Arrependimento



Capítulo 6
Arrependimento


 


Como todos os anos a plataforma 9 ¾ estava cheia. Cheia de pais aconselhando os filhos no que devem ou não fazer, os abraçando pela última vez antes do Natal e os enchendo de beijos. E os alunos, por sua vez, desejavam voltar para a escola e ficar longe das regras dos pais. Entrar em um mundo onde possam usar a magia seja ela para uma simples aula de feitiço ou para um duelo. 


Caminhava apressada olhando para cada rosto que passava por mim. Embora fosse apenas um mês e pouco separada de Luan, parecia mais anos. Andava com dificuldade já que todos caminhavam para a direção oposta a minha. Algumas vezes parava de andar e levantava os pés tentando ver se achava um moreno de olhos verdes com cabelos bagunçados. Sem sucesso. 


Mais meu objetivo de encontrar Luan foi deixado para trás no momento em que meus olhos encontraram um loiro de olhos azul-acinzentado. Encostei-me à pilastra alguns centímetros de minhas costas e sorri o observando. Ele estava parado em uma roda conversando com alguns amigos, talvez, ou conhecidos. Eles gargalhavam e falavam alto, mas não o suficiente para entender do que falavam. Scorpius estava com as pernas afastadas e os braços cruzados, seu cabelo loiro levemente desarrumado para trás. 


Poderia ficar ali o dia todo apenas observando seus gestos. 


- Melissa, Luna Weasley quer falar com você. – Demi me despertou do transe. 


- Onde ela está? – Desencostei da pilastra. 


- Logo ali. – Apontou. 


- Obrigada, já estou indo. – Sorri a vendo se afastar. 


Voltei meu olhar para Scorpius e ele me encarava. Em seus lábios havia um sorriso travesso como se dissesse “Eu sei que estava me olhando todo esse tempo”. Sorri de meu próprio pensamento como se as palavras tivessem saído de sua boca. Abaixei a cabeça em um gesto tímido e quando a levantei, ele fez um movimento com a mão direita mostrando que estava com a aliança. Mordi o lábio inferior e levantei minha mão direita na altura do rosto, mostrando minha aliança também. Ele abaixou a cabeça e sorriu. 


- Melissa? – Procurei a voz que falou meu nome e vi Luna de mão levantada para que a pudesse ver. Caminhei em sua direção e a abracei. 


- Tia Luna. – Falei animada. – Rony. – O abracei também. 


- Desculpe incomodar, só queríamos saber como estava. – Falou gentil. – Fiquei um pouco assustada com o que li no Profeta Diário. Mais sabe como é não podemos acreditar em tudo. – Sorriu ao concluir a frase. 


- Digamos que aquilo foi um engano. – Falei para tranqüilizá-la. 


- Espero que esteja bem, mas não pegaremos mais o seu tempo. – Disse se despedindo. – Boas aulas. – Desejou. 


- Obrigada. – Sorri. – Só mais uma coisa. Vocês viram o Luan? – Nesse mesmo instante Rony pigarreou mostrando irritação com minha pergunta. 


- Ele esta bem ali. – Mais a frente entre a multidão, uma cabecinha morena com os cabelos bagunçados. 


- Obrigada. – Agradeci correndo em sua direção. 


Esbarrei em todas as pessoas que estavam em minha frente. Velhos, crianças, homens e mulheres. Era como se corresse por instinto, corresse para ficar perto da família, que no momento era só ele. Quando cheguei próximo a ele, pulei em seus braços e o abracei forte. Mas ele, pareceu não entender o que estava acontecendo já que não retribuiu o abraço. 


- Quem é você e onde está minha irmã. – Sua voz demonstrava que ele estava confuso. 


- Seu chato, me abraça. Senti sua falta. – Ele retribuiu o abraço gargalhando. 


- Quem diria, minha irmãzinha querendo um abraço meu. – Zombou. 


- Mas não fui eu quem mandou uma carta desesperado para saber o que estava acontecendo. – Retruquei. 


- Não foi bem assim. – Disfarçou. 


- Vamos procurar uma cabine. – Revirei os olhos e puxei o braço dele. 


- Tudo bem, mas se continuar me segurando assim terá uma Melissa a menos no mundo. – Falou enquanto o soltava gargalhando. 


Andamos olhando vagão por vagão até que encontramos David guardando um para nós. Luan sentou a frente dele e eu, ao lado de Luan. Os meninos contavam o que fizeram nas férias, mas o único que parecia interessado era Luan. 


O último apito nos avisou que partiríamos. Olhei para o lado de fora e todos os familiares acenavam para seus filhos, sobrinhos ou netos. Imaginei onde meus pais estariam se eles estivessem na plataforma. Harry com o braço em volta de Hermione que segurava Lily. Eles acenavam como todos pela partida e esperariam ansiosos pela nossa volta para o Natal. Voltei minha atenção para o vagão e percebi Amanda passar por nós. Levantei e corri alcançá-la. 


- Amanda, tem espaço no nosso vagão. – Ela virou.   


- David. – É impressionante como um nome pode ser dito com tanta intensidade. 


- Você não ficará sozinha com ele. – Afirmei. Ela Suspirou. 


- Você está ferrada Melissa Potter. – Falou irritada entrando na cabine. 


Ri com suas palavras. 


- Melissa espera. – Me virei reconhecendo aquela voz. 


- Fernanda? – Levantei uma sobrancelha.  


- Preciso falar com você. – Cruzei os braços. 


- Agora? – Assentiu. – Na verdade... – Olhei para trás, dentro da cabine. – Não posso agora. 


- Então, quando puder. Avise-me. – Deu de ombros e se foi. 


Olhei para trás preocupada se Luan tivesse visto Fernanda por ali, mas não. Ele estava sentado olha para o lado de fora. Olhei mais uma vez para onde ela sumiu e então, entrei na cabine fechando a porta.


 


**


 


“Possível encerramento das investigações”, li em pensamento o título da pequena nota no canto esquerdo da capa do Profeta Diário. “Nessa última quarta-feira, o Ministro da Magia David West anunciou o possível encerramento nas investigações do casal Potter. Meses após o sumiço do casal e sem nenhuma pista de onde possam estar ou até mesmo os causadores de tal sumiço, o Ministro da Magia não descarta a possibilidade de que estejam mortos. É melhor que apareçam novas pistas ou suspeitos uma vez que, se não aparecerem, jamais saberemos os motivos para tal acontecimento. São nessas horas que nos perguntamos: O que os gêmeos pensam sobre o assunto? Não se esqueçam que, Melissa Potter, escapou do episódio na mansão Smith junto com Amanda e Demétria Smith e apareceram semanas depois comprando materiais no beco diagonal. Sorte ou não, muitas coisas podem estar para acontecer no mundo mágico e precisamos ficar de olhos abertos para não sermos vítimas de uma tragédia”.  


- Ridículo. – Falei. – Ministro da magia filho de um hipogrifo. – Olhei para os meninos, mas ninguém havia me ouvido. Luan dormia encostado na janela e discretamente olhei para Amanda ao lado de David. Os dois olhavam, também, para o lado de fora. 


Voltei meu olhar para o jornal quando Amanda se mexeu. Olhei novamente para os dois pelo canto do olho e eles ainda agiam como estranhos. Tolos. Sorri de canto e disfarcei, mas foi inevitável não ver o momento em que ele segurou a mão direita de Amanda. E entrelaçou seus dedos nos dela. Ela olhou a mão dos dois, juntas, chocada, e eu também. Eles se olharam e depois ela encostou a cabeça no ombro dele. 


Suspirei me sentindo excluída. E por um momento Fernanda passou por minha cabeça. Levantei e sem dar satisfação sai da cabine. Talvez nem tenham percebido. Caminhei a procura dela, mas só a encontrei em um vagão bem distante do que estava. 


- Posso entrar? – Falei gentil. 


- Claro. – Fez um movimento com a cabeça para que sentasse. 


- Então? – Incentivei. 


- Vou direto ao assunto... – Gesticulou com as mãos. – Você sabe que não foi fácil continuar em Hogwarts depois de tudo que aconteceu, e eu fiz as coisas ficarem piores. Eu bloqueava qualquer um que quisesse ajudar, mesmo que estivesse certo eu bloqueava. 


“Fechei-me em um mundo só meu e a única coisa que conseguia era pensar o porquê aquelas coisas estavam acontecendo comigo. Estava tudo tão bem e de repente, tudo desmorona em minha cabeça e não sabia o que fazer. Afastei-me de tudo e todos. Não ligava mais para meus irmãos que - iam nascer -, para meus pais e até mesmo para minhas notas. Tudo o que queria era sair dali e começar tudo de novo em outra escola onde ninguém me conhecia. Mais meus pais não deixaram”. 


“Cheguei a implorar para que me mudassem, e descobri o lado mais severo de minha mãe também. Ela disse que não era certo resolver os problemas fugindo deles, mas encará-los de frente. E mais uma vez não quis escutar. E quando estava lá, no meu quarto, sozinha. A única pessoa a qual eu queria ao meu lado para desabafar era você. Minha única e melhor amiga. Desde sempre. Esse tempo longe de você foi horrível, e longe do Luan também...” 


Sua voz falhou. Encarei-a tentando entender onde ela queria chegar. 


- Você não precisa voltar a ser minha amiga, muito menos aceitar minhas desculpas, mas eu preciso lhe pedir desculpa. Desculpa pela amiga idiota que fui por perder a amizade de alguém como você. 


- O que quer que eu diga? – Perguntei séria. – Que a desculpo? Você sempre me disse que estaria ao meu lado, mas me abandonou quando tentava mostrar a verdade. Se meu irmão tivesse realmente feito algo com Patrícia eu mesma me encarregaria de bater nele. Mais eu sabia que ele estava certo. David sabia. Os fatos estavam contra ele, mas você como namorada dele deveria acreditar nele. Acreditar que ele não estava mentindo. E as promessas de amor que fizeram? Foram todas em vão? Você não quis ver a verdade por causa daquelas hienas das suas primas, e essa é uma das verdades. – Vomitei tudo tão rápido que me faltou o ar. 


Ele me olhava sem expressão. 


- E você errou mais uma vez achando que jamais a perdoaria. – Falei sorrindo. Ela se levantou e a abracei forte. 


- Preciso de sua ajuda. – Falou se afastando. – Eu preciso... Pedir desculpa para o Luan. – Segurou as lágrimas dos olhos. – Nós tivemos uma conversa, na verdade, ele falou e eu ouvi. E mesmo querendo pedir desculpas aquele dia, não consegui... 


- O que faz aqui? – Minha voz estava mais assustada do que irritada.  


- Vim conversar com você. – Disse trancando a porta. – E desta vez, você vai ouvir tudo o que tenho para lhe dizer. 


Queria protestar, falar que não e gritar para chamar a atenção de qualquer um que estivesse passando pela porta do quarto. Mais não consegui. No fundo algo dizia que precisava daquilo. Precisava ouvi-lo, então permaneci calada. O meu desejo era esquecer tudo e abraçá-lo. Mais minhas atitudes fizeram com que nos separássemos.  


- Essa situação já está ridícula demais para continuar assim. Eu tento a cada dia mostrar que não a trai e que nunca pensei – nem mesmo um segundo – em traí-la. – Começou. – E você não me deixou explicar em momento algum. David estava lá, viu tudo o que aconteceu. Ele percebeu que estava sob efeito de uma poção, porque não perguntou a ele? Por que não tirou essa história absurda a limpo desde o começo?  


Ele sentou na cama e eu apenas o olhava.  


- Foi como se tudo o que fiz por você caísse por água abaixo. Acha mesmo que se quisesse traí-la não teria terminado antes? Ou se não a quisesse mais continuaria atrás de você tentando mostrar que não estou mentindo? Só não entendo porque fizeram isso. Porque queriam nos ver separado. Nunca tive contato nenhum com Patrícia, acha mesmo que a trairia com ela? – Ele me olhava como se quisesse uma resposta, mas não consegui dizer nenhuma palavra.  


“Ainda a amo como na primeira vez que a beijei. Às vezes me pergunto por que ainda me preocupo em correr atrás de você, mas quando me lembro do seu sorriso todas as minhas esperanças de que possamos voltar invadem meu corpo. Sinto falta do seu sorriso, sinto falta do seu toque, do seu rosto, da sua voz e dos seus beijos. E se estar longe de mim é o melhor para você, aceitarei. Mesmo não querendo terei que conviver com sua escolha”. 


Ele levantou e caminhou até a porta girando a chave.  


- Eu nunca a consegui tirar do meu dedo. – E naquela hora eu pude ver a aliança na mão direita dele... 


- Depois daquele dia não consegui parar de pensar nas coisas que deveria ter dito. – Fernanda contava tudo olhando para o lado de fora que passava rapidamente por nossa visão.


 


**


 


Cortava aqueles corredores tão de pressa que não prestava atenção em quem ou o que esbarrava. Nem ao menos estava preocupava em pedir desculpas. Minha mente tinha apenas um objetivo: Falar com Minerva. Mais alguém desviou minha atenção quando senti suas mãos frias em meu braço puxando-me para um canto vazio. 


- Sim? – Levantei a sobrancelha sorrindo com a atitude dele. 


- Não posso ter um tempinho com minha namorada? – Sorriu galante. 


- Agora? – Continuei com a sobrancelha levantada. 


- Está negando meus beijos? – Fingiu ofendido. 


- Claro que não, mas preciso falar com a Professora Minerva. – Entreguei o jornal para que ele lesse enquanto o puxava pela mão até a sala da diretora. 


- E o que pretende fazer na sala da Minerva? – Perguntou devolvendo o Profeta Diário. 


- Não deixar que isso aconteça. Encerrar as investigações? Não faz nem um ano. Francamente! Jamais permitirei isso. – Como se Minerva já soubesse que apareceria ali a porta se encontrava aberta. Entrei sem bater e ela estava sentada na cadeira atrás da mesa. 


- O que lhe devo a essa visita senhorita Potter? – Levantou o olhar e surpreendeu-se ao ver Scorpius ao meu lado. – Senhor Malfoy. – Fez um gesto com a cabeça o cumprimentando. 


- A senhora já deve ter lido o Profeta Diário de hoje e vim pedir sua ajuda para que o ministro não pare com as investigações. – Pedi aflita. 


- Serei sincera, esperava que seu irmão viesse conversar comigo. Mais avaliando a situação, talvez ele não tenha lido o Profeta Diário. E antes que aparecesse me certifiquei de mandar uma carta ao ministro da magia. – Piscou o olho direito me deixando aliviada. – Quando a respostar estiver em minhas mãos, avisarei imediatamente. 


- Obrigada Professora! – Sorri radiante.  


- E o senhor Malfoy? O que faz aqui? – Olhou-o. 


- Vim acompanha - lá. – Respondeu sem graça coçando a nuca. Como se ela não o tivesse notado. 


- Bom, acho melhor voltarem para suas casas. Devem estar cansados. – Ela olhou para nós dois atentamente. – Boa noite. 


Despedimos-nos e saímos da sala. Olhei para trás me certificando de que a porta estava fechada e olhei para Scorpius ao meu lado. 


- “Vim acompanha - lá” – Imitei o zombando. 


- Então você achou engraçado? – Ele riu junto comigo enquanto fazia cócegas em mim. 


- Achei. – Respondi fugindo para que ele não me pegasse.


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