Uma brincadeira perigosa



1. Uma brincadeira perigosa


Draco não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Simplesmente não podia. Sentado ali, esperando o veredicto final, suava frio e tentava, em vão, captar alguma coisa da conversa que Dumbledore estava tendo com a professora Sprout e Madame Pomfrey.

Ainda estava meio tonto, sem poder acreditar direito no que acontecera. Não, ele nunca havia planejado que aquilo acontecesse. Não ser pego, pelo menos.

Tudo começara com aquele sangue-ruim da Lufa-Lufa. Era um aluno que entrara naquele ano, e que possuía algum tipo de admiração secreta e incompreensível por Salazar Slytherin. Vivia revoltado com sua casa e querendo se aproximar de sonserinos. O pequeno Ewan fazia de tudo para tentar comer com sonserinos, ter aula com eles, usar um cachecol verde. Gostava de alardear para todo mundo o quanto odiava todas as casas exceto a Sonserina, de quem se considerava membro honorário e dela afastado por um estúpido chapéu seletor. "Como se ele pudesse ser daqui, o pequeno sangue-ruim sujo", pensou Draco. Provavelmente o chapéu o colocara na Lufa-Lufa porque Helga fora burra o bastante para aceitar qualquer um, e mais ninguém haveria de querer aquele menino, sangue-ruim impuro demais para ser da nobre casa de Slytherin e inconveniente e burro demais para ser aceito em qualquer outra.

Contudo, naquele pequeno garoto, Malfoy viu uma oportunidade e tanto de se divertir e, de quebra, atormentar outro de seus desafetos. Os dois eram indignos de estar em Hogwarts, afinal. E fora por isso que o loiro se aproximara do pequeno Ewan e lhe sugerira uma prova de coragem. "Você sabe, para poder se unir ao nosso grupinho", disse ao garoto.

Ewan ficou assombrado. Draco Malfoy, MALFOY, estava falando com ele? Ele estava dizendo que ele tinha potencial? Ele poderia ser amigo não apenas de sonserinos, mas do líder da Sonserina? Ewan faria qualquer coisa por isso. Qualquer coisa.

Durante a primeira partida de Quadribol do semestre, Corvinal contra Lufa-Lufa, o menino escapou da torcida (ele esperava sinceramente que um raio destruísse o pomo e as duas casas perdessem) e foi se encontrar com Draco. Ele já estava lá, aguardando, sozinho (Crabe e Goyle haviam comido alguma coisa enfeitiçada no café, "aqueles imbecis", bufou Draco) . A tarefa que propôs ao garoto era bastante simples: invadir a casa de Hagrid, bagunçar algumas coisas, e deixar um recado dizendo: "MESTIÇO INCOMPETENTE, VOCÊ FEDE COMO TRASEIRO DE DRAGÃO".

Draco se divertia só de imaginar a cara de Ewan quando ele trancasse a porta com um feitiço e fosse embora. O desespero de não conseguir sair, e muito provavelmente sem entender a razão. Seria pego e, do jeito que o menino era revoltado, não conquistaria muita simpatia do meio-gigante. Seria engraçado. Ele receberia uma detenção, no mínimo, e seria merecida. A única coisa pior do que um sangue-ruim era um sangue-ruim que queria se considerar digno da Sonserina, na concepção de Draco. E assim, quem sabe, ele parasse de atormentar os nobres colegas de sua casa. Francamente, Lufa-Lufa... ainda se ele fosse da Grifinória, poderia dar um bom espião. Mas daquela casa inútil, Ewan não era mais que um estorvo.

Draco riu interiormente. Nem precisara de maldição Imperius. O que poderiam dizer contra ele, caso Ewan contasse? (coisa que ele, particularmente, duvidava que faria, pois arruinaria suas pretensões sonserinas). Ele entrara ali por conta e risco. Uma diversão perfeita. Draco tencionava trancar as saídas e ir embora assim que o menino entrasse, mas houvera um probleminha. Um probleminha peludo. Quando Ewan entrou, Canino aproveitou a porta aberta e saiu em desabalada carreira para cima de Malfoy. O loiro tentou estuporá-lo, por puro reflexo, mas o feitiço não saiu bem como o esperado, e acabou atingindo Ewan. Com a queda, o garoto esbarrara em alguma coisa e derrubara uma caixa no chão. Ela se partiu ao atingir ao solo e, o que quer que ela contivesse, parecia deixar explosivins bastante meigos, pois seguiu-se um estrondoso barulho e algum líquido estranho e viscoso voou por toda parte.

Draco olhou para Ewan, horrorizado. Ele estava cortado, sangrando e bastante disforme. Onde o líquido atingira as vestes de Malfoy, esta se esburacara... ele não queria nem pensar no que teria acontecido ao outro menino, bem no cerne da coisa. Tentou sair correndo, mas algum tipo de tentáculo se enroscara em sua perna - era parte daquele que deveria ser o novo amigo de Hagrid. Draco tentava se desvencilhar, em vão, de maneira febril. Ele tinha que ir embora dali, ele tinha! E saber daquilo não o estava ajudando, ao contrário, parecia atrapalhá-lo ainda mais.

Por sorte, ou talvez azar, o barulho fora aparentemente muito alto, pois logo Hagrid havia chegado ali. Havia conseguido separar o tentáculo de sua perna, o que era bom. E havia levado Ewan correndo para a enfermaria, o que também era bom. Mas havia levado Draco pela orelha para o professor Dumbledore, o que era qualquer coisa, menos bom.

Por fim, foi chamado.

- Draco, poderia entrar, por favor?

Respirou fundo. Entrou. Estava sozinho e dez vezes mais nervoso do que quando explicara o que aconteceu. Não havia mentido, estava em choque demais para conseguir elaborar alguma coisa que parecesse minimamente com uma história real. Quando em sua mente passou a idéia de que um hipogrifo desembestado empurrara Ewan para cima da caixa, achou melhor ser sincero antes que lhe metessem veritaserum goela abaixo.

- Draco, queremos que saiba que sua pequena brincadeirinha deixou Ewan seriamente avariado. Tivemos que transferí-lo para o St. Mungus, às pressas.

- Mas eu não...

- Não me interrompa, por favor. Aquele animal-planta de guarda que foi derrubado em cima dele tem o temperamento bastante hostil, especialmente quando o despertam atirando-o com brutalidade ao chão. Ewan vai ficar bem, mas terá de ficar pelo menos seis meses recebendo medicação constante - o que, obviamente, não seria possível aqui. Conversaremos com seus pais para o custeio do tratamento de Ewan, claro. Posso entender que foi um acidente tê-lo estuporado, mas não foi um acidente induzí-lo a entrar na casa de Hagrid. Pensamos em baní-lo, claro, mas decidimos não ser tão drásticos, uma vez que o menino vai ficar bem. Contudo, você precisa pagar e repensar suas atitudes. Está proibido de ir a Hogsmeade este semestre. Está proibido de jogar quadribol. Você fará detenções todos os finais de semana, o ano todo, com a professora Sprout. E ajudará a ajeitar a bagunça que arrumou na casa de Hagrid.

Draco suspirou. Não era bom, mas era bem menos ruim do que esperaria. Mas Dumbledore continuou.

- E, além disso, você fará trabalho voluntário em Hogwarts. O ano todo. Mandaremos as listas com seus deveres adicionais para você mais tarde. E não se esqueça que visitará o Ewan no Hospital uma vez por mês, para lhe pedir desculpas. Isso é tudo, e você já pode ir para seu dormitório. Mas lembre-se de não acordar muito tarde.

Draco saiu, mudo. Não encontrara palavras para protestar. Mas seu olhar refletia uma imensa raiva. Nem poderia imaginar a alegria de Potter ao vê-lo afastado do quadribol. Pior ainda quando o visse realizando "trabalho voluntário". Ridículo, serviço de elfos domésticos sendo destinados a ele, a ELE? Tão nobre quanto era? Puááá.

Não parecia que haveria muito tempo livre para ele, entre suas aulas e aquele monte de tarefas adicionais. Mas pelo menos não fora expulso. Poderia ter se saído pior.

O que não parecia consolá-lo tanto quanto deveria. Aquele estúpido Ewan Lacrimossa. Tudo culpa dele. Bem, pelo menos ele fora punido, disso Draco tinha certeza. Suspirou ao cair na cama. Aquele ano seria bastante diferente de tudo que já vivera, podia apostar.

Mas, ao fechar os olhos, ele não tinha idéia do quanto. Não tinha mesmo.





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NOTA DA AUTORA:Draco e Luna é um shipper pouco famoso e pouco explorado. Eu pessoalmente sou Draco/Gina até morrer, mas a personalidade da ruivinha não ia combinar com esta história, então pus ele com a Luna.

Espero que gostem, dêem uma chance para o shipper e tentem se envolver com a história sem preconceito! =)

Não demorarei para atualizar...!! Beijinho.

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