- capítulo três -



Capítulo Três
Ou
There’s Something About The Sunshine, Baby


- Lily Evans -


- Vai me ajudar, ou não? – Lily perguntou, irritada.


Por que Emmeline tinha síndrome de princesinha mesmo odiando o fardo de princesinha? Argh!


- Espera, quero falar com Sirius – a loura disse, com o celular vermelho na mão, concentrada.


- Não pode fazer isso depois do almoço? – a outra retrucou – Você sabe que o almoço é o período que mais a secretaria fica cheia por causa da Barbie Girl.


Emmeline esbarrou em alguém, acidentalmente.


- Tá, só um minuto, okay? – ela disse, tentando escutar o celular de Sirius chamando; era difícil, considerando o burburinho habitual do corredor.


Lily rolou os olhos mais do que irritada. Emmeline tinha que parar de bancar a babá de Sirius Black. Será que a garota não entendia que o cara já tinha idade suficiente para cuidar de si mesmo?


- Six? – Emmeline perguntou, com uma voz animadinha.


- Ai, Cristo, se me der licença vou ali vomitar e só voltar quando essa melação acabar, tudo bem? – Lily comunicou, ríspida.


- Shh, sua louca – Emmy sussurrou e lançou um olhar ferino à amiga; dirigindo-se ao telefone, perguntou: - Está melhor? Os pontos ficaram muito feios?


- Venha, enquanto você fala, pode andar – Lily puxou com força o braço de Emmeline, que andando um pouco mais depressa, não prestava muita atenção para onde estava sendo guiada.


Chegar até o refeitório era uma longa e infernal caminhada. Os corredores ficavam lotados, mal parecia que chegariam a devorar seus almoços antes do horário das aulas recomeçarem. E a caminhada até à secretaria, ainda que mais folgada, também era insana. Garotos e mais garotos rindo e comentando sobre o fim de semana tentando ganhar um oi de Donna, a Barbie de Malibu. Era estressante. Lily sabia que tinha motivos de sobra para convencer a mãe a estudar em casa, ainda que as condições financeiras da família não fossem tão boas. Provavelmente Dorcas Meadowes e Marlene Mckinnon faziam mais o tipo “Meninas da Elite” da escola, por mais que não fossem do tipo Blair Waldorf.


- Não, tudo bem. Claro que sim. À noite passo aí – Emmy sorria boba como sempre. Ela era um caos apaixonada – Beijo. Eu amo você. Não esqueça de descansar – ela finalizou. Olhou para Lily, que a encarava com ar de nojo – O quê? Ele é meu namorado, oras! Se está com inveja arrume um também.


- Eu, com inveja? – Lily gargalhou – Caia na real, Emmy. Até parece que quero um namorado.


- Ah, é? Então me diga por que estamos indo até a secretaria chegar as folhas de estudantes? – Emmeline fez suas sobrancelhas saltarem, sugestivas.


- Eu não disse que quero namorar o James Potter – Lily a contradisse, aborrecida, revirando os olhos verdes.


- Imagina – Emmeline a atacou com sarcasmo na voz.


- Vai me ajudar ou vai ficar bancando a criança de seis anos? – Lily questionou.


- Eu estou ajudando você – Emmeline confirmou.


- Não parece – retrucou a outra, agora caminhando com bem mais folga, pois já tinham passado das portas de carvalho do refeitório.


Chegar à secretaria foi mais fácil, ainda que tivessem que agüentar as conversas estúpidas dos meninos irritantes que passavam por elas. Era sempre “Mas você a pegou mesmo? Não acredito!”. Lily reclamava do machismo abundante na sociedade, mas Emmeline não parecia se importar, uma vez que se enquadrava no tipo de sociedade esdrúxula que viviam. Ela estava acostumada a ser chamada de nomes pejorativos e até mesmo imundos. Tirando Sirius, seu namorado (que a tratava de uma maneira não tão ruim assim, mas também não do tipo Princesinha do Papai), todos os outros meninos tinham algum tipo de problema em relação a fazer as mulheres felizes e isso a deixava contente. Talvez o pedido de noivado estivesse tão perto quanto seu sonho de ser estilista (que estava mesmo muito perto, considerando as horas que passava na loja roupas de sua mãe).


- Oi, Danna – Lily cumprimentou a secretária – Posso ver a lista de alunos do último ano?


- À disposição – Danna respondeu de olho em seus e-mails.


Lily folhou a enorme e pesada pasta de couro: todas as matrículas e os nomes correspondentes eram armazenados ali. Identificar James Potter seria mais fácil do que tirar dez em Política, para Lily.


- Potter... Potter... Potter – Lily sussurrou enquanto deslizava o dedo indicador pelos nomes das listas.


Demorou. Achar um maldito nome em meio a cinco turmas compostas por mais de cinqüenta alunos não foi tão fácil quanto Lily Evans imaginara. Mas lá estava: James Potter, 234 (bem como Emmeline tinha lhe dito mais cedo).


Os olhos de Lily brilharam tanto quanto uma estrela cadente.


Ele estudava ali.


Por isso uma escola tão grande não deixava os alunos fazerem laços de amizade tão profundos. Como conhecer todos se você não conhece nem mesmo metade de sua própria turma?


- Ai, meu Deus – Lily suspirou, extasiada – É ele, olhe – virou o caderno para Emmeline observar a foto 3X4 do garoto.


- Uaau, esse cara é quente – Emmeline riu – Agora vejo porque está tão desesperada atrás dele. E acho mesmo, mesmo, mesmo que você não pode deixá-lo escapar.


- Será que ele vai à festa da Mckinnon? – Lily perguntou, ansiosa.


- É um bom lugar para vocês se encontrarem casualmente, não? – Emmeline voltou a rir.


- Emmeline, você é uma gênia, garota! – Lily apertou as bochechas rosadas da loura.


x.x.x


- Marlene Mckinnon -


Marlene Mckinnon, apesar de ser uma cheerleader e desejar ser uma menina popular, não era aquela menina vestida com saia plissada combinando com o sapatinho de princesa. Na verdade, ela achava que até mesmo odiava as meninas de saias plissadas com os sapatinhos fofos, mais por pura inveja, realmente. Não era como se ela mesma não pudesse se vestir de tal maneira; sua mãe lhe dava o que queria, era apenas pedir. Mas Marlene sabia que aquilo era muito. Ela teria de desistir das boinas coloridas repetidas e da velha bolsa surrada que tanto amava. Ela sabia, ainda mais, que não suportaria sobreviver como popular, seria esmagada como uma mosca irritante. E, tendo em vista quem comandava o colégio, seria fácil demais.


Nem mesmo Emmeline Vance, que seria uma ótima concorrente de Cassandra Mistriani, queria ser popular. Ela fazia apenas o tipo, mas não estava ligando para aquilo. Talvez porque seu namoro com Sirius Black já fosse exposição demais.


Tendo isso em mente – que não poderia ser nenhum pouco popular -, riu assim que identificou o garoto ruivo sorrindo para ela. A fila rápida estava mais lenta que o costume, talvez fosse por isso que notara que a evidência número um estava prestes a ser revelada.


- Oi, Marlene – Gilbert Reedy disse, ainda sorrindo – Soube o que a Dorcas fez com o Black?


Marlene retribuiu o sorriso. Aquele sorriso era aquecedor.


- Como não saber? Parece que isso daqui é Gossip Girl – ela riu.


- O Stewart filmou e vai colocar no Youtube – ele disse.


- Acho que Dorcas não vai gostar muito disso.


- Ha, está brincando? Desde quando Docas Meadowes não gosta de atenção? – Gilbert riu, distraído – Bom, vou indo – ele se inclinou e beijou a bochecha de Marlene, pegando-a desprevenida – O Clube de Artes me espera.


Marlene ficou parada, trancando a fila, apenas olhando Gilbert se afastar dela. Gilbert Reedy tinha beijado uma garota na bochecha no meio do refeitório?


De onde saiu tanta... hm, graciosidade?


Suspeito Número Um: Gilbert Reedy


Provas coletadas:


1. Uma proximidade repentina com a vítima. Gilbert Reedy nunca foi tão próximo assim dela.


Sustentação da Defesa:


1. É melhor amigo de sua melhor amiga e provavelmente saberia que estaria muito ferrado caso estivesse tentando se envolver emocionalmente com a vítima.


- Ei, você vai pegar as batatinhas ou não? – uma garota baixinha, mas com modos repulsivos lhe perguntou, fazendo Marlene repentinamente se lembrar onde estava. Escola, refeitório. Ah!


Marlene sorriu tímida e saiu da fila.


Será mesmo que Gilbert Reedy teria tanta audácia assim de lhe mandar bilhetinhos de amor? Não, caramba, ele era apenas o garoto ruivo importunado por Sirius Black! Mas, bem, isso não significava que ele não tinha sentimentos, certo? Porque, até onde Marlene sabia, ele até que era a favor de demonstrações (secretas) de afeto, e Dorcas era a prova viva daquilo.


Marlene puxou o segundo bilhetinho do bolso da calça jeans.


Não tenha vergonha de ser quem você é, a sua beleza está na sua diferença ::starstruck::


Mas, se não era Gilbert que estava lhe escrevendo aquelas coisas, era quem? Ela não sabia de alguém que estivesse a fim dela. Nem mesmo a fim de dar um passeio com ela.


Marlene nunca se sentira tão irritada e tão curiosa ao mesmo tempo. Seria possível se concentrar em algo quando tinha claramente um problemão emperrado em seu cotidiano?


Se ao menos ela soubesse a inicial do nome da pessoa... tudo seria um pouquinho mais fácil. Starstruck não era nenhum nome, e apelidos só tornavam aquilo mais estressante.


Quem se intitularia de Starstruck?


- Lene? – Dorcas perguntou.


Marlene sentava-se à mesa calada com o papelzinho ainda entre os dedos.


- Oi?


- Isso não parece ser uma anotação de Biologia – Dorcas ressaltou.


- Não é – Marlene disse – É outro bilhete – e estendeu-o para Dorcas.


- Meu Deus, eu quero um admirador secreto também! – exclamou Dorcas, rindo


x.x.x


- Dorcas Meadowes –


Dorcas Meadowes estava com inveja.


A condição financeira dos Meadowes nunca tinha sido ruim. Seus pais viajavam muito e sempre voltavam com um novo acordo, trazendo assim, mais dinheiro. Sr. Meadowes cuidava de casos extremos, ora ou outra envolvendo sexo e escândalos. Seus clientes pagavam bem e mais importante: em dia. Sra. Meadowes era uma grande artista plástica e seus quadro não somente já tinham sido expostos em Lisboa, mas também em Roma e em Sidney. Dorcas tinha nascido em um período que seu pai decidira ser rockstar e sua mãe, gruppie. Acabaram se conhecendo em um show da banda e se casaram, ambos ainda na faculdade. E mesmo que Dorcas reclamasse que Sirius Black era um pesadelo em sua vida, a Nathaniel Hoen High School era uma das escolas mais renomadas do país. Dorcas, apesar de sempre reclamar e reclamar, tinha sorte. Ao menos ela não precisava trabalhar no restaurante da família para se sustentar: ganhava uma mesada relativamente gorda todo mês dos pais.


Mas naquela hora, Dorcas Meadowes não estava com inveja de Marlene Mckinnon, sua melhor amiga, porque esta estava preparando uma festa de Halloween ou porque tirara A+ na última redação. Ela estava com inveja da melhor amiga porque, aparentemente, alguém estava se dedicando em conquistá-la. Dorcas nunca tinha sido surpreendida com aquilo. Ninguém nunca lhe mandara um bilhetinho fofo, especificando exatamente porque a adorava. O máximo que de demonstração de amor que já tinha recebido na vida foi ter entregado a sua virgindade ao melhor amigo, Gilbert. Mas disso, ela tentava não se lembrar. Ou pelo menos, não se importar.


- Estou falando sério, se você não vai procurar o seu admirador secreto, pode deixar que eu faço isso para você – Dorcas falou para Marlene, que guardava de volta o bilhetinho na calça.


- Dorcas, quem você acha que eu sou? A Olivia, de Law & Order SVU? – Marlene fez uma careta e rolou os olhos – Você acha mesmo que estou desesperada para ser recebida com um “Ah, desculpe, acho que mandei para a Marlene errada!”?


Dorcas teve raiva da amiga. Como Marlene podia ser tão idiota?


- Não, na verdade, acho que você está mais para a Hilary Duff, em A Nova Cinderela. Sabe como é, admirador secreto e mensagens e tal – Dorcas respondeu.


- Certo, e você acha que estou à procura do meu Príncipe Encantado? – Marlene não pôde segurar o riso.


- Oras, todas as meninas querem um Príncipe. Você também merece.


- Não, obrigada, não quero que o meu Príncipe acabe se revelando ser mais do tipo Chuck Bass – Marlene respondeu.


- Você nunca vai saber se não descobrir.


- Eu não quero descobrir – Marlene mentiu.


- Isso significa que tenho total liberdade para investigar quem é esse cara?


- Não, Dorcas, isso significa que é hora de você me deixar em paz com essa história – disse a outra, aborrecida.


Aquilo estava deixando-a com um péssimo humor. Quem era Starstruck?


Será que Gilbert seria mesmo seu Príncipe Encantado? Não, não, não! Aquilo era errado demais!


- Mas Marlene, isso é especial!


- Como poderia ser especial se está me deixando maluca?


- Isso é uma confissão de que está sim querendo saber quem é o cara? – Dorcas perguntou, sugestiva.


- Dorcas, apenas cale a boca e almoce, certo? – Marlene disse, olhando discretamente para Gilbert Reedy.


Seria possível que ele a amasse?


Marlene, por outro lado, apesar de ter gostado dos bilhetes, não sabia se poderia retribuir inteiramente o que Gilbert sentia por ela, caso fosse ele o autor daquela brincadeira. Era verdade que eles mais ou menos andavam juntos, uma vez que ele era melhor amigo de sua melhor amiga, mas eles nunca tinham sido muito próximos. Gilbert fazia parte do Clube de Artes e Marlene era quem ficava dançando durante todos os jogos da escola. Raramente pessoas assim têm algo em comum. Claro que Dorcas era uma exceção, considerando que era a menina mais briguenta do colégio.


- Você é uma covarde, Marlene – Dorcas declarou.


Marlene se limitou a rolar os olhos.


x.x.x


- James Potter -


James achava que estava ficando louco. Já tinha visto Lily Evans umas três vezes desde a hora que entrara no colégio. Mas aquilo era impossível. Ou irreal. Será mesmo que eles estudavam juntos? James riu.


- O que é? – um Peter ansioso lhe perguntou.


- Nada – ele apressou-se a dizer.


Peter olhou para Remus sentado ao lado de Ronnie Wedel, o garoto homofóbico do colégio.


- Não podemos convidar Remus para sentar-se conosco? – perguntou ao amigo, aborrecido.


James procurou o Garoto Sem Nome com um ar mesquinho.


James tornou a rir. Aquele garoto era mesmo esquisito. Ele não carregava sua costumeira máquina fotográfica, mas estava lendo aquele mesmo livro que vira em suas mãos no intervalo das aulas.


Remus Lupin nunca faria parte do círculo de amigos de James Potter. Já era ruim o bastante andar com Peter.


James rolou os olhos, cedendo. Talvez não fizesse mal fazer Remus Lupin feliz àquela tarde.


- Tudo bem, convide-o – ele disse – Mas é só hoje – salientou.


Peter olhou agradecido ao amigo. Finalmente James Potter estava começando a agir como um ser humano de verdade.


James acompanhou o amigo levantar-se e caminhar até a mesa distante que Remus dividia com Ronnie. Viu-o dizer claramente “venha sentar-se conosco”, então os dois partiram para a mesa de James.


- Hm, oi – Remus disse, timidamente.


James fez um aceno precário com a cabeça e nada disse. Não era hora para ainda mais legal com um esquisito quando tinha que pensar em Lily Evans.


Automaticamente, Remus e Peter começaram a conversar, irritando ainda mais James. Mas tudo bem. Ele contou até dez, enfiou uma garfada na boca e continuou a lembrar-se da cor do cabelo de Lily. Ele tivera tanta certeza de que era ela passando distante dele, naquela hora antes de se dirigir ao refeitório! Mas talvez apenas estivesse enlouquecendo. É, estava decididamente enlouquecendo.


- Remus, você que fica na secretaria naquela porcaria de fotocopiadora, não viu nenhuma menina ruiva por lá, viu? – James perguntou de supetão.


Remus olhou para James. Duvidava que o cara soubesse seu nome. Mas ele sabia. E melhor ainda: estava pedindo ajuda.


Quem diria James Potter pedir ajuda ao Garoto Sem Nome, hm?


- Bem, existem várias meninas ruivas estudando por aqui – Remus disse.


- Você não sabe o nome de nenhuma, ou sabe? – James quis saber.


- Bem, tem a Lindsay, a Becca...


- Lily Evans? – James lançou.


- Lily Evans? – Remus repetiu, pensando – Não, acho que não.


- Tem certeza?


- Bem, por que você não consulta o fichário dos alunos? – Peter perguntou.


James considerou. Por que nunca pensara naquilo antes? Seria bem mais fácil do que ficar perguntando para todo mundo se alguém conhecia Lily Evans.


- Ok – James disse – Eu já volto.


- Mas, cara, você nem acabou de almoçar! – Peter constatou, surpreso.


- Você não está entendendo – James virou-se para o amigo com uma expressão inflexível no rosto - Eu preciso saber se Lily estuda aqui.


- Você está é louco, meu caro – Peter disse.


- Pode ser – James falou, andando para a porta do refeitório.


Os corredores estavam quase vazios, o que facilitava a transitação dos alunos que não estavam no refeitório.


James caminhava com passos largos, confiante.


Era sua única chance.


Danna estava lixando as unhas recortada em sua cadeira. Era como se ninguém ali tivesse de fazer algo. Talvez não tivessem mesmo, pensou James.


- Oi, hm, posso dar uma olhada no fichário dos alunos? – ele perguntou.


Danna ergueu os olhos na lixa e franziu a testa. O que aqueles alunos tanto queriam abstrair do fichário?


- Qual seria a emergência? – ela ficou curiosa.


- Preciso saber do sobrenome de uma colega por causa de um trabalho – James inventou, impassível, como se estivesse acostumado a mentir todos os dias.


- Ah – Danna não se surpreendeu – Certo.


Ela se levantou e foi até uma das estantes atrás de si. Puxou o glossário e o apoiou no balcão à sua frente.


- Está aqui – ela disse.


James virou e virou páginas, com apenas um nome em mente.


Lily Evans.


E existiam realmente muitas Lilys ali. E muitas ruivas.


Mas ali estava ela: Lily Evans, sala 256.


Uau.


Ela estava mesmo ali. E ele nunca a tinha notado. Como isso seria possível?


- Obrigado – James disse à secretária, antes de se virar para a porta.


Seu coração estava acelerado e feliz. Como se fosse um mini-poodle.


De volta ao refeitório, desabou na cadeira ao lado de Peter, observando as pessoas em suas mesas. Muitas ruivas, mas nenhuma delas eram Lily Evans. Onde ela estava?


- E aí? – Peter perguntou.


- Ela estuda aqui – James sorriu.


- Ah, não. Você só vai ficar pior de agora em diante! – Peter exclamou.


James se limitou a sorrir.


x.x.x


- Remus Lupin -


Remus ainda tinha na mente o encontrão desajeitado que dera em The Lost Girl. Será que tinha doído nela também? Ou será que ela nem prestou muita atenção? Será que ela tinha olhado para ele e pensado algo ruim? Algo como “Tinha que ser um idiota mesmo!”?


Remus não sabia.


E estava muito distraído para pensar nas coisas mais simples do mundo, como almoçar. Ele apenas mirava o nada pensando em tudo. Principalmente em Meadowes. Como ele nunca soubera que a menina durona da escola era The Lost Girl? Era tão simples saber! Quase todos os dias, Black apanhava da menina, por Deus! Meadowes tinha uma reputação e tanto, e não era porque era cheerleader.


Será que agora ficava mais difícil de fotografá-la todas as manhãs de semana? Remus teimava em persistir em tal tecla; não poderia ficar sem fotografá-la, fazia tanto tempo que fazia aquilo... Se não levantasse por Dorcas, por quem levantaria?


Seus pensamentos foram interrompidos por Peter Pettigrew, seu colega de trabalho e de escola também.  


Peter dissera:


- Venha sentar-se conosco.


Remus desviou os olhos das paredes azuis do refeitório. Olhou para seu prato ainda quase intacto e piscou.


- Por quê? – ele indagou.


- Você é meu amigo. Não quero que as pessoas fiquem achando que você é um completo leproso-social – Peter fez um gesto de impaciência com as mãos.


Remus achou aquilo engraçado. Como fazer alguém não pensar o contrário do que as coisas realmente são?


- Mas eu sou um leproso-social – Remus declarou.


- Tanto faz – Peter rolou os olhos - Só venha sentar-se comigo e com James.


Remus não insistiu. Desejava ficar sozinho com seus pensamentos – ainda que tivesse de estar sentado ao lado de Ronnie Wedel -, mas lembrou-se que deveria ficar ao lado de pessoas boas, como Peter, que estava tentando ajudá-lo.


Ele se levantou da mesa e caminhou com Peter até a mesa em que Potter estava sentado, também, aparentemente, olhando o nada e pensando em tudo.


Começou a comer em silêncio, embora Peter quisesse se comunicar com ele. Em menos de cinco minutos, James perguntou-o sobre uma menina chamada Lily Evans. Remus achou que James tivesse algum tipo de problema, porque ele nunca falava com Remus e muito menos para pedir algum tipo de instrução.


Remus, que não conhecia nenhuma Lily Evans, logo se calou, porque, em virtude de um conselho de Peter, James se mandou dali.


Remus queria que Peter se calasse, mas não sabia como ser grosso o suficiente com ele.


Então, lembrou-se do bilhete de Dorcas. Achou que Peter ainda estivesse com ele e pediu-o.


- Você vai entregá-lo à Meadowes? – Peter riu, como se o achasse um estúpido. Talvez ele fosse mesmo.


- Não sei – Remus disse, com sinceridade.


- Você sabe que a Meadowes é encrenca na certa, não sabe? – Peter continuou a rir; Remus não sabia onde o amigo tinha encontrado tanta graça – E que, independentemente da boa ação que você queira fazer, ela não vai olhar para você com menos desprezo, certo?


Desprezo.


Como Peter sabia que Dorcas desprezava Remus? Dorcas e Remus nunca, até aquela manhã, tinham se visto na vida. Ou se esbarrado, como foi o caso.


- Certo – Remus disse, sentindo-se levemente incomodado com todo o circo que Peter estava montando.


Dorcas podia bater em Sirius Black, mas era tão encantadora quanto o resto das cheerleaders. Não que cheerleaders fossem uns doces de meninas, claro que não. Mas Marlene Mckinnon, por exemplo, era bastante legal, ainda que tivesse bem mais dinheiro do que a maioria.


- Não sei em que sala ela estuda, para você entregar isso a ela – Peter disse, parando de rir.


- Tudo bem – o outro disse.


- Cara, você está bem? – Peter perguntou com surpresa na voz.


Remus olhou para o amigo. Se por “bem” Peter queria dizer “levemente apaixonado por uma menina que nunca tinha falado na vida”, então era sim.


- Não sei – Remus respondeu.


- Você e o James vão me deixar louco. Completamente louco – Peter declarou.


Remus voltou sua atenção ao prato de comida e ao bilhete de The Lost Girl.


Deveria entregá-lo a ela? Será que aquelas palavras eram mesmo tão significativas para Dorcas?


Remus pensou que, talvez, se ela aparecesse na livraria mais tarde podia arrumar uma desculpa para conversar com ela entregando-lhe o bilhetinho.


Quem sabe, tudo desse certo.


Se Remus, alguma vez, abrisse a boca não apenas para proferir “Volte sempre”.


Remus decidiu que deveria fazer algo. Dirigir-lhe qualquer palavra tosca que não fizesse referência à livraria ou a livros.


Ele fez o pedaço de papel escorregar para o bolso da calça e suspirou.


x.x.x



- Sirius Black –


Hospitais fediam a álcool e a materiais esterilizados. Sirius não era fã de hospitais. E ele achava que ninguém era. Como alguém poderia se sentir bem num lugar onde morrem dezenas de pessoas? Ele não era masoquista, obrigado.


Os pontos lhe incomodavam e uma latejante dor de cabeça lhe assaltara desde que saíra da escola. O hospital estava tão lotado que ele teve de esperar quase quarenta e cinco minutos para ser atendido devidamente. Oras, era apenas alguns pontos, talvez uns três! Nada que fosse complicado. Mas, não, ninguém estava a fim de trabalhar direito naquele lugar. Ele amaldiçoou Meadowes mais de cem vezes enquanto esperava por uma enfermeira.


- Ótimo dia para você inventar de brincar com a Meadowes, hein? – seu pai lhe rosnou.


“Brincar”. Sirius quis rir. É, ele estava mesmo brincando com Meadowes.


- Foi sem querer – ele mentiu. Olhou feio para o pai – que não notou nada – e suspirou. Seu pai lhe reprimiria de qualquer maneira mesmo.


- Quem vai cuidar do restaurante? – seu pai tornou a usar aquele tom opressivo.


- Eu só me machuquei, não morri – Sirius salientou. Sr. Black ignorou seu comentário.


- Para você é fácil, não é? Acha que não precisa fazer mais nada além de tirar notas capengas na escola.


Sirius sentiu-se mal. Seu pai nunca o tratara como um filho. Sirius era mais um empregado dele. A relação deles não emanava muito amor.


- Não é você que tem que tirar dinheiro do bolso para manter um filho que não faz nada direito na vida – Sr. Black continuou, bufando.


Sirius olhou para o final do corredor. Estavam apenas esperando o médico lhes liberarem. Ele esperava que alguém lhe receitasse um analgésico.


- Eu estou me esforçando – Sirius disse.


- Não o bastante, pelo o que vejo! Esperava que Emmeline pudesse lhe ajuizar um pouco, mas nem para isso ela serve também.


Ok, falar mal do filho era uma coisa. Mas falar mal de Emmeline?


Foi a vez de Sirius bufar.


- Não culpe Emmeline – ele mandou.


- O que há com você? – seu pai perguntou sem modos – Por que não consegue ser decente uma só vez?


- Estou me esforçando – Sirius repetiu.


Viu seu pai rolar os olhos, irritado. Nada satisfazia Sr. Black.


Nisto, seu celular começou a tocar. Com preguiça, pescou-o de seu bolso da jaqueta de couro. Não ficou surpreso ao ler quem era.


- Oi – ele disse.


- Você está melhor? Está em casa? – a voz aflita de Emmeline fez seu estômago se revirar.


Sirius olhou para o pai de soslaio. Desejou que ele fosse para qualquer lugar.


Longe do celular, disse:


- Vou buscar um café.


Seu pai continuou impassível e meramente deu de ombros, como se dissesse “Não me importo”.


Levantou-se do banco estofado e caminhou um pouco pelo corredor.


- Sirius? – Emmy chamou – Está aí?


Sirius não sabia onde ficava qualquer máquina de café, mas permaneceu com os passos pesados pelo corredor branco.


- Desculpe. Me distraí – ele mentiu. A verdade é que não queria falar com Emmeline. Queria que ela o deixasse um pouco em paz, que lhe deixasse respirar sozinho por algumas horas – O que perguntou?


- Está melhor?


Se ele estava melhor? Ele até mesmo achava que tinha piorado depois que deixara o colégio.


- Não sei – ele balançou a cabeça.


- Sinto a sua falta. Estamos no intervalo – Emmeline lhe disse, com a voz gemida.


Sirius desejou poder largar o celular em qualquer lugar e correr para casa, onde pudesse enfiar sua cabeça debaixo do travesseiro e dormir o resto da tarde. Por alguns segundos, teve a ideia de desligar na cara de Emmy. Mas então desistiu. Ela ligaria de volta, de qualquer forma.


- Oh – ele disse, sem entonação. Por que ela não era só um pouquinho mais madura? Emmeline podia ser a grande vencedora da batalha interescolar de Biologia, mas faltava-lhe um pouco de noção – Desculpe estar ausente – falou, sem sinceridade alguma.


- Posso sair daqui e ir encontrá-lo aí.


- Não estou em casa.


- Ah, certo – Emmeline fez um silêncio momentâneo e aspirou um pouco de ar e perguntou: - Ainda vamos à festa da Mckinnon, não?


Sirius fez um barulhinho com a garganta, que poderia indicar desaprovação ou felicidade.


Naquilo ele não tinha pensado. Festa. Segunda-feira. Mckinnon.


Mckinnon era a menina que tinha lhe abatido no debate sobre as forças armadas na semana anterior. Ele sabia daquilo, porque antes da aula de Debate se iniciar, Mckinnon chegou até ele e disse:


- Oi, espero que tenha um bom argumento, porque eu vou acabar com você.


Sirius, surpreso com a coragem da menina, levantou uma sobrancelha e riu.


Mais uma cheerleader lhe desafiando? Aquilo era muito engraçado.


Balançando a cabeça, Sirius voltou a se concentrar na voz da namorada.


- Se você quiser ir, tudo bem – ele lhe disse.


- Isso é bom – ele sabia que Emmeline estava sorrindo no outro lado da linha.


- Hm, nos falamos depois, ok? Preciso de um café.


- Tudo bem. Fique bem – Emmeline disse – Eu amo você.


- Certo – Sirius disse, engasgado. Não achava sensato lhe repetir a frase. Soaria hipócrita.


E, desligando o celular, encontrou seu pai com uma cara fechada, dizendo “Vamos embora”.


E eles foram embora.




 :::

 N/a: e aí, manolos? Eu sei que fiquei um tempo sem aparecer, me desculpem D: Mas juro que não vou deixar a fic na mão, não. Sério. Aos poucos que estão acompanhando, um muito obrigada especial a todos vocês, viu? 

Nina H.


29/05/2011

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