O Valor do Perdão



Capítulo 7
O Valor do Perdão


 


Duas semanas se passaram desde o início do ano letivo e o professor de poções já havia solicitado um trabalho. Pergaminhos. Uma nova pena. Tinteiro. Era tudo o que precisava e, claro, alguns livros. Talvez devesse passar na biblioteca antes do salão comunal. 


Continuei andando pelo corredor vazio e arrumei a alça da mochila que insistia em cair do meu braço. Abri o livro de poções e comecei a folheá-lo. O corredor estava vazio, mas talvez o melhor fosse andar mais rápido antes que me pegassem fora da aula de feitiços. Antes mesmo de começar a apertar os passos, ouço passos atrás de mim. 


- Luan? – Aquela voz. Há meses que não escuto aquela voz chamar meu nome tão suavemente. Virei olhando para Fernanda. Ela estava ali e acabara de chamar meu nome. Não seria apenas uma miragem? Pisquei várias vezes não acreditando. 


- O que faz aqui? – Soltei um tanto rude demais. 


- Quero que me escute. – Falou sem se mexer. Continuei onde estava apenas esperando suas palavras saírem. Seu cabelo longo estava solto e rosto transmitia insegurança. 


Estávamos a quinze passos um do outro. 


- Nunca imaginei que minha vida pudesse virar de cabeça para baixo depois que terminamos, quero dizer, nunca me imaginei longe de você. Longe de seus abraços carinhosos, e dos beijos surpresas. Das brincadeiras e dos carinhos que fazia em mim. – Suspirou tímida e eu, continuei com a expressão séria. – Nunca dei valor a tudo isso. Se todo o amor que dizia sentir por você fosse realmente forte, jamais duvidaria de você. E o pior de tudo isso é que você nunca deu motivo para tal pensamento, nunca. 


“Se realmente amasse você mais do que tudo nessa vida não daria ouvidos a fofocas. Apenas acreditaria em suas palavras. Porque quando se ama nada é importante apenas as palavras sinceras da pessoa amada. E o que aconteceu? Dei as costas no momento em que você mais precisava que acreditasse em você. Fui covarde e, acima de tudo, joguei fora todas as palavras de amor ditas a você”. 


Suas palavras saiam com firmeza, embora a insegurança em seus olhos fosse maior. Não me movia, não piscava e muito não me atrevi a falar alguma coisa e, minha falta de reação, deixava-a mais nervosa. 


- E por mais que tentasse negar, nada na minha vida tem valor sem você ao meu lado. Fui insensível não querendo ouvir o que tinha para dizer, de alguma forma, todos tem o direito de se defender mesmo que seja em vão. – Suspirou com pesar. – Você me perdoa? 


Como se tivessem lançado a maldição da morte. Estava sem reação. Eu estava morto. Seus olhos aflitos olhavam diretamente para os meus. Seus dedos se mexiam nervosos esperando uma resposta. 


Olhei para minha mão direita e lá, eu vi a aliança de namoro. E mesmo depois de meses continuava com ela em meu dedo. A partir do momento que a coloquei prometi a mim mesmo que jamais a tiraria. E estava cumprindo minha promessa. Levantei meu rosto olhando novamente para Fernanda. Pisquei algumas vezes e soltei os livros que estavam em meus braços, eles caíram no chão fazendo um barulho estranho. Tirei minha mochila das costas e a soltei no chão. Olhei-a formando um meio sorriso em meus lábios e, então, abri meus braços. 


E ela entendeu o que queria dizer. Sem nem terminar de abrir os braços ela correu. Correu ao meu encontro. Correu aos meus braços, os quais ela jamais deveria ter saído. E o impacto de seu corpo com o meu foi forte. Sentia aquela sensação de que ela era minha novamente. Só minha. 


- Jamais me perdoaria se não a tivesse nunca mais em meus braços. – Sussurrei em seu ouvido. Fechei meus olhos sentindo o cheiro dos cabelos dela. – Eu te amo. – Falei em seu ouvido deixando as lágrimas caírem livremente. 


- Eu sempre soube... – Ela se afastou olhando em meus. – E agora tenho certeza. – Passou a mão pelas bochechas, as secando. – É ao seu lado que quero passar o resto da minha vida. – Suas palavras saíram aos tropeços em meio ao soluço. 


- Isso... – Comecei a falar tirando algo do bolso. – Nunca deveria ter saído de seu dedo... – Abri a mão mostrando a aliança dela. Ela sorriu em meio ao choro. Peguei sua mão direita e coloquei a aliança onde ela nunca deveria ter saído. 


E nesse momento a sineta tocou. Os corredores voltaram a se abarrotar de alunos. Nada mais importava. Meus olhos estavam presos nos dela, verdes com azuis. Hogwarts poderia estar sendo destruída mais não permitiria desviar meus olhos daquele rosto angelical. Sorri secando as lágrimas que ainda caiam em seu rosto e então, voltei a sentir seus lábios macios nos meus.


 


**


 


- Finalmente! – Exclamei fechando o livro de poções quando Luan e Fernanda entraram no salão comunal. Os dois me olharam sorrindo tímidos. 


- Você sabia desde o começo e não me contou... – Luan se aproximou apontando o dedo em um tom brincalhão. 


- Não seja tolo. Acabaria com a surpresa. – Revirei os olhos. 


- O importante é que agora estamos juntos... – Luan a abraçou pela cintura beijando o pescoço da mesma. 


- E ninguém mais vai nos separar. – Completou Fernanda. 


- Era tão difícil acreditar nisso desde o começo? – Cruzei os braços olhando para os dois. Fernanda ficou meio desconfortada e Luan revirou os olhos. 


- Gostaria realmente de ficar aqui com vocês, mas tenho um trabalho para ser feito. – Ele virou Fernanda para que ficasse de frente com ela e selou os lábios dos dois.   


- Ok, parem com essas coisas na minha frente. – Separei os dois. Inconveniente. 


- Vejo vocês no jantar. – Sua voz sumiu assim que saiu do salão. Levantei minha mão direita dando um breve tchau. 


E esse foi um dos meus maiores erros.  


- O que é isso em seu dedo? – Perguntou Fernanda surpresa. – É uma aliança? – Se aproximou para segurar minha mão, mas me afastei. 


- Não é nada. – E com essas palavras eu acabava de me entregar. 


- Claro que não... – Ela riu irônica. – Isso em minha mão também não é nada. – Apontou para a mão direita mostrando a aliança dela. 


- Já disse que não é nada. – Passei por ela dando as costas e caminhando até o dormitório, mas ela segurou meu braço e virou para que a olhasse. 


- Qual é Melissa não vai confiar mais em mim? – Olhei para o teto e depois desviei o olhar para um quadro. – Não vai me contar? – Não respondi. Mordi o lábio inferior e a olhei. Até agora, só Amanda sabia. – Melissa, quem lhe deu essa aliança? – Suspirei e respondi de uma vez. 


- Scorpius Malfoy.
 


**


 


O dia mal havia nascido e já estava acordada. Levantei antes mesmo das meninas acordarem. Troquei-me e desci para o salão comunal. Coloquei os livros das aulas que teria e passei pelo quadro da mulher gorda. Os corredores estavam tão vazios que pude ouvir minha respiração. O meu real objetivo era as masmorras. Apressei o passo até finalmente chegar ao que, aparentemente, parecia a porta do salão comunal da sonserina “um trecho de uma parede de pedra liso e úmido”. Encostei o braço direito em uma das paredes apenas esperando alguém sair. Se aquela fosse realmente à porta para o salão comunal da sonserina alguém sairia em breve. 


Isso era o que esperava. 


Olhei para o relógio pela milésima vez. Meu estômago roncou. Ninguém. Comecei a duvidar se estava no lugar certo, até que uma porta de pedra se formou perto de onde estava e alguns alunos saíram de lá. É, estava no lugar certo. Alguns olharam para mim não entendendo o que estava acontecendo, outros ao menos viram quando passaram por mim. E a porta voltou a fechar. O estômago voltou a roncar. 


Já podia ouvir os corredores se enchendo de alunos mortos de fome caminhando para o salão principal. Olhei para a porta se abrindo novamente. Mais alguns alunos saíram de lá e dessa vez não me viram por ali. Assim era melhor. Como se nunca me tivessem visto pelos corredores. 


Sentei no chão e estiquei minhas pernas a fim de descansá-las. Abri a mochila e peguei Hogwarts, uma história. O achei entre algumas de minhas coisas. Embora já tenha o lido várias vezes era a única coisa, de que alguma forma, me sentia perto de meus pais. O abri e comecei a folheá-lo distraidamente. 


- O que faz aqui Melissa? – Levantei a cabeça e vi o rosto de Amanda curioso. 


- Esperando Scorpius, não o viu? – Perguntei suspirando. E mais uma vez, meu estômago havia roncado. 


- Não, deve estar no dormitório ainda. – Sorriu. – Não quer ir tomar café? Já deve estar quase no fim... – Neguei com a cabeça. – Talvez ele demore... 


- Vou esperá-lo. – Sorri grata. – Pode ir, nos vemos na aula. – Ela acenou e sumiu do meu campo de vista. Voltei meu olhar para o livro.


Esperar alguém que ao menos sabia que estaria esperando é, totalmente, frustrante. Estava quase terminando de folhear o livro quando novamente ouvi meu estômago roncar. “Não tem como você parar não?” Pensei mentalmente, irritada. Suspirei cansada. Abri a boca em um longo bocejo. Fechei os olhos encostando a cabeça na parede. Talvez fosse precipitado o que queria fazer, a questão era que não queria adiar mais. 


- Melissa? – Abri meus olhos e olhei para cima. Estava com o uniforme da sonserina. A gravata estava um pouco frouxa. O cabelo levemente jogado para trás. E as sobrancelhas levantadas. Ele estendeu a mão. Fechei o livro, coloquei a mochila nas costas e peguei sua mão para levantar. – O que faz aqui? - Abriu um sorriso de lado. 


- Tinha em mente irmos juntos para o café, mas... – Olhei para o relógio. – Há essa hora deve ter acabado... – Dei de ombros rindo. Coloquei o livro na mochila e voltei o olhar para ele. – Então, vamos para a aula juntos... 


- Não estou entendendo. – Esperei que continuasse. – Pensei que não quisesse que nos vissem juntos. 


- Não quero um relacionamento as escondidas, quero que todos saibam que estou com você. – Sorri me aproximando, mas ele deu um passo para trás. 


- Decidimos juntos que não contaríamos a ninguém e pensei que decidiríamos juntos quando contaríamos para todos. – Sua voz mostrava total irritação. 


- Qual é Scorpius, vai começar uma discussão por nada? – Falei também irritada. Fechei os olhos respirando todo o ar que pude. 


- Pensei que tomaríamos decisões juntos. Como um casal. – A última palavra foi dita, pausadamente. 


- É. Mais eu decidi isso sozinha. Satisfeito? – Abri os olhos o encarando. – Era isso que queria ouvir? – A essa altura já estava gritando. 


- Talvez. – Falou sem emoção. 


- Só quero mostrar o quanto quero você ao meu lado. Quero que as pessoas vejam que estar com você me faz bem. Eu te amo e queria saber se você também quer o mesmo que eu. – Minha voz falhou. – E então? – Engoli em seco. 


- É claro que quero a mesma coisa. – Ele se aproximou segurando meu rosto. – Mais prometa que da próxima vez não decidirá algo que nós dois podemos fazer juntos. 


- Eu prometo. É que... – O olhei dando um sorri fraco. – Com tudo o que estou passando você é o único que me faz esquecer. Sem meus pais aqui, penso coisas horríveis e a cada pensamento penso que eles podem estar mortos, mais não quero isso. – Engoli o choro. – E quando olho para você é como se todos esses pensamentos nunca tivessem existido. Você é tudo o que poderia pedir um dia... – Minha voz falhou novamente e, dessa vez, não pude conter o choro. 


Ele beijou minha testa e o abracei forte. 


- Ninguém pode ver que esteve chorando. – Ele se afastou secando minhas lágrimas. Sorri. – Não quero que falem que minha namorada estava com os olhos vermelhos e inchados. – Brincou. 


- Então vamos. – Disse baixinho. 


Ele segurou firme em minha mão. Juntos, caminhamos de mãos dadas até os corredores. Pouco a pouco nos aproximamos dos corredores mais movimentados e, não foi surpresa, quando olhares curiosos decaíram sobre nós. Suspirei tentando relaxar e Scorpius segurou firme minha mão mostrando que não era uma coisa para me preocupar tanto. Olhei em seus olhos e vi o seu sorriso. Finalmente pude mostrar para todos que ele está ao meu lado e isso é o que realmente importa.


 


**


 


Dois dias se passaram e as pessoas ainda me olham pelos cantos dos olhos. O que fiz de errado? Bom, quando perguntei para Amanda ela me respondeu que namoro, de Hogwarts, um dos meninos mais lindos. Motivo sem fundamento. Fernanda apenas disse que era para esquecer tudo isso, mas como esquecer se milhares de adolescentes não param de olhar para você? Já Demi apenas riu. 


O pior de tudo é que, esses dois dias, estou evitando Luan. Tento não cruzar com ele pelos corredores e muito menos no salão comunal. Sento longe dele quando estamos no salão principal e nas aulas. Tudo para evitar discussão, mas Fernanda disse que o melhor era conversarmos logo porque ele não estava nada satisfeito com o que estava ouvindo por Hogwarts. 


Suspirei tentando pensar em outra coisa. Olhei o horário das aulas e vi que teria um tempo vago. Aproveitei e mudei meu caminho indo para os jardins. 


Olhei de relance para um dos bancos que havia ali. Estava Alexandra no meio e dos lados Amanda e Demi. O que mais me chamou a atenção foi ver Alex chorando. Apressei o passo e cheguei perto delas que ficaram caladas. 


- Alguém vai me explicar o que esta acontecendo? – Perguntei devido ao silêncio que formou com minha chegada. Alexandra fungou limpando mais uma vez as lágrimas. Demi olhou para Amanda que olhou para mim. 


- Felix... – Começou. – Beijou Alex a força e... – Olhou para a menina que chorava descontroladamente. 


- Alex... – Sussurrei para que ela explicasse direito. 


- Fui à última a sair da aula de feitiços hoje... – Começou com a voz embargada. – Enquanto saia, Felix me pegou pelo braço. Nunca falei com ele, só o via pelos corredores e só sabia o nome dele pelo que ouvia as pessoas falarem. – Engoliu em seco. – Ele começou a me beijar... – A cada palavra o rosto dela mostrava nojo. – A me tocar... – A voz falhou. – Foi horrível. – Voltou a chorar. 


- Ele te fez mais alguma coisa? – Aumentei o tom de voz. Ela negou. 


- Graças a Merlin ela conseguiu correr. – Completou Demi. 


- E porque ele fez isso? – Perguntei incrédula. 


- Ele disse que era um desperdício nunca ter ficado com ninguém. – Soltou um soluço alto. 


- Deus, você só tem quatorze anos. – Soltei nervosa. – Scorpius sabe disso? 


- Não. – Ela gritou. – E não pode, por favor, não conte nada a ele. – Suplicou. 


- Tudo bem. – Me ajoelhei em sua frente. – Não contarei nada a ele, mas prometa que não andará mais sozinha e que não será a última a sair das aulas e prometo que Scorpius não ficará sabendo. – Sorri gentil tentando confortá-la. 


- Não ficarei sabendo de que? – A voz dele ecoou em minha mente. E pelo rosto das meninas, das delas também. Olhávamos para ele sem reação. Impossível que nenhuma de nós tenha visto ou sentido ele se aproximar. Engoli em seco e levantei ficando em sua frente. 


- Nada. – Sorri sem graça. 


- Melissa. – Repreendeu-me. – Alexandra porque está chorando? – Perguntou mais gentil para a irmã. Ela não respondeu. Ninguém se atreveu a falar. Trocávamos olhares apreensivos. – Porque Alexandra está chorando? – Falou alto e nervoso. 


- Felix quase abusou de Alex. – Soltou Demi. 


- Demétria. – Gritou Alexandra, brava. 


- Ele saberia de qualquer forma. – Falou em defesa. 


- Quem é Felix? – Perguntou entre dentes. – Quem é? – Falou mais alto assustando a todas. 


- Scorpius se acalma. – Olhei a cor branca de sua pele virar vermelha de raiva. 


- Me acalmar? – Riu irônico. – Quem é Felix? – Falou mais alto. 


- Ele escreveu uma nota no “jornal Hogwarts” do meu irmão e da Fernanda ano passado... – Mal havia terminado de falar ele já tinha virado as costas e agora andava em passos rápidos. Ele lembrou quem era Felix e, com certeza, estava atrás dele. Corri para alcançá-lo e evitar o pior.


 

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