there's a light that never goe



Durante boa parte do caminho nos não conversamos. Quando meu celular começou a tocar e eu o desliguei, ele só perguntou quem era.


- Minha mãe. – Falei.


- Vocês brigaram? – Ele me perguntou.


- Não exatamente. – Falei. – Ela mentiu para mim.


- Você está fazendo esse drama todo por uma mentira? – Ele me perguntou.


- Não é drama e não foi uma mentira qualquer. – Falei.


- Não existem tipos de mentira, Marlene. – Ele me disse.


- Ela me fez acreditar a vida toda que eu não tive pai porque ele fugiu, mas quem fugiu foi ela. Ele nem sabia que tinha filhas e eu perdi anos com ele, que nem sabia que eu ou Mags existíamos. – Desabafei.


Sirius ficou em silêncio por um tempo.


- Essa não é uma mentira qualquer. – Ele finalmente disse.


- Não, não é. – Falei.


- Como você descobriu?


- O cara apareceu na porta de casa, conversou comigo, perguntou se eu era irmã da Addie.


- Addie?


- Minha mãe. – Expliquei. – Então eu fui procurar e achei várias fotos dos dois juntos em um envelope, e lá o exame que dizia que ela estava grávida de mim e da Maggie.


- Suspeito, mas só isso não prova nada.


- Eu perguntei e ela confessou. – Prossegui.


- E depois disso?


- Eu saí correndo e chorando, sentei no banco e você me achou. – Falei. – E aqui estou.


Nós ficamos calados por alguns instantes.


- Família é algo complicado. – Ele me disse.


- Eu achava que eu tinha sorte demais. – Falei. – Em tudo relacionado a minha família.


- Sua mãe deve ter tido algum bom motivo.


- Não bom o suficiente. – Falei. – Ela não sabe o tanto que isso afeta não só a mim... Mags vai ficar devastada. Muito mais que eu.


- Porque você diz isso? – Ele me perguntou.


- Ela não consegue lidar muito bem com mudanças. Maggie é completamente... Delicada.


- Delicada?


- É. Eu posso ser dramática, mas ela chega a ser frágil. – Expliquei.


- Isso não é bom. Nem para ela nem para ninguém.


- É bom para ela por enquanto. Todos acabam cedendo e poupando ela de muitas coisas para evitar vê-la chorando e caminhando pela casa com os olhos inchados. Incluindo eu.


- Então você também a mima? – Sirius me perguntou.


- Não sei se isso é classificado como “mimar”, mas é horrível vê-la triste. – Expliquei. – Não culpo ninguém por evitar isso.


- E você? – Ele me perguntou.


- Eu o que?


- É horrível para sua família te ver triste?


- Eu não fico triste...


- Você está triste.


- Não, não estou.


- Você acabou de ter sua vida rearranjada de uma forma que você não tem idéia se conseguirá lidar e não está triste?


- Eu estou brava. Eu quero chutar coisas, gritar, socar paredes e quebrar coisas. Eu não estou triste. Estar triste é diferente.


- Acho que as pessoas lidam com a tristeza de formas diferentes. Sua forma é essa.


- Raiva e tristeza são diferentes.


- Porque eu insisto em tentar de convencer? – Sirius me perguntou rindo.


- Eu sou “inconvencível”. – Falei sorrindo.


- É, tenho que concordar.


Ficamos calados por mais alguns instantes. Eu tinha que admitir que Sirius não estava sendo insuportável como ele geralmente era. Eu inclusive estava achando a companhia dele muito agradável.


- Posso ligar o som? – Perguntei.


- Claro. Meu Ipod está no porta-luvas, é só ligar ele nesse cabo e escolher o que você quer ouvir. – Ele disse.


Segui as instruções de Sirius. Eu estava procurando uma banda que eu gostasse quando vi escrito “The Smiths” parei e sorri.


- Você gosta de “The Smiths”? – Perguntei.


- Se você for fazer alguma piadinha, me chamar de “emo” ou criticar a banda eu vou te expulsar do carro. – Ele disse me fazendo rir.


- Claro que não, eu adoro The Smiths. Acho que é minha banda favorita. – Expliquei.


- Você não tem cara de quem gosta de The Smiths. – Ele disse.


- É, eu não pareço ser muitas coisas que eu sou. – Completei.


Apertei o “Play” e coloquei as músicas no aleatório. “London” começou a tocar.


- Por exemplo, o que? – Ele me perguntou.


- Eu dançava balé, eu gosto muito de “sci-fi” e filmes antigos. – Expliquei.


- Você é uma “geek”? – Ele me perguntou rindo.


- Não ria! – Eu falei rindo.


- De fato, você não parece. Muito menos dançar balé sendo desajeitada como você é. – Ele falou.


- Eu também acho, mas o mais engraçado é que eu realmente era boa. – Falei.


- Duvido. – Ele retrucou. – Eu quero ver provas disso.


- Eu tenho vários vídeos de apresentações lá em casa, se você tiver a paciência de assistir...


- Eu duvido que eu tenha paciência para isso, mas quem sabe? Minha curiosidade pode ser maior.


Nós dois rimos.


- Você não é tão insuportável quanto faz questão de ser. – Falei.


Ele riu.


- Você não é tão desinteressante quanto diz que é. – Sirius me respondeu.


Ficamos em silêncio. “Rubber Ring” começou a tocar e eu comecei a cantá-la. Sirius me olhou achando estranho, mas acabou por me acompanhar na música.


A maioria das pessoas acha The Smiths uma banda depressiva, para momentos tristes e de fossa. Mas para mim... Não que fossem músicas que falassem de um mundo melhor e de como é bom sorrir, mas parecia que Morrissey estava falando de mim e para mim do mundo. E pelo menos havia alguém me dizendo que o mundo e as pessoas eram assim, quase sempre sem o que lhes completaria, as faria felizes.


A música acabou e “Girl Afraid” começou e essa era uma das minhas músicas preferidas. Já que eu achava que escolher apenas uma era impossível, eu havia escolhido pelo menos dez músicas preferidas do The Smiths e mais dez da carreira solo do Morrissey.


Continuamos sem conversar e prestando atenção na música. Eu continuava tentando tirar da cabeça toda essa história de “pai” e a lembrança de que Lucas não havia dado sinal algum de vida desde o último sábado e isso me deixava muito brava. Não só porque ele não havia me ligado, mas porque com todo esse problema de meu pai, porque diabos eu estava pensando em Lucas?


Foi quando “There’s a light that never goes out” começo a tocar e eu parei de pensar em todas aquelas coisas e comecei a cantar mais alto que eu já estava cantando. Se eu pudesse escolher uma música, apenas uma música para ouvir o resto da minha vida, provavelmente seria essa.


E se algum dia, por algum motivo eu amasse alguém, eu queria que fosse esse tipo de amor, onde eu morreria feliz ao lado dela. Meio mórbido, eu sei, mas eu acho que amor também é então...


A música acabou e eu estava um pouco mais leve.


- Eu amo essa música. – Falei.


- Eu percebi. – Ele me disse. – Você quase fez com que eu parasse de gostar dela.


- Engraçadinho! – Eu disse.


- Chegamos. – Sirius falou e eu comecei a reparar que havia civilização no meu campo de visão.


- Você não me disse o que nós viemos fazer aqui. – Falei.


- Eu vim ver o meu pai. – Ele disse. – Eu gostaria que ele não soubesse da minha existência.


Fiquei calada.


- Desculpe. Piadinha sem graça. – Ele disse.


- Pelo menos alguém está fazendo piada disso. – Eu disse.


Ele estacionou na frente de uma casa enorme.


- Você quer entrar comigo? – Ele perguntou.


- Eu preciso usar o banheiro. – Falei.


- Então vamos.


Caminhamos até a porta da casa, Sirius respirou fundo e tocou a campainha.


Um homem vestido de terno veio abrir a porta.


- Boa noite jovem Sirius, senhorita. O seu pai está te esperando na sala de estar. – O homem disse.


- Boa noite, William.- Sirius disse.


 - Boa noite. – Falei.


Sirius me apontou o banheiro e ficou me esperando sentado em uma poltrona de veludo. Saí e acompanhei ele até uma grande sala com lareira, tapetes, vários quadros caros nas paredes e até um piano de cauda. Um garotinho de no máximo cinco anos que brincava com miniaturas no tapete se levantou assim que viu Sirius e correu até ele.


- Você veio! – O garotinho disse abraçando as pernas de Sirius.


- Claro que eu vim, carinha. – Sirius pegou o garoto no colo. – Eu te prometi, não prometi?


O garotinho balançou a cabeça sorrindo.


- Olá, Sirius. – Um senhor que estava sentado em uma das poltronas se levantou e caminhou até nós.


- Olá, pai. – Sirius respondeu. – Essa é Marlene. Ela é da minha escola.


- Boa noite. – Eu disse educada.


O pai de Sirius sorriu em resposta ao meu boa noite por alguns seguindos.


- Esse é meu pai e esse é meu irmão, Régulos. – Ele disse.


- Ela é sua namorada? – Ouvi Régulos perguntar para Sirius, o que nos fez rir.


- Não, ela é apenas minha amiga. – Sirius disse ao irmão.


- Ela é bonita. – Régulos falou.


- Que tal você levar ela pra ver seus brinquedos? Quem sabe ela não vira sua namorada? – Sirius disse.


Régulos então caminhou até mim.


- Você quer ver meus brinquedos? – Régulos me perguntou.


- Claro. – Respondi sorrindo.


Ele me estendeu a mão e me levou até o quarto dele, onde ele me mostrou uma coleção muito grande de brinquedos e me disse todos os nomes deles. Isso durou cerca de meia hora e não havia terminado quando Sirius apareceu no quarto.


 -Vamos. – Sirius me disse.


 - Alguma coisa errada? – Perguntei me levantando.


- Não Six, fica mais, por favor! – O garotinho correu até Sirius e o abraçou.


- Carinha, hoje eu não posso, mas prometo que no final de semana eu venho te buscar e a gente passa um dia inteiro juntos, combinado? – Sirius disse.


- Promete? – Régulos pediu.


- Prometo. – Sirius respondeu. – Agora fale tchau para a Marlene.


- Tchau Marlene. – Régulos disse educadamente.


- Tchau Régulos. – Respondi.


Sirius e eu descemos as escadas, atravessamos o hall e fomos embora.


Assim que entramos no carro dele, Sirius encostou a cabeça no volante e respirou fundo.


- Não sei por que continuo fazendo isso. – Ele disse.


Não soube o que falar. Família é um assunto delicado e eu sabia muito bem que qualquer palavra dita em um tom diferente pode Ele desencostou a cabeça do volante e ligou o carro.


- Foi tão ruim assim? – Perguntei enquanto nos distanciávamos da casa do pai dele.


- Fez com que eu desejasse que minha mãe tivesse escondido a existência dele. – Sirius disse.


Fiquei calada.


- Desculpe. – Ele disse. – De novo.


– Não precisa se desculpar. - Eu disse.


- Não, eu tenho. – Ele falou. – Eu estou sendo um babaca sem motivo algum.


- Família é uma coisa super-valorizada. – Falei.


- Isso é verdade. – Ele falou.


Ficamos em silêncio por um breve tempo, cada um pensando na família que tem.


- Eu queria passar em um lugar... Tem algum problema? – Ele me perguntou.


- Não. – Falei.


Sirius continuou dirigindo.


- Onde você vai passar? – Perguntei.


- Um amigo meu trabalha em uma lanchonete aqui. –Ele me disse. – Queria passar lá antes de voltar.


- Isso me lembrou de que eu estou com fome. – Falei.


- A gente pode comer algo lá antes de voltar. – Ele disse.


-Eba! – Falei.


Sirius estacionou o carro na frente de uma lanchonete que estava lotada. Ele desceu do carro e eu o segui. Assim que Sirius colocou os pés dentro da lanchonete, todos pararam para olhar para ele. Como se fosse a coisa mais normal do mundo, ele se virou para mim e sorriu.


- Bem vindo ao Chico’s. – Ele me disse e pegou pela mão. – Apenas ignore todo mundo e faça aquela cara de esnobe que você tem.


- Eu não tenho uma cara de esnobe. – Eu disse.


- Isso mesmo, dessa carinha esnobe que eu estava falando. – Sirius disse.


Ele me puxou até uma mesa e nós sentamos. Uma garota loira veio até nós.


- Olá Sirius. – Ela disse.  – Quem é sua nova garota?


Argh. Biscate. Antes que Sirius dissesse algo eu falei:


- Marlene. E você é?


- Hillary. – Ela falou.


Ela havia dito apenas três frases e eu já odiava tanto ela quanto a pinta que ela tinha em cima do canto direito da boca. E eu podia dizer, pela cara com que ela havia dito “Hillary” que ela não havia gostado nada de mim.


- Oi Hillary. – Sirius disse. – Eu quero o de sempre. E você, Mac?


- O mesmo. – Falei. – Espere, tem bacon ou picles? Se tiver eu quero sem.


- Já está saindo. – Hillary disse e se afastou da mesa.


Eu e Sirius esperamos ela estar a uma distância segura para começarmos a conversar.


- Porque você fez isso? – Ele me perguntou.


- Quem é essa biscate? – Eu perguntei ao mesmo tempo.


- Ex-namorada. – Ele me respondeu.


- Não fui com a cara dela. – Eu respondi.


 Ficamos quietos por um tempo.


- Boa cara de esnobe por sinal. – Sirius falou.


- Obrigada. – Eu disse. – Não sabia que eu tinha essa habilidade.


- Você devia usá-la mais. – Ele falou.


- Eu vou. – Falei.


Ficamos calados novamente. Sirius então começou a rir.


- O que foi? – Perguntei.


- Hillary perguntou se você era minha garota e você disse que sim. – Ele falou.


- Eu não disse sim. – Falei. – Eu só falei meu nome.


- É, mas agora ela acha que você é minha namorada. – Ele disse rindo muito.


Eu também comecei a rir.


- Você me chamou de Mac. Desde quando você me chama de Mac? –Falei rindo. -E você nem desmentiu!


- Ouvi a Lily falando hoje e achei melhor que Marlene. – Ele explicou parando de rir.


Hillary trouxe nossos pedidos. Eram dois sanduíches enormes, com batata frita e refrigerante do mesmo tamanho. Ideal para o tanto de fome que eu estava.


- Se precisarem de algo é só chamar. – Ela disse.


- Obrigada. – Eu disse.


- Obrigado. – Sirius falou.


Ela se afastou e eu e Sirius atacamos a comida. Ficamos o tempo todo que estávamos comendo sem conversar. Quando terminamos de comer, Sirius olhou para mim assustado.


- Não imaginei que você conseguisse comer tanto. – Sirius disse.


- Eu estava sem comer desde o almoço. E eu muito gulosa também. – Assumi.


Sirius riu e se levantou para pagar a conta.


- Eu te pago depois. – Falei quando me lembrei  que estava apenas com meu celular.


- Não se preocupe. – Ele caminhou até o caixa.


Eu continuei sentada, olhando na direção dele e sentindo o olhar de Hillary sobre mim. Sirius pagou a conta e nós fomos para o carro.


- Você não havia dito que ia ver um amigo? – Perguntei.


- É, eu me esqueci de que eu não tenho amigos. – Ele me respondeu.


- Por quê? – Perguntei.


- Longa história. – Ele falou ligando o rádio.


The Smiths começou a tocar novamente, e eu e Sirius voltamos para Capeside cantando as músicas tristes da banda. Estava tão atenta às letras das músicas que Sirius precisou me cutucar para que eu percebesse que havíamos chegado.


- Você está bem? – Ele perguntou.


- Eu queria não ter que lidar com isso. – Falei. – Mas não é assim que a vida funciona.


- Não, não é. – Ele concordou.


- Obrigada. - Falei


- Eu que agradeço. – Ele falou.


Eu desci do carro e fui para casa. Assim que entrei, minha mãe, que estava no sofá se levantou e caminhou até mim.


- Eu vou te perdoar eventualmente. – Falei antes que ela pudesse dizer algo. – Mas não é hoje e eu não sei quando vai ser. E quanto a Maggie, eu não vou dizer a ela, isso é culpa sua e você vai lidar com as consequências.


Ela apenas assentiu com a cabeça e eu subi as escadas.


Tomei um banho para ver se me sentia melhor, mas de nada adiantou. Deitei-me e tentei dormir, mas cheguei a conclusão que seria impossível. Então eu comecei a pensar em como seria meu pai. Eu sabia que havia perdido aquela fase em que o pai é o nosso herói, mas eu desejava que ele não fosse como minha mãe ou como o pai de Sirius. Eu esperava mais que tudo que ele não fosse uma decepção, como a maioria das pessoas.


Depois eu comecei a pensar em Sirius. Eu honestamente não sei o que faria se ele não tivesse me encontrado na praça e me convencido a ir com ele visitar sua família. Eu confesso que não foi o melhor dos encontros familiares, mas fora essa parte, ele me ajudou a esquecer do que havia acontecido e me fez rir. E eu esperava de coração que eu tivesse sido tão boa companhia para ele quanto ele foi para mim.


Quando cansei de pensar e vi que seria impossível dormir, fui até o estoque de remédios da minha mãe e tomei um Valium, e eu finalmente consegui dormir.

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 nota da autora: 
Queridos leitores, espero que tenham gostado do capítulo. E se sim, por favor, COMENTEM! haha
O capítulo é tão grande que a autora está até sem forças para escrever o "nota da autora", então, novamente: COMENTEM! porque se tem um capítulo que merece comentários é esse, ou se não eu nunca mais vou escrever capítulos especiais como esse. mentira, claro que vou, mas eles ficam cada vez mais especiais se a fic ganhar cada vez mais votos e comentários! hahaha Então, por hoje é só, boa noite e... COMENTEM!
xoxo, hell yeah! 

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