna. - disse ele. - Você gosta de mim, não é? - perguntou ele, sentindo-se satisfeito e vitorioso.

Ela ficou vermelha. "Merlim, o que é isto?" pensou ela. Mas... podia ser verdade, não podia? Ela sabia que podia. Gostava de estar com ele. A única coisa que talvez tivesse refreado aquele sentimento havia sido o jeito como Draco agia. Um jeito que ele havia mudado. Mas ela queria, por acaso... deixar aquilo transparecer? E se ele a magoasse de novo? E se ele não a magoasse? E se...

- ... não é? - insistiu Draco.

- Bem, eu, ahn... não... não sei, sabe, é que...

Draco olhou para ela. De repente, percebeu que entendia aquela garotinha mais do que imaginava.

- Gosta, Lovegood. Eu sei que gosta. Todas gostam, mas além dessa obviedade, eu consigo ver que você gosta de mim. Ficou feliz enquanto aprendia a voar de vassoura. Eu vi o jeito com que me olhava lá de cima. Quase foi atingida pelo balaço! Você gosta de mim, Luna, mas está com medo. Está morrendo de medo. Morrendo de medo de não poder se esconder disso debaixo do seu chapéu, ou atrás do seu telescópio, ou atrás do Pasquim. Passa tanto tempo sem ninguém por perto que está com medo, morrendo de medo de admitir que quer que alguém se aproxime. De deixar que alguém se aproxime mais do que isso. Você está com medo do vir-a-ser, Lovegood. Você sabe, mas quer negar. Fraca.

Draco saiu da enfermaria, deixando-a só com seus pensamentos.

Luna olhou para o lençol da cama. Envergonhada. Ela sabia que era verdade.














_________________________________________________________________________
Nota da autora: Olha, olha, finalmente saiu o capítulo dezesseeeeeeeiisss!

Yay!

Espero que tanto tempo sem escrever não tenham feito com que eu perdesse o jeito, hum... que mais...?

Eu pensei que o capítulo ia ficar bem maior, mas até que achei ele grandinho pros meus padrões!

Em teoria, nesse daqui ia ter só o lance das panquecas e parar ali no "sábado à tarde, perto do lago". O lance com o balaço ia ser o capítulo 17. Mas aí eu achei que não ia precisar de tantos detalhes assim e juntei tudo em um só...

Tomara que não achem que o Draco ficou gracinha demais, mas... ai, que foooofooooo! Eu achei tããããããããããooo bonitinho esse cap!!! ^^!!!!! Sei lá, eu acho que... que ele faria isso... quer dizer, ele se convenceu que gosta da Luna e queria convencê-la a dar uma chance... eu acho que ele até faria...!

Espero que ele não tenha parecido o senhor gentleman, mesmo assim... pra mim, até que ficou um super legal ato principesco à la Malfoy - mas eu sou uma autora coruja e suspeita, nééé?


Hm, que mais...

Achei que esse capítulo ia ficar diferente do que ficou, mas eu gostei dele assim mesmo ^___^ ...


E a Pansy completamente histérica e de mentalidade limitada e fútil, completamente diferente das outras fics, surgiu simplesmente porque eu não queria que ela atrapalhasse demais o romance Luna/Draco, mas sabe que eu acabei gostando dela assim? Ahahahahahaah! A parte mais fria e perversa que costumo imaginar nela, eu dei pra Freya... bom, espero que não liguem pra essa licença poética.

Aiai.

O cap. 17 não vai demorar tanto quanto o 16, eu PROMETO!

Aliás, pra quem perdeu aviso, resumo da ópera: choveu, caiu um raio, arrebentou meu pc. Este que estou usando é um velho, lerdo e sem memória que eu gambiarrei porque era melhor que nada. Por isso que demorei pra atualizar, agradeço a paciência ^^"""" ...

E eu acabei de saber que o pc bom não tem conserto, tem que comprar outro... Putz... lá se vai o presente de Natal... ah, tudo bem vai.

Já me emploguei demais com esta N/A, então vamos logo...



Um agradecimento imenso, junto com todos os beijos do mundo, para aquelas que são as mosqueteiras-donas-honorárias da minha fanfic, a Mari, a Eve(lin), a Nath (Fênix Negra) e a Lourena ^-^ . Obrigada por acompanharem, pela paciência, pelas opiniões, por tudo! A fic também é de vocês porque, claro, ela não seria a mesma coisa sem a participação de vocês, lindas. Logo, é nossa, né! XD Espero que tenham gostado desse cap!

Qualquer crítica será bem vinda =) .



Para o Douglas e o J. M. Flamel, os primeiros rapazes que visitam a minha fanfic, ficam também outros imensos agradecimentos. Vocês nem sabem o quanto eu fiquei feliz com as opiniões de vocês!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Muito, muito mesmo!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Eu demorei para atualizar, mas... espero que vocês tenham voltado, lido o cap. 16 e gostado!


E, de verdade, obrigada pelo carinho!!!!!!!!!!!!!! Sério, fiquei emocionada. Pra valer.


Essa fic é meu xodó, e fico feliz de ver que tem mais gente que gosta dela... obrigada, de verdade!


Aos leitores voyeurs também.







Ohn, espero que tenham gostado do cap. tanto quanto eu, e que não abandonem a fanficzinha... por favor! =****

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